Filme sobre Nasi expõe os piores episódios da história do Ira!


Visceral, documentário 'Você Não Sabe Quem Eu Sou', atração do festival In-Edit, conta o rompimento de 2007, as brigas entre os integrantes, o processo de interdição que a família moveu contra o artista e a tentativa de capturá-lo para interná-lo em uma clínica

Por Julio Maria
Atualização:

A existência de Nasi no território do rock nacional sempre provocou um desequilíbrio saudável à ideia de um cenário desses no Brasil, com o mínimo de indignidade que ele precisa. Sem Nasi, como mais ou menos diz o jornalista André Barcinski, tudo seguiria diplomaticamente entediante e tragicamente bem comportado. Seria um tempo de sonhos grandes e possíveis aquela alvorada dos anos 1980, quando Marcos Valadão e o guitarrista Edgard Scandurra, em um rápido plano-sequência, se trombam no colégio, fazem um show na PUC e criam o Ira assim, ainda sem acento de exclamação. Elas, as exclamações, viriam depois e aos montes, assim que todos soubessem quem era o moleque adorador da escocesa The Sensational Alex Harvey Band, das inglesas Who e Clash e de Exu e todos os orixás que o guiam.

O cantor Nasi Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO

Nasi já teve a vida biografada em 2012 no livro A Ira de Nasi, assinado por Mauro Beting e Alexandre Petillo. E, mais recentemente, foi seguido pelas câmeras de Petillo, Rodrigo Cardoso e Rogério Corrêa para a produção do documentário Você Não Sabe Quem Eu Sou. Apesar de lançado em 2018, o doc volta a ser assunto por estar anunciado como atração especial na 13ª edição do festival de documentários musicais In-Edit, que será realizado entre os dias 16 e 27 de junho. No dia 17, às 20h, Nasi faz um pocket show gratuito. Em seguida, às 20h30, o diretor artístico do evento, Marcelo Aliche, conversa com um dos diretores do filme, Alexandre Petillo.

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O filme tem cenas acrescentadas à versão já exibida anteriormente em alguns festivais. Entram agora, por exemplo, mais partes de uma entrevista que os diretores fizeram com o delegado Antonio Assunção de Olim, o midiático delegado Olim, em que ele revela detalhes do episódio mais conturbado da vida de Nasi e, consequentemente, da história do Ira! Olim conta do dia em que se dirigiu com viaturas policiais até a porta do prédio de Nasi, em 2007, pronto para pegá-lo à força em uma ação cinematográfica e conduzi-lo a um hospital psiquiátrico, sob orientações da família do roqueiro depois que o pai do cantor entrou na Justiça com um pedido de interdição judicial do filho. Sim, qualquer banda de rock dos anos 80, a partir deste momento, se torna um grupo animador de encontros de jovens da Igreja.

Depois de sofrer sérios desgastes com a banda e de fazer alguns shows sob efeito de álcool, o próprio Nasi pensou em não gravar o álbum Invisível DJ, lançado em 2007. Mas foi só ao saber, por meio do baixista Gaspa, que o grupo seguiria sem ele, com Scandurra, o baterista André Jung e o empresário Junior, irmão do roqueiro, Nasi, cheio de ódio, contra-atacou de duas formas: anunciando a uma revista de grande circulação o fim do Ira! e fez uma ligação para Junior. “Era o momento do Ira! parar, mas não daquele jeito”, lembra Scandurra, no filme. André Jung, o único a não aparecer, responde pelo WhatsApp ao pedido de entrevista dos diretores: “Sem chance”.

Sentindo-se traído, Nasi, ameaçador, liga para o irmão e o áudio vai parar no programa Fantástico: “Cachorro, eu vou matar você. Não existe força no mundo que vai te proteger de mim”. Junior vai à casa de Nasi resolver as questões pessoalmente, grita seu nome da rua e o irmão desce segurando um taco de beisebol. O golpe atinge as costelas de Junior e ele sai de lá, faz um boletim de ocorrência na delegacia e decreta guerra. O Ira! decide fazer alguns shows já marcados sem Nasi e Scandurra diz ao microfone, no primeiro deles, que o vocalista não estava presente por motivos de doença. “Ele me processou por isso”, conta Scandurra, indignado e sorrindo ao mesmo tempo.

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O pai de Nasi, já morto, entra na história como requerente da interdição judicial do filho para finas de desintoxicação. “Ele era um homem muito simples, foi usado para isso”, diz Nasi, hoje, ao Estadão. Scandurra diz no filme que não era a favor da medida, mas que entendeu que era para o bem do cantor. “Ninguém queria ferrar com ninguém.” Junior conta que não sabia como a interdição poderia ser executada: “Como vamos fazer isso?” Câmeras em Olim, o delegado destacado para fazer a operação da captura de Nasi. “Fomos para lá (a casa do roqueiro) como se fôssemos estourar um cativeiro”, diz. Nasi trancou-se e ligou para seu advogado. Orientado a não sair, teve informações de que havia uma emissora de TV pronta para filmar sua prisão, ou seja lá o que fosse aquilo, e funcionários da clínica para a qual seria levado preparados para usarem uma camisa de força. Olim diz que, de fato, eles estavam prontos para capturá-lo à força e levá-lo para “algum hospital que a família contratou.” Mas, segundo o mesmo delegado, logo ficou claro, assim que Nasi aceitou falar com ele, que o roqueiro não estava louco nem precisando de internação. “Quando cheguei lá e vi aquela coisa toda, vi que a coisa era muito grande. Aí, conversando com ele, falei: ‘Nossa, se ele entrar nessa gelada, tá ferrado.’” A história segue na tela com a temperatura alta mas, na vida, todos, menos André Jung, já voltaram a se falar e a rir juntos. Até esse dia 11 de junho de 2021, estão em paz.

A existência de Nasi no território do rock nacional sempre provocou um desequilíbrio saudável à ideia de um cenário desses no Brasil, com o mínimo de indignidade que ele precisa. Sem Nasi, como mais ou menos diz o jornalista André Barcinski, tudo seguiria diplomaticamente entediante e tragicamente bem comportado. Seria um tempo de sonhos grandes e possíveis aquela alvorada dos anos 1980, quando Marcos Valadão e o guitarrista Edgard Scandurra, em um rápido plano-sequência, se trombam no colégio, fazem um show na PUC e criam o Ira assim, ainda sem acento de exclamação. Elas, as exclamações, viriam depois e aos montes, assim que todos soubessem quem era o moleque adorador da escocesa The Sensational Alex Harvey Band, das inglesas Who e Clash e de Exu e todos os orixás que o guiam.

O cantor Nasi Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO

Nasi já teve a vida biografada em 2012 no livro A Ira de Nasi, assinado por Mauro Beting e Alexandre Petillo. E, mais recentemente, foi seguido pelas câmeras de Petillo, Rodrigo Cardoso e Rogério Corrêa para a produção do documentário Você Não Sabe Quem Eu Sou. Apesar de lançado em 2018, o doc volta a ser assunto por estar anunciado como atração especial na 13ª edição do festival de documentários musicais In-Edit, que será realizado entre os dias 16 e 27 de junho. No dia 17, às 20h, Nasi faz um pocket show gratuito. Em seguida, às 20h30, o diretor artístico do evento, Marcelo Aliche, conversa com um dos diretores do filme, Alexandre Petillo.

O filme tem cenas acrescentadas à versão já exibida anteriormente em alguns festivais. Entram agora, por exemplo, mais partes de uma entrevista que os diretores fizeram com o delegado Antonio Assunção de Olim, o midiático delegado Olim, em que ele revela detalhes do episódio mais conturbado da vida de Nasi e, consequentemente, da história do Ira! Olim conta do dia em que se dirigiu com viaturas policiais até a porta do prédio de Nasi, em 2007, pronto para pegá-lo à força em uma ação cinematográfica e conduzi-lo a um hospital psiquiátrico, sob orientações da família do roqueiro depois que o pai do cantor entrou na Justiça com um pedido de interdição judicial do filho. Sim, qualquer banda de rock dos anos 80, a partir deste momento, se torna um grupo animador de encontros de jovens da Igreja.

Depois de sofrer sérios desgastes com a banda e de fazer alguns shows sob efeito de álcool, o próprio Nasi pensou em não gravar o álbum Invisível DJ, lançado em 2007. Mas foi só ao saber, por meio do baixista Gaspa, que o grupo seguiria sem ele, com Scandurra, o baterista André Jung e o empresário Junior, irmão do roqueiro, Nasi, cheio de ódio, contra-atacou de duas formas: anunciando a uma revista de grande circulação o fim do Ira! e fez uma ligação para Junior. “Era o momento do Ira! parar, mas não daquele jeito”, lembra Scandurra, no filme. André Jung, o único a não aparecer, responde pelo WhatsApp ao pedido de entrevista dos diretores: “Sem chance”.

Sentindo-se traído, Nasi, ameaçador, liga para o irmão e o áudio vai parar no programa Fantástico: “Cachorro, eu vou matar você. Não existe força no mundo que vai te proteger de mim”. Junior vai à casa de Nasi resolver as questões pessoalmente, grita seu nome da rua e o irmão desce segurando um taco de beisebol. O golpe atinge as costelas de Junior e ele sai de lá, faz um boletim de ocorrência na delegacia e decreta guerra. O Ira! decide fazer alguns shows já marcados sem Nasi e Scandurra diz ao microfone, no primeiro deles, que o vocalista não estava presente por motivos de doença. “Ele me processou por isso”, conta Scandurra, indignado e sorrindo ao mesmo tempo.

O pai de Nasi, já morto, entra na história como requerente da interdição judicial do filho para finas de desintoxicação. “Ele era um homem muito simples, foi usado para isso”, diz Nasi, hoje, ao Estadão. Scandurra diz no filme que não era a favor da medida, mas que entendeu que era para o bem do cantor. “Ninguém queria ferrar com ninguém.” Junior conta que não sabia como a interdição poderia ser executada: “Como vamos fazer isso?” Câmeras em Olim, o delegado destacado para fazer a operação da captura de Nasi. “Fomos para lá (a casa do roqueiro) como se fôssemos estourar um cativeiro”, diz. Nasi trancou-se e ligou para seu advogado. Orientado a não sair, teve informações de que havia uma emissora de TV pronta para filmar sua prisão, ou seja lá o que fosse aquilo, e funcionários da clínica para a qual seria levado preparados para usarem uma camisa de força. Olim diz que, de fato, eles estavam prontos para capturá-lo à força e levá-lo para “algum hospital que a família contratou.” Mas, segundo o mesmo delegado, logo ficou claro, assim que Nasi aceitou falar com ele, que o roqueiro não estava louco nem precisando de internação. “Quando cheguei lá e vi aquela coisa toda, vi que a coisa era muito grande. Aí, conversando com ele, falei: ‘Nossa, se ele entrar nessa gelada, tá ferrado.’” A história segue na tela com a temperatura alta mas, na vida, todos, menos André Jung, já voltaram a se falar e a rir juntos. Até esse dia 11 de junho de 2021, estão em paz.

A existência de Nasi no território do rock nacional sempre provocou um desequilíbrio saudável à ideia de um cenário desses no Brasil, com o mínimo de indignidade que ele precisa. Sem Nasi, como mais ou menos diz o jornalista André Barcinski, tudo seguiria diplomaticamente entediante e tragicamente bem comportado. Seria um tempo de sonhos grandes e possíveis aquela alvorada dos anos 1980, quando Marcos Valadão e o guitarrista Edgard Scandurra, em um rápido plano-sequência, se trombam no colégio, fazem um show na PUC e criam o Ira assim, ainda sem acento de exclamação. Elas, as exclamações, viriam depois e aos montes, assim que todos soubessem quem era o moleque adorador da escocesa The Sensational Alex Harvey Band, das inglesas Who e Clash e de Exu e todos os orixás que o guiam.

O cantor Nasi Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO

Nasi já teve a vida biografada em 2012 no livro A Ira de Nasi, assinado por Mauro Beting e Alexandre Petillo. E, mais recentemente, foi seguido pelas câmeras de Petillo, Rodrigo Cardoso e Rogério Corrêa para a produção do documentário Você Não Sabe Quem Eu Sou. Apesar de lançado em 2018, o doc volta a ser assunto por estar anunciado como atração especial na 13ª edição do festival de documentários musicais In-Edit, que será realizado entre os dias 16 e 27 de junho. No dia 17, às 20h, Nasi faz um pocket show gratuito. Em seguida, às 20h30, o diretor artístico do evento, Marcelo Aliche, conversa com um dos diretores do filme, Alexandre Petillo.

O filme tem cenas acrescentadas à versão já exibida anteriormente em alguns festivais. Entram agora, por exemplo, mais partes de uma entrevista que os diretores fizeram com o delegado Antonio Assunção de Olim, o midiático delegado Olim, em que ele revela detalhes do episódio mais conturbado da vida de Nasi e, consequentemente, da história do Ira! Olim conta do dia em que se dirigiu com viaturas policiais até a porta do prédio de Nasi, em 2007, pronto para pegá-lo à força em uma ação cinematográfica e conduzi-lo a um hospital psiquiátrico, sob orientações da família do roqueiro depois que o pai do cantor entrou na Justiça com um pedido de interdição judicial do filho. Sim, qualquer banda de rock dos anos 80, a partir deste momento, se torna um grupo animador de encontros de jovens da Igreja.

Depois de sofrer sérios desgastes com a banda e de fazer alguns shows sob efeito de álcool, o próprio Nasi pensou em não gravar o álbum Invisível DJ, lançado em 2007. Mas foi só ao saber, por meio do baixista Gaspa, que o grupo seguiria sem ele, com Scandurra, o baterista André Jung e o empresário Junior, irmão do roqueiro, Nasi, cheio de ódio, contra-atacou de duas formas: anunciando a uma revista de grande circulação o fim do Ira! e fez uma ligação para Junior. “Era o momento do Ira! parar, mas não daquele jeito”, lembra Scandurra, no filme. André Jung, o único a não aparecer, responde pelo WhatsApp ao pedido de entrevista dos diretores: “Sem chance”.

Sentindo-se traído, Nasi, ameaçador, liga para o irmão e o áudio vai parar no programa Fantástico: “Cachorro, eu vou matar você. Não existe força no mundo que vai te proteger de mim”. Junior vai à casa de Nasi resolver as questões pessoalmente, grita seu nome da rua e o irmão desce segurando um taco de beisebol. O golpe atinge as costelas de Junior e ele sai de lá, faz um boletim de ocorrência na delegacia e decreta guerra. O Ira! decide fazer alguns shows já marcados sem Nasi e Scandurra diz ao microfone, no primeiro deles, que o vocalista não estava presente por motivos de doença. “Ele me processou por isso”, conta Scandurra, indignado e sorrindo ao mesmo tempo.

O pai de Nasi, já morto, entra na história como requerente da interdição judicial do filho para finas de desintoxicação. “Ele era um homem muito simples, foi usado para isso”, diz Nasi, hoje, ao Estadão. Scandurra diz no filme que não era a favor da medida, mas que entendeu que era para o bem do cantor. “Ninguém queria ferrar com ninguém.” Junior conta que não sabia como a interdição poderia ser executada: “Como vamos fazer isso?” Câmeras em Olim, o delegado destacado para fazer a operação da captura de Nasi. “Fomos para lá (a casa do roqueiro) como se fôssemos estourar um cativeiro”, diz. Nasi trancou-se e ligou para seu advogado. Orientado a não sair, teve informações de que havia uma emissora de TV pronta para filmar sua prisão, ou seja lá o que fosse aquilo, e funcionários da clínica para a qual seria levado preparados para usarem uma camisa de força. Olim diz que, de fato, eles estavam prontos para capturá-lo à força e levá-lo para “algum hospital que a família contratou.” Mas, segundo o mesmo delegado, logo ficou claro, assim que Nasi aceitou falar com ele, que o roqueiro não estava louco nem precisando de internação. “Quando cheguei lá e vi aquela coisa toda, vi que a coisa era muito grande. Aí, conversando com ele, falei: ‘Nossa, se ele entrar nessa gelada, tá ferrado.’” A história segue na tela com a temperatura alta mas, na vida, todos, menos André Jung, já voltaram a se falar e a rir juntos. Até esse dia 11 de junho de 2021, estão em paz.

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