Faltou tudo a Elza Soares, só não faltou voz


"A única coisa que me dá medo é o ódio. Meu Deus, por que nos tornamos assim? O que houve com o nosso País, meu Deus?", disse a cantora em entrevista concedida ao Estadão, em 2020

Por Julio Maria
Atualização:

É como perder a maior guerreira na batalha final, vão lamentar os que conheceram a Elza das palavras mais duras, politizada e contundente, de 2015 pra cá. Se foi a voz do samba jazz, dirão os apaixonados por sua discografia, sobretudo dos anos 60 e 70, e em especial de discos como Elza Soares, baterista: Wilson das Neves, de 1968. Ninguém pediu perdão, se lembrarão quem a viu ser massacrada em praça pública, com pedradas e xingamentos, ao ser assumida pelo jogador Garrincha.

Elza Soares e Garrincha Foto: AP

Elza Soares ocupou um lugar superior ao de grande cantora, o que já seria muito, por sobreviver a uma vida marcada por tragédias, racismo, paixões destruídas e, em todos os sentidos, uma implacável falta. Faltou tudo a Elza Soares: família, compreensão, amigos verdadeiros, respeito. Mas não faltou voz. Quando então se tornou enorme e pode falar do alto da entidade que se tornou em vida em seus últimos anos, respondeu assim ao Estadão ao ser perguntada sobre a saída para um país conflagrado pelo ódio: “Quando soubermos que não somos nada, e que somos todos iguais, seremos mais leves, teremos mais amor e voltaremos a ter mais esperança.”

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Na mesma entrevista, a última que daria para o jornal, uma das últimas de sua vida, disse mais. Sobre o tempo, falou dos motivos que a levavam a não abrir sua verdadeira idade facilmente: “Há dias em que estou no ventre, outros em que já nasci há tempos e outros ainda em que acabei de nascer. Sei lá, vou vivendo.” Sobre seu vocal rasgado, que para muitos teria origem ou influência em cantos negros de cantoras do blues, como Etta James ou Koko Taylor, ela deixou o seguinte: “Não, eu nunca ouvi blues na vida, isso não chegava para mim. Mas eu carregava latas d'água na cabeça gemendo de dor, e esse era o meu blues. E este é o som da dor que eu carrego até hoje.”

Elza estava prestes a lançar o single Juízo Final, regravando a música de Nelson Cavaquinho e Élcio Soares. Quase 50 anos depois da primeira gravação do samba, ela sentia a necessidade de cantar de novo que “o sol há de brilhar mais uma vez / A luz há de chegar aos corações / O mal será queimada a semente / O amor será eterno novamente.” E falou sobre seu único medo: “A única coisa que me dá medo é o ódio. Meu Deus, por que nos tornamos assim? O que houve com o nosso País, meu Deus?”, disse, com a voz embargada. “O Brasil sempre foi um país do amor, e as pessoas estão se esquecendo disso. De onde pode ter saído tanto ódio?”

É como perder a maior guerreira na batalha final, vão lamentar os que conheceram a Elza das palavras mais duras, politizada e contundente, de 2015 pra cá. Se foi a voz do samba jazz, dirão os apaixonados por sua discografia, sobretudo dos anos 60 e 70, e em especial de discos como Elza Soares, baterista: Wilson das Neves, de 1968. Ninguém pediu perdão, se lembrarão quem a viu ser massacrada em praça pública, com pedradas e xingamentos, ao ser assumida pelo jogador Garrincha.

Elza Soares e Garrincha Foto: AP

Elza Soares ocupou um lugar superior ao de grande cantora, o que já seria muito, por sobreviver a uma vida marcada por tragédias, racismo, paixões destruídas e, em todos os sentidos, uma implacável falta. Faltou tudo a Elza Soares: família, compreensão, amigos verdadeiros, respeito. Mas não faltou voz. Quando então se tornou enorme e pode falar do alto da entidade que se tornou em vida em seus últimos anos, respondeu assim ao Estadão ao ser perguntada sobre a saída para um país conflagrado pelo ódio: “Quando soubermos que não somos nada, e que somos todos iguais, seremos mais leves, teremos mais amor e voltaremos a ter mais esperança.”

Na mesma entrevista, a última que daria para o jornal, uma das últimas de sua vida, disse mais. Sobre o tempo, falou dos motivos que a levavam a não abrir sua verdadeira idade facilmente: “Há dias em que estou no ventre, outros em que já nasci há tempos e outros ainda em que acabei de nascer. Sei lá, vou vivendo.” Sobre seu vocal rasgado, que para muitos teria origem ou influência em cantos negros de cantoras do blues, como Etta James ou Koko Taylor, ela deixou o seguinte: “Não, eu nunca ouvi blues na vida, isso não chegava para mim. Mas eu carregava latas d'água na cabeça gemendo de dor, e esse era o meu blues. E este é o som da dor que eu carrego até hoje.”

Elza estava prestes a lançar o single Juízo Final, regravando a música de Nelson Cavaquinho e Élcio Soares. Quase 50 anos depois da primeira gravação do samba, ela sentia a necessidade de cantar de novo que “o sol há de brilhar mais uma vez / A luz há de chegar aos corações / O mal será queimada a semente / O amor será eterno novamente.” E falou sobre seu único medo: “A única coisa que me dá medo é o ódio. Meu Deus, por que nos tornamos assim? O que houve com o nosso País, meu Deus?”, disse, com a voz embargada. “O Brasil sempre foi um país do amor, e as pessoas estão se esquecendo disso. De onde pode ter saído tanto ódio?”

É como perder a maior guerreira na batalha final, vão lamentar os que conheceram a Elza das palavras mais duras, politizada e contundente, de 2015 pra cá. Se foi a voz do samba jazz, dirão os apaixonados por sua discografia, sobretudo dos anos 60 e 70, e em especial de discos como Elza Soares, baterista: Wilson das Neves, de 1968. Ninguém pediu perdão, se lembrarão quem a viu ser massacrada em praça pública, com pedradas e xingamentos, ao ser assumida pelo jogador Garrincha.

Elza Soares e Garrincha Foto: AP

Elza Soares ocupou um lugar superior ao de grande cantora, o que já seria muito, por sobreviver a uma vida marcada por tragédias, racismo, paixões destruídas e, em todos os sentidos, uma implacável falta. Faltou tudo a Elza Soares: família, compreensão, amigos verdadeiros, respeito. Mas não faltou voz. Quando então se tornou enorme e pode falar do alto da entidade que se tornou em vida em seus últimos anos, respondeu assim ao Estadão ao ser perguntada sobre a saída para um país conflagrado pelo ódio: “Quando soubermos que não somos nada, e que somos todos iguais, seremos mais leves, teremos mais amor e voltaremos a ter mais esperança.”

Na mesma entrevista, a última que daria para o jornal, uma das últimas de sua vida, disse mais. Sobre o tempo, falou dos motivos que a levavam a não abrir sua verdadeira idade facilmente: “Há dias em que estou no ventre, outros em que já nasci há tempos e outros ainda em que acabei de nascer. Sei lá, vou vivendo.” Sobre seu vocal rasgado, que para muitos teria origem ou influência em cantos negros de cantoras do blues, como Etta James ou Koko Taylor, ela deixou o seguinte: “Não, eu nunca ouvi blues na vida, isso não chegava para mim. Mas eu carregava latas d'água na cabeça gemendo de dor, e esse era o meu blues. E este é o som da dor que eu carrego até hoje.”

Elza estava prestes a lançar o single Juízo Final, regravando a música de Nelson Cavaquinho e Élcio Soares. Quase 50 anos depois da primeira gravação do samba, ela sentia a necessidade de cantar de novo que “o sol há de brilhar mais uma vez / A luz há de chegar aos corações / O mal será queimada a semente / O amor será eterno novamente.” E falou sobre seu único medo: “A única coisa que me dá medo é o ódio. Meu Deus, por que nos tornamos assim? O que houve com o nosso País, meu Deus?”, disse, com a voz embargada. “O Brasil sempre foi um país do amor, e as pessoas estão se esquecendo disso. De onde pode ter saído tanto ódio?”

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