Esquecidos pela Semana de 22, Oito Batutas são revalorizados no Sesc Pompeia


Grupo Outros Batutas, dirigido por Jorge Simas, mostra a impressionante força de um repertório que, há 100 anos, foi mostrado aos franceses enquanto o Brasil vivia sua Semana de Arte Moderna

Por Julio Maria
Atualização:

Um dos desvios históricos mais flagrantes da música brasileira, ainda escandalosamente subdimensionado por mediadores que não aproveitaram as janelas abertas pelo centenário da Semana de 22 para habilitá-los como integrantes daquele cenário, os Oito Batutas seguem enigmaticamente à margem. Cem anos depois, é preciso apresentá-los ainda como novidade, jogando logo no primeiro parágrafo de um texto o seguinte: em 16 de fevereiro de 1922, os Oito Batutas fizeram a primeira apresentação de um grupo brasileiro no exterior, no cabaré Sherazade, em Paris. Convidados para um mês de shows, acabaram ficando cinco. E, logo depois, se lançaram sabe Deus como para uma turnê pelo Brasil visitando 20 cidades e sete estados. Isso tudo em 1922.

Formação de 1923 com Pixinguinha já no saxofone, influenciado pelo que viu na efervescência de Paris Foto: COLEÇÃO PIXINGUINHA/ACERVO IMS

E quem eram os Oito Batutas? Eles foram muitos, as formações variavam de tempos em tempos, mas, dentre os grandes estavam simplesmente Donga, que gravou o considerado primeiro samba da história com Pelo Telefone (um maxixe, na verdade, mas o título é dele); Pixinguinha, o primeiro arranjador popular do País, como diz o músico Jorge Simas, e autor de Carinhoso, a música mais importante da história do Brasil para Paulinho da Viola ao lado de Asa Branca; e João da Baiana, a elegância em ternos brancos que, entre tantos feitos, foi quem colocou o pandeiro no samba.

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Eles, os Oito Batutas, serão lembrados em duas apresentações, hoje, 22, e amanhã, 23, na comedoria do Sesc Pompeia. Os Oito Batutas e os Outros Batutas, com direção musical de Jorge Simas e produção da Iracema Cultural, é uma chance para se saber mais sobre esse time dos sonhos. Quem fala primeiro sobre a luta para que a imagem dos batutas reviva é Márcia Zaíra, neta de Donga e filha de Lygia Santos, advogada, museóloga e velha defensora das memórias do pai. Lygia, aos 88, debilitada pelo Alzheimer, deixou parte das memórias com a filha. “O País precisa saber, precisamos falar e fazer essa história ecoar”, diz Márcia. “A imprensa é porta-voz da sociedade, mas as pautas precisam chegar a ela, não é isso?”

A pauta chegou e Jorge Simas vai liderar o grupo batizado de Outros Batutas. Simas fala como um professor, e é. Enquanto o Brasil ainda ignora os Batutas como um acontecimento de Semana de 22 avançada, e nada mais moderno do que um grupo que deu as bases para o que seria criado nos séculos seguintes, a França planeja comemorações para lembrar da passagem dos Batutas por Paris. Simas foi convidado pelo Clube do Choro de Paris – sim, eles o têm – para fazer parte da programação de shows e palestras até o final do ano. Antes, Simas dirige os Outros Batutas por aqui e fala o que sabe à reportagem.

“A ida dos Batutas em 1922, para a França, teve uma importância de mão dupla”, lembra ele, que foi vizinho por um tempo de João da Baiana. “Ao mesmo tempo que os músicos levaram o xote, o maxixe, o samba e o choro para lá, trouxeram a influência do jazz e da música norte-americana, que já se baseava na efervescência de Paris.” Foi de lá que Pixinga veio com a ideia do saxofone, que substituiria por vezes sua flauta. E também o banjo, que Garoto usaria mais tarde.

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REPERTÓRIO. O conjunto de Simas tem, além de seu violão de sete, os músicos Marcelo Menezes (violão de seis), Alceu Maia (cavaquinho), Marco Cesar (bandolim e bandola, prima mais grave do bandolim, usada pelos Batutas), Alexandre Maionese (flauta), Felipe Donguinha (percussão, bisneto de Donga), Celsinho Silva (pandeiro) e Marquinhos China (voz). Em dois momentos do repertório, nas músicas Rosa e Luar do Sertão, o convidado será o pianista Laércio de Freitas.

“Vamos tocar músicas do grupo e outras que pertencem ao universo de seus integrantes”, afirma Simas. Entre elas Sofres Porque Queres, Lamento (criada depois de Pixinguinha ser barrado com seu grupo por racismo na entrada principal do Copacabana Palace), Urubatan, Três Estrelinhas (de Anacleto), Urubu Malandro e uma parte com músicas cantadas, como Gavião Calçudo e Benguelê. Uma coleção para colocar qualquer grupo na história. 

Outros Batutas  Homenageiam os Oito Batutas  Sesc Pompeia.  Rua Clélia, 93. 6ª (22) e sáb. (23), às 21h30.  R$ 40 

Um dos desvios históricos mais flagrantes da música brasileira, ainda escandalosamente subdimensionado por mediadores que não aproveitaram as janelas abertas pelo centenário da Semana de 22 para habilitá-los como integrantes daquele cenário, os Oito Batutas seguem enigmaticamente à margem. Cem anos depois, é preciso apresentá-los ainda como novidade, jogando logo no primeiro parágrafo de um texto o seguinte: em 16 de fevereiro de 1922, os Oito Batutas fizeram a primeira apresentação de um grupo brasileiro no exterior, no cabaré Sherazade, em Paris. Convidados para um mês de shows, acabaram ficando cinco. E, logo depois, se lançaram sabe Deus como para uma turnê pelo Brasil visitando 20 cidades e sete estados. Isso tudo em 1922.

Formação de 1923 com Pixinguinha já no saxofone, influenciado pelo que viu na efervescência de Paris Foto: COLEÇÃO PIXINGUINHA/ACERVO IMS

E quem eram os Oito Batutas? Eles foram muitos, as formações variavam de tempos em tempos, mas, dentre os grandes estavam simplesmente Donga, que gravou o considerado primeiro samba da história com Pelo Telefone (um maxixe, na verdade, mas o título é dele); Pixinguinha, o primeiro arranjador popular do País, como diz o músico Jorge Simas, e autor de Carinhoso, a música mais importante da história do Brasil para Paulinho da Viola ao lado de Asa Branca; e João da Baiana, a elegância em ternos brancos que, entre tantos feitos, foi quem colocou o pandeiro no samba.

Eles, os Oito Batutas, serão lembrados em duas apresentações, hoje, 22, e amanhã, 23, na comedoria do Sesc Pompeia. Os Oito Batutas e os Outros Batutas, com direção musical de Jorge Simas e produção da Iracema Cultural, é uma chance para se saber mais sobre esse time dos sonhos. Quem fala primeiro sobre a luta para que a imagem dos batutas reviva é Márcia Zaíra, neta de Donga e filha de Lygia Santos, advogada, museóloga e velha defensora das memórias do pai. Lygia, aos 88, debilitada pelo Alzheimer, deixou parte das memórias com a filha. “O País precisa saber, precisamos falar e fazer essa história ecoar”, diz Márcia. “A imprensa é porta-voz da sociedade, mas as pautas precisam chegar a ela, não é isso?”

A pauta chegou e Jorge Simas vai liderar o grupo batizado de Outros Batutas. Simas fala como um professor, e é. Enquanto o Brasil ainda ignora os Batutas como um acontecimento de Semana de 22 avançada, e nada mais moderno do que um grupo que deu as bases para o que seria criado nos séculos seguintes, a França planeja comemorações para lembrar da passagem dos Batutas por Paris. Simas foi convidado pelo Clube do Choro de Paris – sim, eles o têm – para fazer parte da programação de shows e palestras até o final do ano. Antes, Simas dirige os Outros Batutas por aqui e fala o que sabe à reportagem.

“A ida dos Batutas em 1922, para a França, teve uma importância de mão dupla”, lembra ele, que foi vizinho por um tempo de João da Baiana. “Ao mesmo tempo que os músicos levaram o xote, o maxixe, o samba e o choro para lá, trouxeram a influência do jazz e da música norte-americana, que já se baseava na efervescência de Paris.” Foi de lá que Pixinga veio com a ideia do saxofone, que substituiria por vezes sua flauta. E também o banjo, que Garoto usaria mais tarde.

REPERTÓRIO. O conjunto de Simas tem, além de seu violão de sete, os músicos Marcelo Menezes (violão de seis), Alceu Maia (cavaquinho), Marco Cesar (bandolim e bandola, prima mais grave do bandolim, usada pelos Batutas), Alexandre Maionese (flauta), Felipe Donguinha (percussão, bisneto de Donga), Celsinho Silva (pandeiro) e Marquinhos China (voz). Em dois momentos do repertório, nas músicas Rosa e Luar do Sertão, o convidado será o pianista Laércio de Freitas.

“Vamos tocar músicas do grupo e outras que pertencem ao universo de seus integrantes”, afirma Simas. Entre elas Sofres Porque Queres, Lamento (criada depois de Pixinguinha ser barrado com seu grupo por racismo na entrada principal do Copacabana Palace), Urubatan, Três Estrelinhas (de Anacleto), Urubu Malandro e uma parte com músicas cantadas, como Gavião Calçudo e Benguelê. Uma coleção para colocar qualquer grupo na história. 

Outros Batutas  Homenageiam os Oito Batutas  Sesc Pompeia.  Rua Clélia, 93. 6ª (22) e sáb. (23), às 21h30.  R$ 40 

Um dos desvios históricos mais flagrantes da música brasileira, ainda escandalosamente subdimensionado por mediadores que não aproveitaram as janelas abertas pelo centenário da Semana de 22 para habilitá-los como integrantes daquele cenário, os Oito Batutas seguem enigmaticamente à margem. Cem anos depois, é preciso apresentá-los ainda como novidade, jogando logo no primeiro parágrafo de um texto o seguinte: em 16 de fevereiro de 1922, os Oito Batutas fizeram a primeira apresentação de um grupo brasileiro no exterior, no cabaré Sherazade, em Paris. Convidados para um mês de shows, acabaram ficando cinco. E, logo depois, se lançaram sabe Deus como para uma turnê pelo Brasil visitando 20 cidades e sete estados. Isso tudo em 1922.

Formação de 1923 com Pixinguinha já no saxofone, influenciado pelo que viu na efervescência de Paris Foto: COLEÇÃO PIXINGUINHA/ACERVO IMS

E quem eram os Oito Batutas? Eles foram muitos, as formações variavam de tempos em tempos, mas, dentre os grandes estavam simplesmente Donga, que gravou o considerado primeiro samba da história com Pelo Telefone (um maxixe, na verdade, mas o título é dele); Pixinguinha, o primeiro arranjador popular do País, como diz o músico Jorge Simas, e autor de Carinhoso, a música mais importante da história do Brasil para Paulinho da Viola ao lado de Asa Branca; e João da Baiana, a elegância em ternos brancos que, entre tantos feitos, foi quem colocou o pandeiro no samba.

Eles, os Oito Batutas, serão lembrados em duas apresentações, hoje, 22, e amanhã, 23, na comedoria do Sesc Pompeia. Os Oito Batutas e os Outros Batutas, com direção musical de Jorge Simas e produção da Iracema Cultural, é uma chance para se saber mais sobre esse time dos sonhos. Quem fala primeiro sobre a luta para que a imagem dos batutas reviva é Márcia Zaíra, neta de Donga e filha de Lygia Santos, advogada, museóloga e velha defensora das memórias do pai. Lygia, aos 88, debilitada pelo Alzheimer, deixou parte das memórias com a filha. “O País precisa saber, precisamos falar e fazer essa história ecoar”, diz Márcia. “A imprensa é porta-voz da sociedade, mas as pautas precisam chegar a ela, não é isso?”

A pauta chegou e Jorge Simas vai liderar o grupo batizado de Outros Batutas. Simas fala como um professor, e é. Enquanto o Brasil ainda ignora os Batutas como um acontecimento de Semana de 22 avançada, e nada mais moderno do que um grupo que deu as bases para o que seria criado nos séculos seguintes, a França planeja comemorações para lembrar da passagem dos Batutas por Paris. Simas foi convidado pelo Clube do Choro de Paris – sim, eles o têm – para fazer parte da programação de shows e palestras até o final do ano. Antes, Simas dirige os Outros Batutas por aqui e fala o que sabe à reportagem.

“A ida dos Batutas em 1922, para a França, teve uma importância de mão dupla”, lembra ele, que foi vizinho por um tempo de João da Baiana. “Ao mesmo tempo que os músicos levaram o xote, o maxixe, o samba e o choro para lá, trouxeram a influência do jazz e da música norte-americana, que já se baseava na efervescência de Paris.” Foi de lá que Pixinga veio com a ideia do saxofone, que substituiria por vezes sua flauta. E também o banjo, que Garoto usaria mais tarde.

REPERTÓRIO. O conjunto de Simas tem, além de seu violão de sete, os músicos Marcelo Menezes (violão de seis), Alceu Maia (cavaquinho), Marco Cesar (bandolim e bandola, prima mais grave do bandolim, usada pelos Batutas), Alexandre Maionese (flauta), Felipe Donguinha (percussão, bisneto de Donga), Celsinho Silva (pandeiro) e Marquinhos China (voz). Em dois momentos do repertório, nas músicas Rosa e Luar do Sertão, o convidado será o pianista Laércio de Freitas.

“Vamos tocar músicas do grupo e outras que pertencem ao universo de seus integrantes”, afirma Simas. Entre elas Sofres Porque Queres, Lamento (criada depois de Pixinguinha ser barrado com seu grupo por racismo na entrada principal do Copacabana Palace), Urubatan, Três Estrelinhas (de Anacleto), Urubu Malandro e uma parte com músicas cantadas, como Gavião Calçudo e Benguelê. Uma coleção para colocar qualquer grupo na história. 

Outros Batutas  Homenageiam os Oito Batutas  Sesc Pompeia.  Rua Clélia, 93. 6ª (22) e sáb. (23), às 21h30.  R$ 40 

Um dos desvios históricos mais flagrantes da música brasileira, ainda escandalosamente subdimensionado por mediadores que não aproveitaram as janelas abertas pelo centenário da Semana de 22 para habilitá-los como integrantes daquele cenário, os Oito Batutas seguem enigmaticamente à margem. Cem anos depois, é preciso apresentá-los ainda como novidade, jogando logo no primeiro parágrafo de um texto o seguinte: em 16 de fevereiro de 1922, os Oito Batutas fizeram a primeira apresentação de um grupo brasileiro no exterior, no cabaré Sherazade, em Paris. Convidados para um mês de shows, acabaram ficando cinco. E, logo depois, se lançaram sabe Deus como para uma turnê pelo Brasil visitando 20 cidades e sete estados. Isso tudo em 1922.

Formação de 1923 com Pixinguinha já no saxofone, influenciado pelo que viu na efervescência de Paris Foto: COLEÇÃO PIXINGUINHA/ACERVO IMS

E quem eram os Oito Batutas? Eles foram muitos, as formações variavam de tempos em tempos, mas, dentre os grandes estavam simplesmente Donga, que gravou o considerado primeiro samba da história com Pelo Telefone (um maxixe, na verdade, mas o título é dele); Pixinguinha, o primeiro arranjador popular do País, como diz o músico Jorge Simas, e autor de Carinhoso, a música mais importante da história do Brasil para Paulinho da Viola ao lado de Asa Branca; e João da Baiana, a elegância em ternos brancos que, entre tantos feitos, foi quem colocou o pandeiro no samba.

Eles, os Oito Batutas, serão lembrados em duas apresentações, hoje, 22, e amanhã, 23, na comedoria do Sesc Pompeia. Os Oito Batutas e os Outros Batutas, com direção musical de Jorge Simas e produção da Iracema Cultural, é uma chance para se saber mais sobre esse time dos sonhos. Quem fala primeiro sobre a luta para que a imagem dos batutas reviva é Márcia Zaíra, neta de Donga e filha de Lygia Santos, advogada, museóloga e velha defensora das memórias do pai. Lygia, aos 88, debilitada pelo Alzheimer, deixou parte das memórias com a filha. “O País precisa saber, precisamos falar e fazer essa história ecoar”, diz Márcia. “A imprensa é porta-voz da sociedade, mas as pautas precisam chegar a ela, não é isso?”

A pauta chegou e Jorge Simas vai liderar o grupo batizado de Outros Batutas. Simas fala como um professor, e é. Enquanto o Brasil ainda ignora os Batutas como um acontecimento de Semana de 22 avançada, e nada mais moderno do que um grupo que deu as bases para o que seria criado nos séculos seguintes, a França planeja comemorações para lembrar da passagem dos Batutas por Paris. Simas foi convidado pelo Clube do Choro de Paris – sim, eles o têm – para fazer parte da programação de shows e palestras até o final do ano. Antes, Simas dirige os Outros Batutas por aqui e fala o que sabe à reportagem.

“A ida dos Batutas em 1922, para a França, teve uma importância de mão dupla”, lembra ele, que foi vizinho por um tempo de João da Baiana. “Ao mesmo tempo que os músicos levaram o xote, o maxixe, o samba e o choro para lá, trouxeram a influência do jazz e da música norte-americana, que já se baseava na efervescência de Paris.” Foi de lá que Pixinga veio com a ideia do saxofone, que substituiria por vezes sua flauta. E também o banjo, que Garoto usaria mais tarde.

REPERTÓRIO. O conjunto de Simas tem, além de seu violão de sete, os músicos Marcelo Menezes (violão de seis), Alceu Maia (cavaquinho), Marco Cesar (bandolim e bandola, prima mais grave do bandolim, usada pelos Batutas), Alexandre Maionese (flauta), Felipe Donguinha (percussão, bisneto de Donga), Celsinho Silva (pandeiro) e Marquinhos China (voz). Em dois momentos do repertório, nas músicas Rosa e Luar do Sertão, o convidado será o pianista Laércio de Freitas.

“Vamos tocar músicas do grupo e outras que pertencem ao universo de seus integrantes”, afirma Simas. Entre elas Sofres Porque Queres, Lamento (criada depois de Pixinguinha ser barrado com seu grupo por racismo na entrada principal do Copacabana Palace), Urubatan, Três Estrelinhas (de Anacleto), Urubu Malandro e uma parte com músicas cantadas, como Gavião Calçudo e Benguelê. Uma coleção para colocar qualquer grupo na história. 

Outros Batutas  Homenageiam os Oito Batutas  Sesc Pompeia.  Rua Clélia, 93. 6ª (22) e sáb. (23), às 21h30.  R$ 40 

Um dos desvios históricos mais flagrantes da música brasileira, ainda escandalosamente subdimensionado por mediadores que não aproveitaram as janelas abertas pelo centenário da Semana de 22 para habilitá-los como integrantes daquele cenário, os Oito Batutas seguem enigmaticamente à margem. Cem anos depois, é preciso apresentá-los ainda como novidade, jogando logo no primeiro parágrafo de um texto o seguinte: em 16 de fevereiro de 1922, os Oito Batutas fizeram a primeira apresentação de um grupo brasileiro no exterior, no cabaré Sherazade, em Paris. Convidados para um mês de shows, acabaram ficando cinco. E, logo depois, se lançaram sabe Deus como para uma turnê pelo Brasil visitando 20 cidades e sete estados. Isso tudo em 1922.

Formação de 1923 com Pixinguinha já no saxofone, influenciado pelo que viu na efervescência de Paris Foto: COLEÇÃO PIXINGUINHA/ACERVO IMS

E quem eram os Oito Batutas? Eles foram muitos, as formações variavam de tempos em tempos, mas, dentre os grandes estavam simplesmente Donga, que gravou o considerado primeiro samba da história com Pelo Telefone (um maxixe, na verdade, mas o título é dele); Pixinguinha, o primeiro arranjador popular do País, como diz o músico Jorge Simas, e autor de Carinhoso, a música mais importante da história do Brasil para Paulinho da Viola ao lado de Asa Branca; e João da Baiana, a elegância em ternos brancos que, entre tantos feitos, foi quem colocou o pandeiro no samba.

Eles, os Oito Batutas, serão lembrados em duas apresentações, hoje, 22, e amanhã, 23, na comedoria do Sesc Pompeia. Os Oito Batutas e os Outros Batutas, com direção musical de Jorge Simas e produção da Iracema Cultural, é uma chance para se saber mais sobre esse time dos sonhos. Quem fala primeiro sobre a luta para que a imagem dos batutas reviva é Márcia Zaíra, neta de Donga e filha de Lygia Santos, advogada, museóloga e velha defensora das memórias do pai. Lygia, aos 88, debilitada pelo Alzheimer, deixou parte das memórias com a filha. “O País precisa saber, precisamos falar e fazer essa história ecoar”, diz Márcia. “A imprensa é porta-voz da sociedade, mas as pautas precisam chegar a ela, não é isso?”

A pauta chegou e Jorge Simas vai liderar o grupo batizado de Outros Batutas. Simas fala como um professor, e é. Enquanto o Brasil ainda ignora os Batutas como um acontecimento de Semana de 22 avançada, e nada mais moderno do que um grupo que deu as bases para o que seria criado nos séculos seguintes, a França planeja comemorações para lembrar da passagem dos Batutas por Paris. Simas foi convidado pelo Clube do Choro de Paris – sim, eles o têm – para fazer parte da programação de shows e palestras até o final do ano. Antes, Simas dirige os Outros Batutas por aqui e fala o que sabe à reportagem.

“A ida dos Batutas em 1922, para a França, teve uma importância de mão dupla”, lembra ele, que foi vizinho por um tempo de João da Baiana. “Ao mesmo tempo que os músicos levaram o xote, o maxixe, o samba e o choro para lá, trouxeram a influência do jazz e da música norte-americana, que já se baseava na efervescência de Paris.” Foi de lá que Pixinga veio com a ideia do saxofone, que substituiria por vezes sua flauta. E também o banjo, que Garoto usaria mais tarde.

REPERTÓRIO. O conjunto de Simas tem, além de seu violão de sete, os músicos Marcelo Menezes (violão de seis), Alceu Maia (cavaquinho), Marco Cesar (bandolim e bandola, prima mais grave do bandolim, usada pelos Batutas), Alexandre Maionese (flauta), Felipe Donguinha (percussão, bisneto de Donga), Celsinho Silva (pandeiro) e Marquinhos China (voz). Em dois momentos do repertório, nas músicas Rosa e Luar do Sertão, o convidado será o pianista Laércio de Freitas.

“Vamos tocar músicas do grupo e outras que pertencem ao universo de seus integrantes”, afirma Simas. Entre elas Sofres Porque Queres, Lamento (criada depois de Pixinguinha ser barrado com seu grupo por racismo na entrada principal do Copacabana Palace), Urubatan, Três Estrelinhas (de Anacleto), Urubu Malandro e uma parte com músicas cantadas, como Gavião Calçudo e Benguelê. Uma coleção para colocar qualquer grupo na história. 

Outros Batutas  Homenageiam os Oito Batutas  Sesc Pompeia.  Rua Clélia, 93. 6ª (22) e sáb. (23), às 21h30.  R$ 40 

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