Para quem assiste a um festival pela TV, a sensação pode ser a de o público está sempre atento e em total sintonia com o artista que está no palco. No entanto, essa ligação pode não ocorrer. Há shows em que as pessoas andam de um lado para o outro ou falam sem parar. É como se houvesse uma imensa interferência entre palco e plateia.
Esse ruído passa longe de um show de Ed Sheeran. O cantor britânico, um dos maiores nomes do pop na atualidade, encerrou a quarta noite do Rock in Rio, já na madrugada deste sábado, 20, com o público na mão, mais uma vez. Fizeram silêncio para ouvi-lo.
Sheeran gosta de navegar em pop calmo - para alguns, meloso demais. Sozinho no palco - formato que ele adotou há mais de uma década -, ele toca violão, usa pedais para colocar efeitos nas músicas e enfileira seus grandes hits. Pode parecer pretensão de um artista achar que se basta dessa maneira no palco durante todos esses anos - um genérico de Sheeran no Brasil chega a ser enfadonho ao tentar fazer algo mais ou menos parecido. Mas, de fato, o britânico é um fenômeno por onde passa.
Sheeran seguiu, com uma exclusão ou outra por conta do tempo de show, o roteiro da turnê The Mathematics, uma das mais bem-sucedidas de 2023 - que só vai terminar em 2025. Não há novidades ou escapadinha do setlist para fazer média. Ele sabe que não precisa disso - nem os fãs querem algo diferente.
Sheeran abre o show em pegada folk com Castle on The Hill. Dali a pouco, ele é um rapper no mashup Take It Back/Superstition/Ain’t No Sunshine, Sheeran. Abandona o violão - mas nunca o som dele, que segue nas programações criadas por ele- para passear um pouco pelo quadrado em que se apresenta.
Give me love, do disco de estreia + (Plus), canção confessadamente adolescente, tem uma rasgada de voz no refrão que emenda em um pedido do coro. O primeiro ápice do show.
A plateia tem algumas preferidas. Photograh, Thinking Out Loud e Love Yourself, essa última sucesso de Justin Bieber, aparecem em sequência.
Propositadamente. Sheeran, que estourou na mídia no início dos anos 2010 . Mesmo sem fazer pose de estrela - ele, ao chegar ao Brasil foi assistir a um jogo no Maracanã em vez de arrumar uma confusão digna de astro - sabe que sua música precisa alcançar o público que o ouve desde o começo nas redes sociais. Suas canções surgem aqui e ali sugeridas por algoritmos, quando passaram a ser feitas profissionalmente. A meta é que ouçam, se encantem e desistam de clicar no botão de próxima.
Para os mais exigentes, Sheeran perde justamente seu valor por ser esse cara que, talvez, faça uma música já pensando no alvo. Uma fórmula? A única sugestão nesse caso é: assistam o cara ao vivo. Não à toa, a expressão mais ouvida entre o público era “que energia!”.
Sheeran saiu do palco avisando que volta ao País em 2025. Muitos darão o play novamente.