Folk de Almir Sater tem poder para reconciliar os ouvidos urbanos com os sons do campo; ouça


Álbum ‘Do Amanhã Nada Sei’, produzido em Nashville por Eric Silver, faz do violeiro um raro pacificador de corações ressentidos

Por Julio Maria
Atualização:

A afinação que o diabo leva no coração, se é que ele tem um, se chama Rio Abaixo. Ela torna a viola mais sexy, mais traiçoeira e um tanto mais ágil. “É a afinação do capeta”, diz Almir Sater, um dos maiores músicos modernos entendidos no assunto viola e – por ter estado na primeira novela Pantanal, há 30 anos, e no recente remake feito pela Globo – nos sons do cramulhão. “É preciso afinar a primeira corda em ré, a segunda em si, a terceiro em sol...”, vai ensinando, lembrando dos dias em que viveu o violeiro pactuado com o demônio na TV Manchete.

Almir Sater na Cantareira Foto: Eric Silver

Sua música, 16 anos depois de seu mais recente álbum solo, vem centrada no canto, no violão de aço e em uma base instrumental de cordas, bateria, piano e percussão produzida pelo norte-americano Eric Silver, o mesmo que fez os dois álbuns de Almir com Renato Teixeira, os fabulosos AR e +AR, e que trabalhou as sonoridades country do grupo Dixie Chicks e de Shania Twain. O resultado das canções inéditas que Almir fez e enviou para a produção de Eric em Nashville, nos Estados Unidos, está no álbum Do Amanhã Nada Sei, um encontro com algo que o violeiro tem procurado pela vida toda: um som seu.

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Estranho ouvi-lo dizer das dificuldades de encontrar músicos brasileiros que entendessem o que ele, um sertanista raiz, gostaria de fazer. Mas eis o primeiro desenlace de um dos nós feitos na imagem de Almir Sater, violeiro filho de Tião Carreiro por essência. Seria melhor, com toda a reorientação que sua música tem tomado desde AR, entender seu som de hoje como folk, algo menos regionalizado e mais planetário.

“Esse é o som que sempre busquei, foi difícil fazê-lo no Brasil. Muitas vezes, tirando discos como Sete Sinais e Terra dos Sonhos, eu apenas entreguei os pontos”, ele diz. Agora, Almir criou um sistema com Eric que não deve abandonar. Depois de receber as músicas do Brasil, o produtor as colocou nas mãos de gente como o baterista Chad Cromwell (uma lenda em vida, que gravou com Mark Knopfler, Crosby, Stills, Nash & Young, Peter Frampton e Neil Young), o pianista John Jarvis (de Rod Stewart, James Taylor, Ringo Starr e Bob Seger, John Denver e Lionel Ritchie) e os percussionistas brasileiros Sidinho Moreira e o filho Ian Moreira. Há muito brilho também na sanfona de Marcelus Anderson, de Aquidauana.

Do Amanhã Nada Sei, a canção que batiza e abre o disco, tem uma clara inspiração em Je Suis Desole, de Mark Knopfler, lançada no álbum Golden Heart, de 1996. Almir iria fazer uma regravação da música e foi pedir licença para isso, mas soube que Knopfler nunca, ou raramente, autoriza versões. Fez então uma outra canção a partir de uma ou duas costelas de Je Suis..., a deixando menos celta e com um refrão mais suavizado. Se colocarmos uma ao lado da outra, Almir pode sair ganhando. “Fui à França certa vez e passei dois meses ouvindo essa canção. Gostei do astral e segui sua linha.”

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BELEZAS. As belezas do álbum aparecem o tempo todo nas dez músicas do disco, oito delas assinadas com Paulo Simões. Eu Sou Mais do Que Sou é uma parceria estonteante com Luis Carlos Sá, da dupla com Guarabyra; Portão Preto é de se ouvir nas estradas do Centro-Oeste com o coração limpo de ranços agropolíticos; Ave Chamada Tempo, parceria com Renato Teixeira, é levada para algum canto do Leste Europeu pelas flautas celtas do arranjo; Olhos de Cachoeira volta aos sertões com a sanfona suave de Anderson; e Peabiru, com mais climas nórdicos, é épica e imensa.

Há dois instantes que podem ser lidos como desconfortos políticos. Verdade Absoluta diz “me perdoe os novos tempos / com seus reinos virtuais / as notícias do momento / nem parecem ser reais / muita gente já nem pensa / afinal qual vale mais...”. E Angu com Caroço, uma espécie de samba rasqueado, com um cavaquinho tocado pelo próprio Almir, desabafa: “A coisa tá feia / o caldo tá grosso / o povo na rua / maior alvoroço / mas eu tenho impressão / que tem muito chão pra gente correr / pra gente saber onde é afinal o fundo do poço”.

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Não é bem o que se canta no meio sertanejo desde que o gênero assumiu uma postura de apoio ao governo. Apesar de não estar alinhado a turmas políticas, Almir é um raro violeiro falando em resistência. “Aquela inocência da música caipira se perdeu um pouco, se misturou com um pop e se lambuzou nessa brincadeira, não soube dosar as influências externas. Confesso que tenho certas resistências também”, diz, sem considerações políticas. Violeiro e folk, pantaneiro e country, Almir soa como uma das únicas vozes capazes de mediar alguma reconciliação entre os sons de um sertão pacificado com aqueles que, por ressentimentos políticos, não suportam mais ouvir o que sai de suas terras.

A afinação que o diabo leva no coração, se é que ele tem um, se chama Rio Abaixo. Ela torna a viola mais sexy, mais traiçoeira e um tanto mais ágil. “É a afinação do capeta”, diz Almir Sater, um dos maiores músicos modernos entendidos no assunto viola e – por ter estado na primeira novela Pantanal, há 30 anos, e no recente remake feito pela Globo – nos sons do cramulhão. “É preciso afinar a primeira corda em ré, a segunda em si, a terceiro em sol...”, vai ensinando, lembrando dos dias em que viveu o violeiro pactuado com o demônio na TV Manchete.

Almir Sater na Cantareira Foto: Eric Silver

Sua música, 16 anos depois de seu mais recente álbum solo, vem centrada no canto, no violão de aço e em uma base instrumental de cordas, bateria, piano e percussão produzida pelo norte-americano Eric Silver, o mesmo que fez os dois álbuns de Almir com Renato Teixeira, os fabulosos AR e +AR, e que trabalhou as sonoridades country do grupo Dixie Chicks e de Shania Twain. O resultado das canções inéditas que Almir fez e enviou para a produção de Eric em Nashville, nos Estados Unidos, está no álbum Do Amanhã Nada Sei, um encontro com algo que o violeiro tem procurado pela vida toda: um som seu.

Estranho ouvi-lo dizer das dificuldades de encontrar músicos brasileiros que entendessem o que ele, um sertanista raiz, gostaria de fazer. Mas eis o primeiro desenlace de um dos nós feitos na imagem de Almir Sater, violeiro filho de Tião Carreiro por essência. Seria melhor, com toda a reorientação que sua música tem tomado desde AR, entender seu som de hoje como folk, algo menos regionalizado e mais planetário.

“Esse é o som que sempre busquei, foi difícil fazê-lo no Brasil. Muitas vezes, tirando discos como Sete Sinais e Terra dos Sonhos, eu apenas entreguei os pontos”, ele diz. Agora, Almir criou um sistema com Eric que não deve abandonar. Depois de receber as músicas do Brasil, o produtor as colocou nas mãos de gente como o baterista Chad Cromwell (uma lenda em vida, que gravou com Mark Knopfler, Crosby, Stills, Nash & Young, Peter Frampton e Neil Young), o pianista John Jarvis (de Rod Stewart, James Taylor, Ringo Starr e Bob Seger, John Denver e Lionel Ritchie) e os percussionistas brasileiros Sidinho Moreira e o filho Ian Moreira. Há muito brilho também na sanfona de Marcelus Anderson, de Aquidauana.

Do Amanhã Nada Sei, a canção que batiza e abre o disco, tem uma clara inspiração em Je Suis Desole, de Mark Knopfler, lançada no álbum Golden Heart, de 1996. Almir iria fazer uma regravação da música e foi pedir licença para isso, mas soube que Knopfler nunca, ou raramente, autoriza versões. Fez então uma outra canção a partir de uma ou duas costelas de Je Suis..., a deixando menos celta e com um refrão mais suavizado. Se colocarmos uma ao lado da outra, Almir pode sair ganhando. “Fui à França certa vez e passei dois meses ouvindo essa canção. Gostei do astral e segui sua linha.”

BELEZAS. As belezas do álbum aparecem o tempo todo nas dez músicas do disco, oito delas assinadas com Paulo Simões. Eu Sou Mais do Que Sou é uma parceria estonteante com Luis Carlos Sá, da dupla com Guarabyra; Portão Preto é de se ouvir nas estradas do Centro-Oeste com o coração limpo de ranços agropolíticos; Ave Chamada Tempo, parceria com Renato Teixeira, é levada para algum canto do Leste Europeu pelas flautas celtas do arranjo; Olhos de Cachoeira volta aos sertões com a sanfona suave de Anderson; e Peabiru, com mais climas nórdicos, é épica e imensa.

Há dois instantes que podem ser lidos como desconfortos políticos. Verdade Absoluta diz “me perdoe os novos tempos / com seus reinos virtuais / as notícias do momento / nem parecem ser reais / muita gente já nem pensa / afinal qual vale mais...”. E Angu com Caroço, uma espécie de samba rasqueado, com um cavaquinho tocado pelo próprio Almir, desabafa: “A coisa tá feia / o caldo tá grosso / o povo na rua / maior alvoroço / mas eu tenho impressão / que tem muito chão pra gente correr / pra gente saber onde é afinal o fundo do poço”.

Não é bem o que se canta no meio sertanejo desde que o gênero assumiu uma postura de apoio ao governo. Apesar de não estar alinhado a turmas políticas, Almir é um raro violeiro falando em resistência. “Aquela inocência da música caipira se perdeu um pouco, se misturou com um pop e se lambuzou nessa brincadeira, não soube dosar as influências externas. Confesso que tenho certas resistências também”, diz, sem considerações políticas. Violeiro e folk, pantaneiro e country, Almir soa como uma das únicas vozes capazes de mediar alguma reconciliação entre os sons de um sertão pacificado com aqueles que, por ressentimentos políticos, não suportam mais ouvir o que sai de suas terras.

A afinação que o diabo leva no coração, se é que ele tem um, se chama Rio Abaixo. Ela torna a viola mais sexy, mais traiçoeira e um tanto mais ágil. “É a afinação do capeta”, diz Almir Sater, um dos maiores músicos modernos entendidos no assunto viola e – por ter estado na primeira novela Pantanal, há 30 anos, e no recente remake feito pela Globo – nos sons do cramulhão. “É preciso afinar a primeira corda em ré, a segunda em si, a terceiro em sol...”, vai ensinando, lembrando dos dias em que viveu o violeiro pactuado com o demônio na TV Manchete.

Almir Sater na Cantareira Foto: Eric Silver

Sua música, 16 anos depois de seu mais recente álbum solo, vem centrada no canto, no violão de aço e em uma base instrumental de cordas, bateria, piano e percussão produzida pelo norte-americano Eric Silver, o mesmo que fez os dois álbuns de Almir com Renato Teixeira, os fabulosos AR e +AR, e que trabalhou as sonoridades country do grupo Dixie Chicks e de Shania Twain. O resultado das canções inéditas que Almir fez e enviou para a produção de Eric em Nashville, nos Estados Unidos, está no álbum Do Amanhã Nada Sei, um encontro com algo que o violeiro tem procurado pela vida toda: um som seu.

Estranho ouvi-lo dizer das dificuldades de encontrar músicos brasileiros que entendessem o que ele, um sertanista raiz, gostaria de fazer. Mas eis o primeiro desenlace de um dos nós feitos na imagem de Almir Sater, violeiro filho de Tião Carreiro por essência. Seria melhor, com toda a reorientação que sua música tem tomado desde AR, entender seu som de hoje como folk, algo menos regionalizado e mais planetário.

“Esse é o som que sempre busquei, foi difícil fazê-lo no Brasil. Muitas vezes, tirando discos como Sete Sinais e Terra dos Sonhos, eu apenas entreguei os pontos”, ele diz. Agora, Almir criou um sistema com Eric que não deve abandonar. Depois de receber as músicas do Brasil, o produtor as colocou nas mãos de gente como o baterista Chad Cromwell (uma lenda em vida, que gravou com Mark Knopfler, Crosby, Stills, Nash & Young, Peter Frampton e Neil Young), o pianista John Jarvis (de Rod Stewart, James Taylor, Ringo Starr e Bob Seger, John Denver e Lionel Ritchie) e os percussionistas brasileiros Sidinho Moreira e o filho Ian Moreira. Há muito brilho também na sanfona de Marcelus Anderson, de Aquidauana.

Do Amanhã Nada Sei, a canção que batiza e abre o disco, tem uma clara inspiração em Je Suis Desole, de Mark Knopfler, lançada no álbum Golden Heart, de 1996. Almir iria fazer uma regravação da música e foi pedir licença para isso, mas soube que Knopfler nunca, ou raramente, autoriza versões. Fez então uma outra canção a partir de uma ou duas costelas de Je Suis..., a deixando menos celta e com um refrão mais suavizado. Se colocarmos uma ao lado da outra, Almir pode sair ganhando. “Fui à França certa vez e passei dois meses ouvindo essa canção. Gostei do astral e segui sua linha.”

BELEZAS. As belezas do álbum aparecem o tempo todo nas dez músicas do disco, oito delas assinadas com Paulo Simões. Eu Sou Mais do Que Sou é uma parceria estonteante com Luis Carlos Sá, da dupla com Guarabyra; Portão Preto é de se ouvir nas estradas do Centro-Oeste com o coração limpo de ranços agropolíticos; Ave Chamada Tempo, parceria com Renato Teixeira, é levada para algum canto do Leste Europeu pelas flautas celtas do arranjo; Olhos de Cachoeira volta aos sertões com a sanfona suave de Anderson; e Peabiru, com mais climas nórdicos, é épica e imensa.

Há dois instantes que podem ser lidos como desconfortos políticos. Verdade Absoluta diz “me perdoe os novos tempos / com seus reinos virtuais / as notícias do momento / nem parecem ser reais / muita gente já nem pensa / afinal qual vale mais...”. E Angu com Caroço, uma espécie de samba rasqueado, com um cavaquinho tocado pelo próprio Almir, desabafa: “A coisa tá feia / o caldo tá grosso / o povo na rua / maior alvoroço / mas eu tenho impressão / que tem muito chão pra gente correr / pra gente saber onde é afinal o fundo do poço”.

Não é bem o que se canta no meio sertanejo desde que o gênero assumiu uma postura de apoio ao governo. Apesar de não estar alinhado a turmas políticas, Almir é um raro violeiro falando em resistência. “Aquela inocência da música caipira se perdeu um pouco, se misturou com um pop e se lambuzou nessa brincadeira, não soube dosar as influências externas. Confesso que tenho certas resistências também”, diz, sem considerações políticas. Violeiro e folk, pantaneiro e country, Almir soa como uma das únicas vozes capazes de mediar alguma reconciliação entre os sons de um sertão pacificado com aqueles que, por ressentimentos políticos, não suportam mais ouvir o que sai de suas terras.

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