Filarmônica de Minas Gerais faz concerto em Lisboa para celebrar bicentenário da Independência


O ‘Estadão’ acompanhou a apresentação de terça, 6, no Porto; grupo fará outra ao ar livre nesta quarta, 7, no Jardim da Torre de Belém

Por João Luiz Sampaio
Atualização:

PORTO (PORTUGAL) - A Filarmônica de Minas Gerais ainda se prepara para a última passagem do som antes do concerto na Casa da Música do Porto. E, num canto da plateia, o maestro Fabio Mechetti fala sobre Villa-Lobos. O Choros nº 6, ele diz, é sua obra preferida dentre as tantas escritas pelo compositor. “A nostalgia, as saudades, são coisas muito brasileiras. E tem a inocência. A bobeira. Eu vejo o Brasil inteiro ali.”

Tudo pronto no palco. A primeira peça a ser repassada é a terceira das Bachianas brasileiras do compositor. Contrabaixos, violoncelos, violas, mais tarde os segundos violinos. A orquestra toca, Mechetti olha para o fundo da plateia. Procura o regente associado da Filarmônica de Minas Gerais, José Soares.

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A conversa feita de gestos e olhares fala de acústica, de ajustes necessários por conta das características sonoras da sala. Um pouco mais piano aqui, um pouco mais de atenção ao regente ali, mais madeiras aqui, menos metais ali. Mechetti se volta para o pianista Jean-Louis Steuerman. Está tudo bem? A música segue.

Bicentenário

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No final da tarde de terça-feira, 6, a filarmônica se preparava para fazer a sua estreia na Europa. Ao longo desta semana, o grupo fará uma série de apresentações em Portugal. Depois do concerto no Porto, será a vez de Lisboa. O primeiro concerto na capital, nesta quarta, dia 7, será ao ar livre, nos jardins da Torre de Belém, celebrando o bicentenário da Independência com uma seleção de obras brasileiras, de autores como Carlos Gomes, Lorenzo Fernandez, Guerra-Peixe e Alberto Nepomuceno. Na quinta, a filarmônica toca no Centro Cultural Belém; e, no dia 9, encerra a viagem em Coimbra.

O concerto desta quarta-feira, 7, será transmitido pelo YouTube da Filarmônica de Minas Gerais, a partir de 21h30 (horário Brasil).

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Mas, de volta à Casa da Música, o ensaio segue com o Prelúdio e a Alvorada da ópera O Escravo, de Carlos Gomes. Enquanto isso, na plateia, Steuerman fala das Bachianas. Ele tem carinho especial pela peça, pela maneira como Villa-Lobos trata Bach como inspiração, com majestade, mas sem pudor. Ainda assim, é um desafio, para o piano, para a orquestra - e para fazer tudo soar bem junto. Villa-Lobos sempre coloca problemas, ele diz, porque é profundamente original.

A Filarmônica de Minas Gerais se apresenta em Portugal Foto: João Luiz Sampaio/ Estadão

O pianista aponta para o palco. É um milagre que, após pandemia e os tantos desafios para a arte no Brasil, uma orquestra permaneça forte, dando passos como a turnê. “São heróis, as pessoas que gerem a cultura no Brasil, o termo é esse, heróis”, ele começa a explicar, mas é interrompido por uma passagem dos Choros nº 6... “Gênio”, diz, os braços regendo de longe a orquestra.

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“Nunca regi Villa-Lobos. Ele exigiria uma técnica de regência que eu não tenho, eu me limito àquilo que conheço bem, sobre o que estou certo de ter ideias interessantes a compartilhar.” A lista vem aos poucos, em fala mansa. Schumann. Beethoven, “claro”. “E Bruckner, quero um dia chegar até Bruckner.” Ele faz um breve silêncio. “Eu menti para você. Já regi sim Villa-Lobos. O prelúdio das Bachianas nº 4, uma versão que fiz para cordas e para piano. Mas ali é mais fácil. A técnica deu.”

Noite de estreia

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O primeiro concerto da turnê começou com uma obra portuguesa, a Abertura Sinfônica nº 3 de Joly Braga Santos, pertencente à fase - dizer nacionalista talvez seja exagero - em que o compositor se voltou à tradição portuguesa como inspiração. O som, cheio, encorpado, a precisão - o que se mostrou ali deu o tom do que se ouviria mais tarde.

Foi particularmente bonito o modo como Steuerman, Mechetti e os músicos da filarmônica construíram a Fantasia, segundo movimento das Bachianas nº 3, a melodia passeando pelos instrumentos, reinventada pelo piano. Na segunda parte, nos Choros, coloridos que vinham da personalidade dos solistas da orquestra, da harmonia entre os naipes, do diálogo entre eles. Por vezes, a sensação era vertiginosa: crescendos que pareciam não ter para onde mais subir; ou a delicadeza tocante de uma flauta.

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No bis, Carlos Gomes. Depois dos trechos de O Escravo, as aberturas de O Guarani e Fosca. É música que a orquestra tem nas mãos: no começo do ano, gravou disco dedicado ao compositor brasileiro. Será seu quarto disco para a série Música do Brasil, do selo Naxos. O primeiro foi com a Sinfonia de Alberto Nepomuceno; o segundo, com obras de Almeida Prado. E o terceiro, com a música escrita por d. Pedro I, que está sendo lançado durante a turnê.

É aliás com o Hino da Independência que a filarmônica abre o concerto desta quarta em Lisboa. Se o Brasil quis passar a data com o coração do imperador, o público português terá a chance de ficar, em vez disso, com sua música.

PORTO (PORTUGAL) - A Filarmônica de Minas Gerais ainda se prepara para a última passagem do som antes do concerto na Casa da Música do Porto. E, num canto da plateia, o maestro Fabio Mechetti fala sobre Villa-Lobos. O Choros nº 6, ele diz, é sua obra preferida dentre as tantas escritas pelo compositor. “A nostalgia, as saudades, são coisas muito brasileiras. E tem a inocência. A bobeira. Eu vejo o Brasil inteiro ali.”

Tudo pronto no palco. A primeira peça a ser repassada é a terceira das Bachianas brasileiras do compositor. Contrabaixos, violoncelos, violas, mais tarde os segundos violinos. A orquestra toca, Mechetti olha para o fundo da plateia. Procura o regente associado da Filarmônica de Minas Gerais, José Soares.

A conversa feita de gestos e olhares fala de acústica, de ajustes necessários por conta das características sonoras da sala. Um pouco mais piano aqui, um pouco mais de atenção ao regente ali, mais madeiras aqui, menos metais ali. Mechetti se volta para o pianista Jean-Louis Steuerman. Está tudo bem? A música segue.

Bicentenário

No final da tarde de terça-feira, 6, a filarmônica se preparava para fazer a sua estreia na Europa. Ao longo desta semana, o grupo fará uma série de apresentações em Portugal. Depois do concerto no Porto, será a vez de Lisboa. O primeiro concerto na capital, nesta quarta, dia 7, será ao ar livre, nos jardins da Torre de Belém, celebrando o bicentenário da Independência com uma seleção de obras brasileiras, de autores como Carlos Gomes, Lorenzo Fernandez, Guerra-Peixe e Alberto Nepomuceno. Na quinta, a filarmônica toca no Centro Cultural Belém; e, no dia 9, encerra a viagem em Coimbra.

O concerto desta quarta-feira, 7, será transmitido pelo YouTube da Filarmônica de Minas Gerais, a partir de 21h30 (horário Brasil).

Mas, de volta à Casa da Música, o ensaio segue com o Prelúdio e a Alvorada da ópera O Escravo, de Carlos Gomes. Enquanto isso, na plateia, Steuerman fala das Bachianas. Ele tem carinho especial pela peça, pela maneira como Villa-Lobos trata Bach como inspiração, com majestade, mas sem pudor. Ainda assim, é um desafio, para o piano, para a orquestra - e para fazer tudo soar bem junto. Villa-Lobos sempre coloca problemas, ele diz, porque é profundamente original.

A Filarmônica de Minas Gerais se apresenta em Portugal Foto: João Luiz Sampaio/ Estadão

O pianista aponta para o palco. É um milagre que, após pandemia e os tantos desafios para a arte no Brasil, uma orquestra permaneça forte, dando passos como a turnê. “São heróis, as pessoas que gerem a cultura no Brasil, o termo é esse, heróis”, ele começa a explicar, mas é interrompido por uma passagem dos Choros nº 6... “Gênio”, diz, os braços regendo de longe a orquestra.

“Nunca regi Villa-Lobos. Ele exigiria uma técnica de regência que eu não tenho, eu me limito àquilo que conheço bem, sobre o que estou certo de ter ideias interessantes a compartilhar.” A lista vem aos poucos, em fala mansa. Schumann. Beethoven, “claro”. “E Bruckner, quero um dia chegar até Bruckner.” Ele faz um breve silêncio. “Eu menti para você. Já regi sim Villa-Lobos. O prelúdio das Bachianas nº 4, uma versão que fiz para cordas e para piano. Mas ali é mais fácil. A técnica deu.”

Noite de estreia

O primeiro concerto da turnê começou com uma obra portuguesa, a Abertura Sinfônica nº 3 de Joly Braga Santos, pertencente à fase - dizer nacionalista talvez seja exagero - em que o compositor se voltou à tradição portuguesa como inspiração. O som, cheio, encorpado, a precisão - o que se mostrou ali deu o tom do que se ouviria mais tarde.

Foi particularmente bonito o modo como Steuerman, Mechetti e os músicos da filarmônica construíram a Fantasia, segundo movimento das Bachianas nº 3, a melodia passeando pelos instrumentos, reinventada pelo piano. Na segunda parte, nos Choros, coloridos que vinham da personalidade dos solistas da orquestra, da harmonia entre os naipes, do diálogo entre eles. Por vezes, a sensação era vertiginosa: crescendos que pareciam não ter para onde mais subir; ou a delicadeza tocante de uma flauta.

No bis, Carlos Gomes. Depois dos trechos de O Escravo, as aberturas de O Guarani e Fosca. É música que a orquestra tem nas mãos: no começo do ano, gravou disco dedicado ao compositor brasileiro. Será seu quarto disco para a série Música do Brasil, do selo Naxos. O primeiro foi com a Sinfonia de Alberto Nepomuceno; o segundo, com obras de Almeida Prado. E o terceiro, com a música escrita por d. Pedro I, que está sendo lançado durante a turnê.

É aliás com o Hino da Independência que a filarmônica abre o concerto desta quarta em Lisboa. Se o Brasil quis passar a data com o coração do imperador, o público português terá a chance de ficar, em vez disso, com sua música.

PORTO (PORTUGAL) - A Filarmônica de Minas Gerais ainda se prepara para a última passagem do som antes do concerto na Casa da Música do Porto. E, num canto da plateia, o maestro Fabio Mechetti fala sobre Villa-Lobos. O Choros nº 6, ele diz, é sua obra preferida dentre as tantas escritas pelo compositor. “A nostalgia, as saudades, são coisas muito brasileiras. E tem a inocência. A bobeira. Eu vejo o Brasil inteiro ali.”

Tudo pronto no palco. A primeira peça a ser repassada é a terceira das Bachianas brasileiras do compositor. Contrabaixos, violoncelos, violas, mais tarde os segundos violinos. A orquestra toca, Mechetti olha para o fundo da plateia. Procura o regente associado da Filarmônica de Minas Gerais, José Soares.

A conversa feita de gestos e olhares fala de acústica, de ajustes necessários por conta das características sonoras da sala. Um pouco mais piano aqui, um pouco mais de atenção ao regente ali, mais madeiras aqui, menos metais ali. Mechetti se volta para o pianista Jean-Louis Steuerman. Está tudo bem? A música segue.

Bicentenário

No final da tarde de terça-feira, 6, a filarmônica se preparava para fazer a sua estreia na Europa. Ao longo desta semana, o grupo fará uma série de apresentações em Portugal. Depois do concerto no Porto, será a vez de Lisboa. O primeiro concerto na capital, nesta quarta, dia 7, será ao ar livre, nos jardins da Torre de Belém, celebrando o bicentenário da Independência com uma seleção de obras brasileiras, de autores como Carlos Gomes, Lorenzo Fernandez, Guerra-Peixe e Alberto Nepomuceno. Na quinta, a filarmônica toca no Centro Cultural Belém; e, no dia 9, encerra a viagem em Coimbra.

O concerto desta quarta-feira, 7, será transmitido pelo YouTube da Filarmônica de Minas Gerais, a partir de 21h30 (horário Brasil).

Mas, de volta à Casa da Música, o ensaio segue com o Prelúdio e a Alvorada da ópera O Escravo, de Carlos Gomes. Enquanto isso, na plateia, Steuerman fala das Bachianas. Ele tem carinho especial pela peça, pela maneira como Villa-Lobos trata Bach como inspiração, com majestade, mas sem pudor. Ainda assim, é um desafio, para o piano, para a orquestra - e para fazer tudo soar bem junto. Villa-Lobos sempre coloca problemas, ele diz, porque é profundamente original.

A Filarmônica de Minas Gerais se apresenta em Portugal Foto: João Luiz Sampaio/ Estadão

O pianista aponta para o palco. É um milagre que, após pandemia e os tantos desafios para a arte no Brasil, uma orquestra permaneça forte, dando passos como a turnê. “São heróis, as pessoas que gerem a cultura no Brasil, o termo é esse, heróis”, ele começa a explicar, mas é interrompido por uma passagem dos Choros nº 6... “Gênio”, diz, os braços regendo de longe a orquestra.

“Nunca regi Villa-Lobos. Ele exigiria uma técnica de regência que eu não tenho, eu me limito àquilo que conheço bem, sobre o que estou certo de ter ideias interessantes a compartilhar.” A lista vem aos poucos, em fala mansa. Schumann. Beethoven, “claro”. “E Bruckner, quero um dia chegar até Bruckner.” Ele faz um breve silêncio. “Eu menti para você. Já regi sim Villa-Lobos. O prelúdio das Bachianas nº 4, uma versão que fiz para cordas e para piano. Mas ali é mais fácil. A técnica deu.”

Noite de estreia

O primeiro concerto da turnê começou com uma obra portuguesa, a Abertura Sinfônica nº 3 de Joly Braga Santos, pertencente à fase - dizer nacionalista talvez seja exagero - em que o compositor se voltou à tradição portuguesa como inspiração. O som, cheio, encorpado, a precisão - o que se mostrou ali deu o tom do que se ouviria mais tarde.

Foi particularmente bonito o modo como Steuerman, Mechetti e os músicos da filarmônica construíram a Fantasia, segundo movimento das Bachianas nº 3, a melodia passeando pelos instrumentos, reinventada pelo piano. Na segunda parte, nos Choros, coloridos que vinham da personalidade dos solistas da orquestra, da harmonia entre os naipes, do diálogo entre eles. Por vezes, a sensação era vertiginosa: crescendos que pareciam não ter para onde mais subir; ou a delicadeza tocante de uma flauta.

No bis, Carlos Gomes. Depois dos trechos de O Escravo, as aberturas de O Guarani e Fosca. É música que a orquestra tem nas mãos: no começo do ano, gravou disco dedicado ao compositor brasileiro. Será seu quarto disco para a série Música do Brasil, do selo Naxos. O primeiro foi com a Sinfonia de Alberto Nepomuceno; o segundo, com obras de Almeida Prado. E o terceiro, com a música escrita por d. Pedro I, que está sendo lançado durante a turnê.

É aliás com o Hino da Independência que a filarmônica abre o concerto desta quarta em Lisboa. Se o Brasil quis passar a data com o coração do imperador, o público português terá a chance de ficar, em vez disso, com sua música.

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