Hiromi Uehara, pianista que quebra barreiras musicais, se apresenta em São Paulo


Conhecida por sua originalidade presente em seus 15 álbuns, Uehara faz apresentação única no Teatro Renault nesta quarta

Por João Marcos Coelho
Atualização:

É mesmo maravilhoso e novidadeiro o universo das 32 sonatas para piano de Ludwig van Beethoven. Em cada uma, um procedimento inédito em relação ao passado. Por exemplo, na célebre Sonata Patética, seu opus 13: pela primeira vez uma sonata abre-se com uma introdução em adagio, grave, solene, e de repente explode num “Allegro di molto e con brio”. Coisa de gênio.

Pianista e compositora japonesa Hiromi Uehara se apresenta no 48.º Festival de Jazz de San Sebastián em 28/7/2013. Foto: EFE/Juan Herrero

Não dá para comparar a pianista japonesa Hiromi Uehara, 43, com a sacada de Beethoven. Mas esta pianista que deslumbrou com sua técnica diabólica o mundo musical norte-americano já em seus primeiros álbuns pela Telarc, no início deste século 21, continua até hoje percorrendo um itinerário que adora a surpresa, o improviso, o inesperado. Assim, em um de seus shows em trio com contrabaixo e bateria, ela começou tocando aquele “Grave” da sonata Patética e, antes que alguém se surpreendesse pela escolha, Hiromi assumiu o cantabile com que Beethoven espanta até hoje nossos ouvidos do século 21. E encantou, ao menos naquela apresentação de 2019, levando a sonata para... o trecho “é-pau-é-pedra” de Águas de Março. E de Jobim para Erroll Garner, e assim por diante. 

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Isso deve acontecer várias vezes na noite desta quarta, 8, em seu recital solo no Teatro Renault, em São Paulo. Uma tendência que foi se radicalizando na medida em que ela gravava seus álbuns - hoje já são 15, pela Telarc, em solo e em trio. Foi como pianista solo que ela se afirmou internacionalmente. E também com parceiros notáveis do domínio do jazz, como o Stanley Clarke trio. Nesta quarta, ela deve tocar em versão super autoral a Rhapsody in Blue, de George Gershwin - e com certeza de modo bem diverso da maravilhosa reinvenção de 22 minutos que intitula Rhapsody in Various Shades of Blue, presente em Spectrum, álbum de 2019, e enxertada com temas de Coltrane e Pete Townshend

“Eu viro uma banda inteira”, já repetiu várias vezes sobre suas apresentações solo. Nascida em Hamamatsu, na província de Shizuoka, entrou na música pelo piano clássico, que estudou desde cedo. Encantou-se quando sua professora mostrou-lhe Erroll Garner, que sequer sabia ler música mas tinha um rubato originalíssimo; e o canadense Oscar Peterson, célebre por seu virtuosismo. Entre os dois, ela sentiu afinidades mesmo por Peterson. Mas um mundo se abriu à sua frente quando conheceu Chick Corea. Curioso: Peterson e Corea, cada um à sua maneira, também flertavam com a música dita clássica: o primeiro com o piano romântico lisztiano; o segundo apaixonado pelos ritmos e harmonias ariscas do húngaro Bela Bartók.

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E o que uma pianista hiperativa como Hiromi fez durante a pandemia? Compôs um quinteto para piano e cordas em quatro movimentos distribuídos em 34 minutos. Isolation, isolamento, é puramente camerístico, assentado por um ostinato que passeia alternadamente, pelas cordas e o piano. Será que ela se eruditizou de vez? Pertinho dos 3 minutos o piano começa a suingar, usar as blue notes. 

Quase imperceptivelmente o bem comportado violoncelo transforma-se em um minicontrabaixo. Esta saudável mistura (des)respeitosa comanda o restante desta obra encorpada. Unknow, o desconhecido, parece trilha daquelas cenas de perseguição polícia-bandido. O mais belo e possivelmente uma das mais belas composições de Hiromi é o terceiro movimento, Drifters, palavra que evoca o que os alemães chamavam de “wanderer”, o andarilho sem rumo, protótipo do ideário romântico europeu do século 19. 

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Fortaleza, quarto e último movimento, finca pés sólidos em “riffs” que ora sustentam, ora provocam o solista da vez, fundindo linguagens, unindo contrários. O álbum foi lançado em dezembro do ano passado. E com certeza é o complemento ideal do recital de Hiromi que, como sempre, inundará o público com um turbilhão de excelência técnica. Mas não se esqueça de que, neste caso, a técnica não soterra a musicalidade. Ao contrário, liberta a musicalidade abrindo um mundo infinito de possibilidades. 

Hiromi Uehara - Solo World Tour - Jazz All Night Teatro Renault.  Avenida Brigadeiro Luis Antônio, 411. R$ 50 / R$ 300.  4ª feira (8/6), 21h

É mesmo maravilhoso e novidadeiro o universo das 32 sonatas para piano de Ludwig van Beethoven. Em cada uma, um procedimento inédito em relação ao passado. Por exemplo, na célebre Sonata Patética, seu opus 13: pela primeira vez uma sonata abre-se com uma introdução em adagio, grave, solene, e de repente explode num “Allegro di molto e con brio”. Coisa de gênio.

Pianista e compositora japonesa Hiromi Uehara se apresenta no 48.º Festival de Jazz de San Sebastián em 28/7/2013. Foto: EFE/Juan Herrero

Não dá para comparar a pianista japonesa Hiromi Uehara, 43, com a sacada de Beethoven. Mas esta pianista que deslumbrou com sua técnica diabólica o mundo musical norte-americano já em seus primeiros álbuns pela Telarc, no início deste século 21, continua até hoje percorrendo um itinerário que adora a surpresa, o improviso, o inesperado. Assim, em um de seus shows em trio com contrabaixo e bateria, ela começou tocando aquele “Grave” da sonata Patética e, antes que alguém se surpreendesse pela escolha, Hiromi assumiu o cantabile com que Beethoven espanta até hoje nossos ouvidos do século 21. E encantou, ao menos naquela apresentação de 2019, levando a sonata para... o trecho “é-pau-é-pedra” de Águas de Março. E de Jobim para Erroll Garner, e assim por diante. 

Isso deve acontecer várias vezes na noite desta quarta, 8, em seu recital solo no Teatro Renault, em São Paulo. Uma tendência que foi se radicalizando na medida em que ela gravava seus álbuns - hoje já são 15, pela Telarc, em solo e em trio. Foi como pianista solo que ela se afirmou internacionalmente. E também com parceiros notáveis do domínio do jazz, como o Stanley Clarke trio. Nesta quarta, ela deve tocar em versão super autoral a Rhapsody in Blue, de George Gershwin - e com certeza de modo bem diverso da maravilhosa reinvenção de 22 minutos que intitula Rhapsody in Various Shades of Blue, presente em Spectrum, álbum de 2019, e enxertada com temas de Coltrane e Pete Townshend

“Eu viro uma banda inteira”, já repetiu várias vezes sobre suas apresentações solo. Nascida em Hamamatsu, na província de Shizuoka, entrou na música pelo piano clássico, que estudou desde cedo. Encantou-se quando sua professora mostrou-lhe Erroll Garner, que sequer sabia ler música mas tinha um rubato originalíssimo; e o canadense Oscar Peterson, célebre por seu virtuosismo. Entre os dois, ela sentiu afinidades mesmo por Peterson. Mas um mundo se abriu à sua frente quando conheceu Chick Corea. Curioso: Peterson e Corea, cada um à sua maneira, também flertavam com a música dita clássica: o primeiro com o piano romântico lisztiano; o segundo apaixonado pelos ritmos e harmonias ariscas do húngaro Bela Bartók.

E o que uma pianista hiperativa como Hiromi fez durante a pandemia? Compôs um quinteto para piano e cordas em quatro movimentos distribuídos em 34 minutos. Isolation, isolamento, é puramente camerístico, assentado por um ostinato que passeia alternadamente, pelas cordas e o piano. Será que ela se eruditizou de vez? Pertinho dos 3 minutos o piano começa a suingar, usar as blue notes. 

Quase imperceptivelmente o bem comportado violoncelo transforma-se em um minicontrabaixo. Esta saudável mistura (des)respeitosa comanda o restante desta obra encorpada. Unknow, o desconhecido, parece trilha daquelas cenas de perseguição polícia-bandido. O mais belo e possivelmente uma das mais belas composições de Hiromi é o terceiro movimento, Drifters, palavra que evoca o que os alemães chamavam de “wanderer”, o andarilho sem rumo, protótipo do ideário romântico europeu do século 19. 

Fortaleza, quarto e último movimento, finca pés sólidos em “riffs” que ora sustentam, ora provocam o solista da vez, fundindo linguagens, unindo contrários. O álbum foi lançado em dezembro do ano passado. E com certeza é o complemento ideal do recital de Hiromi que, como sempre, inundará o público com um turbilhão de excelência técnica. Mas não se esqueça de que, neste caso, a técnica não soterra a musicalidade. Ao contrário, liberta a musicalidade abrindo um mundo infinito de possibilidades. 

Hiromi Uehara - Solo World Tour - Jazz All Night Teatro Renault.  Avenida Brigadeiro Luis Antônio, 411. R$ 50 / R$ 300.  4ª feira (8/6), 21h

É mesmo maravilhoso e novidadeiro o universo das 32 sonatas para piano de Ludwig van Beethoven. Em cada uma, um procedimento inédito em relação ao passado. Por exemplo, na célebre Sonata Patética, seu opus 13: pela primeira vez uma sonata abre-se com uma introdução em adagio, grave, solene, e de repente explode num “Allegro di molto e con brio”. Coisa de gênio.

Pianista e compositora japonesa Hiromi Uehara se apresenta no 48.º Festival de Jazz de San Sebastián em 28/7/2013. Foto: EFE/Juan Herrero

Não dá para comparar a pianista japonesa Hiromi Uehara, 43, com a sacada de Beethoven. Mas esta pianista que deslumbrou com sua técnica diabólica o mundo musical norte-americano já em seus primeiros álbuns pela Telarc, no início deste século 21, continua até hoje percorrendo um itinerário que adora a surpresa, o improviso, o inesperado. Assim, em um de seus shows em trio com contrabaixo e bateria, ela começou tocando aquele “Grave” da sonata Patética e, antes que alguém se surpreendesse pela escolha, Hiromi assumiu o cantabile com que Beethoven espanta até hoje nossos ouvidos do século 21. E encantou, ao menos naquela apresentação de 2019, levando a sonata para... o trecho “é-pau-é-pedra” de Águas de Março. E de Jobim para Erroll Garner, e assim por diante. 

Isso deve acontecer várias vezes na noite desta quarta, 8, em seu recital solo no Teatro Renault, em São Paulo. Uma tendência que foi se radicalizando na medida em que ela gravava seus álbuns - hoje já são 15, pela Telarc, em solo e em trio. Foi como pianista solo que ela se afirmou internacionalmente. E também com parceiros notáveis do domínio do jazz, como o Stanley Clarke trio. Nesta quarta, ela deve tocar em versão super autoral a Rhapsody in Blue, de George Gershwin - e com certeza de modo bem diverso da maravilhosa reinvenção de 22 minutos que intitula Rhapsody in Various Shades of Blue, presente em Spectrum, álbum de 2019, e enxertada com temas de Coltrane e Pete Townshend

“Eu viro uma banda inteira”, já repetiu várias vezes sobre suas apresentações solo. Nascida em Hamamatsu, na província de Shizuoka, entrou na música pelo piano clássico, que estudou desde cedo. Encantou-se quando sua professora mostrou-lhe Erroll Garner, que sequer sabia ler música mas tinha um rubato originalíssimo; e o canadense Oscar Peterson, célebre por seu virtuosismo. Entre os dois, ela sentiu afinidades mesmo por Peterson. Mas um mundo se abriu à sua frente quando conheceu Chick Corea. Curioso: Peterson e Corea, cada um à sua maneira, também flertavam com a música dita clássica: o primeiro com o piano romântico lisztiano; o segundo apaixonado pelos ritmos e harmonias ariscas do húngaro Bela Bartók.

E o que uma pianista hiperativa como Hiromi fez durante a pandemia? Compôs um quinteto para piano e cordas em quatro movimentos distribuídos em 34 minutos. Isolation, isolamento, é puramente camerístico, assentado por um ostinato que passeia alternadamente, pelas cordas e o piano. Será que ela se eruditizou de vez? Pertinho dos 3 minutos o piano começa a suingar, usar as blue notes. 

Quase imperceptivelmente o bem comportado violoncelo transforma-se em um minicontrabaixo. Esta saudável mistura (des)respeitosa comanda o restante desta obra encorpada. Unknow, o desconhecido, parece trilha daquelas cenas de perseguição polícia-bandido. O mais belo e possivelmente uma das mais belas composições de Hiromi é o terceiro movimento, Drifters, palavra que evoca o que os alemães chamavam de “wanderer”, o andarilho sem rumo, protótipo do ideário romântico europeu do século 19. 

Fortaleza, quarto e último movimento, finca pés sólidos em “riffs” que ora sustentam, ora provocam o solista da vez, fundindo linguagens, unindo contrários. O álbum foi lançado em dezembro do ano passado. E com certeza é o complemento ideal do recital de Hiromi que, como sempre, inundará o público com um turbilhão de excelência técnica. Mas não se esqueça de que, neste caso, a técnica não soterra a musicalidade. Ao contrário, liberta a musicalidade abrindo um mundo infinito de possibilidades. 

Hiromi Uehara - Solo World Tour - Jazz All Night Teatro Renault.  Avenida Brigadeiro Luis Antônio, 411. R$ 50 / R$ 300.  4ª feira (8/6), 21h

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