Ed Motta se diz no ‘purgatório da música brasileira’ e mira exterior para manter ‘dignidade da arte’


Canções de novo disco são inspiradas em séries de TV, cinema e musicais da Broadway dos anos 1970 e 1980. Álbum é voltado para a Europa e Japão, onde Ed tem recebido uma maior acolhida

Por Danilo Casaletti

Ed Motta divide o atual momento da música popular brasileira em três partes: a super popularesca; a que compõe a inteligência, com criações interessantes e outras que se aproveitam da estética da popularesca; e, por fim, a que produz de fato algo novo e legal.

Com um álbum novo, Behind The Tea Chronicles, com letras todas em inglês, Ed tem consciência que está em um nicho, talvez em um verdadeiro vácuo entre essas três classificações que ele mesmo faz da produção musical no País.

“Estou no purgatório da música brasileira. Não me classifico como um artista de jazz. Não me classifico como um artista popular. Não estou interessado também em comungar com a opinião média. Estou bem, feliz assim”, diz Ed ao Estadão.

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O cantor e compositor Ed Motta lança o álbum ‘Behind The Tea Chronicles’ Foto: Jorge Bispo

Nem sempre foi assim. Quando surgiu com o álbum Ed Motta e Conexão Japeri, de 1988, levou a gente da Zona Sul para os bailes de periferia um ano antes do estouro do funk carioca. Entre o final dos anos 1990 e 2000, fez as músicas que ganharam as melhores letras escritas por Rita Lee naquele período, Fora da Lei e Colombina, ambas sucessos radiofônicos. Em 2009, conduziu Maria Rita na gravação de A Turma da Pilantragem, canção em que o canto da artista aparece relaxado como poucas vezes em sua carreira.

Ed diz que pouca coisa mudou, na verdade, além de ter feito seus quatro últimos álbuns com canções em inglês, idioma que lhe soa natural desde que ele se conhece por gente e que lhe trouxe suas maiores inspirações: o soul, o blues e o jazz. “Minhas outras influências entram com um olhar quase que turístico”, diz Ed, inclusive sobre a música brasileira.

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O cantor ressalta que sempre deixou isso claro. “Eu abro meu primeiro disco dizendo ‘gostava de música americana e ia pro baile dançar todo fim de semana (a introdução da canção Manuel)’. Mais explícito do que isso impossível. Eu sempre quis que minhas músicas fossem em inglês”, diz.

Esse novo álbum, Behind The Tea Chronicles, além de soul, blues e jazz, tem rock, valsa estilo Broadway e até bossa nova, que Ed conheceu ouvindo jazz - nunca discos brasileiros. A lírica vem de séries dos anos 1970 e 1980, entre elas, Columbo, São Francisco Urgente, Baretta e Kojak. São produções que se resolviam em um episódio. E cada uma das 11 músicas conta uma história cinematográfica, definida. Não há canções de amor.

Na valsa estilo Broawday Of Good Strain, por exemplo, Ed fala de uma médica jovem, bonita e invejada que é perseguida por uma família que é dona de todos os hospitais da cidade. Quatermass Has Told Us é um funk que falava sobre ficção científica, uma inspiração de Ed a respeito da série Quatermass, produzida pela BBC no final dos anos 1970. Tolerance On High Street tem mafiosos como tema com musicalidade que se encaixaria em um filme Noir.

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Fiz isso pela sobrevivência e dignidade da minha arte. Na qual eu não precisasse violentar o que eu quero e tenho vontade de fazer porque eu preciso pagar o condomínio

Até na escolha dos músicos há algo de cinematográfico. Para Ed, cada um deles é um ator que pode entrar em cena para um longo diálogo ou uma participação especial. No elenco estão, por exemplo, os brasileiros Tutty Moreno e Alberto Continentino.

O roteirista principal é Ed - a direção musical é do parceiro Michel Limma -, que pilota tudo em seu estúdio doméstico que leva o mesmo nome de seu selo, Dwitza. Lá, ele corta, emenda, acrescenta. Até o resultado final. Um processo que durou dois anos. “É coisa de gente obsessiva. É o TOC elevado ao nível artístico. É o que eu mais gosto de fazer”, diz Ed, entre gargalhadas.

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Lançado pelo selo de Ed, licenciado para o selo alemão de jazz MPS, Behind The Tea Chronicles já faz carreira em rádios da Europa e Japão, onde vão ocorrer a maioria dos shows do projeto.

Foi para lá que Ed direcionou sua carreira. A opção tem relação com questões mercadológicas, do espaço no mundo da música que o cantor tem ocupado nos últimos dez anos, período de maior ausência nos palcos brasileiros - aqui no Brasil o álbum estará disponível a partir de 20 de outubro.

“Fiz isso pela sobrevivência e dignidade da minha arte. Na qual eu não precisasse violentar o que eu quero e tenho vontade de fazer porque eu preciso pagar o condomínio. Quero exercer o meu lugar de direito”, explica. “Sempre penso de forma internacional”, completa.

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Atuação também nas lives

Ed Motta gosta de fazer lives, até mesmo quando toma café da manhã Foto: Jorge Bispo

Ed mantém um estreito contato com seus ouvintes em lives que faz em suas redes sociais. Os assuntos são variados. Os seguidores perguntam sobre muitos e diversos assuntos. Pode ser sobre a pizza da esquina. Uma série antiga. E, claro, querem que ele fale sobre música.

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Já entrou em algumas enrascadas - ele prefere classificá-las como “burburinhos”. Uma delas quando falou (mal) de Raul Seixas. Para ele, algo nem tão grave diante de outras críticas que já fez. “Raul foi elemento pop e midiático desse momento da internet, em que algo curto gera engajamento”, define. No passado, afirmou que o Brasil era um País miserável que idolatrava Caetano Veloso.

Ed diz que nem tudo o que diz nas live é necessariamente verdade. Há, segundo ele, algo teatral. Como um autor que coloca pitadas de seus pensamentos na voz de um personagem. Uma forma também de se fazer arte, define o cantor.

“Há humor. Cáustico, ácido e cínico. Algo meio George Carlin (humorista americano, 1937-2008), meio Monty Python (grupo britânico de comédia) que encontra assuntos de música. Isso, em alguns momentos, se torna o foco principal. O que nunca é ruim. Não existe propaganda ruim (risos)” , diz.

Tenho 52 anos. E tem coisas que falo desde que tenho 10. A gente não muda muito, não é?

De acordo com Ed, esse tipo de comportamento faz parte de sua personalidade. “Tenho 52 anos. E tem coisas que falo desde que tenho 10. A gente não muda muito, não é?”, diz. Ele admite, no entanto, que, às vezes, pode chocar aqueles que não o conhecem.

Entre o que pode causar espanto ao menos desavisados sobre o jeito Ed Motta de ser estão justamente as críticas em relação aos colegas de profissão. Porém, ele não se furta ao direito de emitir suas opiniões - e sabe que também está sujeito a avaliações de terceiros.

“Faz parte da estética da arte de priscas eras. O Proust (Marcel Proust, escritor francês) fazia críticas de concertos de música clássica. Ele acertava ou errava. Quem estava no palco também acertava ou errava. Impor um crivo sobre a crítica eu acho um absurdo”, afirma.

Capa do álbum ‘Behind The Tea Chronicles’, de Ed Motta Foto: Jorge Bispo

Behind The Tea Chronicles

  • Dwitza/MPS
  • Em CD e plataformas digitais na Europa e no Japão
  • Em vinil e plataformas digitais no Brasil

Ed Motta divide o atual momento da música popular brasileira em três partes: a super popularesca; a que compõe a inteligência, com criações interessantes e outras que se aproveitam da estética da popularesca; e, por fim, a que produz de fato algo novo e legal.

Com um álbum novo, Behind The Tea Chronicles, com letras todas em inglês, Ed tem consciência que está em um nicho, talvez em um verdadeiro vácuo entre essas três classificações que ele mesmo faz da produção musical no País.

“Estou no purgatório da música brasileira. Não me classifico como um artista de jazz. Não me classifico como um artista popular. Não estou interessado também em comungar com a opinião média. Estou bem, feliz assim”, diz Ed ao Estadão.

O cantor e compositor Ed Motta lança o álbum ‘Behind The Tea Chronicles’ Foto: Jorge Bispo

Nem sempre foi assim. Quando surgiu com o álbum Ed Motta e Conexão Japeri, de 1988, levou a gente da Zona Sul para os bailes de periferia um ano antes do estouro do funk carioca. Entre o final dos anos 1990 e 2000, fez as músicas que ganharam as melhores letras escritas por Rita Lee naquele período, Fora da Lei e Colombina, ambas sucessos radiofônicos. Em 2009, conduziu Maria Rita na gravação de A Turma da Pilantragem, canção em que o canto da artista aparece relaxado como poucas vezes em sua carreira.

Ed diz que pouca coisa mudou, na verdade, além de ter feito seus quatro últimos álbuns com canções em inglês, idioma que lhe soa natural desde que ele se conhece por gente e que lhe trouxe suas maiores inspirações: o soul, o blues e o jazz. “Minhas outras influências entram com um olhar quase que turístico”, diz Ed, inclusive sobre a música brasileira.

O cantor ressalta que sempre deixou isso claro. “Eu abro meu primeiro disco dizendo ‘gostava de música americana e ia pro baile dançar todo fim de semana (a introdução da canção Manuel)’. Mais explícito do que isso impossível. Eu sempre quis que minhas músicas fossem em inglês”, diz.

Esse novo álbum, Behind The Tea Chronicles, além de soul, blues e jazz, tem rock, valsa estilo Broadway e até bossa nova, que Ed conheceu ouvindo jazz - nunca discos brasileiros. A lírica vem de séries dos anos 1970 e 1980, entre elas, Columbo, São Francisco Urgente, Baretta e Kojak. São produções que se resolviam em um episódio. E cada uma das 11 músicas conta uma história cinematográfica, definida. Não há canções de amor.

Na valsa estilo Broawday Of Good Strain, por exemplo, Ed fala de uma médica jovem, bonita e invejada que é perseguida por uma família que é dona de todos os hospitais da cidade. Quatermass Has Told Us é um funk que falava sobre ficção científica, uma inspiração de Ed a respeito da série Quatermass, produzida pela BBC no final dos anos 1970. Tolerance On High Street tem mafiosos como tema com musicalidade que se encaixaria em um filme Noir.

Fiz isso pela sobrevivência e dignidade da minha arte. Na qual eu não precisasse violentar o que eu quero e tenho vontade de fazer porque eu preciso pagar o condomínio

Até na escolha dos músicos há algo de cinematográfico. Para Ed, cada um deles é um ator que pode entrar em cena para um longo diálogo ou uma participação especial. No elenco estão, por exemplo, os brasileiros Tutty Moreno e Alberto Continentino.

O roteirista principal é Ed - a direção musical é do parceiro Michel Limma -, que pilota tudo em seu estúdio doméstico que leva o mesmo nome de seu selo, Dwitza. Lá, ele corta, emenda, acrescenta. Até o resultado final. Um processo que durou dois anos. “É coisa de gente obsessiva. É o TOC elevado ao nível artístico. É o que eu mais gosto de fazer”, diz Ed, entre gargalhadas.

Lançado pelo selo de Ed, licenciado para o selo alemão de jazz MPS, Behind The Tea Chronicles já faz carreira em rádios da Europa e Japão, onde vão ocorrer a maioria dos shows do projeto.

Foi para lá que Ed direcionou sua carreira. A opção tem relação com questões mercadológicas, do espaço no mundo da música que o cantor tem ocupado nos últimos dez anos, período de maior ausência nos palcos brasileiros - aqui no Brasil o álbum estará disponível a partir de 20 de outubro.

“Fiz isso pela sobrevivência e dignidade da minha arte. Na qual eu não precisasse violentar o que eu quero e tenho vontade de fazer porque eu preciso pagar o condomínio. Quero exercer o meu lugar de direito”, explica. “Sempre penso de forma internacional”, completa.

Atuação também nas lives

Ed Motta gosta de fazer lives, até mesmo quando toma café da manhã Foto: Jorge Bispo

Ed mantém um estreito contato com seus ouvintes em lives que faz em suas redes sociais. Os assuntos são variados. Os seguidores perguntam sobre muitos e diversos assuntos. Pode ser sobre a pizza da esquina. Uma série antiga. E, claro, querem que ele fale sobre música.

Já entrou em algumas enrascadas - ele prefere classificá-las como “burburinhos”. Uma delas quando falou (mal) de Raul Seixas. Para ele, algo nem tão grave diante de outras críticas que já fez. “Raul foi elemento pop e midiático desse momento da internet, em que algo curto gera engajamento”, define. No passado, afirmou que o Brasil era um País miserável que idolatrava Caetano Veloso.

Ed diz que nem tudo o que diz nas live é necessariamente verdade. Há, segundo ele, algo teatral. Como um autor que coloca pitadas de seus pensamentos na voz de um personagem. Uma forma também de se fazer arte, define o cantor.

“Há humor. Cáustico, ácido e cínico. Algo meio George Carlin (humorista americano, 1937-2008), meio Monty Python (grupo britânico de comédia) que encontra assuntos de música. Isso, em alguns momentos, se torna o foco principal. O que nunca é ruim. Não existe propaganda ruim (risos)” , diz.

Tenho 52 anos. E tem coisas que falo desde que tenho 10. A gente não muda muito, não é?

De acordo com Ed, esse tipo de comportamento faz parte de sua personalidade. “Tenho 52 anos. E tem coisas que falo desde que tenho 10. A gente não muda muito, não é?”, diz. Ele admite, no entanto, que, às vezes, pode chocar aqueles que não o conhecem.

Entre o que pode causar espanto ao menos desavisados sobre o jeito Ed Motta de ser estão justamente as críticas em relação aos colegas de profissão. Porém, ele não se furta ao direito de emitir suas opiniões - e sabe que também está sujeito a avaliações de terceiros.

“Faz parte da estética da arte de priscas eras. O Proust (Marcel Proust, escritor francês) fazia críticas de concertos de música clássica. Ele acertava ou errava. Quem estava no palco também acertava ou errava. Impor um crivo sobre a crítica eu acho um absurdo”, afirma.

Capa do álbum ‘Behind The Tea Chronicles’, de Ed Motta Foto: Jorge Bispo

Behind The Tea Chronicles

  • Dwitza/MPS
  • Em CD e plataformas digitais na Europa e no Japão
  • Em vinil e plataformas digitais no Brasil

Ed Motta divide o atual momento da música popular brasileira em três partes: a super popularesca; a que compõe a inteligência, com criações interessantes e outras que se aproveitam da estética da popularesca; e, por fim, a que produz de fato algo novo e legal.

Com um álbum novo, Behind The Tea Chronicles, com letras todas em inglês, Ed tem consciência que está em um nicho, talvez em um verdadeiro vácuo entre essas três classificações que ele mesmo faz da produção musical no País.

“Estou no purgatório da música brasileira. Não me classifico como um artista de jazz. Não me classifico como um artista popular. Não estou interessado também em comungar com a opinião média. Estou bem, feliz assim”, diz Ed ao Estadão.

O cantor e compositor Ed Motta lança o álbum ‘Behind The Tea Chronicles’ Foto: Jorge Bispo

Nem sempre foi assim. Quando surgiu com o álbum Ed Motta e Conexão Japeri, de 1988, levou a gente da Zona Sul para os bailes de periferia um ano antes do estouro do funk carioca. Entre o final dos anos 1990 e 2000, fez as músicas que ganharam as melhores letras escritas por Rita Lee naquele período, Fora da Lei e Colombina, ambas sucessos radiofônicos. Em 2009, conduziu Maria Rita na gravação de A Turma da Pilantragem, canção em que o canto da artista aparece relaxado como poucas vezes em sua carreira.

Ed diz que pouca coisa mudou, na verdade, além de ter feito seus quatro últimos álbuns com canções em inglês, idioma que lhe soa natural desde que ele se conhece por gente e que lhe trouxe suas maiores inspirações: o soul, o blues e o jazz. “Minhas outras influências entram com um olhar quase que turístico”, diz Ed, inclusive sobre a música brasileira.

O cantor ressalta que sempre deixou isso claro. “Eu abro meu primeiro disco dizendo ‘gostava de música americana e ia pro baile dançar todo fim de semana (a introdução da canção Manuel)’. Mais explícito do que isso impossível. Eu sempre quis que minhas músicas fossem em inglês”, diz.

Esse novo álbum, Behind The Tea Chronicles, além de soul, blues e jazz, tem rock, valsa estilo Broadway e até bossa nova, que Ed conheceu ouvindo jazz - nunca discos brasileiros. A lírica vem de séries dos anos 1970 e 1980, entre elas, Columbo, São Francisco Urgente, Baretta e Kojak. São produções que se resolviam em um episódio. E cada uma das 11 músicas conta uma história cinematográfica, definida. Não há canções de amor.

Na valsa estilo Broawday Of Good Strain, por exemplo, Ed fala de uma médica jovem, bonita e invejada que é perseguida por uma família que é dona de todos os hospitais da cidade. Quatermass Has Told Us é um funk que falava sobre ficção científica, uma inspiração de Ed a respeito da série Quatermass, produzida pela BBC no final dos anos 1970. Tolerance On High Street tem mafiosos como tema com musicalidade que se encaixaria em um filme Noir.

Fiz isso pela sobrevivência e dignidade da minha arte. Na qual eu não precisasse violentar o que eu quero e tenho vontade de fazer porque eu preciso pagar o condomínio

Até na escolha dos músicos há algo de cinematográfico. Para Ed, cada um deles é um ator que pode entrar em cena para um longo diálogo ou uma participação especial. No elenco estão, por exemplo, os brasileiros Tutty Moreno e Alberto Continentino.

O roteirista principal é Ed - a direção musical é do parceiro Michel Limma -, que pilota tudo em seu estúdio doméstico que leva o mesmo nome de seu selo, Dwitza. Lá, ele corta, emenda, acrescenta. Até o resultado final. Um processo que durou dois anos. “É coisa de gente obsessiva. É o TOC elevado ao nível artístico. É o que eu mais gosto de fazer”, diz Ed, entre gargalhadas.

Lançado pelo selo de Ed, licenciado para o selo alemão de jazz MPS, Behind The Tea Chronicles já faz carreira em rádios da Europa e Japão, onde vão ocorrer a maioria dos shows do projeto.

Foi para lá que Ed direcionou sua carreira. A opção tem relação com questões mercadológicas, do espaço no mundo da música que o cantor tem ocupado nos últimos dez anos, período de maior ausência nos palcos brasileiros - aqui no Brasil o álbum estará disponível a partir de 20 de outubro.

“Fiz isso pela sobrevivência e dignidade da minha arte. Na qual eu não precisasse violentar o que eu quero e tenho vontade de fazer porque eu preciso pagar o condomínio. Quero exercer o meu lugar de direito”, explica. “Sempre penso de forma internacional”, completa.

Atuação também nas lives

Ed Motta gosta de fazer lives, até mesmo quando toma café da manhã Foto: Jorge Bispo

Ed mantém um estreito contato com seus ouvintes em lives que faz em suas redes sociais. Os assuntos são variados. Os seguidores perguntam sobre muitos e diversos assuntos. Pode ser sobre a pizza da esquina. Uma série antiga. E, claro, querem que ele fale sobre música.

Já entrou em algumas enrascadas - ele prefere classificá-las como “burburinhos”. Uma delas quando falou (mal) de Raul Seixas. Para ele, algo nem tão grave diante de outras críticas que já fez. “Raul foi elemento pop e midiático desse momento da internet, em que algo curto gera engajamento”, define. No passado, afirmou que o Brasil era um País miserável que idolatrava Caetano Veloso.

Ed diz que nem tudo o que diz nas live é necessariamente verdade. Há, segundo ele, algo teatral. Como um autor que coloca pitadas de seus pensamentos na voz de um personagem. Uma forma também de se fazer arte, define o cantor.

“Há humor. Cáustico, ácido e cínico. Algo meio George Carlin (humorista americano, 1937-2008), meio Monty Python (grupo britânico de comédia) que encontra assuntos de música. Isso, em alguns momentos, se torna o foco principal. O que nunca é ruim. Não existe propaganda ruim (risos)” , diz.

Tenho 52 anos. E tem coisas que falo desde que tenho 10. A gente não muda muito, não é?

De acordo com Ed, esse tipo de comportamento faz parte de sua personalidade. “Tenho 52 anos. E tem coisas que falo desde que tenho 10. A gente não muda muito, não é?”, diz. Ele admite, no entanto, que, às vezes, pode chocar aqueles que não o conhecem.

Entre o que pode causar espanto ao menos desavisados sobre o jeito Ed Motta de ser estão justamente as críticas em relação aos colegas de profissão. Porém, ele não se furta ao direito de emitir suas opiniões - e sabe que também está sujeito a avaliações de terceiros.

“Faz parte da estética da arte de priscas eras. O Proust (Marcel Proust, escritor francês) fazia críticas de concertos de música clássica. Ele acertava ou errava. Quem estava no palco também acertava ou errava. Impor um crivo sobre a crítica eu acho um absurdo”, afirma.

Capa do álbum ‘Behind The Tea Chronicles’, de Ed Motta Foto: Jorge Bispo

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