Em novo disco, soprano reúne peças que discutem relação do ser humano com a natureza


'Éden', da americana Joyce DiDonato, traz quatro séculos de obras para discutir a preservação do meio-ambiente

Por João Luiz Sampaio

Em 2017, a meio-soprano norte-americana Joyce DiDonato saiu em turnê mundial com um espetáculo em que cantava sobre guerra e paz. A ideia havia surgido dois anos antes, após os ataques terroristas de novembro de 2015 em Paris.

“Eu senti a necessidade de abordar o mundo em que eu vivo de modo mais direto, e o tema da guerra e da paz estava ali diante de mim. Eu tinha uma pilha de árias de Händel e Purcell à minha frente, todas falando de guerra e de mundos interiores caóticos, e sobre a busca de serenidade. Eu precisava cantar sobre isso”, ela disse ao Estadão quando esteve no Brasil com o espetáculo, batizado de Na guerra e na paz: harmonia através da música, em 2019.

Joyce DiDonatoem cena do espetáculo 'Éden'. Foto: Kyle Flubacker/Divulgação
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Ainda em 2017, com a turnê apenas começando, DiDonato e o conjunto Il Pomo D’Oro já pensavam no próximo trabalho. A ideia era que ele fosse lançado em 2022. A questão era, emum exercício de futurologia, encontrar um tema que, a essa altura, fosse relevante. Acabaram escolhendo a relação do homem com a natureza, marcada pela destruição, pelo surgimento de doenças,

Afora a capacidade premonitória, Éden parte do mesmo princípio de Na guerra e na paz: harmonia através da música. O repertório é escolhido em torno de um tema e serve de base a um espetáculo cênico-musical. Tanto a meio-soprano quanto a orquestra viriam ao Brasil no ano passado pela Cultura Artístico, não fosse a pandemia a estragar os planos da entidade, que se viu forçada a cancelar a temporada. Talvez no próximo ano? Até lá, Éden chega por meio do disco em que são interpretadas árias e canções de Händel, Gluck, Wagner, Mahler, Copland e da compositora Rachel Portmann, que escreveu The First Morning in the World especialmente para o projeto.

A natureza tem sido tema de compositores de ópera desde que o gênero surgiu. Orfeu, ainda no século 16, já cantava sobre a beleza da natureza - e a amaldiçoava por ter lhe roubado Eurídice. Durante o barroco, interessava a fúria dos elementos. No classicismo, o equilíbrio da composição do mundo. No romantismo, a natureza como eco do indivíduo ou então como terreno de brumas misteriosas. No século 20, como manancial de sons a serem explorados.

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Ao interpretar quatro séculos de música, Joyce DiDonato passa por todos esses tempos e espaços. E há mais de uma maneira de entender o caminho que ela percorre. É possível mergulhar, a cada ária ou canção, nos dramas individuais das personagens e em como a natureza fez parte deles. Ou então entender cada faixa como parte de uma longa e inédita composição - que, no final, deixa de lado o indivíduo para tratar de uma relação entre a humanidade e o mundo que a cerca, e que se constrói, e se transforma, com o passar do tempo.

É a própria DiDonato que assim sugere quando canta The First Morning of the World, de Rachel Portmann, definindo a natureza como a única linguagem na qual não existem pontos de interrogação, uma linguagem que pode ser encontrada nos aneis de uma árvore, ou seja, em um tempo que se mede na longa duração.

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Seja como for, nem sempre, nas árias selecionadas, natureza e contemplação andam juntas. Em Myslivecek, “as florestas serão queimadas” e uma “praga será lançada sobre os homens, para que se lembrem de onde vieram”; na Theodora, de Händel, a tempestade é como o destino inescapável; para a poesia de Emily Dickinson, musicada por Aaron Copland, a natureza é a mãe mais gentil, que de cima vela pelo sono de seus filhos; em Wagner, é a fonte de agonia que nos define e pela qual devemos ser gratos; já em Mahler, o mundo natural pode evocar tanto a lembrança de um aroma gentil como ser o personagem oculto da história de um poeta que busca refúgio do mundo em sua própria canção.

Tamanha variedade é também musical. E DiDonato, no final das contas, sai do álbum como uma das maiores cantoras de seu tempo. Comuma compreensão estilística do que canta. E do fato de que a música nem sempre é só música.

Em 2017, a meio-soprano norte-americana Joyce DiDonato saiu em turnê mundial com um espetáculo em que cantava sobre guerra e paz. A ideia havia surgido dois anos antes, após os ataques terroristas de novembro de 2015 em Paris.

“Eu senti a necessidade de abordar o mundo em que eu vivo de modo mais direto, e o tema da guerra e da paz estava ali diante de mim. Eu tinha uma pilha de árias de Händel e Purcell à minha frente, todas falando de guerra e de mundos interiores caóticos, e sobre a busca de serenidade. Eu precisava cantar sobre isso”, ela disse ao Estadão quando esteve no Brasil com o espetáculo, batizado de Na guerra e na paz: harmonia através da música, em 2019.

Joyce DiDonatoem cena do espetáculo 'Éden'. Foto: Kyle Flubacker/Divulgação

Ainda em 2017, com a turnê apenas começando, DiDonato e o conjunto Il Pomo D’Oro já pensavam no próximo trabalho. A ideia era que ele fosse lançado em 2022. A questão era, emum exercício de futurologia, encontrar um tema que, a essa altura, fosse relevante. Acabaram escolhendo a relação do homem com a natureza, marcada pela destruição, pelo surgimento de doenças,

Afora a capacidade premonitória, Éden parte do mesmo princípio de Na guerra e na paz: harmonia através da música. O repertório é escolhido em torno de um tema e serve de base a um espetáculo cênico-musical. Tanto a meio-soprano quanto a orquestra viriam ao Brasil no ano passado pela Cultura Artístico, não fosse a pandemia a estragar os planos da entidade, que se viu forçada a cancelar a temporada. Talvez no próximo ano? Até lá, Éden chega por meio do disco em que são interpretadas árias e canções de Händel, Gluck, Wagner, Mahler, Copland e da compositora Rachel Portmann, que escreveu The First Morning in the World especialmente para o projeto.

A natureza tem sido tema de compositores de ópera desde que o gênero surgiu. Orfeu, ainda no século 16, já cantava sobre a beleza da natureza - e a amaldiçoava por ter lhe roubado Eurídice. Durante o barroco, interessava a fúria dos elementos. No classicismo, o equilíbrio da composição do mundo. No romantismo, a natureza como eco do indivíduo ou então como terreno de brumas misteriosas. No século 20, como manancial de sons a serem explorados.

Ao interpretar quatro séculos de música, Joyce DiDonato passa por todos esses tempos e espaços. E há mais de uma maneira de entender o caminho que ela percorre. É possível mergulhar, a cada ária ou canção, nos dramas individuais das personagens e em como a natureza fez parte deles. Ou então entender cada faixa como parte de uma longa e inédita composição - que, no final, deixa de lado o indivíduo para tratar de uma relação entre a humanidade e o mundo que a cerca, e que se constrói, e se transforma, com o passar do tempo.

É a própria DiDonato que assim sugere quando canta The First Morning of the World, de Rachel Portmann, definindo a natureza como a única linguagem na qual não existem pontos de interrogação, uma linguagem que pode ser encontrada nos aneis de uma árvore, ou seja, em um tempo que se mede na longa duração.

Seja como for, nem sempre, nas árias selecionadas, natureza e contemplação andam juntas. Em Myslivecek, “as florestas serão queimadas” e uma “praga será lançada sobre os homens, para que se lembrem de onde vieram”; na Theodora, de Händel, a tempestade é como o destino inescapável; para a poesia de Emily Dickinson, musicada por Aaron Copland, a natureza é a mãe mais gentil, que de cima vela pelo sono de seus filhos; em Wagner, é a fonte de agonia que nos define e pela qual devemos ser gratos; já em Mahler, o mundo natural pode evocar tanto a lembrança de um aroma gentil como ser o personagem oculto da história de um poeta que busca refúgio do mundo em sua própria canção.

Tamanha variedade é também musical. E DiDonato, no final das contas, sai do álbum como uma das maiores cantoras de seu tempo. Comuma compreensão estilística do que canta. E do fato de que a música nem sempre é só música.

Em 2017, a meio-soprano norte-americana Joyce DiDonato saiu em turnê mundial com um espetáculo em que cantava sobre guerra e paz. A ideia havia surgido dois anos antes, após os ataques terroristas de novembro de 2015 em Paris.

“Eu senti a necessidade de abordar o mundo em que eu vivo de modo mais direto, e o tema da guerra e da paz estava ali diante de mim. Eu tinha uma pilha de árias de Händel e Purcell à minha frente, todas falando de guerra e de mundos interiores caóticos, e sobre a busca de serenidade. Eu precisava cantar sobre isso”, ela disse ao Estadão quando esteve no Brasil com o espetáculo, batizado de Na guerra e na paz: harmonia através da música, em 2019.

Joyce DiDonatoem cena do espetáculo 'Éden'. Foto: Kyle Flubacker/Divulgação

Ainda em 2017, com a turnê apenas começando, DiDonato e o conjunto Il Pomo D’Oro já pensavam no próximo trabalho. A ideia era que ele fosse lançado em 2022. A questão era, emum exercício de futurologia, encontrar um tema que, a essa altura, fosse relevante. Acabaram escolhendo a relação do homem com a natureza, marcada pela destruição, pelo surgimento de doenças,

Afora a capacidade premonitória, Éden parte do mesmo princípio de Na guerra e na paz: harmonia através da música. O repertório é escolhido em torno de um tema e serve de base a um espetáculo cênico-musical. Tanto a meio-soprano quanto a orquestra viriam ao Brasil no ano passado pela Cultura Artístico, não fosse a pandemia a estragar os planos da entidade, que se viu forçada a cancelar a temporada. Talvez no próximo ano? Até lá, Éden chega por meio do disco em que são interpretadas árias e canções de Händel, Gluck, Wagner, Mahler, Copland e da compositora Rachel Portmann, que escreveu The First Morning in the World especialmente para o projeto.

A natureza tem sido tema de compositores de ópera desde que o gênero surgiu. Orfeu, ainda no século 16, já cantava sobre a beleza da natureza - e a amaldiçoava por ter lhe roubado Eurídice. Durante o barroco, interessava a fúria dos elementos. No classicismo, o equilíbrio da composição do mundo. No romantismo, a natureza como eco do indivíduo ou então como terreno de brumas misteriosas. No século 20, como manancial de sons a serem explorados.

Ao interpretar quatro séculos de música, Joyce DiDonato passa por todos esses tempos e espaços. E há mais de uma maneira de entender o caminho que ela percorre. É possível mergulhar, a cada ária ou canção, nos dramas individuais das personagens e em como a natureza fez parte deles. Ou então entender cada faixa como parte de uma longa e inédita composição - que, no final, deixa de lado o indivíduo para tratar de uma relação entre a humanidade e o mundo que a cerca, e que se constrói, e se transforma, com o passar do tempo.

É a própria DiDonato que assim sugere quando canta The First Morning of the World, de Rachel Portmann, definindo a natureza como a única linguagem na qual não existem pontos de interrogação, uma linguagem que pode ser encontrada nos aneis de uma árvore, ou seja, em um tempo que se mede na longa duração.

Seja como for, nem sempre, nas árias selecionadas, natureza e contemplação andam juntas. Em Myslivecek, “as florestas serão queimadas” e uma “praga será lançada sobre os homens, para que se lembrem de onde vieram”; na Theodora, de Händel, a tempestade é como o destino inescapável; para a poesia de Emily Dickinson, musicada por Aaron Copland, a natureza é a mãe mais gentil, que de cima vela pelo sono de seus filhos; em Wagner, é a fonte de agonia que nos define e pela qual devemos ser gratos; já em Mahler, o mundo natural pode evocar tanto a lembrança de um aroma gentil como ser o personagem oculto da história de um poeta que busca refúgio do mundo em sua própria canção.

Tamanha variedade é também musical. E DiDonato, no final das contas, sai do álbum como uma das maiores cantoras de seu tempo. Comuma compreensão estilística do que canta. E do fato de que a música nem sempre é só música.

Em 2017, a meio-soprano norte-americana Joyce DiDonato saiu em turnê mundial com um espetáculo em que cantava sobre guerra e paz. A ideia havia surgido dois anos antes, após os ataques terroristas de novembro de 2015 em Paris.

“Eu senti a necessidade de abordar o mundo em que eu vivo de modo mais direto, e o tema da guerra e da paz estava ali diante de mim. Eu tinha uma pilha de árias de Händel e Purcell à minha frente, todas falando de guerra e de mundos interiores caóticos, e sobre a busca de serenidade. Eu precisava cantar sobre isso”, ela disse ao Estadão quando esteve no Brasil com o espetáculo, batizado de Na guerra e na paz: harmonia através da música, em 2019.

Joyce DiDonatoem cena do espetáculo 'Éden'. Foto: Kyle Flubacker/Divulgação

Ainda em 2017, com a turnê apenas começando, DiDonato e o conjunto Il Pomo D’Oro já pensavam no próximo trabalho. A ideia era que ele fosse lançado em 2022. A questão era, emum exercício de futurologia, encontrar um tema que, a essa altura, fosse relevante. Acabaram escolhendo a relação do homem com a natureza, marcada pela destruição, pelo surgimento de doenças,

Afora a capacidade premonitória, Éden parte do mesmo princípio de Na guerra e na paz: harmonia através da música. O repertório é escolhido em torno de um tema e serve de base a um espetáculo cênico-musical. Tanto a meio-soprano quanto a orquestra viriam ao Brasil no ano passado pela Cultura Artístico, não fosse a pandemia a estragar os planos da entidade, que se viu forçada a cancelar a temporada. Talvez no próximo ano? Até lá, Éden chega por meio do disco em que são interpretadas árias e canções de Händel, Gluck, Wagner, Mahler, Copland e da compositora Rachel Portmann, que escreveu The First Morning in the World especialmente para o projeto.

A natureza tem sido tema de compositores de ópera desde que o gênero surgiu. Orfeu, ainda no século 16, já cantava sobre a beleza da natureza - e a amaldiçoava por ter lhe roubado Eurídice. Durante o barroco, interessava a fúria dos elementos. No classicismo, o equilíbrio da composição do mundo. No romantismo, a natureza como eco do indivíduo ou então como terreno de brumas misteriosas. No século 20, como manancial de sons a serem explorados.

Ao interpretar quatro séculos de música, Joyce DiDonato passa por todos esses tempos e espaços. E há mais de uma maneira de entender o caminho que ela percorre. É possível mergulhar, a cada ária ou canção, nos dramas individuais das personagens e em como a natureza fez parte deles. Ou então entender cada faixa como parte de uma longa e inédita composição - que, no final, deixa de lado o indivíduo para tratar de uma relação entre a humanidade e o mundo que a cerca, e que se constrói, e se transforma, com o passar do tempo.

É a própria DiDonato que assim sugere quando canta The First Morning of the World, de Rachel Portmann, definindo a natureza como a única linguagem na qual não existem pontos de interrogação, uma linguagem que pode ser encontrada nos aneis de uma árvore, ou seja, em um tempo que se mede na longa duração.

Seja como for, nem sempre, nas árias selecionadas, natureza e contemplação andam juntas. Em Myslivecek, “as florestas serão queimadas” e uma “praga será lançada sobre os homens, para que se lembrem de onde vieram”; na Theodora, de Händel, a tempestade é como o destino inescapável; para a poesia de Emily Dickinson, musicada por Aaron Copland, a natureza é a mãe mais gentil, que de cima vela pelo sono de seus filhos; em Wagner, é a fonte de agonia que nos define e pela qual devemos ser gratos; já em Mahler, o mundo natural pode evocar tanto a lembrança de um aroma gentil como ser o personagem oculto da história de um poeta que busca refúgio do mundo em sua própria canção.

Tamanha variedade é também musical. E DiDonato, no final das contas, sai do álbum como uma das maiores cantoras de seu tempo. Comuma compreensão estilística do que canta. E do fato de que a música nem sempre é só música.

Em 2017, a meio-soprano norte-americana Joyce DiDonato saiu em turnê mundial com um espetáculo em que cantava sobre guerra e paz. A ideia havia surgido dois anos antes, após os ataques terroristas de novembro de 2015 em Paris.

“Eu senti a necessidade de abordar o mundo em que eu vivo de modo mais direto, e o tema da guerra e da paz estava ali diante de mim. Eu tinha uma pilha de árias de Händel e Purcell à minha frente, todas falando de guerra e de mundos interiores caóticos, e sobre a busca de serenidade. Eu precisava cantar sobre isso”, ela disse ao Estadão quando esteve no Brasil com o espetáculo, batizado de Na guerra e na paz: harmonia através da música, em 2019.

Joyce DiDonatoem cena do espetáculo 'Éden'. Foto: Kyle Flubacker/Divulgação

Ainda em 2017, com a turnê apenas começando, DiDonato e o conjunto Il Pomo D’Oro já pensavam no próximo trabalho. A ideia era que ele fosse lançado em 2022. A questão era, emum exercício de futurologia, encontrar um tema que, a essa altura, fosse relevante. Acabaram escolhendo a relação do homem com a natureza, marcada pela destruição, pelo surgimento de doenças,

Afora a capacidade premonitória, Éden parte do mesmo princípio de Na guerra e na paz: harmonia através da música. O repertório é escolhido em torno de um tema e serve de base a um espetáculo cênico-musical. Tanto a meio-soprano quanto a orquestra viriam ao Brasil no ano passado pela Cultura Artístico, não fosse a pandemia a estragar os planos da entidade, que se viu forçada a cancelar a temporada. Talvez no próximo ano? Até lá, Éden chega por meio do disco em que são interpretadas árias e canções de Händel, Gluck, Wagner, Mahler, Copland e da compositora Rachel Portmann, que escreveu The First Morning in the World especialmente para o projeto.

A natureza tem sido tema de compositores de ópera desde que o gênero surgiu. Orfeu, ainda no século 16, já cantava sobre a beleza da natureza - e a amaldiçoava por ter lhe roubado Eurídice. Durante o barroco, interessava a fúria dos elementos. No classicismo, o equilíbrio da composição do mundo. No romantismo, a natureza como eco do indivíduo ou então como terreno de brumas misteriosas. No século 20, como manancial de sons a serem explorados.

Ao interpretar quatro séculos de música, Joyce DiDonato passa por todos esses tempos e espaços. E há mais de uma maneira de entender o caminho que ela percorre. É possível mergulhar, a cada ária ou canção, nos dramas individuais das personagens e em como a natureza fez parte deles. Ou então entender cada faixa como parte de uma longa e inédita composição - que, no final, deixa de lado o indivíduo para tratar de uma relação entre a humanidade e o mundo que a cerca, e que se constrói, e se transforma, com o passar do tempo.

É a própria DiDonato que assim sugere quando canta The First Morning of the World, de Rachel Portmann, definindo a natureza como a única linguagem na qual não existem pontos de interrogação, uma linguagem que pode ser encontrada nos aneis de uma árvore, ou seja, em um tempo que se mede na longa duração.

Seja como for, nem sempre, nas árias selecionadas, natureza e contemplação andam juntas. Em Myslivecek, “as florestas serão queimadas” e uma “praga será lançada sobre os homens, para que se lembrem de onde vieram”; na Theodora, de Händel, a tempestade é como o destino inescapável; para a poesia de Emily Dickinson, musicada por Aaron Copland, a natureza é a mãe mais gentil, que de cima vela pelo sono de seus filhos; em Wagner, é a fonte de agonia que nos define e pela qual devemos ser gratos; já em Mahler, o mundo natural pode evocar tanto a lembrança de um aroma gentil como ser o personagem oculto da história de um poeta que busca refúgio do mundo em sua própria canção.

Tamanha variedade é também musical. E DiDonato, no final das contas, sai do álbum como uma das maiores cantoras de seu tempo. Comuma compreensão estilística do que canta. E do fato de que a música nem sempre é só música.

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