Nos últimos dias, o acampamento físico e a mobilização virtual dos seguidores de Taylor Swift jogaram na cara do Brasil a farra dos cambistas. O velho problema passou pelo novo olhar dos fãs da cantora, conhecidos por serem implacáveis.
A história de milhares ingressos esgotarem em poucos minutos não é nova, mas parece que vem se agravando a cada show e festival. O cúmulo agora foi fãs de Taylor ameaçados na fila da bilheteria do Allianz Parque, em São Paulo. Mas eles reagiram.
Término artificial?
Milhares de senhas se acumulam em filas virtuais a cada megashow. Dessa vez, o número beirou os 2 milhões. Isso não parece natural. Por mais apaixonados que os fãs brasileiros sejam, parece suspeito o esgotamento tão rápido dos ingressos - que depois, brotam em canais de revenda nas redes sociais.
O próprio diretor de Fiscalização do Procon SP, Marcelo Pagotti João, sinaliza que algo está errado. No último dia 19 de junho ele supervisionou a operação do orgão e da Polícia Civil (PC) na bilheteria em São Paulo. Na mesma ocasião, a área de informática da instituição monitorou a venda online.
E nesta quinta-feira, 22, Marcelo falou que há suspeitas a investigar. “Há indícios, mas não provas substanciais ainda, da ação de hackers e de robôs. A gente está tentando dificultar a ação desses hackers”, afirmou.
Fãs corajosos
A simples presença das autoridades no lugar afugentou os criminosos. E é assim que tem de ser. Os fãs de Taylor Swift não se deixaram intimidar, mesmo sendo abertamente hostilizados por cambistas nas primeiras noites de fila.
Ao contrário. Eles se mobilizaram. No virtual, xingaram muito no Twitter, subiram hashtags nos trending topics e chamaram atenção. No plano físico, coordenaram denúncias em massa na Polícia Militar e no Procon. Não se calaram.
Fiscalização como deveria ser
O que ficou claro na cobertura desses acontecimentos é que a fiscalização foi e é fundamental. Bastou os agentes começarem a fazer perguntas e apertar os presentes para explicarem porque estavam ali que 25 pessoas foram detidas sob suspeita de cambismo.
Levadas à delegacia, tiveram tomados os depoimentos e incluídos no inquérito que investiga o crime contra contra a economia popular. E foram liberadas na sequência.
Já nesta quinta-feira, atuando em conjunto com o Procon da mesma forma, apenas duas pessoas foram conduzidas. E bastou as 28 viaturas dos dois órgãos chegarem ao Allianz Parque para haver uma debandada de pessoas da fila, afugentadas pela presença do Estado.
Antes, a empresa organizadora já tinha tomado atitude. Desta vez, as senhas distribuídas para os fãs eram identificadas e intransferíveis. Elas tinham QR code e escrito o CPF de quem estava lá guardando um lugar. Funcionou.
Isso precisa ser o padrão. Só com rédea curta contra os criminosos e acompanhamento intenso das vendas essas infrações serão combatidas. E se podem ser punidas com seis meses a dois anos de prisão, além de multa, que sejam.
Sem vista grossa
As produtoras também não podem fazer vista grossa, para que não passe despercebida a conduta tão flagrante dos cambistas. Inclusive no dia das apresentações, quando oferecem descaradamente ingressos nos arredores dos recintos - seja golpe ou não.
Por fim, não interessa o julgamento sobre quem são as pessoas que acampam nas bilheterias. Se trabalham, estudam ou não. Se faltam ao serviço ou matam aula. Se comprometem folgas e férias em troca dos dias perdidos na fila.
Interessa que cambistas prejudicam as pessoas em diversas dimensões. Na emocional, brincam com os sonhos dos outros. Com o desejo íntimo de ver o ídolo de perto e participar junto da celebração de memórias que valem muito para elas.
Na dimensão econômica, superfaturam os ingressos para aqueles que, desesperados por não conseguirem comprar os tickets legalmente e apaixonados pelos ídolos que tão raramente vêm ao Brasil, acabam se se submetendo aos preços exorbitantes praticados depois na mão grande.
De acordo com a polícia, foram encontrados ingressos oferecidos a até R$ 12 mil. Incontestável vantagem abusiva e ilegal. Vários desses anúncios são feitos nas redes sociais ou outros sites de venda. Ferramentas para combater essa praga já existem.
Mas e agora? Com o fim da fila a indignação vai retroceder? Após os dias de pulso firme, as autoridades vão baixar a guarda? Ou no próximo show ou festival, na próxima fila, as lições aprendidas, com ajuda das implacáveis fãs de Taylor Swift, serão novamente aplicadas?