Canções com mais de três minutos de duração, nos anos 60, era para poucos. Ou quase ninguém. Os singles da época, lançados em pequenos vinis (sim, eles não foram inventados pelo Spotify) não comportavam mais do que uma canção de cada lado. Os artistas começaram a ficar mais ousados no final dos anos 60 e Hey Jude, dos Beatles, abriram a porteira.
Sete minutos e 33 segundos de duração era uma afronta às rádios. Hey Jude, a música pop mais longa gravada no Reino Unido até 1998, ficou entre as mais tocadas por quatro meses seguidos. Canções maiores vieram uma após outra até que as rádios FM chegaram nos anos 70, ceifando solos e introduções, e o streaming surgiu nos 2000, enviando o ego dos artistas para o espaço.
Ousado, o Foo Fighters entre no hall das prolixidades sonoras ao lançar, em pleno 2023 (a era das audições ansiosas), uma música com dez minutos de duração. A causa é nobre. The Teacher estará no próximo álbum do grupo, But here We Are, e é dedicada à mãe de Dave Grohl, a professora Virginia, morta recentemente. Este já é o quarto single do álbum que vem aí, previsto para sair em e de junho (sexta agora).
O início da canção dá uma pista falsa. Ela não será nada meiga, como indicam os primeiros acordes. A banda entra pesada depois de algum lirismo da guitarra e dos vocais, aproximando o grupo de seu grunge seminal. A bateria de Josh Freese, um relógio de duas toneladas, aparece brilhantemente gravada. Por dez minutos e quatro segundos, Grohl fala sobre a mãe sem jamais citá-la: “Você me mostrou como respirar / Mas nunca me mostrou como dizer adeus / Você me mostrou como ser / Mas nunca me mostrou como dizer adeus / Todas as páginas são viradas, é uma lição aprendida com o tempo / Você me mostrou como respirar / Mas nunca me mostrou como dizer adeus.”
O Foo Fighters, vale lembrar, fará um show em São Paulo em setembro, onde se apresenta no The Town, dia 9. A banda virá ao país com o novo baterista Josh Freese. Aqui vai a canção que coloca a banda, ao menos em tempo de duração, ao lado de Hotel California, dos Eagles (sete minutos), Coma, do Guns ‘n Roses (10 minutos), Lucille, de BB King (mais de 10 minutos e 16 segundos), In My Time Of Dying, do Led Zeppelin (11 minutos) e Echoes, do Pink Floyd, com impressionantes 23 minutos e 35 segundos de duração. Veja também, abaixo, uma lista com algumas das longas músicas mais conhecidas da história.
Bohemian Rhapsody — Queen
Essa veio para chutar todas as regras para o alto. Além de não ter refrão e trazer um pensamento de canto lírico, conta com mais de cinco minutos de duração. Se hoje é difícil, imagine fazer isso em 1975
Revolution #9 — The Beatles
Tanto já se falou desta faixa do Álbum Branco, lançado em 1968... Alguns ainda acreditam que, ao girarem este álbum de trás para frente, na vitrola, vão ouvir, pelos mais de 8 minutos de duração desta canção, vozes demoníacas ou algo assim.
Hotel California — Eagles
Seus seis minutos e meio passam que ninguém percebe. Composta por Don Felder e Glenn Frey, esta canção monumental é uma das construções mais geniais do mundo pop. A entrada e o desenvolvimento de seu solo é um destaque, assim como os recados da letra. Os autores dizem que ela fala sobre o sonho americano, mas há outras leituras também.
The End — The Doors
Eles eram bons – ok, eram ótimos – mas o ego de Jim Morrison não caberia em nada muito pequeno. The End, composta pelo próprio, acabou ficando com mais de 11 minutos de duração. A Rolling Stone, revista, a elegeu como uma das 500 maiores músicas de todos os tempos.
Echoes — Pink Floyd
Direto dos tempos das viagens ácidas, Echoes é um torpedo lançado nas galáxias. Ela, que está no álbum Meddle, de 1971, tem assustadores 23 minutos, mas, segundos seus fãs, nenhum milésimo é jogado fora. Tudo faz sentido.