O fato de ser nascido e criado em Natal (RN), em uma região conhecida pelo forró, faz com que Júnior Bass Groovador seja um músico que, em vez de bater cabelo, aposte no rebolado para dançar ao som de clássicos do rock. O baixista de 35 anos levou o ritmo nordestino para o palco principal do Rock in Rio no último sábado, 28, depois de um vídeo seu viralizar nas redes sociais.
Em julho, ele postou no seu perfil no Instagram o cover da música Smells Like Teen Spirit, da banda norte-americana Nirvana. O arranjo foi encontrado no canal Vesgo, no Youtube, e reproduzido pelo músico no estúdio de uma loja de instrumentos de sua cidade. A versão chegou até o ator e músico americano Jack Black, vocalista da banda Tenacious D, que estava com apresentação marcada no festival carioca. Ele repostou o vídeo e pediu aos seguidores o contato do baixista.
Desde então, a carreira de Groovador ganhou um novo estímulo. Ele conta que, no final dos anos 90, o pai chegou a guardar dinheiro para comprar uma nova antena para que o filho pudesse ver os shows do Rock in Rio. “Eu assistia no meu quarto as bandas de rock e sequer pensava que podia tocar ali”, lembra. O amor pelo rock começou por intermédio de um amigo, que emprestava um walkman para ele ouvir os álbuns de Raimundos, Sepultura e Metallica.
O nome artístico surgiu do que motiva Júnior diariamente, a missão de “fazer um groove”. Mas sob o seu nome de batismo, José Edilson Firmino Silva Júnior, ele trabalha como vigilante há cerca de um ano e meio. Em sua cidade, diz, o espaço para os roqueiros ainda é limitado a poucos bares, com cachês que variam entre R$ 100 e R$ 150. Mesmo as bandas locais relutam para aceitá-lo: “Eu ensaiava concentrado, sentado. Na hora do show, sou esse cara que você viu no Rock in Rio. Faço meu entretenimento. O cantor se sente como se fosse ofuscado por isso, principalmente no forró, onde só o cantor é atração”.
Ele conta que não esperava o reconhecimento de Dave Grohl, vocalista da banda Foo Fighters e um dos compositores da música que o levou ao Palco Mundo. Nem dele, nem das outras referências musicais que encontrou nos bastidores do show, como Digão, do Raimundos. “Eu só queria ser reconhecido no meu estado”, disse ele.
Em algumas ocasiões, precisou tocar com grupos de forró, axé e pagode para pagar as contas, mas a busca pela validação dentro do seu segmento não parou. Júnior Groovador diz que não almeja criar grandes hits: “Não sou um produtor, não crio arranjos. Só me considero um baixista que quer vencer na vida e quer dar o seu melhor”.
Ainda em meio à correria do festival - segundo o baixista, faz três dias que não consegue dormir por conta da ansiedade -, Groovador ainda não traçou a sua carreira pós-festival. Até convite para tocar com Jack Black de novo já surgiu: “Estou à total disposição para juntar o meu trabalho com o dele”, afirma. O que ele tem certeza é de que ainda tem muito groove para mostrar para o Brasil: “A música não é só o cantor que tá ali na frente. A música toda tem que ser ‘de frente’”.
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