Nick Cave chegou a São Paulo, enfim, 25 anos depois de ter deixado a cidade onde morou entre 1990 e 1993. Ele recebeu um grupo de jornalistas num hotel de luxo na região dos Jardins – disse ter percebido a cidade mais limpa, reconheceu alguns lugares e se mostrou ansioso para visitar o “bar do Pedro”, como ele chama a Mercearia São Pedro.
O show de domingo, 14, no Espaço das Américas, é o último da turnê sul-americana dos Bad Seeds. “As audiências dos shows por aqui têm sido incríveis. Assustadoras até”, disse – de bom humor, ele lamentou a situação política do País, sem entrar em questões específicas. “Nós vamos f* a cabeça de todos vocês”, disse.
“Não queremos salvar o mundo (deixo esse trabalho para o Roger Waters)”, riu ainda – os dois não se bicam há tempos por uma divergência sobre shows em Israel.
“Minhas músicas não desafiam a sociedade, mas sim as pessoas que a escutam”, explicou. “Queremos fornecer uma experiência talvez transformadora, esperando que as pessoas saiam do show restauradas de alguma coisa.”
Sobre sua vida brasileira, Cave disse estar em bons termos com ela: seu filho paulistano tem hoje 27 anos e ele disse ter uma relação “muito boa” com a mãe de seu filho, Viviane Carneiro, psicoterapeuta que hoje vive em Londres.
“O Brasil teve um impacto grande em mim. Foi um impacto não intencional. Não vim aprender a cultura, vim porque me apaixonei e acabei ficando. Sou uma pessoa criativa. É muito difícil viver no Brasil sem sofrer influências. Eu vivi aqui. Mas não acho que música brasileira teve efeito. Eu amava, mas acho ela muito difícil, muito esperta. Os ritmos estão além de mim”, disse – ele mencionou, por exemplo, ter saudades dos tempos que podia simplesmente “sentar num bar e ficar quieto”.
“Eu me sinto ligado a esse lugar”, disse ainda sobre São Paulo, “mas faz 25 anos que não piso aqui. É uma torrente de emoções, sim, é emocionante voltar. Algumas das noites mais prazerosas da minha vida passei aqui”.
Esperamos que ele possa repetir a experiência no domingo, portanto.