Joss Stone lembra tensão ao cantar com James Brown e morte de Amy Winehouse: ‘Queria ter ajudado’


Cantora de ‘Right To Be Wrong’ e ‘Super Duper Love’, atração do Rock In Rio, conversou com o ‘Estadão’ antes de sua nova turnê brasileira; show em São Paulo será dia 24 de setembro

Por Gabriel Zorzetto
Foto: Taba Benedicto/Estadão
Entrevista comJoss StoneCantora

Nem mesmo Joss Stone pode ter tudo o que quer. Uma das principais cantoras da atual cena musical, a britânica de 37 anos revela buscar o equilíbrio na hora de conciliar a maternidade com a carreira. Mãe recente de duas crianças, nascidas após o estouro da pandemia do covid-19, ela optou por limitar o número de shows em troca de passar mais tempo com os filhos.

Isso não impede, no entanto, Joscelyn Eve Stoker (seu nome de batismo) de continuar a nutrir o carinho de seus fãs ao redor do planeta. Nesse mês, ela volta ao Brasil para apresentar a turnê Ellipsis, com shows em São Paulo, Ribeirão Preto, Belo Horizonte e Rio de Janeiro (no Rock In Rio).

Exalando simpatia, a voz poderosa dos hits Right To Be Wrong e Super Duper Love conversou com o Estadão por videoconferência. Ela falou sobre a relação especial com o País o qual já visitou mais de uma dezena de vezes e relembrou algumas colaborações marcantes da carreira, como o dueto inesquecível com o astro James Brown (1933-2006) e a parceria com o guitarrista britânico Jeff Beck (1944-2023), cristalizada no álbum Emotion & Commotion (2010).

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A artista atingiu cedo o estrelato, aos 16 anos, no disco de estreia The Soul Sessions (2003), coleção de covers dos anos 60 e 70 que lhe moldou um estilo similar à contemporânea Amy Winehouse (1983-2011) – ambas chegaram a ser classificadas como as ‘Novas Divas do Soul’.

Nesta entrevista, Joss reverenciou o legado da cantora vítima de overdose e lamentou não ter a conhecido tão bem a ponto de poder ajudá-la na luta contra as drogas.

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Joss Stone se apresenta no palco do The Town, em 2023 Foto: Taba Benedicto/Estadão

Mais uma visita ao Brasil... Por que essa relação com o nosso País tem sido tão especial?

É que vocês são muito amáveis, não são? Eu não sei como aconteceu, mas por alguma razão existe tipo um pequeno caso de amor entre mim e o Brasil, eu simplesmente amo. Eu acho muito calorosa e acolhedora a forma como as pessoas são, se alinha com o meu tipo de bússola moral. Nós temos alguns brasileiros na nossa equipe, na verdade, e nós os amamos tanto porque eles são muito apaixonados pelo que fazem e são seres humanos gentis e conscientes. Percebo que quando estou no Brasil, as pessoas têm essa espécie de força e lealdade. É uma sensação de família que eu sinto.

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E como estão suas expectativas para se apresentar no Rock in Rio?

Eu fiquei muito animada por ter sido convidada para tocar. Já estive tocando nos festivais Rock in Rio há um tempo, até mesmo em Lisboa. Espero que seja tão maravilhoso quanto foi nas outras vezes. Às vezes, quando você tem públicos enormes, apenas os primeiros milhares estão realmente envolvidos e o resto apenas conversa. Isso não acontece quando eu toco no Brasil. Todos participam e estão tão envolvidos quanto eu. E a banda fica totalmente animada. Nós tocamos no The Town no ano passado e a banda que eu levei é a banda que você ouve no álbum ao vivo 20 Years of Soul. Essa banda, metade deles não havia tocado para públicos tão grandes assim. Eles estavam tipo: ‘Que p*** é essa?’. Esse entusiasmo é pelo que vale a pena viver a vida. Espero que meus filhos possam caminhar por essa vida e experimentar tanta alegria em grupo.

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Você tem algum tipo de conexão com a música brasileira, talvez com a bossa nova?

Na verdade, não. Quer dizer, eu ouvi um pouco quando estava aí. E definitivamente o Eric, meu cara da iluminação, sempre me mostra algumas coisas, o que é muito legal. Ele monta essas pequenas playlists. Como nós realmente não escutamos isso no rádio na Inglaterra ou na América, os músicos são sempre os que me trazem isso. Até porque o nível de habilidade musical para fazer esse tipo de música é bem alto, certo? E vocês levam isso muito a sério. É um estilo diferente, muito sensual e meio que ajuda você a se mover. Eu gosto. Nós deveríamos fazer um pouco no show. Eu ficaria tão nervosa de fazer isso, mas provavelmente deveria. O que você acha?

Eu acho ótimo, você deveria tentar alguma coisa clássica da bossa nova, o público iria adorar. Todo mundo sabe ‘Garota de Ipanema’, mas existem outras opções...

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Sim, Garota de Ipanema deve ser tipo cantar Parabéns Pra Você...

Show da cantora Joss Stone no Espaço Unimed, em São Paulo, em 2022 Foto: Alex Silva/Estadão

Exatamente... Agora falando um pouco sobre suas grandes colaborações, como foi trabalhar com Jeff Beck?

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O Jeff era simplesmente um cara adorável, tão doce e gentil. Ele jamais se comportava como a lenda que ele era. Eu não acho que ele realmente tinha consciência do quanto ele afetava as pessoas. Tipo, ele nunca foi arrogante. Era tipo: ‘ei, quer vir cantar essa música comigo?’. Quando fizemos as apresentações que fizemos ao longo dos anos, todas as vezes ele estava tão nervoso quanto eu. Ele não era do tipo: ‘ah, eu não me importo’. Ele era tipo: ‘oh, Deus, espero que a gente faça certo!’. Então, eu gostava disso porque eu me sentia confortada pelo fato de que eu era humana. Fizemos I Put a Spell on You ao vivo muitas vezes, e o vai e vem era como uma conversa real entre nós. Era diferente toda vez. Era uma união e nunca tive isso com mais ninguém. Tive grandes duetos com outras pessoas, mas especificamente com o Jeff havia uma humildade na maneira como ele era.

Sim, e outro dueto sobre o qual eu gostaria de falar é o com James Brown... Você ficou nervosa ao cantar com ele? Ele tinha fama de ser um cara complicado...

Ele tinha essa fama. Eu estava nervosa, principalmente porque era na TV e eu não tinha nenhuma preparação para isso. Foi tipo: ‘OK, Joss, você quer vir cantar com o James?’. Eu fiquei tipo: ‘OK... merda!’. Perguntei as músicas que iríamos fazer e eles disseram que começaríamos com It’s a Man’s Man’s Man’s World, que eu conhecia. Fiquei tipo: ‘graças a Deus meu pai tocava James Brown quando eu era criança!’. E eu sabia que tratava-se de James Brown, então se eu errasse, ele ficaria irritado. Mas ele foi muito legal comigo e nunca me passou más vibrações ou algo do tipo. Ele nunca me tratou da maneira pela qual era conhecido em tratar as pessoas. Ele sempre me tratou de maneira muito doce, com bondade e respeito. Conheci um lado do James que outras pessoas não conheceram, eu acho.

A cantora Joss Stone em show no Tom Brasil, na zona sul da capital paulista, em 2018 Foto: Ale Frata/Divulgação

Você e a Amy Winehouse foram consideradas as ‘Novas Divas do Soul’. Como se sentia quando comparada a ela? E como era a relação entre vocês?

Eu realmente não a conhecia muito bem, infelizmente. Queria ter conhecido. Só a encontrei casualmente umas duas ou três vezes. E todas as vezes, só pensava em como ela era adorável. Uma garota tão calorosa e engraçada. Mas eu não a conhecia profundamente para realmente comentar algo sobre ela. Se eu era comparada a ela, isso era um elogio enorme. Amy era mais jazz. As letras dela acertavam em cheio. Ela fez isso com humor, que é uma atitude muito britânica em relação à vida. Eu amava isso. Fico triste pelo fato de que a vida dela tenha sido interrompida. Não precisava ter acontecido assim. Quando tudo aconteceu, só desejei e orei para ter a conhecido mais para poder ter ajudado. O público sempre pensa que todas as celebridades se conhecem e saem juntas e coisas do tipo. Bem, isso simplesmente não é verdade, infelizmente.

Suas escolhas parecem muito certeiras na hora de regravar uma canção eternizada por outro artista. Qual o seu critério na seleção dos covers?

Não sei se realmente pensei sobre isso de forma tão crítica ou lógica assim. No The Soul Sessions, eu não tive tanta participação, pois eu era uma criança. Ninguém estava me ouvindo. Mas no The Soul Sessions Vol. 2 (2012), eu me envolvi mais, quis escolher as músicas e produzir o álbum. Então, o que eu fazia todos os dias era tocar algumas das canções que eu gostava e sentir a vibração com a banda. As letras, claro, eu preciso ser capaz de me conectar com as letras. Se eu não concordo com as letras, como posso cantar a música? Isso é impossível.

Como a maternidade te afetou e como você concilia a vida pessoal com a carreira?

É extremamente difícil ter tudo o que você quer. Eu quero ser capaz de prover para minha família, ser uma mãe presente e ainda estar lá para meus fãs, fazer todas essas coisas. Cody [DaLuz, marido] deixou seu emprego. Ele é um pai em tempo integral. Quando o conheci, ele estava trabalhando no Iraque, sempre longe, protegendo pessoas que chegavam em Bagdá. Ele tinha um mês de folga, vinha me ver e depois ia novamente por três meses. Quando a pandemia chegou, ele não conseguiu voltar. Graças a Deus isso aconteceu quando ele estava comigo. Foi então que basicamente concebemos nosso bebê. Muita gente teve bebês na pandemia, né? (risos). Então discutimos, tipo: ‘você quer voltar? Eu não acho que você deveria porque se vamos ter um filho, é muito perigoso’. Tivemos que decidir quem ganha mais dinheiro e quem pode sair por menos tempo. Então fiquei tipo: ‘OK, eu posso fazer isso!’. Nos primeiros anos, levei meus filhos comigo. E só no último mês que os deixei [em casa]. Violet tem 3 anos e meio, mas agora ela tem aulas de futebol, dança e todas essas coisas. Honestamente, comecei a me sentir culpada por estar tirando dela a infância que ela merece. Então eu os deixei em casa e depois de cerca de uma semana, percebi o quanto eles estavam se divertindo. Decidi que a única maneira de ter o equilíbrio e poder dar aos meus filhos o que eles merecem é limitar o tempo dos shows. Então, eu não saio por mais de duas semanas. Amo estar na estrada, mas sinto que quando chegamos ao 12º dia, já é o suficiente. Eu preciso estar com meus bebês e eles precisam de mim. Eu sei que todos estão dizendo que homens e mulheres são iguais. Nós não somos iguais. Somos iguais, mas não somos os mesmos. Um bebê precisa da mamãe, é diferente. Meu marido faz um trabalho fantástico, mas ele não pode ser mãe.

A cantora Joss Stone se apresentando no palco do festival SWU, no interior de São Paulo, em 2010 Foto: Flávio Moraes / Fotoarena

Joss Stone – Ellipsis Tour

  • Quando: 24 de setembro de 2024
  • Local: Espaço Unimed (R. Tagipuru, 795 - Barra Funda, São Paulo)
  • Ingressos: ticketmaster.com.br
  • Preços: R$200,00 a R$960,00

Nem mesmo Joss Stone pode ter tudo o que quer. Uma das principais cantoras da atual cena musical, a britânica de 37 anos revela buscar o equilíbrio na hora de conciliar a maternidade com a carreira. Mãe recente de duas crianças, nascidas após o estouro da pandemia do covid-19, ela optou por limitar o número de shows em troca de passar mais tempo com os filhos.

Isso não impede, no entanto, Joscelyn Eve Stoker (seu nome de batismo) de continuar a nutrir o carinho de seus fãs ao redor do planeta. Nesse mês, ela volta ao Brasil para apresentar a turnê Ellipsis, com shows em São Paulo, Ribeirão Preto, Belo Horizonte e Rio de Janeiro (no Rock In Rio).

Exalando simpatia, a voz poderosa dos hits Right To Be Wrong e Super Duper Love conversou com o Estadão por videoconferência. Ela falou sobre a relação especial com o País o qual já visitou mais de uma dezena de vezes e relembrou algumas colaborações marcantes da carreira, como o dueto inesquecível com o astro James Brown (1933-2006) e a parceria com o guitarrista britânico Jeff Beck (1944-2023), cristalizada no álbum Emotion & Commotion (2010).

A artista atingiu cedo o estrelato, aos 16 anos, no disco de estreia The Soul Sessions (2003), coleção de covers dos anos 60 e 70 que lhe moldou um estilo similar à contemporânea Amy Winehouse (1983-2011) – ambas chegaram a ser classificadas como as ‘Novas Divas do Soul’.

Nesta entrevista, Joss reverenciou o legado da cantora vítima de overdose e lamentou não ter a conhecido tão bem a ponto de poder ajudá-la na luta contra as drogas.

Joss Stone se apresenta no palco do The Town, em 2023 Foto: Taba Benedicto/Estadão

Mais uma visita ao Brasil... Por que essa relação com o nosso País tem sido tão especial?

É que vocês são muito amáveis, não são? Eu não sei como aconteceu, mas por alguma razão existe tipo um pequeno caso de amor entre mim e o Brasil, eu simplesmente amo. Eu acho muito calorosa e acolhedora a forma como as pessoas são, se alinha com o meu tipo de bússola moral. Nós temos alguns brasileiros na nossa equipe, na verdade, e nós os amamos tanto porque eles são muito apaixonados pelo que fazem e são seres humanos gentis e conscientes. Percebo que quando estou no Brasil, as pessoas têm essa espécie de força e lealdade. É uma sensação de família que eu sinto.

E como estão suas expectativas para se apresentar no Rock in Rio?

Eu fiquei muito animada por ter sido convidada para tocar. Já estive tocando nos festivais Rock in Rio há um tempo, até mesmo em Lisboa. Espero que seja tão maravilhoso quanto foi nas outras vezes. Às vezes, quando você tem públicos enormes, apenas os primeiros milhares estão realmente envolvidos e o resto apenas conversa. Isso não acontece quando eu toco no Brasil. Todos participam e estão tão envolvidos quanto eu. E a banda fica totalmente animada. Nós tocamos no The Town no ano passado e a banda que eu levei é a banda que você ouve no álbum ao vivo 20 Years of Soul. Essa banda, metade deles não havia tocado para públicos tão grandes assim. Eles estavam tipo: ‘Que p*** é essa?’. Esse entusiasmo é pelo que vale a pena viver a vida. Espero que meus filhos possam caminhar por essa vida e experimentar tanta alegria em grupo.

Você tem algum tipo de conexão com a música brasileira, talvez com a bossa nova?

Na verdade, não. Quer dizer, eu ouvi um pouco quando estava aí. E definitivamente o Eric, meu cara da iluminação, sempre me mostra algumas coisas, o que é muito legal. Ele monta essas pequenas playlists. Como nós realmente não escutamos isso no rádio na Inglaterra ou na América, os músicos são sempre os que me trazem isso. Até porque o nível de habilidade musical para fazer esse tipo de música é bem alto, certo? E vocês levam isso muito a sério. É um estilo diferente, muito sensual e meio que ajuda você a se mover. Eu gosto. Nós deveríamos fazer um pouco no show. Eu ficaria tão nervosa de fazer isso, mas provavelmente deveria. O que você acha?

Eu acho ótimo, você deveria tentar alguma coisa clássica da bossa nova, o público iria adorar. Todo mundo sabe ‘Garota de Ipanema’, mas existem outras opções...

Sim, Garota de Ipanema deve ser tipo cantar Parabéns Pra Você...

Show da cantora Joss Stone no Espaço Unimed, em São Paulo, em 2022 Foto: Alex Silva/Estadão

Exatamente... Agora falando um pouco sobre suas grandes colaborações, como foi trabalhar com Jeff Beck?

O Jeff era simplesmente um cara adorável, tão doce e gentil. Ele jamais se comportava como a lenda que ele era. Eu não acho que ele realmente tinha consciência do quanto ele afetava as pessoas. Tipo, ele nunca foi arrogante. Era tipo: ‘ei, quer vir cantar essa música comigo?’. Quando fizemos as apresentações que fizemos ao longo dos anos, todas as vezes ele estava tão nervoso quanto eu. Ele não era do tipo: ‘ah, eu não me importo’. Ele era tipo: ‘oh, Deus, espero que a gente faça certo!’. Então, eu gostava disso porque eu me sentia confortada pelo fato de que eu era humana. Fizemos I Put a Spell on You ao vivo muitas vezes, e o vai e vem era como uma conversa real entre nós. Era diferente toda vez. Era uma união e nunca tive isso com mais ninguém. Tive grandes duetos com outras pessoas, mas especificamente com o Jeff havia uma humildade na maneira como ele era.

Sim, e outro dueto sobre o qual eu gostaria de falar é o com James Brown... Você ficou nervosa ao cantar com ele? Ele tinha fama de ser um cara complicado...

Ele tinha essa fama. Eu estava nervosa, principalmente porque era na TV e eu não tinha nenhuma preparação para isso. Foi tipo: ‘OK, Joss, você quer vir cantar com o James?’. Eu fiquei tipo: ‘OK... merda!’. Perguntei as músicas que iríamos fazer e eles disseram que começaríamos com It’s a Man’s Man’s Man’s World, que eu conhecia. Fiquei tipo: ‘graças a Deus meu pai tocava James Brown quando eu era criança!’. E eu sabia que tratava-se de James Brown, então se eu errasse, ele ficaria irritado. Mas ele foi muito legal comigo e nunca me passou más vibrações ou algo do tipo. Ele nunca me tratou da maneira pela qual era conhecido em tratar as pessoas. Ele sempre me tratou de maneira muito doce, com bondade e respeito. Conheci um lado do James que outras pessoas não conheceram, eu acho.

A cantora Joss Stone em show no Tom Brasil, na zona sul da capital paulista, em 2018 Foto: Ale Frata/Divulgação

Você e a Amy Winehouse foram consideradas as ‘Novas Divas do Soul’. Como se sentia quando comparada a ela? E como era a relação entre vocês?

Eu realmente não a conhecia muito bem, infelizmente. Queria ter conhecido. Só a encontrei casualmente umas duas ou três vezes. E todas as vezes, só pensava em como ela era adorável. Uma garota tão calorosa e engraçada. Mas eu não a conhecia profundamente para realmente comentar algo sobre ela. Se eu era comparada a ela, isso era um elogio enorme. Amy era mais jazz. As letras dela acertavam em cheio. Ela fez isso com humor, que é uma atitude muito britânica em relação à vida. Eu amava isso. Fico triste pelo fato de que a vida dela tenha sido interrompida. Não precisava ter acontecido assim. Quando tudo aconteceu, só desejei e orei para ter a conhecido mais para poder ter ajudado. O público sempre pensa que todas as celebridades se conhecem e saem juntas e coisas do tipo. Bem, isso simplesmente não é verdade, infelizmente.

Suas escolhas parecem muito certeiras na hora de regravar uma canção eternizada por outro artista. Qual o seu critério na seleção dos covers?

Não sei se realmente pensei sobre isso de forma tão crítica ou lógica assim. No The Soul Sessions, eu não tive tanta participação, pois eu era uma criança. Ninguém estava me ouvindo. Mas no The Soul Sessions Vol. 2 (2012), eu me envolvi mais, quis escolher as músicas e produzir o álbum. Então, o que eu fazia todos os dias era tocar algumas das canções que eu gostava e sentir a vibração com a banda. As letras, claro, eu preciso ser capaz de me conectar com as letras. Se eu não concordo com as letras, como posso cantar a música? Isso é impossível.

Como a maternidade te afetou e como você concilia a vida pessoal com a carreira?

É extremamente difícil ter tudo o que você quer. Eu quero ser capaz de prover para minha família, ser uma mãe presente e ainda estar lá para meus fãs, fazer todas essas coisas. Cody [DaLuz, marido] deixou seu emprego. Ele é um pai em tempo integral. Quando o conheci, ele estava trabalhando no Iraque, sempre longe, protegendo pessoas que chegavam em Bagdá. Ele tinha um mês de folga, vinha me ver e depois ia novamente por três meses. Quando a pandemia chegou, ele não conseguiu voltar. Graças a Deus isso aconteceu quando ele estava comigo. Foi então que basicamente concebemos nosso bebê. Muita gente teve bebês na pandemia, né? (risos). Então discutimos, tipo: ‘você quer voltar? Eu não acho que você deveria porque se vamos ter um filho, é muito perigoso’. Tivemos que decidir quem ganha mais dinheiro e quem pode sair por menos tempo. Então fiquei tipo: ‘OK, eu posso fazer isso!’. Nos primeiros anos, levei meus filhos comigo. E só no último mês que os deixei [em casa]. Violet tem 3 anos e meio, mas agora ela tem aulas de futebol, dança e todas essas coisas. Honestamente, comecei a me sentir culpada por estar tirando dela a infância que ela merece. Então eu os deixei em casa e depois de cerca de uma semana, percebi o quanto eles estavam se divertindo. Decidi que a única maneira de ter o equilíbrio e poder dar aos meus filhos o que eles merecem é limitar o tempo dos shows. Então, eu não saio por mais de duas semanas. Amo estar na estrada, mas sinto que quando chegamos ao 12º dia, já é o suficiente. Eu preciso estar com meus bebês e eles precisam de mim. Eu sei que todos estão dizendo que homens e mulheres são iguais. Nós não somos iguais. Somos iguais, mas não somos os mesmos. Um bebê precisa da mamãe, é diferente. Meu marido faz um trabalho fantástico, mas ele não pode ser mãe.

A cantora Joss Stone se apresentando no palco do festival SWU, no interior de São Paulo, em 2010 Foto: Flávio Moraes / Fotoarena

Joss Stone – Ellipsis Tour

  • Quando: 24 de setembro de 2024
  • Local: Espaço Unimed (R. Tagipuru, 795 - Barra Funda, São Paulo)
  • Ingressos: ticketmaster.com.br
  • Preços: R$200,00 a R$960,00

Nem mesmo Joss Stone pode ter tudo o que quer. Uma das principais cantoras da atual cena musical, a britânica de 37 anos revela buscar o equilíbrio na hora de conciliar a maternidade com a carreira. Mãe recente de duas crianças, nascidas após o estouro da pandemia do covid-19, ela optou por limitar o número de shows em troca de passar mais tempo com os filhos.

Isso não impede, no entanto, Joscelyn Eve Stoker (seu nome de batismo) de continuar a nutrir o carinho de seus fãs ao redor do planeta. Nesse mês, ela volta ao Brasil para apresentar a turnê Ellipsis, com shows em São Paulo, Ribeirão Preto, Belo Horizonte e Rio de Janeiro (no Rock In Rio).

Exalando simpatia, a voz poderosa dos hits Right To Be Wrong e Super Duper Love conversou com o Estadão por videoconferência. Ela falou sobre a relação especial com o País o qual já visitou mais de uma dezena de vezes e relembrou algumas colaborações marcantes da carreira, como o dueto inesquecível com o astro James Brown (1933-2006) e a parceria com o guitarrista britânico Jeff Beck (1944-2023), cristalizada no álbum Emotion & Commotion (2010).

A artista atingiu cedo o estrelato, aos 16 anos, no disco de estreia The Soul Sessions (2003), coleção de covers dos anos 60 e 70 que lhe moldou um estilo similar à contemporânea Amy Winehouse (1983-2011) – ambas chegaram a ser classificadas como as ‘Novas Divas do Soul’.

Nesta entrevista, Joss reverenciou o legado da cantora vítima de overdose e lamentou não ter a conhecido tão bem a ponto de poder ajudá-la na luta contra as drogas.

Joss Stone se apresenta no palco do The Town, em 2023 Foto: Taba Benedicto/Estadão

Mais uma visita ao Brasil... Por que essa relação com o nosso País tem sido tão especial?

É que vocês são muito amáveis, não são? Eu não sei como aconteceu, mas por alguma razão existe tipo um pequeno caso de amor entre mim e o Brasil, eu simplesmente amo. Eu acho muito calorosa e acolhedora a forma como as pessoas são, se alinha com o meu tipo de bússola moral. Nós temos alguns brasileiros na nossa equipe, na verdade, e nós os amamos tanto porque eles são muito apaixonados pelo que fazem e são seres humanos gentis e conscientes. Percebo que quando estou no Brasil, as pessoas têm essa espécie de força e lealdade. É uma sensação de família que eu sinto.

E como estão suas expectativas para se apresentar no Rock in Rio?

Eu fiquei muito animada por ter sido convidada para tocar. Já estive tocando nos festivais Rock in Rio há um tempo, até mesmo em Lisboa. Espero que seja tão maravilhoso quanto foi nas outras vezes. Às vezes, quando você tem públicos enormes, apenas os primeiros milhares estão realmente envolvidos e o resto apenas conversa. Isso não acontece quando eu toco no Brasil. Todos participam e estão tão envolvidos quanto eu. E a banda fica totalmente animada. Nós tocamos no The Town no ano passado e a banda que eu levei é a banda que você ouve no álbum ao vivo 20 Years of Soul. Essa banda, metade deles não havia tocado para públicos tão grandes assim. Eles estavam tipo: ‘Que p*** é essa?’. Esse entusiasmo é pelo que vale a pena viver a vida. Espero que meus filhos possam caminhar por essa vida e experimentar tanta alegria em grupo.

Você tem algum tipo de conexão com a música brasileira, talvez com a bossa nova?

Na verdade, não. Quer dizer, eu ouvi um pouco quando estava aí. E definitivamente o Eric, meu cara da iluminação, sempre me mostra algumas coisas, o que é muito legal. Ele monta essas pequenas playlists. Como nós realmente não escutamos isso no rádio na Inglaterra ou na América, os músicos são sempre os que me trazem isso. Até porque o nível de habilidade musical para fazer esse tipo de música é bem alto, certo? E vocês levam isso muito a sério. É um estilo diferente, muito sensual e meio que ajuda você a se mover. Eu gosto. Nós deveríamos fazer um pouco no show. Eu ficaria tão nervosa de fazer isso, mas provavelmente deveria. O que você acha?

Eu acho ótimo, você deveria tentar alguma coisa clássica da bossa nova, o público iria adorar. Todo mundo sabe ‘Garota de Ipanema’, mas existem outras opções...

Sim, Garota de Ipanema deve ser tipo cantar Parabéns Pra Você...

Show da cantora Joss Stone no Espaço Unimed, em São Paulo, em 2022 Foto: Alex Silva/Estadão

Exatamente... Agora falando um pouco sobre suas grandes colaborações, como foi trabalhar com Jeff Beck?

O Jeff era simplesmente um cara adorável, tão doce e gentil. Ele jamais se comportava como a lenda que ele era. Eu não acho que ele realmente tinha consciência do quanto ele afetava as pessoas. Tipo, ele nunca foi arrogante. Era tipo: ‘ei, quer vir cantar essa música comigo?’. Quando fizemos as apresentações que fizemos ao longo dos anos, todas as vezes ele estava tão nervoso quanto eu. Ele não era do tipo: ‘ah, eu não me importo’. Ele era tipo: ‘oh, Deus, espero que a gente faça certo!’. Então, eu gostava disso porque eu me sentia confortada pelo fato de que eu era humana. Fizemos I Put a Spell on You ao vivo muitas vezes, e o vai e vem era como uma conversa real entre nós. Era diferente toda vez. Era uma união e nunca tive isso com mais ninguém. Tive grandes duetos com outras pessoas, mas especificamente com o Jeff havia uma humildade na maneira como ele era.

Sim, e outro dueto sobre o qual eu gostaria de falar é o com James Brown... Você ficou nervosa ao cantar com ele? Ele tinha fama de ser um cara complicado...

Ele tinha essa fama. Eu estava nervosa, principalmente porque era na TV e eu não tinha nenhuma preparação para isso. Foi tipo: ‘OK, Joss, você quer vir cantar com o James?’. Eu fiquei tipo: ‘OK... merda!’. Perguntei as músicas que iríamos fazer e eles disseram que começaríamos com It’s a Man’s Man’s Man’s World, que eu conhecia. Fiquei tipo: ‘graças a Deus meu pai tocava James Brown quando eu era criança!’. E eu sabia que tratava-se de James Brown, então se eu errasse, ele ficaria irritado. Mas ele foi muito legal comigo e nunca me passou más vibrações ou algo do tipo. Ele nunca me tratou da maneira pela qual era conhecido em tratar as pessoas. Ele sempre me tratou de maneira muito doce, com bondade e respeito. Conheci um lado do James que outras pessoas não conheceram, eu acho.

A cantora Joss Stone em show no Tom Brasil, na zona sul da capital paulista, em 2018 Foto: Ale Frata/Divulgação

Você e a Amy Winehouse foram consideradas as ‘Novas Divas do Soul’. Como se sentia quando comparada a ela? E como era a relação entre vocês?

Eu realmente não a conhecia muito bem, infelizmente. Queria ter conhecido. Só a encontrei casualmente umas duas ou três vezes. E todas as vezes, só pensava em como ela era adorável. Uma garota tão calorosa e engraçada. Mas eu não a conhecia profundamente para realmente comentar algo sobre ela. Se eu era comparada a ela, isso era um elogio enorme. Amy era mais jazz. As letras dela acertavam em cheio. Ela fez isso com humor, que é uma atitude muito britânica em relação à vida. Eu amava isso. Fico triste pelo fato de que a vida dela tenha sido interrompida. Não precisava ter acontecido assim. Quando tudo aconteceu, só desejei e orei para ter a conhecido mais para poder ter ajudado. O público sempre pensa que todas as celebridades se conhecem e saem juntas e coisas do tipo. Bem, isso simplesmente não é verdade, infelizmente.

Suas escolhas parecem muito certeiras na hora de regravar uma canção eternizada por outro artista. Qual o seu critério na seleção dos covers?

Não sei se realmente pensei sobre isso de forma tão crítica ou lógica assim. No The Soul Sessions, eu não tive tanta participação, pois eu era uma criança. Ninguém estava me ouvindo. Mas no The Soul Sessions Vol. 2 (2012), eu me envolvi mais, quis escolher as músicas e produzir o álbum. Então, o que eu fazia todos os dias era tocar algumas das canções que eu gostava e sentir a vibração com a banda. As letras, claro, eu preciso ser capaz de me conectar com as letras. Se eu não concordo com as letras, como posso cantar a música? Isso é impossível.

Como a maternidade te afetou e como você concilia a vida pessoal com a carreira?

É extremamente difícil ter tudo o que você quer. Eu quero ser capaz de prover para minha família, ser uma mãe presente e ainda estar lá para meus fãs, fazer todas essas coisas. Cody [DaLuz, marido] deixou seu emprego. Ele é um pai em tempo integral. Quando o conheci, ele estava trabalhando no Iraque, sempre longe, protegendo pessoas que chegavam em Bagdá. Ele tinha um mês de folga, vinha me ver e depois ia novamente por três meses. Quando a pandemia chegou, ele não conseguiu voltar. Graças a Deus isso aconteceu quando ele estava comigo. Foi então que basicamente concebemos nosso bebê. Muita gente teve bebês na pandemia, né? (risos). Então discutimos, tipo: ‘você quer voltar? Eu não acho que você deveria porque se vamos ter um filho, é muito perigoso’. Tivemos que decidir quem ganha mais dinheiro e quem pode sair por menos tempo. Então fiquei tipo: ‘OK, eu posso fazer isso!’. Nos primeiros anos, levei meus filhos comigo. E só no último mês que os deixei [em casa]. Violet tem 3 anos e meio, mas agora ela tem aulas de futebol, dança e todas essas coisas. Honestamente, comecei a me sentir culpada por estar tirando dela a infância que ela merece. Então eu os deixei em casa e depois de cerca de uma semana, percebi o quanto eles estavam se divertindo. Decidi que a única maneira de ter o equilíbrio e poder dar aos meus filhos o que eles merecem é limitar o tempo dos shows. Então, eu não saio por mais de duas semanas. Amo estar na estrada, mas sinto que quando chegamos ao 12º dia, já é o suficiente. Eu preciso estar com meus bebês e eles precisam de mim. Eu sei que todos estão dizendo que homens e mulheres são iguais. Nós não somos iguais. Somos iguais, mas não somos os mesmos. Um bebê precisa da mamãe, é diferente. Meu marido faz um trabalho fantástico, mas ele não pode ser mãe.

A cantora Joss Stone se apresentando no palco do festival SWU, no interior de São Paulo, em 2010 Foto: Flávio Moraes / Fotoarena

Joss Stone – Ellipsis Tour

  • Quando: 24 de setembro de 2024
  • Local: Espaço Unimed (R. Tagipuru, 795 - Barra Funda, São Paulo)
  • Ingressos: ticketmaster.com.br
  • Preços: R$200,00 a R$960,00

Nem mesmo Joss Stone pode ter tudo o que quer. Uma das principais cantoras da atual cena musical, a britânica de 37 anos revela buscar o equilíbrio na hora de conciliar a maternidade com a carreira. Mãe recente de duas crianças, nascidas após o estouro da pandemia do covid-19, ela optou por limitar o número de shows em troca de passar mais tempo com os filhos.

Isso não impede, no entanto, Joscelyn Eve Stoker (seu nome de batismo) de continuar a nutrir o carinho de seus fãs ao redor do planeta. Nesse mês, ela volta ao Brasil para apresentar a turnê Ellipsis, com shows em São Paulo, Ribeirão Preto, Belo Horizonte e Rio de Janeiro (no Rock In Rio).

Exalando simpatia, a voz poderosa dos hits Right To Be Wrong e Super Duper Love conversou com o Estadão por videoconferência. Ela falou sobre a relação especial com o País o qual já visitou mais de uma dezena de vezes e relembrou algumas colaborações marcantes da carreira, como o dueto inesquecível com o astro James Brown (1933-2006) e a parceria com o guitarrista britânico Jeff Beck (1944-2023), cristalizada no álbum Emotion & Commotion (2010).

A artista atingiu cedo o estrelato, aos 16 anos, no disco de estreia The Soul Sessions (2003), coleção de covers dos anos 60 e 70 que lhe moldou um estilo similar à contemporânea Amy Winehouse (1983-2011) – ambas chegaram a ser classificadas como as ‘Novas Divas do Soul’.

Nesta entrevista, Joss reverenciou o legado da cantora vítima de overdose e lamentou não ter a conhecido tão bem a ponto de poder ajudá-la na luta contra as drogas.

Joss Stone se apresenta no palco do The Town, em 2023 Foto: Taba Benedicto/Estadão

Mais uma visita ao Brasil... Por que essa relação com o nosso País tem sido tão especial?

É que vocês são muito amáveis, não são? Eu não sei como aconteceu, mas por alguma razão existe tipo um pequeno caso de amor entre mim e o Brasil, eu simplesmente amo. Eu acho muito calorosa e acolhedora a forma como as pessoas são, se alinha com o meu tipo de bússola moral. Nós temos alguns brasileiros na nossa equipe, na verdade, e nós os amamos tanto porque eles são muito apaixonados pelo que fazem e são seres humanos gentis e conscientes. Percebo que quando estou no Brasil, as pessoas têm essa espécie de força e lealdade. É uma sensação de família que eu sinto.

E como estão suas expectativas para se apresentar no Rock in Rio?

Eu fiquei muito animada por ter sido convidada para tocar. Já estive tocando nos festivais Rock in Rio há um tempo, até mesmo em Lisboa. Espero que seja tão maravilhoso quanto foi nas outras vezes. Às vezes, quando você tem públicos enormes, apenas os primeiros milhares estão realmente envolvidos e o resto apenas conversa. Isso não acontece quando eu toco no Brasil. Todos participam e estão tão envolvidos quanto eu. E a banda fica totalmente animada. Nós tocamos no The Town no ano passado e a banda que eu levei é a banda que você ouve no álbum ao vivo 20 Years of Soul. Essa banda, metade deles não havia tocado para públicos tão grandes assim. Eles estavam tipo: ‘Que p*** é essa?’. Esse entusiasmo é pelo que vale a pena viver a vida. Espero que meus filhos possam caminhar por essa vida e experimentar tanta alegria em grupo.

Você tem algum tipo de conexão com a música brasileira, talvez com a bossa nova?

Na verdade, não. Quer dizer, eu ouvi um pouco quando estava aí. E definitivamente o Eric, meu cara da iluminação, sempre me mostra algumas coisas, o que é muito legal. Ele monta essas pequenas playlists. Como nós realmente não escutamos isso no rádio na Inglaterra ou na América, os músicos são sempre os que me trazem isso. Até porque o nível de habilidade musical para fazer esse tipo de música é bem alto, certo? E vocês levam isso muito a sério. É um estilo diferente, muito sensual e meio que ajuda você a se mover. Eu gosto. Nós deveríamos fazer um pouco no show. Eu ficaria tão nervosa de fazer isso, mas provavelmente deveria. O que você acha?

Eu acho ótimo, você deveria tentar alguma coisa clássica da bossa nova, o público iria adorar. Todo mundo sabe ‘Garota de Ipanema’, mas existem outras opções...

Sim, Garota de Ipanema deve ser tipo cantar Parabéns Pra Você...

Show da cantora Joss Stone no Espaço Unimed, em São Paulo, em 2022 Foto: Alex Silva/Estadão

Exatamente... Agora falando um pouco sobre suas grandes colaborações, como foi trabalhar com Jeff Beck?

O Jeff era simplesmente um cara adorável, tão doce e gentil. Ele jamais se comportava como a lenda que ele era. Eu não acho que ele realmente tinha consciência do quanto ele afetava as pessoas. Tipo, ele nunca foi arrogante. Era tipo: ‘ei, quer vir cantar essa música comigo?’. Quando fizemos as apresentações que fizemos ao longo dos anos, todas as vezes ele estava tão nervoso quanto eu. Ele não era do tipo: ‘ah, eu não me importo’. Ele era tipo: ‘oh, Deus, espero que a gente faça certo!’. Então, eu gostava disso porque eu me sentia confortada pelo fato de que eu era humana. Fizemos I Put a Spell on You ao vivo muitas vezes, e o vai e vem era como uma conversa real entre nós. Era diferente toda vez. Era uma união e nunca tive isso com mais ninguém. Tive grandes duetos com outras pessoas, mas especificamente com o Jeff havia uma humildade na maneira como ele era.

Sim, e outro dueto sobre o qual eu gostaria de falar é o com James Brown... Você ficou nervosa ao cantar com ele? Ele tinha fama de ser um cara complicado...

Ele tinha essa fama. Eu estava nervosa, principalmente porque era na TV e eu não tinha nenhuma preparação para isso. Foi tipo: ‘OK, Joss, você quer vir cantar com o James?’. Eu fiquei tipo: ‘OK... merda!’. Perguntei as músicas que iríamos fazer e eles disseram que começaríamos com It’s a Man’s Man’s Man’s World, que eu conhecia. Fiquei tipo: ‘graças a Deus meu pai tocava James Brown quando eu era criança!’. E eu sabia que tratava-se de James Brown, então se eu errasse, ele ficaria irritado. Mas ele foi muito legal comigo e nunca me passou más vibrações ou algo do tipo. Ele nunca me tratou da maneira pela qual era conhecido em tratar as pessoas. Ele sempre me tratou de maneira muito doce, com bondade e respeito. Conheci um lado do James que outras pessoas não conheceram, eu acho.

A cantora Joss Stone em show no Tom Brasil, na zona sul da capital paulista, em 2018 Foto: Ale Frata/Divulgação

Você e a Amy Winehouse foram consideradas as ‘Novas Divas do Soul’. Como se sentia quando comparada a ela? E como era a relação entre vocês?

Eu realmente não a conhecia muito bem, infelizmente. Queria ter conhecido. Só a encontrei casualmente umas duas ou três vezes. E todas as vezes, só pensava em como ela era adorável. Uma garota tão calorosa e engraçada. Mas eu não a conhecia profundamente para realmente comentar algo sobre ela. Se eu era comparada a ela, isso era um elogio enorme. Amy era mais jazz. As letras dela acertavam em cheio. Ela fez isso com humor, que é uma atitude muito britânica em relação à vida. Eu amava isso. Fico triste pelo fato de que a vida dela tenha sido interrompida. Não precisava ter acontecido assim. Quando tudo aconteceu, só desejei e orei para ter a conhecido mais para poder ter ajudado. O público sempre pensa que todas as celebridades se conhecem e saem juntas e coisas do tipo. Bem, isso simplesmente não é verdade, infelizmente.

Suas escolhas parecem muito certeiras na hora de regravar uma canção eternizada por outro artista. Qual o seu critério na seleção dos covers?

Não sei se realmente pensei sobre isso de forma tão crítica ou lógica assim. No The Soul Sessions, eu não tive tanta participação, pois eu era uma criança. Ninguém estava me ouvindo. Mas no The Soul Sessions Vol. 2 (2012), eu me envolvi mais, quis escolher as músicas e produzir o álbum. Então, o que eu fazia todos os dias era tocar algumas das canções que eu gostava e sentir a vibração com a banda. As letras, claro, eu preciso ser capaz de me conectar com as letras. Se eu não concordo com as letras, como posso cantar a música? Isso é impossível.

Como a maternidade te afetou e como você concilia a vida pessoal com a carreira?

É extremamente difícil ter tudo o que você quer. Eu quero ser capaz de prover para minha família, ser uma mãe presente e ainda estar lá para meus fãs, fazer todas essas coisas. Cody [DaLuz, marido] deixou seu emprego. Ele é um pai em tempo integral. Quando o conheci, ele estava trabalhando no Iraque, sempre longe, protegendo pessoas que chegavam em Bagdá. Ele tinha um mês de folga, vinha me ver e depois ia novamente por três meses. Quando a pandemia chegou, ele não conseguiu voltar. Graças a Deus isso aconteceu quando ele estava comigo. Foi então que basicamente concebemos nosso bebê. Muita gente teve bebês na pandemia, né? (risos). Então discutimos, tipo: ‘você quer voltar? Eu não acho que você deveria porque se vamos ter um filho, é muito perigoso’. Tivemos que decidir quem ganha mais dinheiro e quem pode sair por menos tempo. Então fiquei tipo: ‘OK, eu posso fazer isso!’. Nos primeiros anos, levei meus filhos comigo. E só no último mês que os deixei [em casa]. Violet tem 3 anos e meio, mas agora ela tem aulas de futebol, dança e todas essas coisas. Honestamente, comecei a me sentir culpada por estar tirando dela a infância que ela merece. Então eu os deixei em casa e depois de cerca de uma semana, percebi o quanto eles estavam se divertindo. Decidi que a única maneira de ter o equilíbrio e poder dar aos meus filhos o que eles merecem é limitar o tempo dos shows. Então, eu não saio por mais de duas semanas. Amo estar na estrada, mas sinto que quando chegamos ao 12º dia, já é o suficiente. Eu preciso estar com meus bebês e eles precisam de mim. Eu sei que todos estão dizendo que homens e mulheres são iguais. Nós não somos iguais. Somos iguais, mas não somos os mesmos. Um bebê precisa da mamãe, é diferente. Meu marido faz um trabalho fantástico, mas ele não pode ser mãe.

A cantora Joss Stone se apresentando no palco do festival SWU, no interior de São Paulo, em 2010 Foto: Flávio Moraes / Fotoarena

Joss Stone – Ellipsis Tour

  • Quando: 24 de setembro de 2024
  • Local: Espaço Unimed (R. Tagipuru, 795 - Barra Funda, São Paulo)
  • Ingressos: ticketmaster.com.br
  • Preços: R$200,00 a R$960,00
Entrevista por Gabriel Zorzetto

Repórter de Cultura do Estadão

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