É proibido criticar? Por que comentários sobre The Town incomodaram tanto os artistas? Leia análise


Luísa Sonza, Marina Sena, Jão, Alok e outros foram se manifestar contra críticas pontuais que receberam na imprensa e nas redes socais. Eles deveriam ser os primeiros a rejeitar um ambiente que só permita elogios

Por Danilo Casaletti
Atualização:

A primeira edição do festival The Town, o primo paulistano do Rock in Rio, terminou no último domingo, 10. Durante cinco dias, dezenas de nomes nacionais e internacionais se apresentaram na Cidade da Música, alocada dentro do Autódromo de Interlagos (veja cobertura completa do Estadão).

Entre artistas do rock, pop, rap e da música eletrônica, nem todos se saíram bem, obviamente. Ou, no comparativo com os shows de seus colegas, pecaram no roteiro, conceito ou até mesmo na execução daquilo que planejaram e ensaiaram. E isso é normal.

Entretanto, nem todos os artistas lidaram bem com as ressalvas sobre suas apresentações, mesmo depois de terem sido cobertos de elogios nas redes sociais, onde seus nomes galgaram os trending topics do X (Twitter), ou até mesmo na imprensa, de maneira geral.

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Os brasileiros Alok, Luísa Sonza e Marina Sena usaram suas redes sociais para se manifestarem. Jão preferiu fazê-lo no palco. Direito deles. Assim como é saudável que existam vozes dissonantes. E elas não podem ser vistas como ataques.

Jão teve show aclamado no The Town, mas não gostou de críticas ao seu novo álbum Foto: Taba Benedicto/Estadão

Já dizia a velha máxima das redações: ‘jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo resto é publicidade’. Como atualmente, com as redes sociais, de forma democrática, todo mundo pode ser um observador de seu tempo, esse preceito se estendeu.

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Luísa, que fez show baseado no álbum Escândalo Íntimo, afirmou em suas redes sociais que ela e os colegas estão criando uma “nova geração de novos grandes da música brasileira”.

Segundo ela, isso não tem sido reconhecido pelos críticos. “Mas o que vocês conseguem é só diminuir e se recusam a enxergar o que já está escancarado na cara de vocês. A música brasileira tá viva, tá diversificada, tá com referência, tá foda, vocês não admitirem isso, por enquanto, não vai impedir todos nós de fazermos história”, escreveu.

A cantora e compositora é uma das mais ouvidas do País com a canção Chico. O Estadão incluiu seu show no The Town entre os 10 melhores apresentado no festival. O esperado show do Maroon 5, banda americana liderada pelo cantor Adam Levine, está na relação de piores – e a percepção foi a mesma nas redes sociais.

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Luísa também saiu em defesa de Marina Sena que apresentou no The Town um tributo à cantora Gal Costa (1945-2022). O show recebeu críticas do Estadão, mas não apareceu na lista de piores. Também foi julgado nas redes sociais. “Marina Sena um dos maiores vocais e nomes da nova música brasileira mas vocês estão muito emburrecidos pra essa conversa”, escreveu Luísa

Marina, por sua vez, disse, também em suas redes sociais, que não deseja ser a nova Gal. Ela justificou seu sucesso por tudo que conquistou até aqui e pela repercussão em torno de seu nome.

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“Ces (sic) juram que se eu fosse ruim eu seria uma menina de Taiobeiras que tá conquistando tanta coisa? Por qual motivo isso tudo me seria dado? De graça assim? Não tenho sobrenome, não tinha dinheiro, influência, não tinha absolutamente nada. Não havia nenhum motivo pra eu estar aqui a não ser minha própria coragem, dedicação, autenticidade e talento. Vocês que se mordam!”, escreveu.

Luísa Sonza em seu show no festival The Town, no dia 3 de setembro de 2023 Foto: Taba Benedicto/Estadão

É bom olhar para trás

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Todos os grandes nomes da música brasileira foram, vez ou outra, criticados. Gal, principalmente. Quando, já consagrada, lançou o álbum Cantar, em 1974, não foi compreendida pela imprensa e tampouco pelos fãs. A turnê foi um fracasso. Quando lançou o show Fantasia, em 1981, com roteiro e cenário confusos, foi novamente criticada. Fez os ajustes necessários e um de seus melhores discos com parte do repertório do espetáculo.

O temido crítico José Ramos Tinhorão escreveu, em 1974, um artigo com o título de ‘Elis Regina canta. Maria Bethânia tem vontade’, no qual apontou deslizes da cantora baiana em um disco gravado ao vivo. Mesmo achando que Elis era mais cantora que Bethânia, ele a acusou de frieza interpretativa. Tinhorão era um dos maiores pesquisadores de música popular brasileira.

A geração de Gal, Elis Bethânia, Gil e Caetano seguiu em frente e fez história. Luísa, Marina Sena, Jão e Alok provavelmente trilharão o mesmo caminho. Pela atual engrenagem da indústria musical, saíram, inclusive, na frente dos ídolos de décadas anteriores.

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O primeiro disco de Gal, Domingo, dividido com Caetano Veloso, de 1967, não deu em nada comercialmente. Marina Sena, com seu álbum de estreia, De Primeira, estourou no mercado fonográfico.

Marcas protetoras e protegidas

O pop do qual Jão, Alok, Luísa e Marina são alguns dos maiores representantes brasileiros da atualidade vai muito além da música. Com a solidificação do modelo dos ‘festivais de experiência’, sempre há uma marca por trás de tudo – e seus stands, camarotes ou brinquedos podem roubar boa parte do gramado destinado ao público que pagou ingresso (caro) para ver seu artista preferido. Nesta primeira edição do The Town, Marina Sena, Jão e Luísa Sonza atrelaram seus nomes – e, invariavelmente, sua arte – a patrocinadores do evento.

Marina Sena fez tributo a Gal Costa no palco The One do festival The Town Foto: Taba Benedicto/Estadão

Prestígio, capacidade de se comunicar com o público alvo do contratante e número de seguidores nas redes sociais (nem sempre no mundo real) entram nessa conta. São fatores que se retroalimentam e esbarram na questão artística.

Mesmo com tantos interesses envolvidos, não é saudável para a música que produtores, assessores, marcas e até mesmo parte da imprensa queiram proteger, a todo custo, os artistas de eventuais críticas (agressões, sim, devem ser sempre combatidas). Ou, então, desejar que eles sejam incessantemente elogiados. Os próprios artistas deveriam ser os primeiros a rejeitarem esse lugar. Ele é um dos mais perigosos caminhos para uma viagem egoica.

Iggy Azalea e Alok respondem a críticas do 'Estadão' Foto: Reprodução/Instagram/@iggyazalea/@alok

A primeira edição do festival The Town, o primo paulistano do Rock in Rio, terminou no último domingo, 10. Durante cinco dias, dezenas de nomes nacionais e internacionais se apresentaram na Cidade da Música, alocada dentro do Autódromo de Interlagos (veja cobertura completa do Estadão).

Entre artistas do rock, pop, rap e da música eletrônica, nem todos se saíram bem, obviamente. Ou, no comparativo com os shows de seus colegas, pecaram no roteiro, conceito ou até mesmo na execução daquilo que planejaram e ensaiaram. E isso é normal.

Entretanto, nem todos os artistas lidaram bem com as ressalvas sobre suas apresentações, mesmo depois de terem sido cobertos de elogios nas redes sociais, onde seus nomes galgaram os trending topics do X (Twitter), ou até mesmo na imprensa, de maneira geral.

Os brasileiros Alok, Luísa Sonza e Marina Sena usaram suas redes sociais para se manifestarem. Jão preferiu fazê-lo no palco. Direito deles. Assim como é saudável que existam vozes dissonantes. E elas não podem ser vistas como ataques.

Jão teve show aclamado no The Town, mas não gostou de críticas ao seu novo álbum Foto: Taba Benedicto/Estadão

Já dizia a velha máxima das redações: ‘jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo resto é publicidade’. Como atualmente, com as redes sociais, de forma democrática, todo mundo pode ser um observador de seu tempo, esse preceito se estendeu.

Luísa, que fez show baseado no álbum Escândalo Íntimo, afirmou em suas redes sociais que ela e os colegas estão criando uma “nova geração de novos grandes da música brasileira”.

Segundo ela, isso não tem sido reconhecido pelos críticos. “Mas o que vocês conseguem é só diminuir e se recusam a enxergar o que já está escancarado na cara de vocês. A música brasileira tá viva, tá diversificada, tá com referência, tá foda, vocês não admitirem isso, por enquanto, não vai impedir todos nós de fazermos história”, escreveu.

A cantora e compositora é uma das mais ouvidas do País com a canção Chico. O Estadão incluiu seu show no The Town entre os 10 melhores apresentado no festival. O esperado show do Maroon 5, banda americana liderada pelo cantor Adam Levine, está na relação de piores – e a percepção foi a mesma nas redes sociais.

Luísa também saiu em defesa de Marina Sena que apresentou no The Town um tributo à cantora Gal Costa (1945-2022). O show recebeu críticas do Estadão, mas não apareceu na lista de piores. Também foi julgado nas redes sociais. “Marina Sena um dos maiores vocais e nomes da nova música brasileira mas vocês estão muito emburrecidos pra essa conversa”, escreveu Luísa

Marina, por sua vez, disse, também em suas redes sociais, que não deseja ser a nova Gal. Ela justificou seu sucesso por tudo que conquistou até aqui e pela repercussão em torno de seu nome.

“Ces (sic) juram que se eu fosse ruim eu seria uma menina de Taiobeiras que tá conquistando tanta coisa? Por qual motivo isso tudo me seria dado? De graça assim? Não tenho sobrenome, não tinha dinheiro, influência, não tinha absolutamente nada. Não havia nenhum motivo pra eu estar aqui a não ser minha própria coragem, dedicação, autenticidade e talento. Vocês que se mordam!”, escreveu.

Luísa Sonza em seu show no festival The Town, no dia 3 de setembro de 2023 Foto: Taba Benedicto/Estadão

É bom olhar para trás

Todos os grandes nomes da música brasileira foram, vez ou outra, criticados. Gal, principalmente. Quando, já consagrada, lançou o álbum Cantar, em 1974, não foi compreendida pela imprensa e tampouco pelos fãs. A turnê foi um fracasso. Quando lançou o show Fantasia, em 1981, com roteiro e cenário confusos, foi novamente criticada. Fez os ajustes necessários e um de seus melhores discos com parte do repertório do espetáculo.

O temido crítico José Ramos Tinhorão escreveu, em 1974, um artigo com o título de ‘Elis Regina canta. Maria Bethânia tem vontade’, no qual apontou deslizes da cantora baiana em um disco gravado ao vivo. Mesmo achando que Elis era mais cantora que Bethânia, ele a acusou de frieza interpretativa. Tinhorão era um dos maiores pesquisadores de música popular brasileira.

A geração de Gal, Elis Bethânia, Gil e Caetano seguiu em frente e fez história. Luísa, Marina Sena, Jão e Alok provavelmente trilharão o mesmo caminho. Pela atual engrenagem da indústria musical, saíram, inclusive, na frente dos ídolos de décadas anteriores.

O primeiro disco de Gal, Domingo, dividido com Caetano Veloso, de 1967, não deu em nada comercialmente. Marina Sena, com seu álbum de estreia, De Primeira, estourou no mercado fonográfico.

Marcas protetoras e protegidas

O pop do qual Jão, Alok, Luísa e Marina são alguns dos maiores representantes brasileiros da atualidade vai muito além da música. Com a solidificação do modelo dos ‘festivais de experiência’, sempre há uma marca por trás de tudo – e seus stands, camarotes ou brinquedos podem roubar boa parte do gramado destinado ao público que pagou ingresso (caro) para ver seu artista preferido. Nesta primeira edição do The Town, Marina Sena, Jão e Luísa Sonza atrelaram seus nomes – e, invariavelmente, sua arte – a patrocinadores do evento.

Marina Sena fez tributo a Gal Costa no palco The One do festival The Town Foto: Taba Benedicto/Estadão

Prestígio, capacidade de se comunicar com o público alvo do contratante e número de seguidores nas redes sociais (nem sempre no mundo real) entram nessa conta. São fatores que se retroalimentam e esbarram na questão artística.

Mesmo com tantos interesses envolvidos, não é saudável para a música que produtores, assessores, marcas e até mesmo parte da imprensa queiram proteger, a todo custo, os artistas de eventuais críticas (agressões, sim, devem ser sempre combatidas). Ou, então, desejar que eles sejam incessantemente elogiados. Os próprios artistas deveriam ser os primeiros a rejeitarem esse lugar. Ele é um dos mais perigosos caminhos para uma viagem egoica.

Iggy Azalea e Alok respondem a críticas do 'Estadão' Foto: Reprodução/Instagram/@iggyazalea/@alok

A primeira edição do festival The Town, o primo paulistano do Rock in Rio, terminou no último domingo, 10. Durante cinco dias, dezenas de nomes nacionais e internacionais se apresentaram na Cidade da Música, alocada dentro do Autódromo de Interlagos (veja cobertura completa do Estadão).

Entre artistas do rock, pop, rap e da música eletrônica, nem todos se saíram bem, obviamente. Ou, no comparativo com os shows de seus colegas, pecaram no roteiro, conceito ou até mesmo na execução daquilo que planejaram e ensaiaram. E isso é normal.

Entretanto, nem todos os artistas lidaram bem com as ressalvas sobre suas apresentações, mesmo depois de terem sido cobertos de elogios nas redes sociais, onde seus nomes galgaram os trending topics do X (Twitter), ou até mesmo na imprensa, de maneira geral.

Os brasileiros Alok, Luísa Sonza e Marina Sena usaram suas redes sociais para se manifestarem. Jão preferiu fazê-lo no palco. Direito deles. Assim como é saudável que existam vozes dissonantes. E elas não podem ser vistas como ataques.

Jão teve show aclamado no The Town, mas não gostou de críticas ao seu novo álbum Foto: Taba Benedicto/Estadão

Já dizia a velha máxima das redações: ‘jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo resto é publicidade’. Como atualmente, com as redes sociais, de forma democrática, todo mundo pode ser um observador de seu tempo, esse preceito se estendeu.

Luísa, que fez show baseado no álbum Escândalo Íntimo, afirmou em suas redes sociais que ela e os colegas estão criando uma “nova geração de novos grandes da música brasileira”.

Segundo ela, isso não tem sido reconhecido pelos críticos. “Mas o que vocês conseguem é só diminuir e se recusam a enxergar o que já está escancarado na cara de vocês. A música brasileira tá viva, tá diversificada, tá com referência, tá foda, vocês não admitirem isso, por enquanto, não vai impedir todos nós de fazermos história”, escreveu.

A cantora e compositora é uma das mais ouvidas do País com a canção Chico. O Estadão incluiu seu show no The Town entre os 10 melhores apresentado no festival. O esperado show do Maroon 5, banda americana liderada pelo cantor Adam Levine, está na relação de piores – e a percepção foi a mesma nas redes sociais.

Luísa também saiu em defesa de Marina Sena que apresentou no The Town um tributo à cantora Gal Costa (1945-2022). O show recebeu críticas do Estadão, mas não apareceu na lista de piores. Também foi julgado nas redes sociais. “Marina Sena um dos maiores vocais e nomes da nova música brasileira mas vocês estão muito emburrecidos pra essa conversa”, escreveu Luísa

Marina, por sua vez, disse, também em suas redes sociais, que não deseja ser a nova Gal. Ela justificou seu sucesso por tudo que conquistou até aqui e pela repercussão em torno de seu nome.

“Ces (sic) juram que se eu fosse ruim eu seria uma menina de Taiobeiras que tá conquistando tanta coisa? Por qual motivo isso tudo me seria dado? De graça assim? Não tenho sobrenome, não tinha dinheiro, influência, não tinha absolutamente nada. Não havia nenhum motivo pra eu estar aqui a não ser minha própria coragem, dedicação, autenticidade e talento. Vocês que se mordam!”, escreveu.

Luísa Sonza em seu show no festival The Town, no dia 3 de setembro de 2023 Foto: Taba Benedicto/Estadão

É bom olhar para trás

Todos os grandes nomes da música brasileira foram, vez ou outra, criticados. Gal, principalmente. Quando, já consagrada, lançou o álbum Cantar, em 1974, não foi compreendida pela imprensa e tampouco pelos fãs. A turnê foi um fracasso. Quando lançou o show Fantasia, em 1981, com roteiro e cenário confusos, foi novamente criticada. Fez os ajustes necessários e um de seus melhores discos com parte do repertório do espetáculo.

O temido crítico José Ramos Tinhorão escreveu, em 1974, um artigo com o título de ‘Elis Regina canta. Maria Bethânia tem vontade’, no qual apontou deslizes da cantora baiana em um disco gravado ao vivo. Mesmo achando que Elis era mais cantora que Bethânia, ele a acusou de frieza interpretativa. Tinhorão era um dos maiores pesquisadores de música popular brasileira.

A geração de Gal, Elis Bethânia, Gil e Caetano seguiu em frente e fez história. Luísa, Marina Sena, Jão e Alok provavelmente trilharão o mesmo caminho. Pela atual engrenagem da indústria musical, saíram, inclusive, na frente dos ídolos de décadas anteriores.

O primeiro disco de Gal, Domingo, dividido com Caetano Veloso, de 1967, não deu em nada comercialmente. Marina Sena, com seu álbum de estreia, De Primeira, estourou no mercado fonográfico.

Marcas protetoras e protegidas

O pop do qual Jão, Alok, Luísa e Marina são alguns dos maiores representantes brasileiros da atualidade vai muito além da música. Com a solidificação do modelo dos ‘festivais de experiência’, sempre há uma marca por trás de tudo – e seus stands, camarotes ou brinquedos podem roubar boa parte do gramado destinado ao público que pagou ingresso (caro) para ver seu artista preferido. Nesta primeira edição do The Town, Marina Sena, Jão e Luísa Sonza atrelaram seus nomes – e, invariavelmente, sua arte – a patrocinadores do evento.

Marina Sena fez tributo a Gal Costa no palco The One do festival The Town Foto: Taba Benedicto/Estadão

Prestígio, capacidade de se comunicar com o público alvo do contratante e número de seguidores nas redes sociais (nem sempre no mundo real) entram nessa conta. São fatores que se retroalimentam e esbarram na questão artística.

Mesmo com tantos interesses envolvidos, não é saudável para a música que produtores, assessores, marcas e até mesmo parte da imprensa queiram proteger, a todo custo, os artistas de eventuais críticas (agressões, sim, devem ser sempre combatidas). Ou, então, desejar que eles sejam incessantemente elogiados. Os próprios artistas deveriam ser os primeiros a rejeitarem esse lugar. Ele é um dos mais perigosos caminhos para uma viagem egoica.

Iggy Azalea e Alok respondem a críticas do 'Estadão' Foto: Reprodução/Instagram/@iggyazalea/@alok

A primeira edição do festival The Town, o primo paulistano do Rock in Rio, terminou no último domingo, 10. Durante cinco dias, dezenas de nomes nacionais e internacionais se apresentaram na Cidade da Música, alocada dentro do Autódromo de Interlagos (veja cobertura completa do Estadão).

Entre artistas do rock, pop, rap e da música eletrônica, nem todos se saíram bem, obviamente. Ou, no comparativo com os shows de seus colegas, pecaram no roteiro, conceito ou até mesmo na execução daquilo que planejaram e ensaiaram. E isso é normal.

Entretanto, nem todos os artistas lidaram bem com as ressalvas sobre suas apresentações, mesmo depois de terem sido cobertos de elogios nas redes sociais, onde seus nomes galgaram os trending topics do X (Twitter), ou até mesmo na imprensa, de maneira geral.

Os brasileiros Alok, Luísa Sonza e Marina Sena usaram suas redes sociais para se manifestarem. Jão preferiu fazê-lo no palco. Direito deles. Assim como é saudável que existam vozes dissonantes. E elas não podem ser vistas como ataques.

Jão teve show aclamado no The Town, mas não gostou de críticas ao seu novo álbum Foto: Taba Benedicto/Estadão

Já dizia a velha máxima das redações: ‘jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo resto é publicidade’. Como atualmente, com as redes sociais, de forma democrática, todo mundo pode ser um observador de seu tempo, esse preceito se estendeu.

Luísa, que fez show baseado no álbum Escândalo Íntimo, afirmou em suas redes sociais que ela e os colegas estão criando uma “nova geração de novos grandes da música brasileira”.

Segundo ela, isso não tem sido reconhecido pelos críticos. “Mas o que vocês conseguem é só diminuir e se recusam a enxergar o que já está escancarado na cara de vocês. A música brasileira tá viva, tá diversificada, tá com referência, tá foda, vocês não admitirem isso, por enquanto, não vai impedir todos nós de fazermos história”, escreveu.

A cantora e compositora é uma das mais ouvidas do País com a canção Chico. O Estadão incluiu seu show no The Town entre os 10 melhores apresentado no festival. O esperado show do Maroon 5, banda americana liderada pelo cantor Adam Levine, está na relação de piores – e a percepção foi a mesma nas redes sociais.

Luísa também saiu em defesa de Marina Sena que apresentou no The Town um tributo à cantora Gal Costa (1945-2022). O show recebeu críticas do Estadão, mas não apareceu na lista de piores. Também foi julgado nas redes sociais. “Marina Sena um dos maiores vocais e nomes da nova música brasileira mas vocês estão muito emburrecidos pra essa conversa”, escreveu Luísa

Marina, por sua vez, disse, também em suas redes sociais, que não deseja ser a nova Gal. Ela justificou seu sucesso por tudo que conquistou até aqui e pela repercussão em torno de seu nome.

“Ces (sic) juram que se eu fosse ruim eu seria uma menina de Taiobeiras que tá conquistando tanta coisa? Por qual motivo isso tudo me seria dado? De graça assim? Não tenho sobrenome, não tinha dinheiro, influência, não tinha absolutamente nada. Não havia nenhum motivo pra eu estar aqui a não ser minha própria coragem, dedicação, autenticidade e talento. Vocês que se mordam!”, escreveu.

Luísa Sonza em seu show no festival The Town, no dia 3 de setembro de 2023 Foto: Taba Benedicto/Estadão

É bom olhar para trás

Todos os grandes nomes da música brasileira foram, vez ou outra, criticados. Gal, principalmente. Quando, já consagrada, lançou o álbum Cantar, em 1974, não foi compreendida pela imprensa e tampouco pelos fãs. A turnê foi um fracasso. Quando lançou o show Fantasia, em 1981, com roteiro e cenário confusos, foi novamente criticada. Fez os ajustes necessários e um de seus melhores discos com parte do repertório do espetáculo.

O temido crítico José Ramos Tinhorão escreveu, em 1974, um artigo com o título de ‘Elis Regina canta. Maria Bethânia tem vontade’, no qual apontou deslizes da cantora baiana em um disco gravado ao vivo. Mesmo achando que Elis era mais cantora que Bethânia, ele a acusou de frieza interpretativa. Tinhorão era um dos maiores pesquisadores de música popular brasileira.

A geração de Gal, Elis Bethânia, Gil e Caetano seguiu em frente e fez história. Luísa, Marina Sena, Jão e Alok provavelmente trilharão o mesmo caminho. Pela atual engrenagem da indústria musical, saíram, inclusive, na frente dos ídolos de décadas anteriores.

O primeiro disco de Gal, Domingo, dividido com Caetano Veloso, de 1967, não deu em nada comercialmente. Marina Sena, com seu álbum de estreia, De Primeira, estourou no mercado fonográfico.

Marcas protetoras e protegidas

O pop do qual Jão, Alok, Luísa e Marina são alguns dos maiores representantes brasileiros da atualidade vai muito além da música. Com a solidificação do modelo dos ‘festivais de experiência’, sempre há uma marca por trás de tudo – e seus stands, camarotes ou brinquedos podem roubar boa parte do gramado destinado ao público que pagou ingresso (caro) para ver seu artista preferido. Nesta primeira edição do The Town, Marina Sena, Jão e Luísa Sonza atrelaram seus nomes – e, invariavelmente, sua arte – a patrocinadores do evento.

Marina Sena fez tributo a Gal Costa no palco The One do festival The Town Foto: Taba Benedicto/Estadão

Prestígio, capacidade de se comunicar com o público alvo do contratante e número de seguidores nas redes sociais (nem sempre no mundo real) entram nessa conta. São fatores que se retroalimentam e esbarram na questão artística.

Mesmo com tantos interesses envolvidos, não é saudável para a música que produtores, assessores, marcas e até mesmo parte da imprensa queiram proteger, a todo custo, os artistas de eventuais críticas (agressões, sim, devem ser sempre combatidas). Ou, então, desejar que eles sejam incessantemente elogiados. Os próprios artistas deveriam ser os primeiros a rejeitarem esse lugar. Ele é um dos mais perigosos caminhos para uma viagem egoica.

Iggy Azalea e Alok respondem a críticas do 'Estadão' Foto: Reprodução/Instagram/@iggyazalea/@alok

A primeira edição do festival The Town, o primo paulistano do Rock in Rio, terminou no último domingo, 10. Durante cinco dias, dezenas de nomes nacionais e internacionais se apresentaram na Cidade da Música, alocada dentro do Autódromo de Interlagos (veja cobertura completa do Estadão).

Entre artistas do rock, pop, rap e da música eletrônica, nem todos se saíram bem, obviamente. Ou, no comparativo com os shows de seus colegas, pecaram no roteiro, conceito ou até mesmo na execução daquilo que planejaram e ensaiaram. E isso é normal.

Entretanto, nem todos os artistas lidaram bem com as ressalvas sobre suas apresentações, mesmo depois de terem sido cobertos de elogios nas redes sociais, onde seus nomes galgaram os trending topics do X (Twitter), ou até mesmo na imprensa, de maneira geral.

Os brasileiros Alok, Luísa Sonza e Marina Sena usaram suas redes sociais para se manifestarem. Jão preferiu fazê-lo no palco. Direito deles. Assim como é saudável que existam vozes dissonantes. E elas não podem ser vistas como ataques.

Jão teve show aclamado no The Town, mas não gostou de críticas ao seu novo álbum Foto: Taba Benedicto/Estadão

Já dizia a velha máxima das redações: ‘jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo resto é publicidade’. Como atualmente, com as redes sociais, de forma democrática, todo mundo pode ser um observador de seu tempo, esse preceito se estendeu.

Luísa, que fez show baseado no álbum Escândalo Íntimo, afirmou em suas redes sociais que ela e os colegas estão criando uma “nova geração de novos grandes da música brasileira”.

Segundo ela, isso não tem sido reconhecido pelos críticos. “Mas o que vocês conseguem é só diminuir e se recusam a enxergar o que já está escancarado na cara de vocês. A música brasileira tá viva, tá diversificada, tá com referência, tá foda, vocês não admitirem isso, por enquanto, não vai impedir todos nós de fazermos história”, escreveu.

A cantora e compositora é uma das mais ouvidas do País com a canção Chico. O Estadão incluiu seu show no The Town entre os 10 melhores apresentado no festival. O esperado show do Maroon 5, banda americana liderada pelo cantor Adam Levine, está na relação de piores – e a percepção foi a mesma nas redes sociais.

Luísa também saiu em defesa de Marina Sena que apresentou no The Town um tributo à cantora Gal Costa (1945-2022). O show recebeu críticas do Estadão, mas não apareceu na lista de piores. Também foi julgado nas redes sociais. “Marina Sena um dos maiores vocais e nomes da nova música brasileira mas vocês estão muito emburrecidos pra essa conversa”, escreveu Luísa

Marina, por sua vez, disse, também em suas redes sociais, que não deseja ser a nova Gal. Ela justificou seu sucesso por tudo que conquistou até aqui e pela repercussão em torno de seu nome.

“Ces (sic) juram que se eu fosse ruim eu seria uma menina de Taiobeiras que tá conquistando tanta coisa? Por qual motivo isso tudo me seria dado? De graça assim? Não tenho sobrenome, não tinha dinheiro, influência, não tinha absolutamente nada. Não havia nenhum motivo pra eu estar aqui a não ser minha própria coragem, dedicação, autenticidade e talento. Vocês que se mordam!”, escreveu.

Luísa Sonza em seu show no festival The Town, no dia 3 de setembro de 2023 Foto: Taba Benedicto/Estadão

É bom olhar para trás

Todos os grandes nomes da música brasileira foram, vez ou outra, criticados. Gal, principalmente. Quando, já consagrada, lançou o álbum Cantar, em 1974, não foi compreendida pela imprensa e tampouco pelos fãs. A turnê foi um fracasso. Quando lançou o show Fantasia, em 1981, com roteiro e cenário confusos, foi novamente criticada. Fez os ajustes necessários e um de seus melhores discos com parte do repertório do espetáculo.

O temido crítico José Ramos Tinhorão escreveu, em 1974, um artigo com o título de ‘Elis Regina canta. Maria Bethânia tem vontade’, no qual apontou deslizes da cantora baiana em um disco gravado ao vivo. Mesmo achando que Elis era mais cantora que Bethânia, ele a acusou de frieza interpretativa. Tinhorão era um dos maiores pesquisadores de música popular brasileira.

A geração de Gal, Elis Bethânia, Gil e Caetano seguiu em frente e fez história. Luísa, Marina Sena, Jão e Alok provavelmente trilharão o mesmo caminho. Pela atual engrenagem da indústria musical, saíram, inclusive, na frente dos ídolos de décadas anteriores.

O primeiro disco de Gal, Domingo, dividido com Caetano Veloso, de 1967, não deu em nada comercialmente. Marina Sena, com seu álbum de estreia, De Primeira, estourou no mercado fonográfico.

Marcas protetoras e protegidas

O pop do qual Jão, Alok, Luísa e Marina são alguns dos maiores representantes brasileiros da atualidade vai muito além da música. Com a solidificação do modelo dos ‘festivais de experiência’, sempre há uma marca por trás de tudo – e seus stands, camarotes ou brinquedos podem roubar boa parte do gramado destinado ao público que pagou ingresso (caro) para ver seu artista preferido. Nesta primeira edição do The Town, Marina Sena, Jão e Luísa Sonza atrelaram seus nomes – e, invariavelmente, sua arte – a patrocinadores do evento.

Marina Sena fez tributo a Gal Costa no palco The One do festival The Town Foto: Taba Benedicto/Estadão

Prestígio, capacidade de se comunicar com o público alvo do contratante e número de seguidores nas redes sociais (nem sempre no mundo real) entram nessa conta. São fatores que se retroalimentam e esbarram na questão artística.

Mesmo com tantos interesses envolvidos, não é saudável para a música que produtores, assessores, marcas e até mesmo parte da imprensa queiram proteger, a todo custo, os artistas de eventuais críticas (agressões, sim, devem ser sempre combatidas). Ou, então, desejar que eles sejam incessantemente elogiados. Os próprios artistas deveriam ser os primeiros a rejeitarem esse lugar. Ele é um dos mais perigosos caminhos para uma viagem egoica.

Iggy Azalea e Alok respondem a críticas do 'Estadão' Foto: Reprodução/Instagram/@iggyazalea/@alok

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