Havia uma espera quase angustiante depois de trinta minutos de atraso. Uma imensidão se comparado com os 15 minutos antecipados que o Bon Jovi decidiu fazer seu show na sexta feira, 22. O Aerosmith voltava ao Brasil sem exatamente um novo show, mas cheio de uma idolatria que parece à prova do tempo.
Let The Music To The Talking fez um estrondo que parecia muito maior do que poderia provocar uma plateia de não mais de 30 mil pessoas, se calculados os imensos espaços em branco das arquibancadas. Joe Perry chegou cheio de cores e roupas sobrepostas em um solo de blues arrasador, lembrando dos primórdios da banda. Steven Tyler e sua voz impressionantemente intacta até ali diziam que a noite seria de fortes emoções.
Love In a Elevator veio nos mesmos decibéis, já um hit na segunda música. A pressão de som das guitarras provocada pela parece de amplificadores era enorme. Perry fazia longos solos e Tyler se jogava ao chão já na segunda música. E a terceira era Criyn'. Mais ruídos da plateiae, em sequência, sem respiros, Living on The Edge.
Tyler é um animal que sabe tudo de seu palco. O show que ele entrega parece estar há três décadas na estrada, tamanho a precisão das viradas em cada música. Rag Doll vem também colada à anterior, com Perry na slide guitar lembrando mais uma vez que a gênese de tudo o que acontece ali é o blues de 1960.
Tyler tem também um jogo de cena que o faz parecer estar em um programa de TV por muitas vezes. Ele vai ao baterista e o faz cantar, olhando para as câmeras que transmitem as imagens do telão com expressões de ator.
Joe Perry assume o vocal então para o blues demolidor. Sem Tyler, ele canta Falling In Love e se diverte com o que mais gosta de fazer. Tyler volta para um solo de gaita e deixa tudo ainda mais efervescente. Tyler pega um megafone e eleva seu parceiro ainda mais enquanto ele sola. Grita seu nome e o conduz às estrelas, mostrando que não parece haver problemas de ego na banda neste instante.
A dobrada de Crazy e I Don't Want To Miss a Thing foi emocionante. Lembrou de um tempo recente em que as rádios FM ainda faziam as canções que todos cantariam. Mas veio algo que muitos não esperavam e trouxe o auge. Come Together, dos Beatles, ficou impressionante.
Sweet Emotion começou com o baixista à frente. Todos ali têm espaço. Viriam ainda Dream On, Mother Popcorn e Walk This Way com uma banda que parece se divertir no palco como setodos ali tivessem 15 anos deidade.
Se comparado aos outros dias de show, com o The Who, na quinta, e o Bon Jovi, no sábado, a apresentação de Tyler foi de um ruído de plateia ainda maior do que o sentido por Jon Bon Jovi e sua banda. Havia um idolatria também ali, mas a energia parecia ser provocada mais pela entrega de Tyler e Perry.
Sem ligar o piloto automático que já poderia ter se imposto em tantos anos de estrada, Tyler chega como se quisesse virar o jogo, nunca como se o mesmo jogo estivesse ganho. Uma postura da qual companheiros como Axl Rose, do Guns 'n' Roses não compartilham.
Ao voltar para o bis, com Dream On, ele assumiu sozinho o piano branco colocado ao lado esquerdo do palco. Fez toda a introdução martelando as cordas e cantando com uma emoção que parecia ser seu primeiro encontro com aquela canção. A banda retornou logo e Perry, seu Keith Richards mais técnico, partiu para o solo sobre o mesmo piano branco. Uma cena grandiosa. Jatos de fumaça poluiram o palco e a plateia e aquilo tudo pareceu inesperado para o público.
Seguindo o mesmo roteiro que apresentou no Rock in Rio, a banda ainda tinha duas apostas antes de partir. Mother Popcorn, uma das misturas do funk com o hard rock que marca parte da produção da banda,foi mais assistida do que cantada. Tyler mostra aqui, e de novo, o quanto sua voz está inteira.
E veio então Walk This Way, a primeira grande mistura da história do rap com o rock and roll, gravada com o Run DMC. Eles podem já ter vontade de aposentá la, mas fechar o show assim é também uma demonstração de força. O Aerosmith já escreveu sua história.