Análise|John Lennon: Box luxuoso de ‘Mind Games’ revela bastidores e processo criativo do ex-Beatle; conheça


Sean Lennon homenageia o pai com o lançamento de diferentes versões de um box que esmiúça e expande o olhar para o álbum de 1973 - a mais exclusiva ultrapassa os R$ 10 mil. Relembre ainda histórias de Lennon e Yoko Ono vividas no contexto da produção do disco original

Por Marcelo Froés

Yoko Ono sempre gravou seus discos em paralelo às sessões do marido John Lennon (1940-1980). Fossem lançadas em dupla pelo casal ou em discos individuais, as faixas de Yoko sempre soavam anexas à discografia solo de John – iniciada em 1968 com Two Virgins, mais famoso pela capa nudista do que pelos experimentos musicais das primeiras noites do casal.

Cinco anos depois da estreia, em 1973, Yoko era inegavelmente a contratada mais atuante da Apple Records, a gravadora dos Beatles. Ela, então, resolveu lançar um álbum solo independentemente de John, que apenas assina a coprodução.

O casal Yoko Ono e John Lennon em foto que faz parte do projeto 'Mind Games' Foto: Universal Music/Divulgação
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Lançado na primeira semana de 1973, Approximately Infinite Universe fora gravado com a mesma banda de Nova York - a Elephant’s Memory - com a qual o casal fizera o controverso álbum Some Time in New York City e realizado o desastrado (por mal ensaiado) show One To One, ambos em 1972.

Enquanto Lennon sucumbiu às implacáveis críticas, mergulhando em drogas e bebidas, sempre mal acompanhado por qualquer ativista que conseguisse sua atenção por alguns minutos, Yoko preferiu embarcar num projeto de qualidade. E este atrevido álbum duplo é considerado um de seus melhores trabalhos, sofrido com o casamento abalado após uma traição inconsequente de John com uma groupie durante um festão num apartamento cheio de quartos e portas.

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O casal Lennon amargou lado a lado essa fase em que comprou um luxuoso apartamento no Edifício Dakota (o primeiro de vários) de Nova York, cidade em que moravam havia dois anos. Com isso, esperavam ter relações mais sólidas – do casal em si e com os Estados Unidos, cujo governo vinha tentando deportar Lennon praticamente desde que chegara já cheio de si no segundo semestre de 1971.

Mas não adiantou muito. A pressão foi grande e os dois foram à luta. Lennon fez seu mea culpa, afastou-se das biritas e dos ativistas que mal sabiam se expressar, e acabou demitindo o empresário Allen Klein, CEO contratado da Apple por sua teimosia em 1969 e que fora um dos principais pivôs da separação dos Beatles.

Ele começou a compor canções novas e a resgatar pérolas de seus rascunhos, sempre exaltando a importância de Yoko em sua vida e pedindo-lhe perdão (Aisumasen, Out The Blue, One Day At a Time e You Are Here). Mas não teve jeito, o casal caminhava ladeira abaixo para a separação - e até sobre isso ele compôs (“Eu sei o que está por vir, e eu sei como virá; eu sei e eu sinto muito, de verdade”, em I Know).

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No meio do ano de 1973, o casal resolveu gravar novos discos – o primeiro de John em mais de um ano. Uma das conclusões que haviam tirado das recentes autoanálises é que, para serem apreciados pela crítica americana, precisavam gravar melhor seus discos. E uma banda formada pelos melhores músicos de estúdio de Nova York foi montada e começou a gravar – primeiramente as faixas de Yoko, lançadas no álbum Feeling The Space no segundo semestre.

Um jornalista da revista Rolling Stone visitou o estúdio para fazer uma matéria sobre as gravações e verificou que o ex-beatle pouco comparecia ao estúdio e que Yoko declarava que pouco iria interferir nas gravações de John, marcadas para o início de agosto.

Constatou também que havia muita empatia entre Yoko e o bandleader contratado para as gravações, o guitarrista David Spinozza, e entre John e a secretária de anos do casal, May Pang.

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Foi nesse contexto que nasceu Mind Games, álbum de John Lennon, que agora tem seu processo criativo esmiuçado em box especial produzido pelo filho Sean Lennon e com a aprovação da mãe, Yoko Ono.

O box 'John Lennon Mind Games - Super Deluxe' Foto: Divulgação/Universal Music

O projeto é o mais ousado da The Ultimate Collection dos Lennon, mesmo contando os aclamados e premiados boxes dedicados aos álbuns Plastic Ono Band (1970) e Imagine (1971). A celebração dos 50 anos do duplo Some Time in New York City (1972) havia sido confirmada informalmente por Sean nas redes sociais no final de 2021, mas acabou sendo esquecida. Talvez não fosse a hora de mexer nos detalhes sórdidos da perseguição de Lennon pela imigração americana e pelo FBI.

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Fato é que a celebração dos 50 anos de Mind Games só rola agora, próximo dos 51 anos, mas o lançamento entusiasmado da Universal Music mostra que esses projetos são mesmo atemporais. Os discos e boxes vão ser lançados nos Estados Unidos nesta sexta, 12. No Brasil, duas versões estão em pré-venda, com lançamento previsto para outubro.

Versões do box ‘Mind Games’

O lançamento básico do projeto é um CD duplo (ou vinil duplo, por R$ 399, em pré-venda no Brasil) contendo no disco 1 (Ultimate Mixes), uma remixagem moderna do álbum dirigida por Sean, e no disco 2 “um outro olhar” sobre o mesmo disco original, aqui com – digamos – menos instrumentos (Elemental Mixes). A versão em CD ainda não está disponível aqui, mas custa US$ 24,99)

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No box Standard Deluxe (US$ 163,49), contendo seis CDs e, evidentemente, o item mais representativo do lançamento, a brincadeira de Sean com as fitas das sessões do pai prossegue por mais quatro discos. Primeiramente o CD 3 (Elements Mixes), que isola e traz à frente certas nuances instrumentais que haviam ficado enterradas na mix original de John e seu engenheiro de som em 1973.

Nesse momento, precisamos observar que Sean vem sendo criticado por alterar demais a mixagem, principalmente no CD 1, que a princípio deveria ser uma refeitura fiel da mixagem original com recursos que fariam o álbum soar melhor. (Em assim não sendo, continua valendo como melhor referência sonora para o disco a remixagem feita com maior reverência no início dos anos 2000).

O CD 4 é o chamado Evolution Documentary e traz, faixa por faixa, a evolução criativa desde as primeiras demos de John, seus ensaios, sobras e papos de estúdio. É possivelmente o volume mais interessante neste box, seguido por um CD 5 dedicado totalmente a mixagens alternativas aos que chegaram à produção final do disco – fase esta que por sua vez dá origem às faixas incluídas no último CD, com takes alternativos originais das gravações, sem efeito algum - e que mostram como era Lennon no estúdio. O box ainda contém dois discos Blu-ray com todo o conteúdo dos CDs em áudio digital 192-24, em estéreo ou 5.1 ou Dolby Atmos, além do clipe de Mind Games e do filme You Are Here; além de um belo livro de 136 páginas.

Por fim, como não poderia de ser, uma versão milionária do box – em tiragem mundial de 1.100 unidades - o coloca numa arrojada estrutura que esconde – num caixote de 18 quilos – atrativos que vão, além de tudo que já estava no box inicial (CDs, BDs e livro), nada menos que sete vinis, um outro livro – com 288 páginas, coffee table capa dura com fotos inéditas dos Lennon na fase Mind Games e uma série interminável de presentinhos de Sean Lennon. Tudo isso faz o preço bater os US$ 1.300 dólares (o box está em pré-venda no Brasil por R$ 10.999,90).

Fã dos mais atentos aos lançamentos de produtos especiais, o cantor e compositor Nando Reis não perdeu tempo e garantiu o seu exemplar dessa edição limitada Super Deluxe. “Mind Games sempre teve um lugar especial na minha relação com a obra de Lennon - a colagem da capa, o riff hipnótico da música título que, aliás, fiz uma versão em reggae cuja gravação marcou a estreia em estúdio d’Os Infernais”, lembra o compositor.

John Lennon fotografado por Yoko Ono em 1973 Foto: Yoko Ono/Universal Music

Voltando a 1973, o disco – gravado no mês de agosto – foi finalizado em setembro e lançado em outubro. Tão logo entregou o disco, Lennon saiu de casa e foi pra Califórnia acompanhado de sua secretária May Pang, com quem iniciara um caso estimulado pela própria Yoko – que queria respirar novos ares.

Mind Games está longe de ter sido o maior sucesso na carreira de Lennon, que quando o lançou já estava morando em Los Angeles e pensando no próximo trabalho. John e Yoko ficaram separados por 18 meses, recentemente retratados no documentário The Lost Weekend, de Pang, endossado pelo raro depoimento de Julian Lennon, o primogênito de John, que passou férias com o pai e sua namorada em 1974. A balada de John & Yoko terá novos capítulos nessa série de boxes dirigidos por Sean Lennon.

Uma coincidência, por fim

O pesquisador e produtor Marcelo Fróes (à esquerda) e Sean Lennon Foto: Acervo Pessoal Marcelo Fróes
  • Há 50 anos meus pais compraram o disco Mind Games. Eu tinha sete anos e sempre o ouvi e sempre o citei como um dos discos básicos de minha vida.
  • 25 anos depois, e há exatos 25 anos também, estive no apartamento de Sean Lennon em Nova York para fazer um trabalho e levei de presente o luxuoso box Ensaio Geral, de Gilberto Gil, com 13 CDs, que eu produzira e lançara dois meses antes pela PolyGram e que era vendido por absurdos R$ 400 à época. As coisas do John ainda eram tratadas por Yoko Ono e ela havia lançado poucos meses antes o simplório box de 4 CDs Anthology. Sean, que vinha descobrindo a Tropicália de Os Mutantes, Caetano e Gil, ficou impressionado com a caixa. Diante de sua curiosidade, não deixei de lhe dizer: “Teu pai merece algo assim, ou daí pra cima”.

Quer ler notícias sobre os Beatles no Estadão? Veja aqui.

Yoko Ono sempre gravou seus discos em paralelo às sessões do marido John Lennon (1940-1980). Fossem lançadas em dupla pelo casal ou em discos individuais, as faixas de Yoko sempre soavam anexas à discografia solo de John – iniciada em 1968 com Two Virgins, mais famoso pela capa nudista do que pelos experimentos musicais das primeiras noites do casal.

Cinco anos depois da estreia, em 1973, Yoko era inegavelmente a contratada mais atuante da Apple Records, a gravadora dos Beatles. Ela, então, resolveu lançar um álbum solo independentemente de John, que apenas assina a coprodução.

O casal Yoko Ono e John Lennon em foto que faz parte do projeto 'Mind Games' Foto: Universal Music/Divulgação

Lançado na primeira semana de 1973, Approximately Infinite Universe fora gravado com a mesma banda de Nova York - a Elephant’s Memory - com a qual o casal fizera o controverso álbum Some Time in New York City e realizado o desastrado (por mal ensaiado) show One To One, ambos em 1972.

Enquanto Lennon sucumbiu às implacáveis críticas, mergulhando em drogas e bebidas, sempre mal acompanhado por qualquer ativista que conseguisse sua atenção por alguns minutos, Yoko preferiu embarcar num projeto de qualidade. E este atrevido álbum duplo é considerado um de seus melhores trabalhos, sofrido com o casamento abalado após uma traição inconsequente de John com uma groupie durante um festão num apartamento cheio de quartos e portas.

O casal Lennon amargou lado a lado essa fase em que comprou um luxuoso apartamento no Edifício Dakota (o primeiro de vários) de Nova York, cidade em que moravam havia dois anos. Com isso, esperavam ter relações mais sólidas – do casal em si e com os Estados Unidos, cujo governo vinha tentando deportar Lennon praticamente desde que chegara já cheio de si no segundo semestre de 1971.

Mas não adiantou muito. A pressão foi grande e os dois foram à luta. Lennon fez seu mea culpa, afastou-se das biritas e dos ativistas que mal sabiam se expressar, e acabou demitindo o empresário Allen Klein, CEO contratado da Apple por sua teimosia em 1969 e que fora um dos principais pivôs da separação dos Beatles.

Ele começou a compor canções novas e a resgatar pérolas de seus rascunhos, sempre exaltando a importância de Yoko em sua vida e pedindo-lhe perdão (Aisumasen, Out The Blue, One Day At a Time e You Are Here). Mas não teve jeito, o casal caminhava ladeira abaixo para a separação - e até sobre isso ele compôs (“Eu sei o que está por vir, e eu sei como virá; eu sei e eu sinto muito, de verdade”, em I Know).

No meio do ano de 1973, o casal resolveu gravar novos discos – o primeiro de John em mais de um ano. Uma das conclusões que haviam tirado das recentes autoanálises é que, para serem apreciados pela crítica americana, precisavam gravar melhor seus discos. E uma banda formada pelos melhores músicos de estúdio de Nova York foi montada e começou a gravar – primeiramente as faixas de Yoko, lançadas no álbum Feeling The Space no segundo semestre.

Um jornalista da revista Rolling Stone visitou o estúdio para fazer uma matéria sobre as gravações e verificou que o ex-beatle pouco comparecia ao estúdio e que Yoko declarava que pouco iria interferir nas gravações de John, marcadas para o início de agosto.

Constatou também que havia muita empatia entre Yoko e o bandleader contratado para as gravações, o guitarrista David Spinozza, e entre John e a secretária de anos do casal, May Pang.

Foi nesse contexto que nasceu Mind Games, álbum de John Lennon, que agora tem seu processo criativo esmiuçado em box especial produzido pelo filho Sean Lennon e com a aprovação da mãe, Yoko Ono.

O box 'John Lennon Mind Games - Super Deluxe' Foto: Divulgação/Universal Music

O projeto é o mais ousado da The Ultimate Collection dos Lennon, mesmo contando os aclamados e premiados boxes dedicados aos álbuns Plastic Ono Band (1970) e Imagine (1971). A celebração dos 50 anos do duplo Some Time in New York City (1972) havia sido confirmada informalmente por Sean nas redes sociais no final de 2021, mas acabou sendo esquecida. Talvez não fosse a hora de mexer nos detalhes sórdidos da perseguição de Lennon pela imigração americana e pelo FBI.

Fato é que a celebração dos 50 anos de Mind Games só rola agora, próximo dos 51 anos, mas o lançamento entusiasmado da Universal Music mostra que esses projetos são mesmo atemporais. Os discos e boxes vão ser lançados nos Estados Unidos nesta sexta, 12. No Brasil, duas versões estão em pré-venda, com lançamento previsto para outubro.

Versões do box ‘Mind Games’

O lançamento básico do projeto é um CD duplo (ou vinil duplo, por R$ 399, em pré-venda no Brasil) contendo no disco 1 (Ultimate Mixes), uma remixagem moderna do álbum dirigida por Sean, e no disco 2 “um outro olhar” sobre o mesmo disco original, aqui com – digamos – menos instrumentos (Elemental Mixes). A versão em CD ainda não está disponível aqui, mas custa US$ 24,99)

No box Standard Deluxe (US$ 163,49), contendo seis CDs e, evidentemente, o item mais representativo do lançamento, a brincadeira de Sean com as fitas das sessões do pai prossegue por mais quatro discos. Primeiramente o CD 3 (Elements Mixes), que isola e traz à frente certas nuances instrumentais que haviam ficado enterradas na mix original de John e seu engenheiro de som em 1973.

Nesse momento, precisamos observar que Sean vem sendo criticado por alterar demais a mixagem, principalmente no CD 1, que a princípio deveria ser uma refeitura fiel da mixagem original com recursos que fariam o álbum soar melhor. (Em assim não sendo, continua valendo como melhor referência sonora para o disco a remixagem feita com maior reverência no início dos anos 2000).

O CD 4 é o chamado Evolution Documentary e traz, faixa por faixa, a evolução criativa desde as primeiras demos de John, seus ensaios, sobras e papos de estúdio. É possivelmente o volume mais interessante neste box, seguido por um CD 5 dedicado totalmente a mixagens alternativas aos que chegaram à produção final do disco – fase esta que por sua vez dá origem às faixas incluídas no último CD, com takes alternativos originais das gravações, sem efeito algum - e que mostram como era Lennon no estúdio. O box ainda contém dois discos Blu-ray com todo o conteúdo dos CDs em áudio digital 192-24, em estéreo ou 5.1 ou Dolby Atmos, além do clipe de Mind Games e do filme You Are Here; além de um belo livro de 136 páginas.

Por fim, como não poderia de ser, uma versão milionária do box – em tiragem mundial de 1.100 unidades - o coloca numa arrojada estrutura que esconde – num caixote de 18 quilos – atrativos que vão, além de tudo que já estava no box inicial (CDs, BDs e livro), nada menos que sete vinis, um outro livro – com 288 páginas, coffee table capa dura com fotos inéditas dos Lennon na fase Mind Games e uma série interminável de presentinhos de Sean Lennon. Tudo isso faz o preço bater os US$ 1.300 dólares (o box está em pré-venda no Brasil por R$ 10.999,90).

Fã dos mais atentos aos lançamentos de produtos especiais, o cantor e compositor Nando Reis não perdeu tempo e garantiu o seu exemplar dessa edição limitada Super Deluxe. “Mind Games sempre teve um lugar especial na minha relação com a obra de Lennon - a colagem da capa, o riff hipnótico da música título que, aliás, fiz uma versão em reggae cuja gravação marcou a estreia em estúdio d’Os Infernais”, lembra o compositor.

John Lennon fotografado por Yoko Ono em 1973 Foto: Yoko Ono/Universal Music

Voltando a 1973, o disco – gravado no mês de agosto – foi finalizado em setembro e lançado em outubro. Tão logo entregou o disco, Lennon saiu de casa e foi pra Califórnia acompanhado de sua secretária May Pang, com quem iniciara um caso estimulado pela própria Yoko – que queria respirar novos ares.

Mind Games está longe de ter sido o maior sucesso na carreira de Lennon, que quando o lançou já estava morando em Los Angeles e pensando no próximo trabalho. John e Yoko ficaram separados por 18 meses, recentemente retratados no documentário The Lost Weekend, de Pang, endossado pelo raro depoimento de Julian Lennon, o primogênito de John, que passou férias com o pai e sua namorada em 1974. A balada de John & Yoko terá novos capítulos nessa série de boxes dirigidos por Sean Lennon.

Uma coincidência, por fim

O pesquisador e produtor Marcelo Fróes (à esquerda) e Sean Lennon Foto: Acervo Pessoal Marcelo Fróes
  • Há 50 anos meus pais compraram o disco Mind Games. Eu tinha sete anos e sempre o ouvi e sempre o citei como um dos discos básicos de minha vida.
  • 25 anos depois, e há exatos 25 anos também, estive no apartamento de Sean Lennon em Nova York para fazer um trabalho e levei de presente o luxuoso box Ensaio Geral, de Gilberto Gil, com 13 CDs, que eu produzira e lançara dois meses antes pela PolyGram e que era vendido por absurdos R$ 400 à época. As coisas do John ainda eram tratadas por Yoko Ono e ela havia lançado poucos meses antes o simplório box de 4 CDs Anthology. Sean, que vinha descobrindo a Tropicália de Os Mutantes, Caetano e Gil, ficou impressionado com a caixa. Diante de sua curiosidade, não deixei de lhe dizer: “Teu pai merece algo assim, ou daí pra cima”.

Quer ler notícias sobre os Beatles no Estadão? Veja aqui.

Yoko Ono sempre gravou seus discos em paralelo às sessões do marido John Lennon (1940-1980). Fossem lançadas em dupla pelo casal ou em discos individuais, as faixas de Yoko sempre soavam anexas à discografia solo de John – iniciada em 1968 com Two Virgins, mais famoso pela capa nudista do que pelos experimentos musicais das primeiras noites do casal.

Cinco anos depois da estreia, em 1973, Yoko era inegavelmente a contratada mais atuante da Apple Records, a gravadora dos Beatles. Ela, então, resolveu lançar um álbum solo independentemente de John, que apenas assina a coprodução.

O casal Yoko Ono e John Lennon em foto que faz parte do projeto 'Mind Games' Foto: Universal Music/Divulgação

Lançado na primeira semana de 1973, Approximately Infinite Universe fora gravado com a mesma banda de Nova York - a Elephant’s Memory - com a qual o casal fizera o controverso álbum Some Time in New York City e realizado o desastrado (por mal ensaiado) show One To One, ambos em 1972.

Enquanto Lennon sucumbiu às implacáveis críticas, mergulhando em drogas e bebidas, sempre mal acompanhado por qualquer ativista que conseguisse sua atenção por alguns minutos, Yoko preferiu embarcar num projeto de qualidade. E este atrevido álbum duplo é considerado um de seus melhores trabalhos, sofrido com o casamento abalado após uma traição inconsequente de John com uma groupie durante um festão num apartamento cheio de quartos e portas.

O casal Lennon amargou lado a lado essa fase em que comprou um luxuoso apartamento no Edifício Dakota (o primeiro de vários) de Nova York, cidade em que moravam havia dois anos. Com isso, esperavam ter relações mais sólidas – do casal em si e com os Estados Unidos, cujo governo vinha tentando deportar Lennon praticamente desde que chegara já cheio de si no segundo semestre de 1971.

Mas não adiantou muito. A pressão foi grande e os dois foram à luta. Lennon fez seu mea culpa, afastou-se das biritas e dos ativistas que mal sabiam se expressar, e acabou demitindo o empresário Allen Klein, CEO contratado da Apple por sua teimosia em 1969 e que fora um dos principais pivôs da separação dos Beatles.

Ele começou a compor canções novas e a resgatar pérolas de seus rascunhos, sempre exaltando a importância de Yoko em sua vida e pedindo-lhe perdão (Aisumasen, Out The Blue, One Day At a Time e You Are Here). Mas não teve jeito, o casal caminhava ladeira abaixo para a separação - e até sobre isso ele compôs (“Eu sei o que está por vir, e eu sei como virá; eu sei e eu sinto muito, de verdade”, em I Know).

No meio do ano de 1973, o casal resolveu gravar novos discos – o primeiro de John em mais de um ano. Uma das conclusões que haviam tirado das recentes autoanálises é que, para serem apreciados pela crítica americana, precisavam gravar melhor seus discos. E uma banda formada pelos melhores músicos de estúdio de Nova York foi montada e começou a gravar – primeiramente as faixas de Yoko, lançadas no álbum Feeling The Space no segundo semestre.

Um jornalista da revista Rolling Stone visitou o estúdio para fazer uma matéria sobre as gravações e verificou que o ex-beatle pouco comparecia ao estúdio e que Yoko declarava que pouco iria interferir nas gravações de John, marcadas para o início de agosto.

Constatou também que havia muita empatia entre Yoko e o bandleader contratado para as gravações, o guitarrista David Spinozza, e entre John e a secretária de anos do casal, May Pang.

Foi nesse contexto que nasceu Mind Games, álbum de John Lennon, que agora tem seu processo criativo esmiuçado em box especial produzido pelo filho Sean Lennon e com a aprovação da mãe, Yoko Ono.

O box 'John Lennon Mind Games - Super Deluxe' Foto: Divulgação/Universal Music

O projeto é o mais ousado da The Ultimate Collection dos Lennon, mesmo contando os aclamados e premiados boxes dedicados aos álbuns Plastic Ono Band (1970) e Imagine (1971). A celebração dos 50 anos do duplo Some Time in New York City (1972) havia sido confirmada informalmente por Sean nas redes sociais no final de 2021, mas acabou sendo esquecida. Talvez não fosse a hora de mexer nos detalhes sórdidos da perseguição de Lennon pela imigração americana e pelo FBI.

Fato é que a celebração dos 50 anos de Mind Games só rola agora, próximo dos 51 anos, mas o lançamento entusiasmado da Universal Music mostra que esses projetos são mesmo atemporais. Os discos e boxes vão ser lançados nos Estados Unidos nesta sexta, 12. No Brasil, duas versões estão em pré-venda, com lançamento previsto para outubro.

Versões do box ‘Mind Games’

O lançamento básico do projeto é um CD duplo (ou vinil duplo, por R$ 399, em pré-venda no Brasil) contendo no disco 1 (Ultimate Mixes), uma remixagem moderna do álbum dirigida por Sean, e no disco 2 “um outro olhar” sobre o mesmo disco original, aqui com – digamos – menos instrumentos (Elemental Mixes). A versão em CD ainda não está disponível aqui, mas custa US$ 24,99)

No box Standard Deluxe (US$ 163,49), contendo seis CDs e, evidentemente, o item mais representativo do lançamento, a brincadeira de Sean com as fitas das sessões do pai prossegue por mais quatro discos. Primeiramente o CD 3 (Elements Mixes), que isola e traz à frente certas nuances instrumentais que haviam ficado enterradas na mix original de John e seu engenheiro de som em 1973.

Nesse momento, precisamos observar que Sean vem sendo criticado por alterar demais a mixagem, principalmente no CD 1, que a princípio deveria ser uma refeitura fiel da mixagem original com recursos que fariam o álbum soar melhor. (Em assim não sendo, continua valendo como melhor referência sonora para o disco a remixagem feita com maior reverência no início dos anos 2000).

O CD 4 é o chamado Evolution Documentary e traz, faixa por faixa, a evolução criativa desde as primeiras demos de John, seus ensaios, sobras e papos de estúdio. É possivelmente o volume mais interessante neste box, seguido por um CD 5 dedicado totalmente a mixagens alternativas aos que chegaram à produção final do disco – fase esta que por sua vez dá origem às faixas incluídas no último CD, com takes alternativos originais das gravações, sem efeito algum - e que mostram como era Lennon no estúdio. O box ainda contém dois discos Blu-ray com todo o conteúdo dos CDs em áudio digital 192-24, em estéreo ou 5.1 ou Dolby Atmos, além do clipe de Mind Games e do filme You Are Here; além de um belo livro de 136 páginas.

Por fim, como não poderia de ser, uma versão milionária do box – em tiragem mundial de 1.100 unidades - o coloca numa arrojada estrutura que esconde – num caixote de 18 quilos – atrativos que vão, além de tudo que já estava no box inicial (CDs, BDs e livro), nada menos que sete vinis, um outro livro – com 288 páginas, coffee table capa dura com fotos inéditas dos Lennon na fase Mind Games e uma série interminável de presentinhos de Sean Lennon. Tudo isso faz o preço bater os US$ 1.300 dólares (o box está em pré-venda no Brasil por R$ 10.999,90).

Fã dos mais atentos aos lançamentos de produtos especiais, o cantor e compositor Nando Reis não perdeu tempo e garantiu o seu exemplar dessa edição limitada Super Deluxe. “Mind Games sempre teve um lugar especial na minha relação com a obra de Lennon - a colagem da capa, o riff hipnótico da música título que, aliás, fiz uma versão em reggae cuja gravação marcou a estreia em estúdio d’Os Infernais”, lembra o compositor.

John Lennon fotografado por Yoko Ono em 1973 Foto: Yoko Ono/Universal Music

Voltando a 1973, o disco – gravado no mês de agosto – foi finalizado em setembro e lançado em outubro. Tão logo entregou o disco, Lennon saiu de casa e foi pra Califórnia acompanhado de sua secretária May Pang, com quem iniciara um caso estimulado pela própria Yoko – que queria respirar novos ares.

Mind Games está longe de ter sido o maior sucesso na carreira de Lennon, que quando o lançou já estava morando em Los Angeles e pensando no próximo trabalho. John e Yoko ficaram separados por 18 meses, recentemente retratados no documentário The Lost Weekend, de Pang, endossado pelo raro depoimento de Julian Lennon, o primogênito de John, que passou férias com o pai e sua namorada em 1974. A balada de John & Yoko terá novos capítulos nessa série de boxes dirigidos por Sean Lennon.

Uma coincidência, por fim

O pesquisador e produtor Marcelo Fróes (à esquerda) e Sean Lennon Foto: Acervo Pessoal Marcelo Fróes
  • Há 50 anos meus pais compraram o disco Mind Games. Eu tinha sete anos e sempre o ouvi e sempre o citei como um dos discos básicos de minha vida.
  • 25 anos depois, e há exatos 25 anos também, estive no apartamento de Sean Lennon em Nova York para fazer um trabalho e levei de presente o luxuoso box Ensaio Geral, de Gilberto Gil, com 13 CDs, que eu produzira e lançara dois meses antes pela PolyGram e que era vendido por absurdos R$ 400 à época. As coisas do John ainda eram tratadas por Yoko Ono e ela havia lançado poucos meses antes o simplório box de 4 CDs Anthology. Sean, que vinha descobrindo a Tropicália de Os Mutantes, Caetano e Gil, ficou impressionado com a caixa. Diante de sua curiosidade, não deixei de lhe dizer: “Teu pai merece algo assim, ou daí pra cima”.

Quer ler notícias sobre os Beatles no Estadão? Veja aqui.

Yoko Ono sempre gravou seus discos em paralelo às sessões do marido John Lennon (1940-1980). Fossem lançadas em dupla pelo casal ou em discos individuais, as faixas de Yoko sempre soavam anexas à discografia solo de John – iniciada em 1968 com Two Virgins, mais famoso pela capa nudista do que pelos experimentos musicais das primeiras noites do casal.

Cinco anos depois da estreia, em 1973, Yoko era inegavelmente a contratada mais atuante da Apple Records, a gravadora dos Beatles. Ela, então, resolveu lançar um álbum solo independentemente de John, que apenas assina a coprodução.

O casal Yoko Ono e John Lennon em foto que faz parte do projeto 'Mind Games' Foto: Universal Music/Divulgação

Lançado na primeira semana de 1973, Approximately Infinite Universe fora gravado com a mesma banda de Nova York - a Elephant’s Memory - com a qual o casal fizera o controverso álbum Some Time in New York City e realizado o desastrado (por mal ensaiado) show One To One, ambos em 1972.

Enquanto Lennon sucumbiu às implacáveis críticas, mergulhando em drogas e bebidas, sempre mal acompanhado por qualquer ativista que conseguisse sua atenção por alguns minutos, Yoko preferiu embarcar num projeto de qualidade. E este atrevido álbum duplo é considerado um de seus melhores trabalhos, sofrido com o casamento abalado após uma traição inconsequente de John com uma groupie durante um festão num apartamento cheio de quartos e portas.

O casal Lennon amargou lado a lado essa fase em que comprou um luxuoso apartamento no Edifício Dakota (o primeiro de vários) de Nova York, cidade em que moravam havia dois anos. Com isso, esperavam ter relações mais sólidas – do casal em si e com os Estados Unidos, cujo governo vinha tentando deportar Lennon praticamente desde que chegara já cheio de si no segundo semestre de 1971.

Mas não adiantou muito. A pressão foi grande e os dois foram à luta. Lennon fez seu mea culpa, afastou-se das biritas e dos ativistas que mal sabiam se expressar, e acabou demitindo o empresário Allen Klein, CEO contratado da Apple por sua teimosia em 1969 e que fora um dos principais pivôs da separação dos Beatles.

Ele começou a compor canções novas e a resgatar pérolas de seus rascunhos, sempre exaltando a importância de Yoko em sua vida e pedindo-lhe perdão (Aisumasen, Out The Blue, One Day At a Time e You Are Here). Mas não teve jeito, o casal caminhava ladeira abaixo para a separação - e até sobre isso ele compôs (“Eu sei o que está por vir, e eu sei como virá; eu sei e eu sinto muito, de verdade”, em I Know).

No meio do ano de 1973, o casal resolveu gravar novos discos – o primeiro de John em mais de um ano. Uma das conclusões que haviam tirado das recentes autoanálises é que, para serem apreciados pela crítica americana, precisavam gravar melhor seus discos. E uma banda formada pelos melhores músicos de estúdio de Nova York foi montada e começou a gravar – primeiramente as faixas de Yoko, lançadas no álbum Feeling The Space no segundo semestre.

Um jornalista da revista Rolling Stone visitou o estúdio para fazer uma matéria sobre as gravações e verificou que o ex-beatle pouco comparecia ao estúdio e que Yoko declarava que pouco iria interferir nas gravações de John, marcadas para o início de agosto.

Constatou também que havia muita empatia entre Yoko e o bandleader contratado para as gravações, o guitarrista David Spinozza, e entre John e a secretária de anos do casal, May Pang.

Foi nesse contexto que nasceu Mind Games, álbum de John Lennon, que agora tem seu processo criativo esmiuçado em box especial produzido pelo filho Sean Lennon e com a aprovação da mãe, Yoko Ono.

O box 'John Lennon Mind Games - Super Deluxe' Foto: Divulgação/Universal Music

O projeto é o mais ousado da The Ultimate Collection dos Lennon, mesmo contando os aclamados e premiados boxes dedicados aos álbuns Plastic Ono Band (1970) e Imagine (1971). A celebração dos 50 anos do duplo Some Time in New York City (1972) havia sido confirmada informalmente por Sean nas redes sociais no final de 2021, mas acabou sendo esquecida. Talvez não fosse a hora de mexer nos detalhes sórdidos da perseguição de Lennon pela imigração americana e pelo FBI.

Fato é que a celebração dos 50 anos de Mind Games só rola agora, próximo dos 51 anos, mas o lançamento entusiasmado da Universal Music mostra que esses projetos são mesmo atemporais. Os discos e boxes vão ser lançados nos Estados Unidos nesta sexta, 12. No Brasil, duas versões estão em pré-venda, com lançamento previsto para outubro.

Versões do box ‘Mind Games’

O lançamento básico do projeto é um CD duplo (ou vinil duplo, por R$ 399, em pré-venda no Brasil) contendo no disco 1 (Ultimate Mixes), uma remixagem moderna do álbum dirigida por Sean, e no disco 2 “um outro olhar” sobre o mesmo disco original, aqui com – digamos – menos instrumentos (Elemental Mixes). A versão em CD ainda não está disponível aqui, mas custa US$ 24,99)

No box Standard Deluxe (US$ 163,49), contendo seis CDs e, evidentemente, o item mais representativo do lançamento, a brincadeira de Sean com as fitas das sessões do pai prossegue por mais quatro discos. Primeiramente o CD 3 (Elements Mixes), que isola e traz à frente certas nuances instrumentais que haviam ficado enterradas na mix original de John e seu engenheiro de som em 1973.

Nesse momento, precisamos observar que Sean vem sendo criticado por alterar demais a mixagem, principalmente no CD 1, que a princípio deveria ser uma refeitura fiel da mixagem original com recursos que fariam o álbum soar melhor. (Em assim não sendo, continua valendo como melhor referência sonora para o disco a remixagem feita com maior reverência no início dos anos 2000).

O CD 4 é o chamado Evolution Documentary e traz, faixa por faixa, a evolução criativa desde as primeiras demos de John, seus ensaios, sobras e papos de estúdio. É possivelmente o volume mais interessante neste box, seguido por um CD 5 dedicado totalmente a mixagens alternativas aos que chegaram à produção final do disco – fase esta que por sua vez dá origem às faixas incluídas no último CD, com takes alternativos originais das gravações, sem efeito algum - e que mostram como era Lennon no estúdio. O box ainda contém dois discos Blu-ray com todo o conteúdo dos CDs em áudio digital 192-24, em estéreo ou 5.1 ou Dolby Atmos, além do clipe de Mind Games e do filme You Are Here; além de um belo livro de 136 páginas.

Por fim, como não poderia de ser, uma versão milionária do box – em tiragem mundial de 1.100 unidades - o coloca numa arrojada estrutura que esconde – num caixote de 18 quilos – atrativos que vão, além de tudo que já estava no box inicial (CDs, BDs e livro), nada menos que sete vinis, um outro livro – com 288 páginas, coffee table capa dura com fotos inéditas dos Lennon na fase Mind Games e uma série interminável de presentinhos de Sean Lennon. Tudo isso faz o preço bater os US$ 1.300 dólares (o box está em pré-venda no Brasil por R$ 10.999,90).

Fã dos mais atentos aos lançamentos de produtos especiais, o cantor e compositor Nando Reis não perdeu tempo e garantiu o seu exemplar dessa edição limitada Super Deluxe. “Mind Games sempre teve um lugar especial na minha relação com a obra de Lennon - a colagem da capa, o riff hipnótico da música título que, aliás, fiz uma versão em reggae cuja gravação marcou a estreia em estúdio d’Os Infernais”, lembra o compositor.

John Lennon fotografado por Yoko Ono em 1973 Foto: Yoko Ono/Universal Music

Voltando a 1973, o disco – gravado no mês de agosto – foi finalizado em setembro e lançado em outubro. Tão logo entregou o disco, Lennon saiu de casa e foi pra Califórnia acompanhado de sua secretária May Pang, com quem iniciara um caso estimulado pela própria Yoko – que queria respirar novos ares.

Mind Games está longe de ter sido o maior sucesso na carreira de Lennon, que quando o lançou já estava morando em Los Angeles e pensando no próximo trabalho. John e Yoko ficaram separados por 18 meses, recentemente retratados no documentário The Lost Weekend, de Pang, endossado pelo raro depoimento de Julian Lennon, o primogênito de John, que passou férias com o pai e sua namorada em 1974. A balada de John & Yoko terá novos capítulos nessa série de boxes dirigidos por Sean Lennon.

Uma coincidência, por fim

O pesquisador e produtor Marcelo Fróes (à esquerda) e Sean Lennon Foto: Acervo Pessoal Marcelo Fróes
  • Há 50 anos meus pais compraram o disco Mind Games. Eu tinha sete anos e sempre o ouvi e sempre o citei como um dos discos básicos de minha vida.
  • 25 anos depois, e há exatos 25 anos também, estive no apartamento de Sean Lennon em Nova York para fazer um trabalho e levei de presente o luxuoso box Ensaio Geral, de Gilberto Gil, com 13 CDs, que eu produzira e lançara dois meses antes pela PolyGram e que era vendido por absurdos R$ 400 à época. As coisas do John ainda eram tratadas por Yoko Ono e ela havia lançado poucos meses antes o simplório box de 4 CDs Anthology. Sean, que vinha descobrindo a Tropicália de Os Mutantes, Caetano e Gil, ficou impressionado com a caixa. Diante de sua curiosidade, não deixei de lhe dizer: “Teu pai merece algo assim, ou daí pra cima”.

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Análise por Marcelo Froés

Pesquisador musical e produtor de diversos boxes dedicados aos acervos musicais de grandes artistas brasileiros, entre eles, Gilberto Gil e Gal Costa.

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