Ian Gillan, do Deep Purple, exalta energia do Brasil e evita falar da saúde: ‘É confidencial’


Cantor de 79 anos, lenda do rock, conversa com o ‘Estadão’ antes dos shows da banda em São Paulo e no Rock In Rio; os donos do hino ‘Smoke On The Water’ já tocaram mais de 70 vezes no País

Por Gabriel Zorzetto
Atualização:
Foto: JF. Diorio/Estadão
Entrevista comIan GillanVocalista do Deep Purple

Aos 79 anos, Ian Gillan é um missionário do rock. À frente do Deep Purple, grupo fundamental do gênero, eternizou sua voz em clássicos como Smoke On The Water, Perfect Strangers e Black Night, faixas que ele vem entoando por todas as partes do mundo há seis décadas – e com a mesma paixão de outrora.

A banda britânica criada nos anos 60 (das poucas ainda na ativa com mais de 50 anos de carreira - veja lista aqui) já passou por muitas transformações, mas Gillan quase sempre esteve lá. Uma das ausências foi quando ele ‘virou a casaca’ e assumiu brevemente os vocais do Black Sabbath para substituir Ronnie James Dio e Ozzy Osbourne na gravação do disco Born Again (1983).

Revigorado, o Purple volta ao Brasil impulsionado pelo novo álbum =1, lançado em julho, que agradou aos fãs e deu origem a uma nova turnê mundial. A atual formação do quinteto – com Gillan, Ian Paice (bateria), Roger Glover (baixo), Don Airey (teclados) e o novato Simon McBride (guitarra) – toca em São Paulo, no Espaço Unimed, nesta sexta-feira, 13, e no Palco Sunset do Rock In Rio, no domingo, 15.

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Aos 79 anos, Gillan atendeu a reportagem do Estadão no dia seguinte ao término da excursão conjunta do Deep Purple com o Yes pelos Estados Unidos. Nesta entrevista de 15 minutos, feita por telefone, ele exaltou a forte ligação com Brasil, onde a banda já se apresentou mais de 70 vezes, inclusive em cidades grandes e pequenas, dentro e fora do eixo Rio-SP; a rotina de shows e o resultado satisfatório do disco recente.

No entanto, ele evitou comentar sobre seu atual estado de saúde, especulado desde a última visita do grupo ao País, em abril de 2023, no festival Monsters Of Rock. Na ocasião, eram perceptíveis suas mãos trêmulas, apesar da voz poderosa. Ao ser questionado sobre o tema e como lida com o cansaço na estrada, o músico foi sucinto e disse ter registros médicos confidenciais.

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O Deep Purple já tocou mais de 70 vezes no Brasil; na foto: Roger Glover, Ian Gillan e Simon McBride, em show de 2023 Foto: Aggie Anthimidou/Deep Purple via website/Divulgação

Gostaria de começar falando da relação única do Deep Purple com o Brasil. Os senhores se apresentaram mais de 70 vezes por aqui. Sente uma conexão profunda com o País ou é principalmente uma decisão de negócios?

Bem, na verdade não é nem um nem outro. Nós viajamos por todo o mundo, e conforme você volta aos lugares, primeiramente, você vai e observa a paisagem, os grandes pontos turísticos, olha os museus e tudo mais. Mas quando você já esteve lá algumas vezes, a verdadeira conexão é com as pessoas. E então, como na maioria dos países, desenvolvi amizades no Brasil, e sempre aguardo ansiosamente voltar e me atualizar sobre o que está acontecendo. Recebo todas as minhas informações de amigos, e desnecessário dizer, eles têm suas próprias opiniões sobre as coisas. Mas não é como uma coisa de turista, e não é uma coisa de negócios de jeito nenhum. Quer dizer, fazemos nossa música porque amamos nossa música. É por isso que a fazemos há 60 anos. Se fossem só negócios, teríamos parado depois de cinco anos, mas não é. É uma paixão. E, claro, visitar o Brasil é absolutamente delicioso. Há uma energia no Brasil que é diferente de qualquer outro lugar. É um lugar muito especial.

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Qual a diferença entre tocar num festival grande como o Rock In Rio e um show padrão como os senhores vão fazer em São Paulo?

A maior diferença, obviamente, é o número de pessoas. Quando você toca em um festival, está tocando para pessoas que estão apenas se divertindo muito, ouvindo uma ampla gama de músicas, e você é apenas parte de todo o cenário. Se você está fazendo seu próprio show, é um pouco mais especializado. Mas fora isso, você se apresenta da mesma maneira e se diverte da mesma maneira. Não vejo uma grande diferença entre um clube e um festival, para ser honesto. Em nosso caso, há a mesma quantidade de intimidade com uma multidão de 50 mil e uma de 500.

Show da banda Deep Purple no Estádio do Pacaembu, em 2003; Na foto: Roger Glover (esq.) e Ian Gillan Foto: Alex Silva/Estadão
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Como o novo álbum se destaca na discografia da banda?

Bem, acho que as coisas evoluem. Temos um novo guitarrista há alguns anos, Simon McBride. E quando você tem uma mudança, seja em um time de futebol, em uma família ou em um grupo de rock, esperançosamente, há uma melhoria ou renovação. E então há uma nova energia. Acho que também o estilo de tocar do Simon é bastante direto. Ele é um guitarrista absolutamente brilhante. O que fizemos em =1 é mais compatível com a música dos anos 70, coisas como Machine Head (1972), Deep Purple In Rock (1970), por exemplo. E a razão pela qual digo isso é porque o novo material que estamos tocando ao vivo está se encaixando muito bem com as antigas. É um bom equilíbrio. As músicas novas se sentem completamente naturais. Então, estou muito feliz com o álbum e ansioso para descer e tocar algumas das músicas para vocês, bem como as antigas.

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O repertório dos shows recentes parece muito renovado, com várias músicas novas e lados B. Entenderam que era hora de assumir um pouco mais de riscos?

Não, não funciona dessa maneira. Você pode assumir riscos, mas não adianta colocar músicas que não se encaixam. E esse foi o caso dos álbuns anteriores. Os últimos dez álbuns ou mais não necessariamente foram compatíveis com a música tradicional do Deep Purple. E então, só trouxemos talvez uma ou duas músicas e elas não duraram muito. Mas agora temos música que é compatível, então não há risco nenhum. É uma decisão natural, bastante orgânica.

Ian Gillan segura a bandeira do Brasil em show do Deep Purple em São Paulo, em 2005 Foto: Ernesto Rodrigues/Estadão
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Os senhores acabaram de terminar uma turnê conjunta com o Yes e também já se apresentaram ao lado de grupos como Kiss, Scorpions, Alice Cooper e mais. Como é sua relação com esses outros artistas do rock? É mais uma amizade ou é estritamente profissional?

A vida na estrada não funciona dessa maneira. Você viaja, toca, segue para a próxima cidade e toca com todos os tipos de artistas. Uma turnê será com Yes, outra será com Alice Cooper, outra você terá um novo convidado. Lembro dos dias em que tivemos Fleetwood Mac e Buddy Miles. São todos os tipos de pessoas com as quais tivemos a sorte de ter conosco. Essa é a natureza do negócio. A maioria dos músicos tem a mesma herança, o mesmo background e são bastante dedicados ao que estão fazendo. Nós passamos como navios na noite: dizemos olá, nos damos bem... Tiramos uma linda foto [com o Yes] na noite passada [em Scranton, nos Estados Unidos] e eu valorizo isso. São caras legais, mas não passamos muito tempo juntos, é meio que como no Deep Purple. Quando a turnê termina, não ligo para eles, não falo com eles por três meses (risos). Ainda assim, quero vê-los. Nos apresentamos no mesmo palco, mas temos nossa vida própria. Viajamos separadamente, ficamos em hotéis diferentes e coisas do tipo. É uma relação profissional e amigável. Há respeito mútuo.

Viajar ao redor do mundo ainda te anima ou já está um pouco cansado disso?

Me dê mais, me dê mais! (risos) É a minha vida, é o que fazemos. Eu amo isso desde que tinha 16, 17 anos. Quando compramos nossa primeira van, tivemos que viajar para encontrar o público. Isso porque nos saímos bem em nossa cidade natal, mas as mesmas pessoas não querem vir te ver toda semana. Daí você tem que começar a levar a música para as pessoas. Então compramos uma van e saímos para a próxima cidade, as cidades ao redor, começamos a ir para distâncias maiores e ficar fora todas as noites. Assim você se torna profissional e as coisas se expandem. Gradualmente você está fazendo a mesma coisa ao redor do mundo. É pelo que vivemos. Não estou cansado disso de jeito nenhum. Eu absolutamente amo isso.

Como tem sido se apresentar aos 79 anos? Sua voz ainda soa muito forte, mas na última vez que o vi no Monsters of Rock, suas mãos tremiam um pouco. Como o senhor lida com o cansaço de se apresentar noite após noite?

Estou olhando para as minhas mãos agora. Não se preocupe... (risos com tom irônico)

Então o senhor não tem problemas para enfrentar o cansaço?

Não, veja bem, tenho algumas coisas na minha vida que são meio privadas: meu dinheiro e minha saúde. Se você quer informações sobre minha saúde, pode ligar para o meu médico. Tenho registros médicos confidenciais. E o mesmo vale para o meu dinheiro. E o mesmo vale para a minha família, a propósito. Mas fora isso, sou todo seu.

Certo. No Monsters of Rock do ano passado, 50 mil pessoas cantaram em coro ‘Smoke on the Water’. Por que acha que essa música ainda ressoa tanto com o público e virou um marco na cultura pop?

Santo Deus, como posso responder isso? Não faço ideia. Acho que é porque é simples e conta uma história. Há uma boa simplicidade e a estrutura é boa. Se você quer uma análise disso vinda de um músico, não sei nada sobre música comercial. Não faço ideia do porquê.

Ian Gillan saúda multidão durante show do Deep Purple, em 2023 Foto: Ueli Frey/Deep Purple via website/Divulgação

Deep Purple - Ao Vivo

  • Onde: Espaço Unimed (Rua Tagipuru, 795 - Barra Funda)
  • Data: 13 de setembro, às 22h
  • Preços: R$ 225 a R$ 840
  • Ingressos: ticket360.com.br

Deep Purple no Rock in Rio

  • A banda de apresenta no domingo, 15, às 22h45, no palco Sunset

Aos 79 anos, Ian Gillan é um missionário do rock. À frente do Deep Purple, grupo fundamental do gênero, eternizou sua voz em clássicos como Smoke On The Water, Perfect Strangers e Black Night, faixas que ele vem entoando por todas as partes do mundo há seis décadas – e com a mesma paixão de outrora.

A banda britânica criada nos anos 60 (das poucas ainda na ativa com mais de 50 anos de carreira - veja lista aqui) já passou por muitas transformações, mas Gillan quase sempre esteve lá. Uma das ausências foi quando ele ‘virou a casaca’ e assumiu brevemente os vocais do Black Sabbath para substituir Ronnie James Dio e Ozzy Osbourne na gravação do disco Born Again (1983).

Revigorado, o Purple volta ao Brasil impulsionado pelo novo álbum =1, lançado em julho, que agradou aos fãs e deu origem a uma nova turnê mundial. A atual formação do quinteto – com Gillan, Ian Paice (bateria), Roger Glover (baixo), Don Airey (teclados) e o novato Simon McBride (guitarra) – toca em São Paulo, no Espaço Unimed, nesta sexta-feira, 13, e no Palco Sunset do Rock In Rio, no domingo, 15.

Aos 79 anos, Gillan atendeu a reportagem do Estadão no dia seguinte ao término da excursão conjunta do Deep Purple com o Yes pelos Estados Unidos. Nesta entrevista de 15 minutos, feita por telefone, ele exaltou a forte ligação com Brasil, onde a banda já se apresentou mais de 70 vezes, inclusive em cidades grandes e pequenas, dentro e fora do eixo Rio-SP; a rotina de shows e o resultado satisfatório do disco recente.

No entanto, ele evitou comentar sobre seu atual estado de saúde, especulado desde a última visita do grupo ao País, em abril de 2023, no festival Monsters Of Rock. Na ocasião, eram perceptíveis suas mãos trêmulas, apesar da voz poderosa. Ao ser questionado sobre o tema e como lida com o cansaço na estrada, o músico foi sucinto e disse ter registros médicos confidenciais.

O Deep Purple já tocou mais de 70 vezes no Brasil; na foto: Roger Glover, Ian Gillan e Simon McBride, em show de 2023 Foto: Aggie Anthimidou/Deep Purple via website/Divulgação

Gostaria de começar falando da relação única do Deep Purple com o Brasil. Os senhores se apresentaram mais de 70 vezes por aqui. Sente uma conexão profunda com o País ou é principalmente uma decisão de negócios?

Bem, na verdade não é nem um nem outro. Nós viajamos por todo o mundo, e conforme você volta aos lugares, primeiramente, você vai e observa a paisagem, os grandes pontos turísticos, olha os museus e tudo mais. Mas quando você já esteve lá algumas vezes, a verdadeira conexão é com as pessoas. E então, como na maioria dos países, desenvolvi amizades no Brasil, e sempre aguardo ansiosamente voltar e me atualizar sobre o que está acontecendo. Recebo todas as minhas informações de amigos, e desnecessário dizer, eles têm suas próprias opiniões sobre as coisas. Mas não é como uma coisa de turista, e não é uma coisa de negócios de jeito nenhum. Quer dizer, fazemos nossa música porque amamos nossa música. É por isso que a fazemos há 60 anos. Se fossem só negócios, teríamos parado depois de cinco anos, mas não é. É uma paixão. E, claro, visitar o Brasil é absolutamente delicioso. Há uma energia no Brasil que é diferente de qualquer outro lugar. É um lugar muito especial.

Qual a diferença entre tocar num festival grande como o Rock In Rio e um show padrão como os senhores vão fazer em São Paulo?

A maior diferença, obviamente, é o número de pessoas. Quando você toca em um festival, está tocando para pessoas que estão apenas se divertindo muito, ouvindo uma ampla gama de músicas, e você é apenas parte de todo o cenário. Se você está fazendo seu próprio show, é um pouco mais especializado. Mas fora isso, você se apresenta da mesma maneira e se diverte da mesma maneira. Não vejo uma grande diferença entre um clube e um festival, para ser honesto. Em nosso caso, há a mesma quantidade de intimidade com uma multidão de 50 mil e uma de 500.

Show da banda Deep Purple no Estádio do Pacaembu, em 2003; Na foto: Roger Glover (esq.) e Ian Gillan Foto: Alex Silva/Estadão

Como o novo álbum se destaca na discografia da banda?

Bem, acho que as coisas evoluem. Temos um novo guitarrista há alguns anos, Simon McBride. E quando você tem uma mudança, seja em um time de futebol, em uma família ou em um grupo de rock, esperançosamente, há uma melhoria ou renovação. E então há uma nova energia. Acho que também o estilo de tocar do Simon é bastante direto. Ele é um guitarrista absolutamente brilhante. O que fizemos em =1 é mais compatível com a música dos anos 70, coisas como Machine Head (1972), Deep Purple In Rock (1970), por exemplo. E a razão pela qual digo isso é porque o novo material que estamos tocando ao vivo está se encaixando muito bem com as antigas. É um bom equilíbrio. As músicas novas se sentem completamente naturais. Então, estou muito feliz com o álbum e ansioso para descer e tocar algumas das músicas para vocês, bem como as antigas.

O repertório dos shows recentes parece muito renovado, com várias músicas novas e lados B. Entenderam que era hora de assumir um pouco mais de riscos?

Não, não funciona dessa maneira. Você pode assumir riscos, mas não adianta colocar músicas que não se encaixam. E esse foi o caso dos álbuns anteriores. Os últimos dez álbuns ou mais não necessariamente foram compatíveis com a música tradicional do Deep Purple. E então, só trouxemos talvez uma ou duas músicas e elas não duraram muito. Mas agora temos música que é compatível, então não há risco nenhum. É uma decisão natural, bastante orgânica.

Ian Gillan segura a bandeira do Brasil em show do Deep Purple em São Paulo, em 2005 Foto: Ernesto Rodrigues/Estadão

Os senhores acabaram de terminar uma turnê conjunta com o Yes e também já se apresentaram ao lado de grupos como Kiss, Scorpions, Alice Cooper e mais. Como é sua relação com esses outros artistas do rock? É mais uma amizade ou é estritamente profissional?

A vida na estrada não funciona dessa maneira. Você viaja, toca, segue para a próxima cidade e toca com todos os tipos de artistas. Uma turnê será com Yes, outra será com Alice Cooper, outra você terá um novo convidado. Lembro dos dias em que tivemos Fleetwood Mac e Buddy Miles. São todos os tipos de pessoas com as quais tivemos a sorte de ter conosco. Essa é a natureza do negócio. A maioria dos músicos tem a mesma herança, o mesmo background e são bastante dedicados ao que estão fazendo. Nós passamos como navios na noite: dizemos olá, nos damos bem... Tiramos uma linda foto [com o Yes] na noite passada [em Scranton, nos Estados Unidos] e eu valorizo isso. São caras legais, mas não passamos muito tempo juntos, é meio que como no Deep Purple. Quando a turnê termina, não ligo para eles, não falo com eles por três meses (risos). Ainda assim, quero vê-los. Nos apresentamos no mesmo palco, mas temos nossa vida própria. Viajamos separadamente, ficamos em hotéis diferentes e coisas do tipo. É uma relação profissional e amigável. Há respeito mútuo.

Viajar ao redor do mundo ainda te anima ou já está um pouco cansado disso?

Me dê mais, me dê mais! (risos) É a minha vida, é o que fazemos. Eu amo isso desde que tinha 16, 17 anos. Quando compramos nossa primeira van, tivemos que viajar para encontrar o público. Isso porque nos saímos bem em nossa cidade natal, mas as mesmas pessoas não querem vir te ver toda semana. Daí você tem que começar a levar a música para as pessoas. Então compramos uma van e saímos para a próxima cidade, as cidades ao redor, começamos a ir para distâncias maiores e ficar fora todas as noites. Assim você se torna profissional e as coisas se expandem. Gradualmente você está fazendo a mesma coisa ao redor do mundo. É pelo que vivemos. Não estou cansado disso de jeito nenhum. Eu absolutamente amo isso.

Como tem sido se apresentar aos 79 anos? Sua voz ainda soa muito forte, mas na última vez que o vi no Monsters of Rock, suas mãos tremiam um pouco. Como o senhor lida com o cansaço de se apresentar noite após noite?

Estou olhando para as minhas mãos agora. Não se preocupe... (risos com tom irônico)

Então o senhor não tem problemas para enfrentar o cansaço?

Não, veja bem, tenho algumas coisas na minha vida que são meio privadas: meu dinheiro e minha saúde. Se você quer informações sobre minha saúde, pode ligar para o meu médico. Tenho registros médicos confidenciais. E o mesmo vale para o meu dinheiro. E o mesmo vale para a minha família, a propósito. Mas fora isso, sou todo seu.

Certo. No Monsters of Rock do ano passado, 50 mil pessoas cantaram em coro ‘Smoke on the Water’. Por que acha que essa música ainda ressoa tanto com o público e virou um marco na cultura pop?

Santo Deus, como posso responder isso? Não faço ideia. Acho que é porque é simples e conta uma história. Há uma boa simplicidade e a estrutura é boa. Se você quer uma análise disso vinda de um músico, não sei nada sobre música comercial. Não faço ideia do porquê.

Ian Gillan saúda multidão durante show do Deep Purple, em 2023 Foto: Ueli Frey/Deep Purple via website/Divulgação

Deep Purple - Ao Vivo

  • Onde: Espaço Unimed (Rua Tagipuru, 795 - Barra Funda)
  • Data: 13 de setembro, às 22h
  • Preços: R$ 225 a R$ 840
  • Ingressos: ticket360.com.br

Deep Purple no Rock in Rio

  • A banda de apresenta no domingo, 15, às 22h45, no palco Sunset

Aos 79 anos, Ian Gillan é um missionário do rock. À frente do Deep Purple, grupo fundamental do gênero, eternizou sua voz em clássicos como Smoke On The Water, Perfect Strangers e Black Night, faixas que ele vem entoando por todas as partes do mundo há seis décadas – e com a mesma paixão de outrora.

A banda britânica criada nos anos 60 (das poucas ainda na ativa com mais de 50 anos de carreira - veja lista aqui) já passou por muitas transformações, mas Gillan quase sempre esteve lá. Uma das ausências foi quando ele ‘virou a casaca’ e assumiu brevemente os vocais do Black Sabbath para substituir Ronnie James Dio e Ozzy Osbourne na gravação do disco Born Again (1983).

Revigorado, o Purple volta ao Brasil impulsionado pelo novo álbum =1, lançado em julho, que agradou aos fãs e deu origem a uma nova turnê mundial. A atual formação do quinteto – com Gillan, Ian Paice (bateria), Roger Glover (baixo), Don Airey (teclados) e o novato Simon McBride (guitarra) – toca em São Paulo, no Espaço Unimed, nesta sexta-feira, 13, e no Palco Sunset do Rock In Rio, no domingo, 15.

Aos 79 anos, Gillan atendeu a reportagem do Estadão no dia seguinte ao término da excursão conjunta do Deep Purple com o Yes pelos Estados Unidos. Nesta entrevista de 15 minutos, feita por telefone, ele exaltou a forte ligação com Brasil, onde a banda já se apresentou mais de 70 vezes, inclusive em cidades grandes e pequenas, dentro e fora do eixo Rio-SP; a rotina de shows e o resultado satisfatório do disco recente.

No entanto, ele evitou comentar sobre seu atual estado de saúde, especulado desde a última visita do grupo ao País, em abril de 2023, no festival Monsters Of Rock. Na ocasião, eram perceptíveis suas mãos trêmulas, apesar da voz poderosa. Ao ser questionado sobre o tema e como lida com o cansaço na estrada, o músico foi sucinto e disse ter registros médicos confidenciais.

O Deep Purple já tocou mais de 70 vezes no Brasil; na foto: Roger Glover, Ian Gillan e Simon McBride, em show de 2023 Foto: Aggie Anthimidou/Deep Purple via website/Divulgação

Gostaria de começar falando da relação única do Deep Purple com o Brasil. Os senhores se apresentaram mais de 70 vezes por aqui. Sente uma conexão profunda com o País ou é principalmente uma decisão de negócios?

Bem, na verdade não é nem um nem outro. Nós viajamos por todo o mundo, e conforme você volta aos lugares, primeiramente, você vai e observa a paisagem, os grandes pontos turísticos, olha os museus e tudo mais. Mas quando você já esteve lá algumas vezes, a verdadeira conexão é com as pessoas. E então, como na maioria dos países, desenvolvi amizades no Brasil, e sempre aguardo ansiosamente voltar e me atualizar sobre o que está acontecendo. Recebo todas as minhas informações de amigos, e desnecessário dizer, eles têm suas próprias opiniões sobre as coisas. Mas não é como uma coisa de turista, e não é uma coisa de negócios de jeito nenhum. Quer dizer, fazemos nossa música porque amamos nossa música. É por isso que a fazemos há 60 anos. Se fossem só negócios, teríamos parado depois de cinco anos, mas não é. É uma paixão. E, claro, visitar o Brasil é absolutamente delicioso. Há uma energia no Brasil que é diferente de qualquer outro lugar. É um lugar muito especial.

Qual a diferença entre tocar num festival grande como o Rock In Rio e um show padrão como os senhores vão fazer em São Paulo?

A maior diferença, obviamente, é o número de pessoas. Quando você toca em um festival, está tocando para pessoas que estão apenas se divertindo muito, ouvindo uma ampla gama de músicas, e você é apenas parte de todo o cenário. Se você está fazendo seu próprio show, é um pouco mais especializado. Mas fora isso, você se apresenta da mesma maneira e se diverte da mesma maneira. Não vejo uma grande diferença entre um clube e um festival, para ser honesto. Em nosso caso, há a mesma quantidade de intimidade com uma multidão de 50 mil e uma de 500.

Show da banda Deep Purple no Estádio do Pacaembu, em 2003; Na foto: Roger Glover (esq.) e Ian Gillan Foto: Alex Silva/Estadão

Como o novo álbum se destaca na discografia da banda?

Bem, acho que as coisas evoluem. Temos um novo guitarrista há alguns anos, Simon McBride. E quando você tem uma mudança, seja em um time de futebol, em uma família ou em um grupo de rock, esperançosamente, há uma melhoria ou renovação. E então há uma nova energia. Acho que também o estilo de tocar do Simon é bastante direto. Ele é um guitarrista absolutamente brilhante. O que fizemos em =1 é mais compatível com a música dos anos 70, coisas como Machine Head (1972), Deep Purple In Rock (1970), por exemplo. E a razão pela qual digo isso é porque o novo material que estamos tocando ao vivo está se encaixando muito bem com as antigas. É um bom equilíbrio. As músicas novas se sentem completamente naturais. Então, estou muito feliz com o álbum e ansioso para descer e tocar algumas das músicas para vocês, bem como as antigas.

O repertório dos shows recentes parece muito renovado, com várias músicas novas e lados B. Entenderam que era hora de assumir um pouco mais de riscos?

Não, não funciona dessa maneira. Você pode assumir riscos, mas não adianta colocar músicas que não se encaixam. E esse foi o caso dos álbuns anteriores. Os últimos dez álbuns ou mais não necessariamente foram compatíveis com a música tradicional do Deep Purple. E então, só trouxemos talvez uma ou duas músicas e elas não duraram muito. Mas agora temos música que é compatível, então não há risco nenhum. É uma decisão natural, bastante orgânica.

Ian Gillan segura a bandeira do Brasil em show do Deep Purple em São Paulo, em 2005 Foto: Ernesto Rodrigues/Estadão

Os senhores acabaram de terminar uma turnê conjunta com o Yes e também já se apresentaram ao lado de grupos como Kiss, Scorpions, Alice Cooper e mais. Como é sua relação com esses outros artistas do rock? É mais uma amizade ou é estritamente profissional?

A vida na estrada não funciona dessa maneira. Você viaja, toca, segue para a próxima cidade e toca com todos os tipos de artistas. Uma turnê será com Yes, outra será com Alice Cooper, outra você terá um novo convidado. Lembro dos dias em que tivemos Fleetwood Mac e Buddy Miles. São todos os tipos de pessoas com as quais tivemos a sorte de ter conosco. Essa é a natureza do negócio. A maioria dos músicos tem a mesma herança, o mesmo background e são bastante dedicados ao que estão fazendo. Nós passamos como navios na noite: dizemos olá, nos damos bem... Tiramos uma linda foto [com o Yes] na noite passada [em Scranton, nos Estados Unidos] e eu valorizo isso. São caras legais, mas não passamos muito tempo juntos, é meio que como no Deep Purple. Quando a turnê termina, não ligo para eles, não falo com eles por três meses (risos). Ainda assim, quero vê-los. Nos apresentamos no mesmo palco, mas temos nossa vida própria. Viajamos separadamente, ficamos em hotéis diferentes e coisas do tipo. É uma relação profissional e amigável. Há respeito mútuo.

Viajar ao redor do mundo ainda te anima ou já está um pouco cansado disso?

Me dê mais, me dê mais! (risos) É a minha vida, é o que fazemos. Eu amo isso desde que tinha 16, 17 anos. Quando compramos nossa primeira van, tivemos que viajar para encontrar o público. Isso porque nos saímos bem em nossa cidade natal, mas as mesmas pessoas não querem vir te ver toda semana. Daí você tem que começar a levar a música para as pessoas. Então compramos uma van e saímos para a próxima cidade, as cidades ao redor, começamos a ir para distâncias maiores e ficar fora todas as noites. Assim você se torna profissional e as coisas se expandem. Gradualmente você está fazendo a mesma coisa ao redor do mundo. É pelo que vivemos. Não estou cansado disso de jeito nenhum. Eu absolutamente amo isso.

Como tem sido se apresentar aos 79 anos? Sua voz ainda soa muito forte, mas na última vez que o vi no Monsters of Rock, suas mãos tremiam um pouco. Como o senhor lida com o cansaço de se apresentar noite após noite?

Estou olhando para as minhas mãos agora. Não se preocupe... (risos com tom irônico)

Então o senhor não tem problemas para enfrentar o cansaço?

Não, veja bem, tenho algumas coisas na minha vida que são meio privadas: meu dinheiro e minha saúde. Se você quer informações sobre minha saúde, pode ligar para o meu médico. Tenho registros médicos confidenciais. E o mesmo vale para o meu dinheiro. E o mesmo vale para a minha família, a propósito. Mas fora isso, sou todo seu.

Certo. No Monsters of Rock do ano passado, 50 mil pessoas cantaram em coro ‘Smoke on the Water’. Por que acha que essa música ainda ressoa tanto com o público e virou um marco na cultura pop?

Santo Deus, como posso responder isso? Não faço ideia. Acho que é porque é simples e conta uma história. Há uma boa simplicidade e a estrutura é boa. Se você quer uma análise disso vinda de um músico, não sei nada sobre música comercial. Não faço ideia do porquê.

Ian Gillan saúda multidão durante show do Deep Purple, em 2023 Foto: Ueli Frey/Deep Purple via website/Divulgação

Deep Purple - Ao Vivo

  • Onde: Espaço Unimed (Rua Tagipuru, 795 - Barra Funda)
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Entrevista por Gabriel Zorzetto

Repórter de Cultura do Estadão

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