Quando o hit Change (In the House of Flies) do Deftones tocou no som do carro de Tyson Burden em abril de 2020, ele começou a sentir um nó na garganta. Não foram os grunhidos familiares da música, nem a nostalgia adolescente que ela provocava que o fizeram quase chorar: foi sua filha de 15 anos, Nia LaVey Burden, sentada no banco do passageiro e cantando a letra.
“Ela sabia todos os versos, fiquei maravilhado”, disse Burden, 39 anos, gerente de varejo em Jacksonville, Texas. Acontece que Nia tinha descoberto a banda no TikTok alguns meses antes. Após o choque inicial, ele entrou na onda e os dois bateram cabeça e cantaram o refrão.
“Foi um momento mágico entre pai e filha, estávamos curtindo a mesma coisa”, disse ele.
Nia faz parte de um grupo crescente entre a geração Z que está ouvindo Nu Metal pela primeira vez. O subgênero, considerado uma das formas mais acessíveis de metal, mistura um som pesado com elementos de hip-hop, funk e rock alternativo (pense em Slipknot, Korn, Limp Bizkit, Linkin Park e Kittie).
Suas letras geralmente abordam temas sombrios como dor, depressão e isolamento. Popular no final dos anos 1990 e início dos anos 2000, agora o estilo encontrou uma segunda vida entre os jovens ouvintes, graças ao TikTok, ao renascimento do Y2K (o revival dos anos 2000) e, claro, à sempre presente angústia adolescente.
Para Asher Nevélle, ouvir Nu Metal é inspirador. “Você sente que pode fazer qualquer coisa”, disse Nevélle, 25 anos, artista de Los Angeles que se apresenta sob o nome artístico Freak. “É a atitude do ‘não estou nem aí’. Tipo, você pode olhar para mim, pode me encarar, pode me julgar, mas vou continuar fazendo o que estou fazendo”.
Estilo largo: de Fred Durst a Billie Eilish
Correntes de prata, muitas caveiras e calças tão grandes que humilham os vestidos de baile: parte do apelo do Nu Metal é seu estilo extravagante – e as celebridades perceberam isso. Billie Eilish está completando as roupas largas com bonés de beisebol à la Fred Durst, do Limp Bizkit. Machine Gun Kelly está colocando gel no cabelo para fazer estalagmites de dez centímetros. E, em junho, Justin Bieber foi flagrado em um par de jeans JNCO bem largos.
Renee Dyer, 19 anos, se apaixonou pela moda Nu Metal antes da música. Ela não acha que uma pessoa precisa se vestir de uma determinada maneira para ser considerada fã, mas suas escolhas de roupas são fortemente inspiradas no Nu Metal. “Sinto como se estivesse vivendo naquela época”, disse Dyer, lojista que mora em Toronto. Entre suas peças favoritas estão os jeans JNCO e as calças Tripp NYC. (“Quanto maior o jeans, melhor!”, ela disse).
Durante a primeira explosão do Nu Metal, a estética era fundamental, disse Alex Strang, analista cultural da Canvas8, uma agência de pesquisa de mercado. As bandas adotaram figurinos chamativos e provocativos para se destacar e chamar a atenção das pessoas. “Se você está no TRL”, disse Strang, referindo-se ao Total Request Live, um programa da MTV popular no início do movimento, “e vê essa coisa estranha com pessoas fazendo rap e gritando e ficando com raiva, com algumas pessoas de macacão, você vai querer se vestir igual, certo?”
O gosto pelo choque no Nu Metal gerou uma infinidade de loucuras no palco, como quando Durst explodiu um barco ao vivo na MTV ou quando os integrantes da banda Mudvayne compareceram ao Video Music Awards com buracos de bala falsos na cabeça. Mais de duas décadas depois, esses vídeos agora estão prontos para recirculação nas redes sociais.
Por exemplo, uma conta popular no Twitter administrada pelo jornalista musical Holiday Kirk publica pequenos clipes de momentos absurdos da história do Nu Metal e muitas vezes alcança dezenas de milhares de visualizações.
Na internet, “todo mundo tem acesso a tudo o tempo todo”, disse Strang. “E assim a molecada da geração Z só escolhe as melhores partes de vários gêneros diferentes e gosta um pouco de tudo. É uma bricolagem”.
Passado e presente se juntam na música
A onda do Nu Metal não passa despercebida pelos artistas de hoje. Grimes, 100 gecs, Rina Sawayama e Demi Lovato introduziram elementos do subgênero em seu som, e alguns que fizeram parte da explosão inicial também estão sentindo o impacto.
Em maio, o Kittie apresentou sua primeira música nova desde 2011 no Sick New World, um festival de música em Las Vegas quase todo com bandas de Nu Metal. O grupo entrou em recesso por tempo indefinido em 2017, mas os empresários voltaram a ligar para elas no outono de 2021 devido ao interesse renovado, disse Mercedes Lander, 39 anos, baterista do Kittie.
“Demorou um pouco para conversarmos”, disse Lander sobre a possibilidade de reunião. Mas, um ano depois do pedido inicial, Kittie voltou à ativa. “Quando subimos ao palco, pensei, ‘Oh, sim, é assim que deveria ser. É isso que eu deveria estar fazendo’”, disse ela. “É uma sensação fantástica”.
Para Lander, faz sentido que as músicas que ela escreveu com sua irmã mais velha, Morgan, quando eram adolescentes ainda ressoem com as pessoas. “Isso meio que prova que a angústia adolescente é atemporal”, disse ela. Morgan Lander, 41 anos, vocalista do Kittie, concordou. “Não quer dizer que ainda não tenhamos fogo e raiva agora – sim, ainda estamos pistola”, disse ela, brincando.
Burden disse que, depois de descobrir que sua filha gostava de Deftones, mostrou a ela mais coisas da discografia da banda – particularmente o álbum White Pony, que ele adorava quando adolescente. Em maio de 2022, ele até se viu numa cena com a qual sonhara por mais de vinte anos: gritando e batendo cabeça num show do Deftones ao lado de centenas de fãs suados. Só nunca imaginou que estaria junto com sua filha.
/ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU