Como João Gomes, astro do piseiro, é abraçado no pop e MPB e firma sua voz na música brasileira


Uma das principais atrações do Farraial neste sábado, o cantor avança na mistura da música brasileira de raiz com o pop, além de conquistar rappers, medalhões e festivais

Por Danilo Casaletti
Atualização:

Preste atenção na letra da canção Tudo Azul, parceria de Lulu Santos e Nelson Motta, um hit do ano de 1983: “Eu nunca fui o rei do baião/ Não sei fazer chover no sertão/ Sou flagelado da paixão/ Retirante do amor/ Desempregado do coração”.

Para quem conhece o cantor pernambucano João Gomes, 21 anos, sabe que essa música poderia, perfeitamente, ter sido escrita ou lançada por ele. O piseiro - o ritmo que sintetizou sanfona, triângulo e zabumba no teclado, do qual Gomes é um dos principais representantes - fala das coisas simples do coração.

Gomes, apesar de fã, não é Gonzaga. Mas tem feito um movimento parecido com o que o rei do baião fez há mais de 50 anos: com o piseiro, tem, cada vez mais, e sem pudor, adentrado pela chamada MPB, fazendo-a novamente pop. Isso em pouco mais de dois anos de carreira profissional. E ele tem encontrado as portas abertas.

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João Gomes: Parcerias com Lulu Santos, Vanessa da Mata, Fagner e Chico César Foto: Taba Benedicto/Estadão

Lulu bate o pé: ‘Tem que ser no piseiro’

Foi assim, recentemente, com Lulu. “Eu estava no estúdio com o Lulu, queriam fazer um arranjo para ficar parecido com o trabalho dele. Ele logo falou: tem que ser no piseiro!”, conta Gomes à reportagem do Estadão. O dueto deles em Tudo Azul, ainda inédito, deve ser lançado em breve, em um projeto que homenageia Lulu.

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Com Vanessa da Mata ocorreu algo parecido. Gomes, em seus shows no Nordeste, começou a cantar Só Você e Eu, sucesso dela, no ritmo do piseiro, obviamente. Os vídeos logo caíram nas redes e o cantor começou a ser vítima de puristas. Assustado, mandou uma mensagem para Vanessa. Disse que não teve intenção de desrespeitá-la.

Vanessa achou graça. E, em seguida, aceitou o convite de Gomes para cantar no DVD que ele gravou no Marco Zero de Recife. Em retribuição, a cantora o chamou para gravar no disco dela. Escolheram a canção Comentário a Respeito de John, de Belchior. A faixa está entre as cinco mais tocadas das rádios de MPB. No fim de semana passado, Vanessa e Gomes se apresentaram juntos no festival Doce Maravilha, no Rio de Janeiro.

Neste sábado, João é uma das atrações do Farraial, festival de sertanejo que ocorre no Anhembi. “Belchior dizia que a capital do Nordeste é São Paulo. Tem muito nordestino da cidade. Aqui canto para uma galera cheia de saudade”, afirma Gomes. O Farraial deve receber um público de 40 mil pessoas.

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Juliano Libman, da Agência InHaus, promotora do Farraial, justifica a presença de Gomes não só nesse, mas em outros dois festivais que organiza, o Viiixe, dedicado ao forró e piseiro, e o Nômade para a tribo da MPB.

O João Gomes quebrou as barreiras. Saiu do nicho específico que iniciou a carreira. Ele consegue conversar com outros estilos, até mesmo o trap e o hip hop. Ele é a nova MPB

Juliano Libman, empresário

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No Nômade, em maio deste ano, Chico César e Geraldo Azevedo, que por lá se apresentavam, prolongaram o show por 10 minutos para receber Gomes no palco. Os três cantaram Moça Bonita. No passado, cantou com Fagner.

Em seus shows, Gomes leva também para o piseiro canções de Pitty (Me Adora) e Kid Abelha (Como Eu Quero). “É difícil esses cantores irem se apresentar no sertão nordestino. É um jeito de levá-los até a esse público. A música do Kid Abelha todo mundo canta muito alto, não importa onde seja”, conta Gomes.

Um artista cada vez mais popular

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‘Encantado com as palavras’

Nascido na cidade de Serrita, no interior de Pernambuco, Gomes foi, como ele diz, “ainda de olhos fechados” para Petrolina, às margens do Rio São Francisco. Lá, se criou e mora até hoje. Filho de um barbeiro e uma agricultora, Gomes, ainda criança, era vidrado no forró tradicional tocado nas festas de vaqueiro.

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“Ficava encantado com as palavras, tentando entender por que as pessoas estavam dançando, ouvindo aquilo”. Na família ninguém era artista. O pai ouvia rock, a mãe, forró. “O povo (familiares) ficou meio desnorteado quando eu virei artista”, conta.

Gomes começou a cantar no coro da igreja. Tinha a voz aguda, bem distante do registro grave, de barítono, pelo o qual ele é conhecido atualmente. “Ainda estou aprendendo a cantar. Nunca pensei que seria um profissional “, diz o acanhado Gomes.

Com os amigos que faziam hip hop, veio não apenas a vontade, mas principalmente o entendimento de que poderia escrever uma canção. As primeiras foram Eu Tenho a Senha e Meu Pedaço de Pecado, dois de seus sucessos, ambas já no ritmo do piseiro. Os vídeos postados no TikTok o ajudaram a ficar famoso.

Sertão e Rock in Rio

Em setembro de 2022, Gomes promoveu a estreia do ritmo no Rock in Rio. Foi em uma apresentação em um palco alternativo e patrocinado, após o aguardado show do cantor canadense Justin Bieber. Foi um sucesso. “Será que aqueles brasileiros não queriam ver o piseiro nos palcos maiores (do festival)?”, questiona.

Gomes reconhece que a fama veio antes mesmo de ele estar preparado. “Saber que a pessoa pagou para me ver... Que negócio da porra, rapaz! Hoje, tenho mais ousadia. Fui criando o hábito de me apresentar. Ele é o caminho para a maestria, diz.

O astro do piseiro tem mais um desafio pela frente. Gomes quer sempre estar próximo ao sertão e, sobretudo, da música que brota de seu chão. Por sua vontade, quer fazer a segunda parte do projeto audiovisual Ao Vivo No Sertão, gravado ao ar livre, em Petrolina, lançado neste ano de 2023.

A equipe de Gomes, porém, quer mais. A ideia é transformá-lo em um artista cada vez mais pop. Se o volume 1 teve participação de artistas locais, o segundo poderá ter Ivete Sangalo, por exemplo, entre os convidados. A carreira internacional também está no radar. Por ora, nada de cantar em inglês ou espanhol, assim como fez Anitta, para cortar caminho.

“Quero alcançar o coração das pessoas por meio da música. Mesmo que meu público cresça, a intenção é sempre essa”, diz.

Farraial - com Ana Castela, João Gomes, Gustavo Mioto, Jonas Medeiros, Maiara & Maraisa e Mari Fernandez

Sáb., 19/8

12h

Arena Anhembi. Av. Olavo Fontoura, 1.209, Santana

R$ 280/R$ 1.300

Preste atenção na letra da canção Tudo Azul, parceria de Lulu Santos e Nelson Motta, um hit do ano de 1983: “Eu nunca fui o rei do baião/ Não sei fazer chover no sertão/ Sou flagelado da paixão/ Retirante do amor/ Desempregado do coração”.

Para quem conhece o cantor pernambucano João Gomes, 21 anos, sabe que essa música poderia, perfeitamente, ter sido escrita ou lançada por ele. O piseiro - o ritmo que sintetizou sanfona, triângulo e zabumba no teclado, do qual Gomes é um dos principais representantes - fala das coisas simples do coração.

Gomes, apesar de fã, não é Gonzaga. Mas tem feito um movimento parecido com o que o rei do baião fez há mais de 50 anos: com o piseiro, tem, cada vez mais, e sem pudor, adentrado pela chamada MPB, fazendo-a novamente pop. Isso em pouco mais de dois anos de carreira profissional. E ele tem encontrado as portas abertas.

João Gomes: Parcerias com Lulu Santos, Vanessa da Mata, Fagner e Chico César Foto: Taba Benedicto/Estadão

Lulu bate o pé: ‘Tem que ser no piseiro’

Foi assim, recentemente, com Lulu. “Eu estava no estúdio com o Lulu, queriam fazer um arranjo para ficar parecido com o trabalho dele. Ele logo falou: tem que ser no piseiro!”, conta Gomes à reportagem do Estadão. O dueto deles em Tudo Azul, ainda inédito, deve ser lançado em breve, em um projeto que homenageia Lulu.

Com Vanessa da Mata ocorreu algo parecido. Gomes, em seus shows no Nordeste, começou a cantar Só Você e Eu, sucesso dela, no ritmo do piseiro, obviamente. Os vídeos logo caíram nas redes e o cantor começou a ser vítima de puristas. Assustado, mandou uma mensagem para Vanessa. Disse que não teve intenção de desrespeitá-la.

Vanessa achou graça. E, em seguida, aceitou o convite de Gomes para cantar no DVD que ele gravou no Marco Zero de Recife. Em retribuição, a cantora o chamou para gravar no disco dela. Escolheram a canção Comentário a Respeito de John, de Belchior. A faixa está entre as cinco mais tocadas das rádios de MPB. No fim de semana passado, Vanessa e Gomes se apresentaram juntos no festival Doce Maravilha, no Rio de Janeiro.

Neste sábado, João é uma das atrações do Farraial, festival de sertanejo que ocorre no Anhembi. “Belchior dizia que a capital do Nordeste é São Paulo. Tem muito nordestino da cidade. Aqui canto para uma galera cheia de saudade”, afirma Gomes. O Farraial deve receber um público de 40 mil pessoas.

Juliano Libman, da Agência InHaus, promotora do Farraial, justifica a presença de Gomes não só nesse, mas em outros dois festivais que organiza, o Viiixe, dedicado ao forró e piseiro, e o Nômade para a tribo da MPB.

O João Gomes quebrou as barreiras. Saiu do nicho específico que iniciou a carreira. Ele consegue conversar com outros estilos, até mesmo o trap e o hip hop. Ele é a nova MPB

Juliano Libman, empresário

No Nômade, em maio deste ano, Chico César e Geraldo Azevedo, que por lá se apresentavam, prolongaram o show por 10 minutos para receber Gomes no palco. Os três cantaram Moça Bonita. No passado, cantou com Fagner.

Em seus shows, Gomes leva também para o piseiro canções de Pitty (Me Adora) e Kid Abelha (Como Eu Quero). “É difícil esses cantores irem se apresentar no sertão nordestino. É um jeito de levá-los até a esse público. A música do Kid Abelha todo mundo canta muito alto, não importa onde seja”, conta Gomes.

Um artista cada vez mais popular

‘Encantado com as palavras’

Nascido na cidade de Serrita, no interior de Pernambuco, Gomes foi, como ele diz, “ainda de olhos fechados” para Petrolina, às margens do Rio São Francisco. Lá, se criou e mora até hoje. Filho de um barbeiro e uma agricultora, Gomes, ainda criança, era vidrado no forró tradicional tocado nas festas de vaqueiro.

“Ficava encantado com as palavras, tentando entender por que as pessoas estavam dançando, ouvindo aquilo”. Na família ninguém era artista. O pai ouvia rock, a mãe, forró. “O povo (familiares) ficou meio desnorteado quando eu virei artista”, conta.

Gomes começou a cantar no coro da igreja. Tinha a voz aguda, bem distante do registro grave, de barítono, pelo o qual ele é conhecido atualmente. “Ainda estou aprendendo a cantar. Nunca pensei que seria um profissional “, diz o acanhado Gomes.

Com os amigos que faziam hip hop, veio não apenas a vontade, mas principalmente o entendimento de que poderia escrever uma canção. As primeiras foram Eu Tenho a Senha e Meu Pedaço de Pecado, dois de seus sucessos, ambas já no ritmo do piseiro. Os vídeos postados no TikTok o ajudaram a ficar famoso.

Sertão e Rock in Rio

Em setembro de 2022, Gomes promoveu a estreia do ritmo no Rock in Rio. Foi em uma apresentação em um palco alternativo e patrocinado, após o aguardado show do cantor canadense Justin Bieber. Foi um sucesso. “Será que aqueles brasileiros não queriam ver o piseiro nos palcos maiores (do festival)?”, questiona.

Gomes reconhece que a fama veio antes mesmo de ele estar preparado. “Saber que a pessoa pagou para me ver... Que negócio da porra, rapaz! Hoje, tenho mais ousadia. Fui criando o hábito de me apresentar. Ele é o caminho para a maestria, diz.

O astro do piseiro tem mais um desafio pela frente. Gomes quer sempre estar próximo ao sertão e, sobretudo, da música que brota de seu chão. Por sua vontade, quer fazer a segunda parte do projeto audiovisual Ao Vivo No Sertão, gravado ao ar livre, em Petrolina, lançado neste ano de 2023.

A equipe de Gomes, porém, quer mais. A ideia é transformá-lo em um artista cada vez mais pop. Se o volume 1 teve participação de artistas locais, o segundo poderá ter Ivete Sangalo, por exemplo, entre os convidados. A carreira internacional também está no radar. Por ora, nada de cantar em inglês ou espanhol, assim como fez Anitta, para cortar caminho.

“Quero alcançar o coração das pessoas por meio da música. Mesmo que meu público cresça, a intenção é sempre essa”, diz.

Farraial - com Ana Castela, João Gomes, Gustavo Mioto, Jonas Medeiros, Maiara & Maraisa e Mari Fernandez

Sáb., 19/8

12h

Arena Anhembi. Av. Olavo Fontoura, 1.209, Santana

R$ 280/R$ 1.300

Preste atenção na letra da canção Tudo Azul, parceria de Lulu Santos e Nelson Motta, um hit do ano de 1983: “Eu nunca fui o rei do baião/ Não sei fazer chover no sertão/ Sou flagelado da paixão/ Retirante do amor/ Desempregado do coração”.

Para quem conhece o cantor pernambucano João Gomes, 21 anos, sabe que essa música poderia, perfeitamente, ter sido escrita ou lançada por ele. O piseiro - o ritmo que sintetizou sanfona, triângulo e zabumba no teclado, do qual Gomes é um dos principais representantes - fala das coisas simples do coração.

Gomes, apesar de fã, não é Gonzaga. Mas tem feito um movimento parecido com o que o rei do baião fez há mais de 50 anos: com o piseiro, tem, cada vez mais, e sem pudor, adentrado pela chamada MPB, fazendo-a novamente pop. Isso em pouco mais de dois anos de carreira profissional. E ele tem encontrado as portas abertas.

João Gomes: Parcerias com Lulu Santos, Vanessa da Mata, Fagner e Chico César Foto: Taba Benedicto/Estadão

Lulu bate o pé: ‘Tem que ser no piseiro’

Foi assim, recentemente, com Lulu. “Eu estava no estúdio com o Lulu, queriam fazer um arranjo para ficar parecido com o trabalho dele. Ele logo falou: tem que ser no piseiro!”, conta Gomes à reportagem do Estadão. O dueto deles em Tudo Azul, ainda inédito, deve ser lançado em breve, em um projeto que homenageia Lulu.

Com Vanessa da Mata ocorreu algo parecido. Gomes, em seus shows no Nordeste, começou a cantar Só Você e Eu, sucesso dela, no ritmo do piseiro, obviamente. Os vídeos logo caíram nas redes e o cantor começou a ser vítima de puristas. Assustado, mandou uma mensagem para Vanessa. Disse que não teve intenção de desrespeitá-la.

Vanessa achou graça. E, em seguida, aceitou o convite de Gomes para cantar no DVD que ele gravou no Marco Zero de Recife. Em retribuição, a cantora o chamou para gravar no disco dela. Escolheram a canção Comentário a Respeito de John, de Belchior. A faixa está entre as cinco mais tocadas das rádios de MPB. No fim de semana passado, Vanessa e Gomes se apresentaram juntos no festival Doce Maravilha, no Rio de Janeiro.

Neste sábado, João é uma das atrações do Farraial, festival de sertanejo que ocorre no Anhembi. “Belchior dizia que a capital do Nordeste é São Paulo. Tem muito nordestino da cidade. Aqui canto para uma galera cheia de saudade”, afirma Gomes. O Farraial deve receber um público de 40 mil pessoas.

Juliano Libman, da Agência InHaus, promotora do Farraial, justifica a presença de Gomes não só nesse, mas em outros dois festivais que organiza, o Viiixe, dedicado ao forró e piseiro, e o Nômade para a tribo da MPB.

O João Gomes quebrou as barreiras. Saiu do nicho específico que iniciou a carreira. Ele consegue conversar com outros estilos, até mesmo o trap e o hip hop. Ele é a nova MPB

Juliano Libman, empresário

No Nômade, em maio deste ano, Chico César e Geraldo Azevedo, que por lá se apresentavam, prolongaram o show por 10 minutos para receber Gomes no palco. Os três cantaram Moça Bonita. No passado, cantou com Fagner.

Em seus shows, Gomes leva também para o piseiro canções de Pitty (Me Adora) e Kid Abelha (Como Eu Quero). “É difícil esses cantores irem se apresentar no sertão nordestino. É um jeito de levá-los até a esse público. A música do Kid Abelha todo mundo canta muito alto, não importa onde seja”, conta Gomes.

Um artista cada vez mais popular

‘Encantado com as palavras’

Nascido na cidade de Serrita, no interior de Pernambuco, Gomes foi, como ele diz, “ainda de olhos fechados” para Petrolina, às margens do Rio São Francisco. Lá, se criou e mora até hoje. Filho de um barbeiro e uma agricultora, Gomes, ainda criança, era vidrado no forró tradicional tocado nas festas de vaqueiro.

“Ficava encantado com as palavras, tentando entender por que as pessoas estavam dançando, ouvindo aquilo”. Na família ninguém era artista. O pai ouvia rock, a mãe, forró. “O povo (familiares) ficou meio desnorteado quando eu virei artista”, conta.

Gomes começou a cantar no coro da igreja. Tinha a voz aguda, bem distante do registro grave, de barítono, pelo o qual ele é conhecido atualmente. “Ainda estou aprendendo a cantar. Nunca pensei que seria um profissional “, diz o acanhado Gomes.

Com os amigos que faziam hip hop, veio não apenas a vontade, mas principalmente o entendimento de que poderia escrever uma canção. As primeiras foram Eu Tenho a Senha e Meu Pedaço de Pecado, dois de seus sucessos, ambas já no ritmo do piseiro. Os vídeos postados no TikTok o ajudaram a ficar famoso.

Sertão e Rock in Rio

Em setembro de 2022, Gomes promoveu a estreia do ritmo no Rock in Rio. Foi em uma apresentação em um palco alternativo e patrocinado, após o aguardado show do cantor canadense Justin Bieber. Foi um sucesso. “Será que aqueles brasileiros não queriam ver o piseiro nos palcos maiores (do festival)?”, questiona.

Gomes reconhece que a fama veio antes mesmo de ele estar preparado. “Saber que a pessoa pagou para me ver... Que negócio da porra, rapaz! Hoje, tenho mais ousadia. Fui criando o hábito de me apresentar. Ele é o caminho para a maestria, diz.

O astro do piseiro tem mais um desafio pela frente. Gomes quer sempre estar próximo ao sertão e, sobretudo, da música que brota de seu chão. Por sua vontade, quer fazer a segunda parte do projeto audiovisual Ao Vivo No Sertão, gravado ao ar livre, em Petrolina, lançado neste ano de 2023.

A equipe de Gomes, porém, quer mais. A ideia é transformá-lo em um artista cada vez mais pop. Se o volume 1 teve participação de artistas locais, o segundo poderá ter Ivete Sangalo, por exemplo, entre os convidados. A carreira internacional também está no radar. Por ora, nada de cantar em inglês ou espanhol, assim como fez Anitta, para cortar caminho.

“Quero alcançar o coração das pessoas por meio da música. Mesmo que meu público cresça, a intenção é sempre essa”, diz.

Farraial - com Ana Castela, João Gomes, Gustavo Mioto, Jonas Medeiros, Maiara & Maraisa e Mari Fernandez

Sáb., 19/8

12h

Arena Anhembi. Av. Olavo Fontoura, 1.209, Santana

R$ 280/R$ 1.300

Preste atenção na letra da canção Tudo Azul, parceria de Lulu Santos e Nelson Motta, um hit do ano de 1983: “Eu nunca fui o rei do baião/ Não sei fazer chover no sertão/ Sou flagelado da paixão/ Retirante do amor/ Desempregado do coração”.

Para quem conhece o cantor pernambucano João Gomes, 21 anos, sabe que essa música poderia, perfeitamente, ter sido escrita ou lançada por ele. O piseiro - o ritmo que sintetizou sanfona, triângulo e zabumba no teclado, do qual Gomes é um dos principais representantes - fala das coisas simples do coração.

Gomes, apesar de fã, não é Gonzaga. Mas tem feito um movimento parecido com o que o rei do baião fez há mais de 50 anos: com o piseiro, tem, cada vez mais, e sem pudor, adentrado pela chamada MPB, fazendo-a novamente pop. Isso em pouco mais de dois anos de carreira profissional. E ele tem encontrado as portas abertas.

João Gomes: Parcerias com Lulu Santos, Vanessa da Mata, Fagner e Chico César Foto: Taba Benedicto/Estadão

Lulu bate o pé: ‘Tem que ser no piseiro’

Foi assim, recentemente, com Lulu. “Eu estava no estúdio com o Lulu, queriam fazer um arranjo para ficar parecido com o trabalho dele. Ele logo falou: tem que ser no piseiro!”, conta Gomes à reportagem do Estadão. O dueto deles em Tudo Azul, ainda inédito, deve ser lançado em breve, em um projeto que homenageia Lulu.

Com Vanessa da Mata ocorreu algo parecido. Gomes, em seus shows no Nordeste, começou a cantar Só Você e Eu, sucesso dela, no ritmo do piseiro, obviamente. Os vídeos logo caíram nas redes e o cantor começou a ser vítima de puristas. Assustado, mandou uma mensagem para Vanessa. Disse que não teve intenção de desrespeitá-la.

Vanessa achou graça. E, em seguida, aceitou o convite de Gomes para cantar no DVD que ele gravou no Marco Zero de Recife. Em retribuição, a cantora o chamou para gravar no disco dela. Escolheram a canção Comentário a Respeito de John, de Belchior. A faixa está entre as cinco mais tocadas das rádios de MPB. No fim de semana passado, Vanessa e Gomes se apresentaram juntos no festival Doce Maravilha, no Rio de Janeiro.

Neste sábado, João é uma das atrações do Farraial, festival de sertanejo que ocorre no Anhembi. “Belchior dizia que a capital do Nordeste é São Paulo. Tem muito nordestino da cidade. Aqui canto para uma galera cheia de saudade”, afirma Gomes. O Farraial deve receber um público de 40 mil pessoas.

Juliano Libman, da Agência InHaus, promotora do Farraial, justifica a presença de Gomes não só nesse, mas em outros dois festivais que organiza, o Viiixe, dedicado ao forró e piseiro, e o Nômade para a tribo da MPB.

O João Gomes quebrou as barreiras. Saiu do nicho específico que iniciou a carreira. Ele consegue conversar com outros estilos, até mesmo o trap e o hip hop. Ele é a nova MPB

Juliano Libman, empresário

No Nômade, em maio deste ano, Chico César e Geraldo Azevedo, que por lá se apresentavam, prolongaram o show por 10 minutos para receber Gomes no palco. Os três cantaram Moça Bonita. No passado, cantou com Fagner.

Em seus shows, Gomes leva também para o piseiro canções de Pitty (Me Adora) e Kid Abelha (Como Eu Quero). “É difícil esses cantores irem se apresentar no sertão nordestino. É um jeito de levá-los até a esse público. A música do Kid Abelha todo mundo canta muito alto, não importa onde seja”, conta Gomes.

Um artista cada vez mais popular

‘Encantado com as palavras’

Nascido na cidade de Serrita, no interior de Pernambuco, Gomes foi, como ele diz, “ainda de olhos fechados” para Petrolina, às margens do Rio São Francisco. Lá, se criou e mora até hoje. Filho de um barbeiro e uma agricultora, Gomes, ainda criança, era vidrado no forró tradicional tocado nas festas de vaqueiro.

“Ficava encantado com as palavras, tentando entender por que as pessoas estavam dançando, ouvindo aquilo”. Na família ninguém era artista. O pai ouvia rock, a mãe, forró. “O povo (familiares) ficou meio desnorteado quando eu virei artista”, conta.

Gomes começou a cantar no coro da igreja. Tinha a voz aguda, bem distante do registro grave, de barítono, pelo o qual ele é conhecido atualmente. “Ainda estou aprendendo a cantar. Nunca pensei que seria um profissional “, diz o acanhado Gomes.

Com os amigos que faziam hip hop, veio não apenas a vontade, mas principalmente o entendimento de que poderia escrever uma canção. As primeiras foram Eu Tenho a Senha e Meu Pedaço de Pecado, dois de seus sucessos, ambas já no ritmo do piseiro. Os vídeos postados no TikTok o ajudaram a ficar famoso.

Sertão e Rock in Rio

Em setembro de 2022, Gomes promoveu a estreia do ritmo no Rock in Rio. Foi em uma apresentação em um palco alternativo e patrocinado, após o aguardado show do cantor canadense Justin Bieber. Foi um sucesso. “Será que aqueles brasileiros não queriam ver o piseiro nos palcos maiores (do festival)?”, questiona.

Gomes reconhece que a fama veio antes mesmo de ele estar preparado. “Saber que a pessoa pagou para me ver... Que negócio da porra, rapaz! Hoje, tenho mais ousadia. Fui criando o hábito de me apresentar. Ele é o caminho para a maestria, diz.

O astro do piseiro tem mais um desafio pela frente. Gomes quer sempre estar próximo ao sertão e, sobretudo, da música que brota de seu chão. Por sua vontade, quer fazer a segunda parte do projeto audiovisual Ao Vivo No Sertão, gravado ao ar livre, em Petrolina, lançado neste ano de 2023.

A equipe de Gomes, porém, quer mais. A ideia é transformá-lo em um artista cada vez mais pop. Se o volume 1 teve participação de artistas locais, o segundo poderá ter Ivete Sangalo, por exemplo, entre os convidados. A carreira internacional também está no radar. Por ora, nada de cantar em inglês ou espanhol, assim como fez Anitta, para cortar caminho.

“Quero alcançar o coração das pessoas por meio da música. Mesmo que meu público cresça, a intenção é sempre essa”, diz.

Farraial - com Ana Castela, João Gomes, Gustavo Mioto, Jonas Medeiros, Maiara & Maraisa e Mari Fernandez

Sáb., 19/8

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