Espetáculo estreia obra musical recém-descoberta de d. Pedro I


Com apresentações no Museu do Ipiranga no fim de semana, ‘Música da Independência’ revela faceta pouco conhecida do imperador

Por João Luiz Sampaio

Uma faceta pouco conhecida de d. Pedro I retorna este sábado, 26, ao Museu do Ipiranga. Não o príncipe, não o imperador, nem mesmo o Pedro IV que após sair do Brasil reinaria em Portugal. Mas um outro que fez parte de todas essas personas: o músico - mais especificamente, o compositor que deixou uma série de partituras que muitas vezes se misturam à própria história do País.

“Surpreende o modo como a produção musical é ignorada quando se fala na biografia de d. Pedro. A historiografia não leva em conta documentos musicais e falta uma relação maior entre historiadores e músicos”, diz a cravista e pesquisadora Rosana Lanzelotte. Ela idealizou o espetáculo Música da Independência, que traz composições do imperador, incluindo a estreia moderna de uma peça recém-descoberta, a Missa et Adjuva nos Domine. O programa será apresentado no museu neste sábado, 26, e domingo, 27, e nos dias 3 e 4 de dezembro, sempre às 16 horas.

Retrato de D. Pedro I, por Simplício Rodrigues de Sá Foto: Simplício Rodrigues de Sá
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A missa estava em um arquivo encontrado na Igreja da Angra da Sé, nos Açores, na qual já havia sido descoberta uma outra peça do gênero, dedicada ao papa Leão XII, um gesto político do imperador logo após chegar ao poder, usando a música para estabelecer laços diplomáticos. “Ninguém havia constatado a presença dessa outra missa. É curioso, pois ela foi escrita em estilo antigo, já distante de sua época. Uma conjectura possível é a de que ele teria tentado mostrar ao papa seu conhecimento da história da música, do contraponto renascentista”, acredita Rosana.

Além da missa, serão apresentadas, de d. Pedro I, a Marcha Imperial, o Hino Constitucional e o Hino da Independência, ao lado de criações de compositores que atuaram no Brasil no período, como padre José Maurício, Sigismund Neukomm e Marcos Portugal. Além de Rosana, participam Marília Vargas, Ricardo Kanji, Guilherme de Camargo, Ivy Szot, William Manoel e Claudio Marques. Vinte obras de d. Pedro I chegaram a nossos dias, ou seja, delas conhecemos as partituras. Há, entre elas, obras ambiciosas, como um Te Deum. Mas é provável que existam outras, ainda não encontradas. Não é apenas torcida: há indícios a sugerir uma produção musical maior do imperador. Nas pesquisas, Rosana achou uma peça escrita por Neukomm, músico austríaco que viveu no Rio entre 1816 e 1821, Fantasia sobre Valsas do Imperador. Se a obra existe, então é possível afirmar que d. Pedro escreveu valsas cujas partituras seguem perdidas.

Partitura escrita por D. Pedro I.: 1ª página do manuscrito autógrafo da versão orquestral do Hino da Independência, doada por Francisco Manuel da Silva ao IHGB em 1861  Foto: Projeto Música Brasílis
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Preservação

Intérprete e pesquisadora sempre conviveram na trajetória de Rosana Lanzelotte. Precisou ser assim, ela lembra. “Ninguém tocou a música barroca no século 19, então cravistas sempre precisaram se voltar à pesquisa para encontrar o repertório.” Mas com o tempo ela sentiu necessidade de, no resgate de obras, ir além de seus interesses como intérprete. “No ano do Brasil na França, em 2005, estava envolvida com um programa de música barroca e me pediram ajuda para encontrar partituras de obras sinfônicas para serem apresentadas. E foi difícil encontrar além do que já se conhecia, que era Villa-Lobos. Sem partituras, a música fica esquecida. E enveredei por esse caminho, unindo a musicista com a competência a que sempre me dediquei que é a informática”, explica.

Ela então criou, em 2009, o Musica Brasilis, projeto que se dedica à edição e publicação online de partituras de autores brasileiros ou ligados à história do País. Atualmente, são duas mil obras disponíveis e a expectativa é de que, nos próximos três anos, o número chegue a pelo menos cinco mil, de autores como Luis Álvares Pinto, Lorenzo Fernandez, Chiquinha Gonzaga, Henrique Oswald, Ernesto Nazareth, Alberto Nepomuceno e Patápio Silva, entre outros. As partituras podem ser acessadas gratuitamente e o portal traz informações biográficas sobre autores e cronologias da música brasileira.

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Fachada do Museu do Ipiranga, na zona sul de São Paulo. Foto: Taba Benedicto/Estadão

A escolha de obras a serem recuperadas e digitalizadas segue alguns critérios, como sua importância histórica. Mas não só. Para formatar as etapas do projeto, foram realizadas consultas públicas em que especialistas, músicos e profissionais da área sugeriram obras e autores, o que permitiu, segundo Rosana, “maior participação e envolvimento de diferentes instituições no projeto”. Ela conta que recentemente iniciou conversas para a digitalização do acervo do pesquisador Vicente Salles, que viveu em Belém. “O nosso objetivo é estender a nossa atuação a grupos de todo o País.”

Outro critério tem a ver com a demanda de instituições. Quando foi gravar as aberturas das óperas de Antonio Carlos Gomes, a Filarmônica de Minas procurou o Musica Brasilis para que trabalhassem em novas edições das obras. A orquestra, por sinal, também gravou as obras de d. Pedro I para o selo Naxos, em disco lançado em setembro.

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Além das obras de d. Pedro e das aberturas de Carlos Gomes, a expectativa é contemplar pelo menos outros 20 autores. O mais antigo é Luis Álvares Pinto, nascido em 1719; o mais recente, Lorenzo Fernandez, morto em 1948. Entre os dois, estão nomes como José Maurício Nunes Garcia, Chiquinha Gonzaga, Henrique Oswald, Ernesto Nazareth, Alberto Nepomuceno ou Patápio Silva.

Uma faceta pouco conhecida de d. Pedro I retorna este sábado, 26, ao Museu do Ipiranga. Não o príncipe, não o imperador, nem mesmo o Pedro IV que após sair do Brasil reinaria em Portugal. Mas um outro que fez parte de todas essas personas: o músico - mais especificamente, o compositor que deixou uma série de partituras que muitas vezes se misturam à própria história do País.

“Surpreende o modo como a produção musical é ignorada quando se fala na biografia de d. Pedro. A historiografia não leva em conta documentos musicais e falta uma relação maior entre historiadores e músicos”, diz a cravista e pesquisadora Rosana Lanzelotte. Ela idealizou o espetáculo Música da Independência, que traz composições do imperador, incluindo a estreia moderna de uma peça recém-descoberta, a Missa et Adjuva nos Domine. O programa será apresentado no museu neste sábado, 26, e domingo, 27, e nos dias 3 e 4 de dezembro, sempre às 16 horas.

Retrato de D. Pedro I, por Simplício Rodrigues de Sá Foto: Simplício Rodrigues de Sá

A missa estava em um arquivo encontrado na Igreja da Angra da Sé, nos Açores, na qual já havia sido descoberta uma outra peça do gênero, dedicada ao papa Leão XII, um gesto político do imperador logo após chegar ao poder, usando a música para estabelecer laços diplomáticos. “Ninguém havia constatado a presença dessa outra missa. É curioso, pois ela foi escrita em estilo antigo, já distante de sua época. Uma conjectura possível é a de que ele teria tentado mostrar ao papa seu conhecimento da história da música, do contraponto renascentista”, acredita Rosana.

Além da missa, serão apresentadas, de d. Pedro I, a Marcha Imperial, o Hino Constitucional e o Hino da Independência, ao lado de criações de compositores que atuaram no Brasil no período, como padre José Maurício, Sigismund Neukomm e Marcos Portugal. Além de Rosana, participam Marília Vargas, Ricardo Kanji, Guilherme de Camargo, Ivy Szot, William Manoel e Claudio Marques. Vinte obras de d. Pedro I chegaram a nossos dias, ou seja, delas conhecemos as partituras. Há, entre elas, obras ambiciosas, como um Te Deum. Mas é provável que existam outras, ainda não encontradas. Não é apenas torcida: há indícios a sugerir uma produção musical maior do imperador. Nas pesquisas, Rosana achou uma peça escrita por Neukomm, músico austríaco que viveu no Rio entre 1816 e 1821, Fantasia sobre Valsas do Imperador. Se a obra existe, então é possível afirmar que d. Pedro escreveu valsas cujas partituras seguem perdidas.

Partitura escrita por D. Pedro I.: 1ª página do manuscrito autógrafo da versão orquestral do Hino da Independência, doada por Francisco Manuel da Silva ao IHGB em 1861  Foto: Projeto Música Brasílis

Preservação

Intérprete e pesquisadora sempre conviveram na trajetória de Rosana Lanzelotte. Precisou ser assim, ela lembra. “Ninguém tocou a música barroca no século 19, então cravistas sempre precisaram se voltar à pesquisa para encontrar o repertório.” Mas com o tempo ela sentiu necessidade de, no resgate de obras, ir além de seus interesses como intérprete. “No ano do Brasil na França, em 2005, estava envolvida com um programa de música barroca e me pediram ajuda para encontrar partituras de obras sinfônicas para serem apresentadas. E foi difícil encontrar além do que já se conhecia, que era Villa-Lobos. Sem partituras, a música fica esquecida. E enveredei por esse caminho, unindo a musicista com a competência a que sempre me dediquei que é a informática”, explica.

Ela então criou, em 2009, o Musica Brasilis, projeto que se dedica à edição e publicação online de partituras de autores brasileiros ou ligados à história do País. Atualmente, são duas mil obras disponíveis e a expectativa é de que, nos próximos três anos, o número chegue a pelo menos cinco mil, de autores como Luis Álvares Pinto, Lorenzo Fernandez, Chiquinha Gonzaga, Henrique Oswald, Ernesto Nazareth, Alberto Nepomuceno e Patápio Silva, entre outros. As partituras podem ser acessadas gratuitamente e o portal traz informações biográficas sobre autores e cronologias da música brasileira.

Fachada do Museu do Ipiranga, na zona sul de São Paulo. Foto: Taba Benedicto/Estadão

A escolha de obras a serem recuperadas e digitalizadas segue alguns critérios, como sua importância histórica. Mas não só. Para formatar as etapas do projeto, foram realizadas consultas públicas em que especialistas, músicos e profissionais da área sugeriram obras e autores, o que permitiu, segundo Rosana, “maior participação e envolvimento de diferentes instituições no projeto”. Ela conta que recentemente iniciou conversas para a digitalização do acervo do pesquisador Vicente Salles, que viveu em Belém. “O nosso objetivo é estender a nossa atuação a grupos de todo o País.”

Outro critério tem a ver com a demanda de instituições. Quando foi gravar as aberturas das óperas de Antonio Carlos Gomes, a Filarmônica de Minas procurou o Musica Brasilis para que trabalhassem em novas edições das obras. A orquestra, por sinal, também gravou as obras de d. Pedro I para o selo Naxos, em disco lançado em setembro.

Além das obras de d. Pedro e das aberturas de Carlos Gomes, a expectativa é contemplar pelo menos outros 20 autores. O mais antigo é Luis Álvares Pinto, nascido em 1719; o mais recente, Lorenzo Fernandez, morto em 1948. Entre os dois, estão nomes como José Maurício Nunes Garcia, Chiquinha Gonzaga, Henrique Oswald, Ernesto Nazareth, Alberto Nepomuceno ou Patápio Silva.

Uma faceta pouco conhecida de d. Pedro I retorna este sábado, 26, ao Museu do Ipiranga. Não o príncipe, não o imperador, nem mesmo o Pedro IV que após sair do Brasil reinaria em Portugal. Mas um outro que fez parte de todas essas personas: o músico - mais especificamente, o compositor que deixou uma série de partituras que muitas vezes se misturam à própria história do País.

“Surpreende o modo como a produção musical é ignorada quando se fala na biografia de d. Pedro. A historiografia não leva em conta documentos musicais e falta uma relação maior entre historiadores e músicos”, diz a cravista e pesquisadora Rosana Lanzelotte. Ela idealizou o espetáculo Música da Independência, que traz composições do imperador, incluindo a estreia moderna de uma peça recém-descoberta, a Missa et Adjuva nos Domine. O programa será apresentado no museu neste sábado, 26, e domingo, 27, e nos dias 3 e 4 de dezembro, sempre às 16 horas.

Retrato de D. Pedro I, por Simplício Rodrigues de Sá Foto: Simplício Rodrigues de Sá

A missa estava em um arquivo encontrado na Igreja da Angra da Sé, nos Açores, na qual já havia sido descoberta uma outra peça do gênero, dedicada ao papa Leão XII, um gesto político do imperador logo após chegar ao poder, usando a música para estabelecer laços diplomáticos. “Ninguém havia constatado a presença dessa outra missa. É curioso, pois ela foi escrita em estilo antigo, já distante de sua época. Uma conjectura possível é a de que ele teria tentado mostrar ao papa seu conhecimento da história da música, do contraponto renascentista”, acredita Rosana.

Além da missa, serão apresentadas, de d. Pedro I, a Marcha Imperial, o Hino Constitucional e o Hino da Independência, ao lado de criações de compositores que atuaram no Brasil no período, como padre José Maurício, Sigismund Neukomm e Marcos Portugal. Além de Rosana, participam Marília Vargas, Ricardo Kanji, Guilherme de Camargo, Ivy Szot, William Manoel e Claudio Marques. Vinte obras de d. Pedro I chegaram a nossos dias, ou seja, delas conhecemos as partituras. Há, entre elas, obras ambiciosas, como um Te Deum. Mas é provável que existam outras, ainda não encontradas. Não é apenas torcida: há indícios a sugerir uma produção musical maior do imperador. Nas pesquisas, Rosana achou uma peça escrita por Neukomm, músico austríaco que viveu no Rio entre 1816 e 1821, Fantasia sobre Valsas do Imperador. Se a obra existe, então é possível afirmar que d. Pedro escreveu valsas cujas partituras seguem perdidas.

Partitura escrita por D. Pedro I.: 1ª página do manuscrito autógrafo da versão orquestral do Hino da Independência, doada por Francisco Manuel da Silva ao IHGB em 1861  Foto: Projeto Música Brasílis

Preservação

Intérprete e pesquisadora sempre conviveram na trajetória de Rosana Lanzelotte. Precisou ser assim, ela lembra. “Ninguém tocou a música barroca no século 19, então cravistas sempre precisaram se voltar à pesquisa para encontrar o repertório.” Mas com o tempo ela sentiu necessidade de, no resgate de obras, ir além de seus interesses como intérprete. “No ano do Brasil na França, em 2005, estava envolvida com um programa de música barroca e me pediram ajuda para encontrar partituras de obras sinfônicas para serem apresentadas. E foi difícil encontrar além do que já se conhecia, que era Villa-Lobos. Sem partituras, a música fica esquecida. E enveredei por esse caminho, unindo a musicista com a competência a que sempre me dediquei que é a informática”, explica.

Ela então criou, em 2009, o Musica Brasilis, projeto que se dedica à edição e publicação online de partituras de autores brasileiros ou ligados à história do País. Atualmente, são duas mil obras disponíveis e a expectativa é de que, nos próximos três anos, o número chegue a pelo menos cinco mil, de autores como Luis Álvares Pinto, Lorenzo Fernandez, Chiquinha Gonzaga, Henrique Oswald, Ernesto Nazareth, Alberto Nepomuceno e Patápio Silva, entre outros. As partituras podem ser acessadas gratuitamente e o portal traz informações biográficas sobre autores e cronologias da música brasileira.

Fachada do Museu do Ipiranga, na zona sul de São Paulo. Foto: Taba Benedicto/Estadão

A escolha de obras a serem recuperadas e digitalizadas segue alguns critérios, como sua importância histórica. Mas não só. Para formatar as etapas do projeto, foram realizadas consultas públicas em que especialistas, músicos e profissionais da área sugeriram obras e autores, o que permitiu, segundo Rosana, “maior participação e envolvimento de diferentes instituições no projeto”. Ela conta que recentemente iniciou conversas para a digitalização do acervo do pesquisador Vicente Salles, que viveu em Belém. “O nosso objetivo é estender a nossa atuação a grupos de todo o País.”

Outro critério tem a ver com a demanda de instituições. Quando foi gravar as aberturas das óperas de Antonio Carlos Gomes, a Filarmônica de Minas procurou o Musica Brasilis para que trabalhassem em novas edições das obras. A orquestra, por sinal, também gravou as obras de d. Pedro I para o selo Naxos, em disco lançado em setembro.

Além das obras de d. Pedro e das aberturas de Carlos Gomes, a expectativa é contemplar pelo menos outros 20 autores. O mais antigo é Luis Álvares Pinto, nascido em 1719; o mais recente, Lorenzo Fernandez, morto em 1948. Entre os dois, estão nomes como José Maurício Nunes Garcia, Chiquinha Gonzaga, Henrique Oswald, Ernesto Nazareth, Alberto Nepomuceno ou Patápio Silva.

Uma faceta pouco conhecida de d. Pedro I retorna este sábado, 26, ao Museu do Ipiranga. Não o príncipe, não o imperador, nem mesmo o Pedro IV que após sair do Brasil reinaria em Portugal. Mas um outro que fez parte de todas essas personas: o músico - mais especificamente, o compositor que deixou uma série de partituras que muitas vezes se misturam à própria história do País.

“Surpreende o modo como a produção musical é ignorada quando se fala na biografia de d. Pedro. A historiografia não leva em conta documentos musicais e falta uma relação maior entre historiadores e músicos”, diz a cravista e pesquisadora Rosana Lanzelotte. Ela idealizou o espetáculo Música da Independência, que traz composições do imperador, incluindo a estreia moderna de uma peça recém-descoberta, a Missa et Adjuva nos Domine. O programa será apresentado no museu neste sábado, 26, e domingo, 27, e nos dias 3 e 4 de dezembro, sempre às 16 horas.

Retrato de D. Pedro I, por Simplício Rodrigues de Sá Foto: Simplício Rodrigues de Sá

A missa estava em um arquivo encontrado na Igreja da Angra da Sé, nos Açores, na qual já havia sido descoberta uma outra peça do gênero, dedicada ao papa Leão XII, um gesto político do imperador logo após chegar ao poder, usando a música para estabelecer laços diplomáticos. “Ninguém havia constatado a presença dessa outra missa. É curioso, pois ela foi escrita em estilo antigo, já distante de sua época. Uma conjectura possível é a de que ele teria tentado mostrar ao papa seu conhecimento da história da música, do contraponto renascentista”, acredita Rosana.

Além da missa, serão apresentadas, de d. Pedro I, a Marcha Imperial, o Hino Constitucional e o Hino da Independência, ao lado de criações de compositores que atuaram no Brasil no período, como padre José Maurício, Sigismund Neukomm e Marcos Portugal. Além de Rosana, participam Marília Vargas, Ricardo Kanji, Guilherme de Camargo, Ivy Szot, William Manoel e Claudio Marques. Vinte obras de d. Pedro I chegaram a nossos dias, ou seja, delas conhecemos as partituras. Há, entre elas, obras ambiciosas, como um Te Deum. Mas é provável que existam outras, ainda não encontradas. Não é apenas torcida: há indícios a sugerir uma produção musical maior do imperador. Nas pesquisas, Rosana achou uma peça escrita por Neukomm, músico austríaco que viveu no Rio entre 1816 e 1821, Fantasia sobre Valsas do Imperador. Se a obra existe, então é possível afirmar que d. Pedro escreveu valsas cujas partituras seguem perdidas.

Partitura escrita por D. Pedro I.: 1ª página do manuscrito autógrafo da versão orquestral do Hino da Independência, doada por Francisco Manuel da Silva ao IHGB em 1861  Foto: Projeto Música Brasílis

Preservação

Intérprete e pesquisadora sempre conviveram na trajetória de Rosana Lanzelotte. Precisou ser assim, ela lembra. “Ninguém tocou a música barroca no século 19, então cravistas sempre precisaram se voltar à pesquisa para encontrar o repertório.” Mas com o tempo ela sentiu necessidade de, no resgate de obras, ir além de seus interesses como intérprete. “No ano do Brasil na França, em 2005, estava envolvida com um programa de música barroca e me pediram ajuda para encontrar partituras de obras sinfônicas para serem apresentadas. E foi difícil encontrar além do que já se conhecia, que era Villa-Lobos. Sem partituras, a música fica esquecida. E enveredei por esse caminho, unindo a musicista com a competência a que sempre me dediquei que é a informática”, explica.

Ela então criou, em 2009, o Musica Brasilis, projeto que se dedica à edição e publicação online de partituras de autores brasileiros ou ligados à história do País. Atualmente, são duas mil obras disponíveis e a expectativa é de que, nos próximos três anos, o número chegue a pelo menos cinco mil, de autores como Luis Álvares Pinto, Lorenzo Fernandez, Chiquinha Gonzaga, Henrique Oswald, Ernesto Nazareth, Alberto Nepomuceno e Patápio Silva, entre outros. As partituras podem ser acessadas gratuitamente e o portal traz informações biográficas sobre autores e cronologias da música brasileira.

Fachada do Museu do Ipiranga, na zona sul de São Paulo. Foto: Taba Benedicto/Estadão

A escolha de obras a serem recuperadas e digitalizadas segue alguns critérios, como sua importância histórica. Mas não só. Para formatar as etapas do projeto, foram realizadas consultas públicas em que especialistas, músicos e profissionais da área sugeriram obras e autores, o que permitiu, segundo Rosana, “maior participação e envolvimento de diferentes instituições no projeto”. Ela conta que recentemente iniciou conversas para a digitalização do acervo do pesquisador Vicente Salles, que viveu em Belém. “O nosso objetivo é estender a nossa atuação a grupos de todo o País.”

Outro critério tem a ver com a demanda de instituições. Quando foi gravar as aberturas das óperas de Antonio Carlos Gomes, a Filarmônica de Minas procurou o Musica Brasilis para que trabalhassem em novas edições das obras. A orquestra, por sinal, também gravou as obras de d. Pedro I para o selo Naxos, em disco lançado em setembro.

Além das obras de d. Pedro e das aberturas de Carlos Gomes, a expectativa é contemplar pelo menos outros 20 autores. O mais antigo é Luis Álvares Pinto, nascido em 1719; o mais recente, Lorenzo Fernandez, morto em 1948. Entre os dois, estão nomes como José Maurício Nunes Garcia, Chiquinha Gonzaga, Henrique Oswald, Ernesto Nazareth, Alberto Nepomuceno ou Patápio Silva.

Uma faceta pouco conhecida de d. Pedro I retorna este sábado, 26, ao Museu do Ipiranga. Não o príncipe, não o imperador, nem mesmo o Pedro IV que após sair do Brasil reinaria em Portugal. Mas um outro que fez parte de todas essas personas: o músico - mais especificamente, o compositor que deixou uma série de partituras que muitas vezes se misturam à própria história do País.

“Surpreende o modo como a produção musical é ignorada quando se fala na biografia de d. Pedro. A historiografia não leva em conta documentos musicais e falta uma relação maior entre historiadores e músicos”, diz a cravista e pesquisadora Rosana Lanzelotte. Ela idealizou o espetáculo Música da Independência, que traz composições do imperador, incluindo a estreia moderna de uma peça recém-descoberta, a Missa et Adjuva nos Domine. O programa será apresentado no museu neste sábado, 26, e domingo, 27, e nos dias 3 e 4 de dezembro, sempre às 16 horas.

Retrato de D. Pedro I, por Simplício Rodrigues de Sá Foto: Simplício Rodrigues de Sá

A missa estava em um arquivo encontrado na Igreja da Angra da Sé, nos Açores, na qual já havia sido descoberta uma outra peça do gênero, dedicada ao papa Leão XII, um gesto político do imperador logo após chegar ao poder, usando a música para estabelecer laços diplomáticos. “Ninguém havia constatado a presença dessa outra missa. É curioso, pois ela foi escrita em estilo antigo, já distante de sua época. Uma conjectura possível é a de que ele teria tentado mostrar ao papa seu conhecimento da história da música, do contraponto renascentista”, acredita Rosana.

Além da missa, serão apresentadas, de d. Pedro I, a Marcha Imperial, o Hino Constitucional e o Hino da Independência, ao lado de criações de compositores que atuaram no Brasil no período, como padre José Maurício, Sigismund Neukomm e Marcos Portugal. Além de Rosana, participam Marília Vargas, Ricardo Kanji, Guilherme de Camargo, Ivy Szot, William Manoel e Claudio Marques. Vinte obras de d. Pedro I chegaram a nossos dias, ou seja, delas conhecemos as partituras. Há, entre elas, obras ambiciosas, como um Te Deum. Mas é provável que existam outras, ainda não encontradas. Não é apenas torcida: há indícios a sugerir uma produção musical maior do imperador. Nas pesquisas, Rosana achou uma peça escrita por Neukomm, músico austríaco que viveu no Rio entre 1816 e 1821, Fantasia sobre Valsas do Imperador. Se a obra existe, então é possível afirmar que d. Pedro escreveu valsas cujas partituras seguem perdidas.

Partitura escrita por D. Pedro I.: 1ª página do manuscrito autógrafo da versão orquestral do Hino da Independência, doada por Francisco Manuel da Silva ao IHGB em 1861  Foto: Projeto Música Brasílis

Preservação

Intérprete e pesquisadora sempre conviveram na trajetória de Rosana Lanzelotte. Precisou ser assim, ela lembra. “Ninguém tocou a música barroca no século 19, então cravistas sempre precisaram se voltar à pesquisa para encontrar o repertório.” Mas com o tempo ela sentiu necessidade de, no resgate de obras, ir além de seus interesses como intérprete. “No ano do Brasil na França, em 2005, estava envolvida com um programa de música barroca e me pediram ajuda para encontrar partituras de obras sinfônicas para serem apresentadas. E foi difícil encontrar além do que já se conhecia, que era Villa-Lobos. Sem partituras, a música fica esquecida. E enveredei por esse caminho, unindo a musicista com a competência a que sempre me dediquei que é a informática”, explica.

Ela então criou, em 2009, o Musica Brasilis, projeto que se dedica à edição e publicação online de partituras de autores brasileiros ou ligados à história do País. Atualmente, são duas mil obras disponíveis e a expectativa é de que, nos próximos três anos, o número chegue a pelo menos cinco mil, de autores como Luis Álvares Pinto, Lorenzo Fernandez, Chiquinha Gonzaga, Henrique Oswald, Ernesto Nazareth, Alberto Nepomuceno e Patápio Silva, entre outros. As partituras podem ser acessadas gratuitamente e o portal traz informações biográficas sobre autores e cronologias da música brasileira.

Fachada do Museu do Ipiranga, na zona sul de São Paulo. Foto: Taba Benedicto/Estadão

A escolha de obras a serem recuperadas e digitalizadas segue alguns critérios, como sua importância histórica. Mas não só. Para formatar as etapas do projeto, foram realizadas consultas públicas em que especialistas, músicos e profissionais da área sugeriram obras e autores, o que permitiu, segundo Rosana, “maior participação e envolvimento de diferentes instituições no projeto”. Ela conta que recentemente iniciou conversas para a digitalização do acervo do pesquisador Vicente Salles, que viveu em Belém. “O nosso objetivo é estender a nossa atuação a grupos de todo o País.”

Outro critério tem a ver com a demanda de instituições. Quando foi gravar as aberturas das óperas de Antonio Carlos Gomes, a Filarmônica de Minas procurou o Musica Brasilis para que trabalhassem em novas edições das obras. A orquestra, por sinal, também gravou as obras de d. Pedro I para o selo Naxos, em disco lançado em setembro.

Além das obras de d. Pedro e das aberturas de Carlos Gomes, a expectativa é contemplar pelo menos outros 20 autores. O mais antigo é Luis Álvares Pinto, nascido em 1719; o mais recente, Lorenzo Fernandez, morto em 1948. Entre os dois, estão nomes como José Maurício Nunes Garcia, Chiquinha Gonzaga, Henrique Oswald, Ernesto Nazareth, Alberto Nepomuceno ou Patápio Silva.

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