Ivete Sangalo lança novo EP e fala sobre o carnaval: ‘Vai ser o resgate das tradições’


Cantora lança o ‘Chega Mais’, com cinco músicas prontas para a folia, e fala, ao ‘Estadão’, também sobre Margareth Menezes no MinC e outros temas

Por Danilo Casaletti
Atualização:
Foto: Kelly Funaro
Entrevista comIvete SangaloCantora

Ivete Sangalo conhece muito bem o percurso de rua do carnaval baiano, por onde passa há quase três décadas. No EP Chega Mais, lançado nesta quinta-feira, dia 19, com cinco músicas - em todas ela é coautora -, Ivete faz um outro trajeto, igualmente importante. Traça um cortejo de ritmos para que a festa, que será retomada neste ano, reencontre a tradição.

Ivete celebra o rito do carnaval por meio do som, em diferentes gêneros. O objetivo é despertar a memória afetiva do povo, embora o tema de seu trio para este ano seja De Volta para o Futuro. Uma volta ao futuro depois de um tempo retrógrado, como ela explica à reportagem do Estadão.

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Cena de show de Ivete Sangalo Foto: Rafa Mattei/Divulgação

Em ritmo do pagode baiano, uma das músicas, Cria da Ivete, já no repertório de seus shows, fala sobre temas também muito comuns ao universo sertanejo pop: bebida, ex, solteirice e empoderamento feminino. Já Se Saia, com título tirado de uma expressão baiana, traz uma mistura de ritmos da Bahia com o merengue e a lambada. O EP foi gravado em janeiro, em uma apresentação em Salvador, fechada para convidados.

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O bloco de Ivete, o Coruja, desfilará em Salvador nos dias 18 e 20 de fevereiro. No dia 16, ela abrirá o carnaval no Trio Pipoca (sem cordas que separam pagantes e não pagantes), com transmissão ao vivo pela TV Globo.

Antes disso, no dia 28 de janeiro, Ivete se apresenta no Festival de Verão de Salvador, no qual é presença há 24 edições, e recebe como convidada a conterrânea Luedji Luna, um dos nomes da nova geração da música baiana. A ideia é que elas cantem juntas músicas do repertório de ambas.

Em entrevista ao Estadão, Ivete falou sobre as novas canções, a valorização do dialeto baiano, a nomeação da amiga Margareth Menezes para o Ministério da Cultura e ainda sobre as cobranças que recebeu para se posicionar politicamente durante as eleições presidenciais.

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Você é coautora das cinco canções da EP. Era importante para você estar bastante presente nesse lançamento que já visa, obviamente, a retomada do carnaval de rua?

Os meus últimos três projetos foram todos autorais. Sempre compus, mas, na pandemia, eu criei esse refúgio (de compor). Eu trabalho com arte, em contato direto com as pessoas. Meu trabalho sempre teve um alcance a partir das pessoas. O agente transformador era o encontro. Sem isso, encontrei na composição uma maneira de não enlouquecer. Foi uma forma de respirar a canalizar minha compulsão artística. Entendi que isso ia me salvar, por isso lancei tantos projetos durante a pandemia.

Como funciona para você, nesse processo de composição, estabelecer qual música será lançada para o carnaval, por exemplo?

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Penso que as músicas já existem. E a gente entra na sintonia delas. Como se fosse um rádio. A gente (compositores) é um dial que pega essa frequência. Nunca penso em fazer música para o carnaval ou de amor, por exemplo. Vem a primeira frase, um ritmo, uma ideia. Quando você vê, saiu, e você define de que forma vai cantá-la.

Te passa pela cabeça fazer algo para ser a música do verão, do carnaval, entrar no top 100 das plataformas? Há um trabalho mirando nesses títulos?

Não dessa forma. Nunca dominei isso. Ninguém, aliás, ninguém domina. Às vezes, coincide. A música é boa, todo mundo ouve e vai...E esse não domínio que faz a gente ousar, não fazer nada premeditado. Quando eu gravo uma música, ela tem que ser muito importante para mim. Acho massa quando estoura, mas o que determina se ela é importante ou não é o fato de eu gravar essa música, de eu assumi-la para mim. E penso no público, como ele vai reagir, cantar, dançar. É o povo que provoca o artista. Mas entendo quando as pessoas têm o desejo de chegar no carnaval com um tema que está em voga.

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Mas, com uma das músicas do EP, a ‘Se Saia’, você emplacou uma expressão baiana com o público em geral. Já está sendo falada dentro do Big Brother Brasil...

Nós (baianos) temos um dialeto que não é apenas folclórico, não está só nos livros de Jorge Amado. Aplicamos mesmo! ‘Se saia’ tem mil significados. É algo como quando alguém vai me dar uma cantada e eu respondo “se saia, rapaz!”, algo como “não tem nada para você aqui”. Oxente, meu rei, barril dobrado, metendo doce, tá de cheiro mole...Nós falamos muito. Quis fazer uma música com esse dialeto (Ivete canta um trecho da canção). Essa música é maravilhosa! E quis trazer a lambada e o merengue, que fazem a ponte para o refrão. Ah, eu amo essa!

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Como você acha que será esse carnaval pós-pandemia? Ele já vinha se modificando nos últimos anos...

Vai ser uma catarse e um resgate. Quando assumimos novos olhares, novas visões, é muito importante, mas é preciso continuidade para virar algo cultural. É preciso ter ritos. Com a interrupção da pandemia, é preciso resgatar para então seguir adiante. Acho que o povo vem na pegada da Bahia tradição. E esse meu EP é uma prova disso. Ele é um cortejo de carnaval. Tem pagodão (baiano), tem um samba reggae, tem um samba reggae paixão, tem o galope e o merengão que faz pulsar.

A TV Globo vai exibir seu desfile de abertura do carnaval. Serão quantas horas?

Estou muito feliz com isso. Será a primeira vez que isso acontecerá. Será um registro que nunca tive. Quanto a duração, é o que Deus quiser. Quando subo no trio, não marco compromisso depois...Tem que deixar o carnaval acontecer.

Queria que você falasse sobre a escolha de Margareth Menezes como ministra da Cultura. Ela, assim como você, também é um dos símbolos do carnaval da Bahia. Como você viu essa nomeação?

Ela é uma amiga de longa data. É uma boa amiga, sempre foi. Antes de conhecê-la na intimidade, a conheci como artista em um show, quando eu tinha 15 anos. Foi a primeira vez que meu pai me deixou sair à noite. Margareth mudou muito meu olhar para a música. Nos aproximamos em 1991. Ela ainda tem a mesma doçura. Uma mulher que se fortaleceu nas próprias crenças. Não é à toa que ela foi convidada para ser ministra da Cultura. Ela é a pessoa que mais tem potência para realizar isso. Uma mulher que tem consciência política, social e cultural. Precisamos aprender com ela. Ela tem muito a nos ensinar e muito a contribuir. Para exercitar a cultura, com o volume e a velocidade que ela tem, é preciso de alguém que compreenda esse mecanismo. E Margareth compreende isso perfeitamente.

Margareth pode fortalecer ainda mais o carnaval - muitas pessoas têm uma visão distorcida sobre ele, pedem para cancelá-lo ao menor sinal de crise?

Isso são coisas pontuais. Fazem parte dos pleitos sociais. Mas acredito que as pessoas gostam muito mais do carnaval do que menos. Como acredito que tenha muito mais gente boa do que ruim. Daí as vitórias, apesar das batalhas sofridas. A presença de Margareth não favorece o carnaval porque ela é da Bahia e é do carnaval. Favorece porque no olhar dela o carnaval é uma força cultural. Mas fortalecerá também as festas de todas as regiões do país, o surgimento de novos artistas e a presença dos já consolidados. Tudo isso para que a cultura sobreviva.

Houve um momento, durante as eleições, em que você foi cobrada para se posicionar politicamente. E acabou por fazê-lo. Qual foi seu sentimento em relação a isso, as reações do público?

Essa cobrança é natural. Eu entendo completamente. Às vezes me sinto eufórica (para falar), aflita, com vontade de gritar. Mas preciso ter muito cuidado porque eu tenho um alcance grande tanto para coisas positivas quanto para negativas. Não fiquei mais leve depois de me posicionar, pois o meu posicionamento é diário. Ele é consistente e fundamental na minha vida e na vida de muita gente. E não é apenas se posicionar por se posicionar. Vi muita gente fazendo isso e tinha vontade de dizer “pelo amor de Deus, não faça”. Embora eu seja uma mulher inteligente, trabalhadora, madura, às vezes, fico pensando “será que sei falar sobre esse assunto?”. É uma responsabilidade. E com a polarização tão forte, tão violenta, eu quero fazer de uma forma que valha à pena. E não apenas para jogar lenha na fogueira. Porém, pela minha postura, as pessoas sabem no que eu acredito, por onde eu caminho. Meu comprometimento na vida. Quais são meus movimentos, como me comporto. Isso já é muito claro para o público.

Ivete Sangalo conhece muito bem o percurso de rua do carnaval baiano, por onde passa há quase três décadas. No EP Chega Mais, lançado nesta quinta-feira, dia 19, com cinco músicas - em todas ela é coautora -, Ivete faz um outro trajeto, igualmente importante. Traça um cortejo de ritmos para que a festa, que será retomada neste ano, reencontre a tradição.

Ivete celebra o rito do carnaval por meio do som, em diferentes gêneros. O objetivo é despertar a memória afetiva do povo, embora o tema de seu trio para este ano seja De Volta para o Futuro. Uma volta ao futuro depois de um tempo retrógrado, como ela explica à reportagem do Estadão.

Cena de show de Ivete Sangalo Foto: Rafa Mattei/Divulgação

Em ritmo do pagode baiano, uma das músicas, Cria da Ivete, já no repertório de seus shows, fala sobre temas também muito comuns ao universo sertanejo pop: bebida, ex, solteirice e empoderamento feminino. Já Se Saia, com título tirado de uma expressão baiana, traz uma mistura de ritmos da Bahia com o merengue e a lambada. O EP foi gravado em janeiro, em uma apresentação em Salvador, fechada para convidados.

O bloco de Ivete, o Coruja, desfilará em Salvador nos dias 18 e 20 de fevereiro. No dia 16, ela abrirá o carnaval no Trio Pipoca (sem cordas que separam pagantes e não pagantes), com transmissão ao vivo pela TV Globo.

Antes disso, no dia 28 de janeiro, Ivete se apresenta no Festival de Verão de Salvador, no qual é presença há 24 edições, e recebe como convidada a conterrânea Luedji Luna, um dos nomes da nova geração da música baiana. A ideia é que elas cantem juntas músicas do repertório de ambas.

Em entrevista ao Estadão, Ivete falou sobre as novas canções, a valorização do dialeto baiano, a nomeação da amiga Margareth Menezes para o Ministério da Cultura e ainda sobre as cobranças que recebeu para se posicionar politicamente durante as eleições presidenciais.

Você é coautora das cinco canções da EP. Era importante para você estar bastante presente nesse lançamento que já visa, obviamente, a retomada do carnaval de rua?

Os meus últimos três projetos foram todos autorais. Sempre compus, mas, na pandemia, eu criei esse refúgio (de compor). Eu trabalho com arte, em contato direto com as pessoas. Meu trabalho sempre teve um alcance a partir das pessoas. O agente transformador era o encontro. Sem isso, encontrei na composição uma maneira de não enlouquecer. Foi uma forma de respirar a canalizar minha compulsão artística. Entendi que isso ia me salvar, por isso lancei tantos projetos durante a pandemia.

Como funciona para você, nesse processo de composição, estabelecer qual música será lançada para o carnaval, por exemplo?

Penso que as músicas já existem. E a gente entra na sintonia delas. Como se fosse um rádio. A gente (compositores) é um dial que pega essa frequência. Nunca penso em fazer música para o carnaval ou de amor, por exemplo. Vem a primeira frase, um ritmo, uma ideia. Quando você vê, saiu, e você define de que forma vai cantá-la.

Te passa pela cabeça fazer algo para ser a música do verão, do carnaval, entrar no top 100 das plataformas? Há um trabalho mirando nesses títulos?

Não dessa forma. Nunca dominei isso. Ninguém, aliás, ninguém domina. Às vezes, coincide. A música é boa, todo mundo ouve e vai...E esse não domínio que faz a gente ousar, não fazer nada premeditado. Quando eu gravo uma música, ela tem que ser muito importante para mim. Acho massa quando estoura, mas o que determina se ela é importante ou não é o fato de eu gravar essa música, de eu assumi-la para mim. E penso no público, como ele vai reagir, cantar, dançar. É o povo que provoca o artista. Mas entendo quando as pessoas têm o desejo de chegar no carnaval com um tema que está em voga.

Mas, com uma das músicas do EP, a ‘Se Saia’, você emplacou uma expressão baiana com o público em geral. Já está sendo falada dentro do Big Brother Brasil...

Nós (baianos) temos um dialeto que não é apenas folclórico, não está só nos livros de Jorge Amado. Aplicamos mesmo! ‘Se saia’ tem mil significados. É algo como quando alguém vai me dar uma cantada e eu respondo “se saia, rapaz!”, algo como “não tem nada para você aqui”. Oxente, meu rei, barril dobrado, metendo doce, tá de cheiro mole...Nós falamos muito. Quis fazer uma música com esse dialeto (Ivete canta um trecho da canção). Essa música é maravilhosa! E quis trazer a lambada e o merengue, que fazem a ponte para o refrão. Ah, eu amo essa!

Como você acha que será esse carnaval pós-pandemia? Ele já vinha se modificando nos últimos anos...

Vai ser uma catarse e um resgate. Quando assumimos novos olhares, novas visões, é muito importante, mas é preciso continuidade para virar algo cultural. É preciso ter ritos. Com a interrupção da pandemia, é preciso resgatar para então seguir adiante. Acho que o povo vem na pegada da Bahia tradição. E esse meu EP é uma prova disso. Ele é um cortejo de carnaval. Tem pagodão (baiano), tem um samba reggae, tem um samba reggae paixão, tem o galope e o merengão que faz pulsar.

A TV Globo vai exibir seu desfile de abertura do carnaval. Serão quantas horas?

Estou muito feliz com isso. Será a primeira vez que isso acontecerá. Será um registro que nunca tive. Quanto a duração, é o que Deus quiser. Quando subo no trio, não marco compromisso depois...Tem que deixar o carnaval acontecer.

Queria que você falasse sobre a escolha de Margareth Menezes como ministra da Cultura. Ela, assim como você, também é um dos símbolos do carnaval da Bahia. Como você viu essa nomeação?

Ela é uma amiga de longa data. É uma boa amiga, sempre foi. Antes de conhecê-la na intimidade, a conheci como artista em um show, quando eu tinha 15 anos. Foi a primeira vez que meu pai me deixou sair à noite. Margareth mudou muito meu olhar para a música. Nos aproximamos em 1991. Ela ainda tem a mesma doçura. Uma mulher que se fortaleceu nas próprias crenças. Não é à toa que ela foi convidada para ser ministra da Cultura. Ela é a pessoa que mais tem potência para realizar isso. Uma mulher que tem consciência política, social e cultural. Precisamos aprender com ela. Ela tem muito a nos ensinar e muito a contribuir. Para exercitar a cultura, com o volume e a velocidade que ela tem, é preciso de alguém que compreenda esse mecanismo. E Margareth compreende isso perfeitamente.

Margareth pode fortalecer ainda mais o carnaval - muitas pessoas têm uma visão distorcida sobre ele, pedem para cancelá-lo ao menor sinal de crise?

Isso são coisas pontuais. Fazem parte dos pleitos sociais. Mas acredito que as pessoas gostam muito mais do carnaval do que menos. Como acredito que tenha muito mais gente boa do que ruim. Daí as vitórias, apesar das batalhas sofridas. A presença de Margareth não favorece o carnaval porque ela é da Bahia e é do carnaval. Favorece porque no olhar dela o carnaval é uma força cultural. Mas fortalecerá também as festas de todas as regiões do país, o surgimento de novos artistas e a presença dos já consolidados. Tudo isso para que a cultura sobreviva.

Houve um momento, durante as eleições, em que você foi cobrada para se posicionar politicamente. E acabou por fazê-lo. Qual foi seu sentimento em relação a isso, as reações do público?

Essa cobrança é natural. Eu entendo completamente. Às vezes me sinto eufórica (para falar), aflita, com vontade de gritar. Mas preciso ter muito cuidado porque eu tenho um alcance grande tanto para coisas positivas quanto para negativas. Não fiquei mais leve depois de me posicionar, pois o meu posicionamento é diário. Ele é consistente e fundamental na minha vida e na vida de muita gente. E não é apenas se posicionar por se posicionar. Vi muita gente fazendo isso e tinha vontade de dizer “pelo amor de Deus, não faça”. Embora eu seja uma mulher inteligente, trabalhadora, madura, às vezes, fico pensando “será que sei falar sobre esse assunto?”. É uma responsabilidade. E com a polarização tão forte, tão violenta, eu quero fazer de uma forma que valha à pena. E não apenas para jogar lenha na fogueira. Porém, pela minha postura, as pessoas sabem no que eu acredito, por onde eu caminho. Meu comprometimento na vida. Quais são meus movimentos, como me comporto. Isso já é muito claro para o público.

Ivete Sangalo conhece muito bem o percurso de rua do carnaval baiano, por onde passa há quase três décadas. No EP Chega Mais, lançado nesta quinta-feira, dia 19, com cinco músicas - em todas ela é coautora -, Ivete faz um outro trajeto, igualmente importante. Traça um cortejo de ritmos para que a festa, que será retomada neste ano, reencontre a tradição.

Ivete celebra o rito do carnaval por meio do som, em diferentes gêneros. O objetivo é despertar a memória afetiva do povo, embora o tema de seu trio para este ano seja De Volta para o Futuro. Uma volta ao futuro depois de um tempo retrógrado, como ela explica à reportagem do Estadão.

Cena de show de Ivete Sangalo Foto: Rafa Mattei/Divulgação

Em ritmo do pagode baiano, uma das músicas, Cria da Ivete, já no repertório de seus shows, fala sobre temas também muito comuns ao universo sertanejo pop: bebida, ex, solteirice e empoderamento feminino. Já Se Saia, com título tirado de uma expressão baiana, traz uma mistura de ritmos da Bahia com o merengue e a lambada. O EP foi gravado em janeiro, em uma apresentação em Salvador, fechada para convidados.

O bloco de Ivete, o Coruja, desfilará em Salvador nos dias 18 e 20 de fevereiro. No dia 16, ela abrirá o carnaval no Trio Pipoca (sem cordas que separam pagantes e não pagantes), com transmissão ao vivo pela TV Globo.

Antes disso, no dia 28 de janeiro, Ivete se apresenta no Festival de Verão de Salvador, no qual é presença há 24 edições, e recebe como convidada a conterrânea Luedji Luna, um dos nomes da nova geração da música baiana. A ideia é que elas cantem juntas músicas do repertório de ambas.

Em entrevista ao Estadão, Ivete falou sobre as novas canções, a valorização do dialeto baiano, a nomeação da amiga Margareth Menezes para o Ministério da Cultura e ainda sobre as cobranças que recebeu para se posicionar politicamente durante as eleições presidenciais.

Você é coautora das cinco canções da EP. Era importante para você estar bastante presente nesse lançamento que já visa, obviamente, a retomada do carnaval de rua?

Os meus últimos três projetos foram todos autorais. Sempre compus, mas, na pandemia, eu criei esse refúgio (de compor). Eu trabalho com arte, em contato direto com as pessoas. Meu trabalho sempre teve um alcance a partir das pessoas. O agente transformador era o encontro. Sem isso, encontrei na composição uma maneira de não enlouquecer. Foi uma forma de respirar a canalizar minha compulsão artística. Entendi que isso ia me salvar, por isso lancei tantos projetos durante a pandemia.

Como funciona para você, nesse processo de composição, estabelecer qual música será lançada para o carnaval, por exemplo?

Penso que as músicas já existem. E a gente entra na sintonia delas. Como se fosse um rádio. A gente (compositores) é um dial que pega essa frequência. Nunca penso em fazer música para o carnaval ou de amor, por exemplo. Vem a primeira frase, um ritmo, uma ideia. Quando você vê, saiu, e você define de que forma vai cantá-la.

Te passa pela cabeça fazer algo para ser a música do verão, do carnaval, entrar no top 100 das plataformas? Há um trabalho mirando nesses títulos?

Não dessa forma. Nunca dominei isso. Ninguém, aliás, ninguém domina. Às vezes, coincide. A música é boa, todo mundo ouve e vai...E esse não domínio que faz a gente ousar, não fazer nada premeditado. Quando eu gravo uma música, ela tem que ser muito importante para mim. Acho massa quando estoura, mas o que determina se ela é importante ou não é o fato de eu gravar essa música, de eu assumi-la para mim. E penso no público, como ele vai reagir, cantar, dançar. É o povo que provoca o artista. Mas entendo quando as pessoas têm o desejo de chegar no carnaval com um tema que está em voga.

Mas, com uma das músicas do EP, a ‘Se Saia’, você emplacou uma expressão baiana com o público em geral. Já está sendo falada dentro do Big Brother Brasil...

Nós (baianos) temos um dialeto que não é apenas folclórico, não está só nos livros de Jorge Amado. Aplicamos mesmo! ‘Se saia’ tem mil significados. É algo como quando alguém vai me dar uma cantada e eu respondo “se saia, rapaz!”, algo como “não tem nada para você aqui”. Oxente, meu rei, barril dobrado, metendo doce, tá de cheiro mole...Nós falamos muito. Quis fazer uma música com esse dialeto (Ivete canta um trecho da canção). Essa música é maravilhosa! E quis trazer a lambada e o merengue, que fazem a ponte para o refrão. Ah, eu amo essa!

Como você acha que será esse carnaval pós-pandemia? Ele já vinha se modificando nos últimos anos...

Vai ser uma catarse e um resgate. Quando assumimos novos olhares, novas visões, é muito importante, mas é preciso continuidade para virar algo cultural. É preciso ter ritos. Com a interrupção da pandemia, é preciso resgatar para então seguir adiante. Acho que o povo vem na pegada da Bahia tradição. E esse meu EP é uma prova disso. Ele é um cortejo de carnaval. Tem pagodão (baiano), tem um samba reggae, tem um samba reggae paixão, tem o galope e o merengão que faz pulsar.

A TV Globo vai exibir seu desfile de abertura do carnaval. Serão quantas horas?

Estou muito feliz com isso. Será a primeira vez que isso acontecerá. Será um registro que nunca tive. Quanto a duração, é o que Deus quiser. Quando subo no trio, não marco compromisso depois...Tem que deixar o carnaval acontecer.

Queria que você falasse sobre a escolha de Margareth Menezes como ministra da Cultura. Ela, assim como você, também é um dos símbolos do carnaval da Bahia. Como você viu essa nomeação?

Ela é uma amiga de longa data. É uma boa amiga, sempre foi. Antes de conhecê-la na intimidade, a conheci como artista em um show, quando eu tinha 15 anos. Foi a primeira vez que meu pai me deixou sair à noite. Margareth mudou muito meu olhar para a música. Nos aproximamos em 1991. Ela ainda tem a mesma doçura. Uma mulher que se fortaleceu nas próprias crenças. Não é à toa que ela foi convidada para ser ministra da Cultura. Ela é a pessoa que mais tem potência para realizar isso. Uma mulher que tem consciência política, social e cultural. Precisamos aprender com ela. Ela tem muito a nos ensinar e muito a contribuir. Para exercitar a cultura, com o volume e a velocidade que ela tem, é preciso de alguém que compreenda esse mecanismo. E Margareth compreende isso perfeitamente.

Margareth pode fortalecer ainda mais o carnaval - muitas pessoas têm uma visão distorcida sobre ele, pedem para cancelá-lo ao menor sinal de crise?

Isso são coisas pontuais. Fazem parte dos pleitos sociais. Mas acredito que as pessoas gostam muito mais do carnaval do que menos. Como acredito que tenha muito mais gente boa do que ruim. Daí as vitórias, apesar das batalhas sofridas. A presença de Margareth não favorece o carnaval porque ela é da Bahia e é do carnaval. Favorece porque no olhar dela o carnaval é uma força cultural. Mas fortalecerá também as festas de todas as regiões do país, o surgimento de novos artistas e a presença dos já consolidados. Tudo isso para que a cultura sobreviva.

Houve um momento, durante as eleições, em que você foi cobrada para se posicionar politicamente. E acabou por fazê-lo. Qual foi seu sentimento em relação a isso, as reações do público?

Essa cobrança é natural. Eu entendo completamente. Às vezes me sinto eufórica (para falar), aflita, com vontade de gritar. Mas preciso ter muito cuidado porque eu tenho um alcance grande tanto para coisas positivas quanto para negativas. Não fiquei mais leve depois de me posicionar, pois o meu posicionamento é diário. Ele é consistente e fundamental na minha vida e na vida de muita gente. E não é apenas se posicionar por se posicionar. Vi muita gente fazendo isso e tinha vontade de dizer “pelo amor de Deus, não faça”. Embora eu seja uma mulher inteligente, trabalhadora, madura, às vezes, fico pensando “será que sei falar sobre esse assunto?”. É uma responsabilidade. E com a polarização tão forte, tão violenta, eu quero fazer de uma forma que valha à pena. E não apenas para jogar lenha na fogueira. Porém, pela minha postura, as pessoas sabem no que eu acredito, por onde eu caminho. Meu comprometimento na vida. Quais são meus movimentos, como me comporto. Isso já é muito claro para o público.

Ivete Sangalo conhece muito bem o percurso de rua do carnaval baiano, por onde passa há quase três décadas. No EP Chega Mais, lançado nesta quinta-feira, dia 19, com cinco músicas - em todas ela é coautora -, Ivete faz um outro trajeto, igualmente importante. Traça um cortejo de ritmos para que a festa, que será retomada neste ano, reencontre a tradição.

Ivete celebra o rito do carnaval por meio do som, em diferentes gêneros. O objetivo é despertar a memória afetiva do povo, embora o tema de seu trio para este ano seja De Volta para o Futuro. Uma volta ao futuro depois de um tempo retrógrado, como ela explica à reportagem do Estadão.

Cena de show de Ivete Sangalo Foto: Rafa Mattei/Divulgação

Em ritmo do pagode baiano, uma das músicas, Cria da Ivete, já no repertório de seus shows, fala sobre temas também muito comuns ao universo sertanejo pop: bebida, ex, solteirice e empoderamento feminino. Já Se Saia, com título tirado de uma expressão baiana, traz uma mistura de ritmos da Bahia com o merengue e a lambada. O EP foi gravado em janeiro, em uma apresentação em Salvador, fechada para convidados.

O bloco de Ivete, o Coruja, desfilará em Salvador nos dias 18 e 20 de fevereiro. No dia 16, ela abrirá o carnaval no Trio Pipoca (sem cordas que separam pagantes e não pagantes), com transmissão ao vivo pela TV Globo.

Antes disso, no dia 28 de janeiro, Ivete se apresenta no Festival de Verão de Salvador, no qual é presença há 24 edições, e recebe como convidada a conterrânea Luedji Luna, um dos nomes da nova geração da música baiana. A ideia é que elas cantem juntas músicas do repertório de ambas.

Em entrevista ao Estadão, Ivete falou sobre as novas canções, a valorização do dialeto baiano, a nomeação da amiga Margareth Menezes para o Ministério da Cultura e ainda sobre as cobranças que recebeu para se posicionar politicamente durante as eleições presidenciais.

Você é coautora das cinco canções da EP. Era importante para você estar bastante presente nesse lançamento que já visa, obviamente, a retomada do carnaval de rua?

Os meus últimos três projetos foram todos autorais. Sempre compus, mas, na pandemia, eu criei esse refúgio (de compor). Eu trabalho com arte, em contato direto com as pessoas. Meu trabalho sempre teve um alcance a partir das pessoas. O agente transformador era o encontro. Sem isso, encontrei na composição uma maneira de não enlouquecer. Foi uma forma de respirar a canalizar minha compulsão artística. Entendi que isso ia me salvar, por isso lancei tantos projetos durante a pandemia.

Como funciona para você, nesse processo de composição, estabelecer qual música será lançada para o carnaval, por exemplo?

Penso que as músicas já existem. E a gente entra na sintonia delas. Como se fosse um rádio. A gente (compositores) é um dial que pega essa frequência. Nunca penso em fazer música para o carnaval ou de amor, por exemplo. Vem a primeira frase, um ritmo, uma ideia. Quando você vê, saiu, e você define de que forma vai cantá-la.

Te passa pela cabeça fazer algo para ser a música do verão, do carnaval, entrar no top 100 das plataformas? Há um trabalho mirando nesses títulos?

Não dessa forma. Nunca dominei isso. Ninguém, aliás, ninguém domina. Às vezes, coincide. A música é boa, todo mundo ouve e vai...E esse não domínio que faz a gente ousar, não fazer nada premeditado. Quando eu gravo uma música, ela tem que ser muito importante para mim. Acho massa quando estoura, mas o que determina se ela é importante ou não é o fato de eu gravar essa música, de eu assumi-la para mim. E penso no público, como ele vai reagir, cantar, dançar. É o povo que provoca o artista. Mas entendo quando as pessoas têm o desejo de chegar no carnaval com um tema que está em voga.

Mas, com uma das músicas do EP, a ‘Se Saia’, você emplacou uma expressão baiana com o público em geral. Já está sendo falada dentro do Big Brother Brasil...

Nós (baianos) temos um dialeto que não é apenas folclórico, não está só nos livros de Jorge Amado. Aplicamos mesmo! ‘Se saia’ tem mil significados. É algo como quando alguém vai me dar uma cantada e eu respondo “se saia, rapaz!”, algo como “não tem nada para você aqui”. Oxente, meu rei, barril dobrado, metendo doce, tá de cheiro mole...Nós falamos muito. Quis fazer uma música com esse dialeto (Ivete canta um trecho da canção). Essa música é maravilhosa! E quis trazer a lambada e o merengue, que fazem a ponte para o refrão. Ah, eu amo essa!

Como você acha que será esse carnaval pós-pandemia? Ele já vinha se modificando nos últimos anos...

Vai ser uma catarse e um resgate. Quando assumimos novos olhares, novas visões, é muito importante, mas é preciso continuidade para virar algo cultural. É preciso ter ritos. Com a interrupção da pandemia, é preciso resgatar para então seguir adiante. Acho que o povo vem na pegada da Bahia tradição. E esse meu EP é uma prova disso. Ele é um cortejo de carnaval. Tem pagodão (baiano), tem um samba reggae, tem um samba reggae paixão, tem o galope e o merengão que faz pulsar.

A TV Globo vai exibir seu desfile de abertura do carnaval. Serão quantas horas?

Estou muito feliz com isso. Será a primeira vez que isso acontecerá. Será um registro que nunca tive. Quanto a duração, é o que Deus quiser. Quando subo no trio, não marco compromisso depois...Tem que deixar o carnaval acontecer.

Queria que você falasse sobre a escolha de Margareth Menezes como ministra da Cultura. Ela, assim como você, também é um dos símbolos do carnaval da Bahia. Como você viu essa nomeação?

Ela é uma amiga de longa data. É uma boa amiga, sempre foi. Antes de conhecê-la na intimidade, a conheci como artista em um show, quando eu tinha 15 anos. Foi a primeira vez que meu pai me deixou sair à noite. Margareth mudou muito meu olhar para a música. Nos aproximamos em 1991. Ela ainda tem a mesma doçura. Uma mulher que se fortaleceu nas próprias crenças. Não é à toa que ela foi convidada para ser ministra da Cultura. Ela é a pessoa que mais tem potência para realizar isso. Uma mulher que tem consciência política, social e cultural. Precisamos aprender com ela. Ela tem muito a nos ensinar e muito a contribuir. Para exercitar a cultura, com o volume e a velocidade que ela tem, é preciso de alguém que compreenda esse mecanismo. E Margareth compreende isso perfeitamente.

Margareth pode fortalecer ainda mais o carnaval - muitas pessoas têm uma visão distorcida sobre ele, pedem para cancelá-lo ao menor sinal de crise?

Isso são coisas pontuais. Fazem parte dos pleitos sociais. Mas acredito que as pessoas gostam muito mais do carnaval do que menos. Como acredito que tenha muito mais gente boa do que ruim. Daí as vitórias, apesar das batalhas sofridas. A presença de Margareth não favorece o carnaval porque ela é da Bahia e é do carnaval. Favorece porque no olhar dela o carnaval é uma força cultural. Mas fortalecerá também as festas de todas as regiões do país, o surgimento de novos artistas e a presença dos já consolidados. Tudo isso para que a cultura sobreviva.

Houve um momento, durante as eleições, em que você foi cobrada para se posicionar politicamente. E acabou por fazê-lo. Qual foi seu sentimento em relação a isso, as reações do público?

Essa cobrança é natural. Eu entendo completamente. Às vezes me sinto eufórica (para falar), aflita, com vontade de gritar. Mas preciso ter muito cuidado porque eu tenho um alcance grande tanto para coisas positivas quanto para negativas. Não fiquei mais leve depois de me posicionar, pois o meu posicionamento é diário. Ele é consistente e fundamental na minha vida e na vida de muita gente. E não é apenas se posicionar por se posicionar. Vi muita gente fazendo isso e tinha vontade de dizer “pelo amor de Deus, não faça”. Embora eu seja uma mulher inteligente, trabalhadora, madura, às vezes, fico pensando “será que sei falar sobre esse assunto?”. É uma responsabilidade. E com a polarização tão forte, tão violenta, eu quero fazer de uma forma que valha à pena. E não apenas para jogar lenha na fogueira. Porém, pela minha postura, as pessoas sabem no que eu acredito, por onde eu caminho. Meu comprometimento na vida. Quais são meus movimentos, como me comporto. Isso já é muito claro para o público.

Ivete Sangalo conhece muito bem o percurso de rua do carnaval baiano, por onde passa há quase três décadas. No EP Chega Mais, lançado nesta quinta-feira, dia 19, com cinco músicas - em todas ela é coautora -, Ivete faz um outro trajeto, igualmente importante. Traça um cortejo de ritmos para que a festa, que será retomada neste ano, reencontre a tradição.

Ivete celebra o rito do carnaval por meio do som, em diferentes gêneros. O objetivo é despertar a memória afetiva do povo, embora o tema de seu trio para este ano seja De Volta para o Futuro. Uma volta ao futuro depois de um tempo retrógrado, como ela explica à reportagem do Estadão.

Cena de show de Ivete Sangalo Foto: Rafa Mattei/Divulgação

Em ritmo do pagode baiano, uma das músicas, Cria da Ivete, já no repertório de seus shows, fala sobre temas também muito comuns ao universo sertanejo pop: bebida, ex, solteirice e empoderamento feminino. Já Se Saia, com título tirado de uma expressão baiana, traz uma mistura de ritmos da Bahia com o merengue e a lambada. O EP foi gravado em janeiro, em uma apresentação em Salvador, fechada para convidados.

O bloco de Ivete, o Coruja, desfilará em Salvador nos dias 18 e 20 de fevereiro. No dia 16, ela abrirá o carnaval no Trio Pipoca (sem cordas que separam pagantes e não pagantes), com transmissão ao vivo pela TV Globo.

Antes disso, no dia 28 de janeiro, Ivete se apresenta no Festival de Verão de Salvador, no qual é presença há 24 edições, e recebe como convidada a conterrânea Luedji Luna, um dos nomes da nova geração da música baiana. A ideia é que elas cantem juntas músicas do repertório de ambas.

Em entrevista ao Estadão, Ivete falou sobre as novas canções, a valorização do dialeto baiano, a nomeação da amiga Margareth Menezes para o Ministério da Cultura e ainda sobre as cobranças que recebeu para se posicionar politicamente durante as eleições presidenciais.

Você é coautora das cinco canções da EP. Era importante para você estar bastante presente nesse lançamento que já visa, obviamente, a retomada do carnaval de rua?

Os meus últimos três projetos foram todos autorais. Sempre compus, mas, na pandemia, eu criei esse refúgio (de compor). Eu trabalho com arte, em contato direto com as pessoas. Meu trabalho sempre teve um alcance a partir das pessoas. O agente transformador era o encontro. Sem isso, encontrei na composição uma maneira de não enlouquecer. Foi uma forma de respirar a canalizar minha compulsão artística. Entendi que isso ia me salvar, por isso lancei tantos projetos durante a pandemia.

Como funciona para você, nesse processo de composição, estabelecer qual música será lançada para o carnaval, por exemplo?

Penso que as músicas já existem. E a gente entra na sintonia delas. Como se fosse um rádio. A gente (compositores) é um dial que pega essa frequência. Nunca penso em fazer música para o carnaval ou de amor, por exemplo. Vem a primeira frase, um ritmo, uma ideia. Quando você vê, saiu, e você define de que forma vai cantá-la.

Te passa pela cabeça fazer algo para ser a música do verão, do carnaval, entrar no top 100 das plataformas? Há um trabalho mirando nesses títulos?

Não dessa forma. Nunca dominei isso. Ninguém, aliás, ninguém domina. Às vezes, coincide. A música é boa, todo mundo ouve e vai...E esse não domínio que faz a gente ousar, não fazer nada premeditado. Quando eu gravo uma música, ela tem que ser muito importante para mim. Acho massa quando estoura, mas o que determina se ela é importante ou não é o fato de eu gravar essa música, de eu assumi-la para mim. E penso no público, como ele vai reagir, cantar, dançar. É o povo que provoca o artista. Mas entendo quando as pessoas têm o desejo de chegar no carnaval com um tema que está em voga.

Mas, com uma das músicas do EP, a ‘Se Saia’, você emplacou uma expressão baiana com o público em geral. Já está sendo falada dentro do Big Brother Brasil...

Nós (baianos) temos um dialeto que não é apenas folclórico, não está só nos livros de Jorge Amado. Aplicamos mesmo! ‘Se saia’ tem mil significados. É algo como quando alguém vai me dar uma cantada e eu respondo “se saia, rapaz!”, algo como “não tem nada para você aqui”. Oxente, meu rei, barril dobrado, metendo doce, tá de cheiro mole...Nós falamos muito. Quis fazer uma música com esse dialeto (Ivete canta um trecho da canção). Essa música é maravilhosa! E quis trazer a lambada e o merengue, que fazem a ponte para o refrão. Ah, eu amo essa!

Como você acha que será esse carnaval pós-pandemia? Ele já vinha se modificando nos últimos anos...

Vai ser uma catarse e um resgate. Quando assumimos novos olhares, novas visões, é muito importante, mas é preciso continuidade para virar algo cultural. É preciso ter ritos. Com a interrupção da pandemia, é preciso resgatar para então seguir adiante. Acho que o povo vem na pegada da Bahia tradição. E esse meu EP é uma prova disso. Ele é um cortejo de carnaval. Tem pagodão (baiano), tem um samba reggae, tem um samba reggae paixão, tem o galope e o merengão que faz pulsar.

A TV Globo vai exibir seu desfile de abertura do carnaval. Serão quantas horas?

Estou muito feliz com isso. Será a primeira vez que isso acontecerá. Será um registro que nunca tive. Quanto a duração, é o que Deus quiser. Quando subo no trio, não marco compromisso depois...Tem que deixar o carnaval acontecer.

Queria que você falasse sobre a escolha de Margareth Menezes como ministra da Cultura. Ela, assim como você, também é um dos símbolos do carnaval da Bahia. Como você viu essa nomeação?

Ela é uma amiga de longa data. É uma boa amiga, sempre foi. Antes de conhecê-la na intimidade, a conheci como artista em um show, quando eu tinha 15 anos. Foi a primeira vez que meu pai me deixou sair à noite. Margareth mudou muito meu olhar para a música. Nos aproximamos em 1991. Ela ainda tem a mesma doçura. Uma mulher que se fortaleceu nas próprias crenças. Não é à toa que ela foi convidada para ser ministra da Cultura. Ela é a pessoa que mais tem potência para realizar isso. Uma mulher que tem consciência política, social e cultural. Precisamos aprender com ela. Ela tem muito a nos ensinar e muito a contribuir. Para exercitar a cultura, com o volume e a velocidade que ela tem, é preciso de alguém que compreenda esse mecanismo. E Margareth compreende isso perfeitamente.

Margareth pode fortalecer ainda mais o carnaval - muitas pessoas têm uma visão distorcida sobre ele, pedem para cancelá-lo ao menor sinal de crise?

Isso são coisas pontuais. Fazem parte dos pleitos sociais. Mas acredito que as pessoas gostam muito mais do carnaval do que menos. Como acredito que tenha muito mais gente boa do que ruim. Daí as vitórias, apesar das batalhas sofridas. A presença de Margareth não favorece o carnaval porque ela é da Bahia e é do carnaval. Favorece porque no olhar dela o carnaval é uma força cultural. Mas fortalecerá também as festas de todas as regiões do país, o surgimento de novos artistas e a presença dos já consolidados. Tudo isso para que a cultura sobreviva.

Houve um momento, durante as eleições, em que você foi cobrada para se posicionar politicamente. E acabou por fazê-lo. Qual foi seu sentimento em relação a isso, as reações do público?

Essa cobrança é natural. Eu entendo completamente. Às vezes me sinto eufórica (para falar), aflita, com vontade de gritar. Mas preciso ter muito cuidado porque eu tenho um alcance grande tanto para coisas positivas quanto para negativas. Não fiquei mais leve depois de me posicionar, pois o meu posicionamento é diário. Ele é consistente e fundamental na minha vida e na vida de muita gente. E não é apenas se posicionar por se posicionar. Vi muita gente fazendo isso e tinha vontade de dizer “pelo amor de Deus, não faça”. Embora eu seja uma mulher inteligente, trabalhadora, madura, às vezes, fico pensando “será que sei falar sobre esse assunto?”. É uma responsabilidade. E com a polarização tão forte, tão violenta, eu quero fazer de uma forma que valha à pena. E não apenas para jogar lenha na fogueira. Porém, pela minha postura, as pessoas sabem no que eu acredito, por onde eu caminho. Meu comprometimento na vida. Quais são meus movimentos, como me comporto. Isso já é muito claro para o público.

Entrevista por Danilo Casaletti

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