Letras afiadas e vigor político marcam trabalho de Alzira E e a banda Bixiga 70


Disco independente foi gravado em apenas quatro dias

Por Lauro Lisboa Garcia

“O novo sempre vem”, como já cravou Belchior (1946-2017) no cancioneiro nacional, provocando sua geração nos anos 1970. Quatro décadas depois, o CORTE entra em cena em São Paulo para dilacerar uma vez mais as convenções. Tem-se perguntado por aí que som é esse. É rock? Sim. E bem pesado, com eventuais distorções. Tem algo que remete à liberdade do jazz de linhagem vanguardista também. É experimental? Há quem veja mais por esse lado. É de vigor político e teor existencial também, porque as letras são tão afiadas quanto os instrumentos.

Como figura central surge Alzira E (de Espíndola), compositora e cantora de origem sul-mato-grossense, artista das mais arrojadas, associada à chamada vanguarda paulista desde que uniu forças criativas com Itamar Assumpção e, consequentemente, com Alice Ruiz, a partir da década de 1980. Ao lado dela estão Marcelo Dworecki (baixista e guitarrista), Daniel Gralha (trompetista) e Cuca Ferreira (saxofonista e flautista), um trio de músicos potentes integrantes da superbanda Bixiga 70, e o baterista Nandinho Thomaz, antigo parceiro de Dworecki. Vamos, no entanto, deixar de lado as referências sonoras desse didático cartão de visitas acima, porque o projeto do CORTE difere de tudo o que se conhece desses artistas. E de outros também.

Liberdade. Alzira E com a banda Bixiga 70: vanguarda Foto: Marina Thom
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Engana-se quem pensa tratar-se de mais um álbum de Alzira, autora de todas as canções, sozinha ou em parceria com arrudA (ele grafa o nome dessa forma) e Tiganá Santana. A integração da banda é evidente, de modo que ela coloca a voz no plano instrumental, rascante e em tom roqueiro, devorando palavras num misto de tensão e gozo atenuante. Alzira também toca baixo pela primeira vez, o que mantém em brasa sua liga com Itamar, uma vez que ele compunha as canções a partir desse instrumento e deu várias pistas a ela.

O disco independente, recém-lançado pela YbMusic (por enquanto só nas plataformas digitais), e gravado em apenas quatro dias, é consequência eloquente da série de shows que o grupo vem fazendo desde 2015. O hoje fechado Puxadinho da Praça era um local apropriado para expandir ideias de arranjos e interpretações, que foram se desenvolvendo a cada apresentação. E assim tem sido. Neste domingo, 11, eles fazem o show de lançamento na Casa do Mancha, outro ambiente íntimo para sons nada intimistas. Desta vez, o baterista Thomas Harres toca no lugar de Nandinho, e arrudA faz participação especial.

“O encontro surgiu da vontade de fazer um tipo de som que não estava achando onde tocar”, diz Marcelo Dworecki, que deu o primeiro passo para a criação do projeto. “O que faço no Bixiga 70 é música dançante, e eu estava tocando com Alzira no show do disco O Que Vim Fazer Aqui, que também produzi junto com Cris Scabello. Fui ficando encantado com a possibilidade de fazer mais som com ela. Já vinha trocando ideia com Cuca e Gralha sobre essa sonoridade mais derretida. Aí, a gente se juntou e saiu rasgando.” Cuca diz que esse som “desconstruído, barulhento, free, crazy, derretido” que ele e Gralha vinham experimentando “só deu liga ao aplicar em canções lindas” como essas. “Alzira foi a grande faísca para a gente fazer uma coisa diferente.”

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Uma das curiosidades dos sopros na formação da banda é que, diferentemente do que o trompetista e o saxofonista fazem no Bixiga, aqui eles parecem tocar em desafio mútuo, criando texturas e interferindo com ruídos, além de solos cadenciados e camadas que às vezes se fundem e criam, contraditoriamente, uma teia etérea, de modo que você sai do show martelando temas na cabeça, como é o caso de Cheguei, a canção de mais fácil assimilação, em ritmo meio abolerado, mas que a certa altura dá uma entortada.

O poeta e letrista arrudA é um dos fiéis parceiros de Alzira, que desta vez surpreende também por se associar ao baiano Tiganá Santana, autor de quatro letras do álbum. “A maneira de Tiganá escrever é muito instigante, me encantou demais, e o arrudA tem nesse disco as coisas mais psicodélicas que já escreveu”, diz Alzira. “Quando conheci Tiganá, parecia que éramos almas irmãs, ficamos íntimos sem conversar muito. Foi inesperado para mim ele começar a me escrever coisas. Ele fez um papel que eu só tinha sentido quando Itamar estava vivo, que era vir à minha casa, a gente conversar e no fim da tarde ele me entregar letras sobre os assuntos de que eu falava.”

Em Boca Talhada, a propósito, ela canta pela escrita dele: “Mulher não é nunca menos / É o sexo das risadas”. A canção que encerra o disco (Dízima) também tem versos dele. É a música mais sonoramente suave, porém a letra é contundente: “O último prato é o homem/ Quando acabará a dor que a morte não come?”. De arrudA (Em Nome de Quem) vem outra questão de ordem existencial diante de dogmas religiosos: “Em nome de quem você vai se perdoar?”.

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A concepção do projeto tem a palavra como potência motriz. As canções foram compostas desde o início dos anos 2000 e aguardavam o momento certo para se realizar. “Essas letras não cabiam em nenhum tipo de som que eu vinha fazendo, porque elas não são românticas, não falam do outro. Apesar de que elas são simples, dá para você entender de várias formas como é o mundo hoje”, diz Alzira. Algumas letras das 10 canções que compõem o álbum - “nihilistas, apocalípticas, que falam de não lugares” que Dworeck estava procurando para golpear com esse tipo de som - são quase metalinguísticas, involuntariamente, como se fossem tentativas de descrever o som que as penetra, mas que ainda assim não as define.

O álbum começa com Nada Disso (letra de arrudA), com uma série de negações aliviadas pelos versos que dizem “que num instante tudo expande, tudo se desprende”. “Essa é a canção que melhor representa o projeto, por isso a colocamos na abertura do disco”, diz Dworecki. Cheguei (letra de Tiganá), que abria o show, parece falar da própria Alzira, pela inquietude de sua personalidade artística: “Cheguei / E a chegada nem é lugar / Nem é morada”.

O Que Move (só de Alzira) é outra canção que diz muito sobre esse processo todo de desenvolvimento e atuação de quem vive da música como forma de arte, não de entretimento, sem que uma impossibilite a outra. Em outra canção ela diz: “Não me invente outra, sou tantas e ainda assim tão pouca...”. É grande façanha viver de provocar a si mesma. A lista de melhores discos de 2017 já pode começar por esse.CORTE Casa do Mancha Rua Filipe de Alcaçova, s/nº, Vila Madalena. Tel: 3796-7981. Dom. (11/6), às 19h. R$ 25

“O novo sempre vem”, como já cravou Belchior (1946-2017) no cancioneiro nacional, provocando sua geração nos anos 1970. Quatro décadas depois, o CORTE entra em cena em São Paulo para dilacerar uma vez mais as convenções. Tem-se perguntado por aí que som é esse. É rock? Sim. E bem pesado, com eventuais distorções. Tem algo que remete à liberdade do jazz de linhagem vanguardista também. É experimental? Há quem veja mais por esse lado. É de vigor político e teor existencial também, porque as letras são tão afiadas quanto os instrumentos.

Como figura central surge Alzira E (de Espíndola), compositora e cantora de origem sul-mato-grossense, artista das mais arrojadas, associada à chamada vanguarda paulista desde que uniu forças criativas com Itamar Assumpção e, consequentemente, com Alice Ruiz, a partir da década de 1980. Ao lado dela estão Marcelo Dworecki (baixista e guitarrista), Daniel Gralha (trompetista) e Cuca Ferreira (saxofonista e flautista), um trio de músicos potentes integrantes da superbanda Bixiga 70, e o baterista Nandinho Thomaz, antigo parceiro de Dworecki. Vamos, no entanto, deixar de lado as referências sonoras desse didático cartão de visitas acima, porque o projeto do CORTE difere de tudo o que se conhece desses artistas. E de outros também.

Liberdade. Alzira E com a banda Bixiga 70: vanguarda Foto: Marina Thom

Engana-se quem pensa tratar-se de mais um álbum de Alzira, autora de todas as canções, sozinha ou em parceria com arrudA (ele grafa o nome dessa forma) e Tiganá Santana. A integração da banda é evidente, de modo que ela coloca a voz no plano instrumental, rascante e em tom roqueiro, devorando palavras num misto de tensão e gozo atenuante. Alzira também toca baixo pela primeira vez, o que mantém em brasa sua liga com Itamar, uma vez que ele compunha as canções a partir desse instrumento e deu várias pistas a ela.

O disco independente, recém-lançado pela YbMusic (por enquanto só nas plataformas digitais), e gravado em apenas quatro dias, é consequência eloquente da série de shows que o grupo vem fazendo desde 2015. O hoje fechado Puxadinho da Praça era um local apropriado para expandir ideias de arranjos e interpretações, que foram se desenvolvendo a cada apresentação. E assim tem sido. Neste domingo, 11, eles fazem o show de lançamento na Casa do Mancha, outro ambiente íntimo para sons nada intimistas. Desta vez, o baterista Thomas Harres toca no lugar de Nandinho, e arrudA faz participação especial.

“O encontro surgiu da vontade de fazer um tipo de som que não estava achando onde tocar”, diz Marcelo Dworecki, que deu o primeiro passo para a criação do projeto. “O que faço no Bixiga 70 é música dançante, e eu estava tocando com Alzira no show do disco O Que Vim Fazer Aqui, que também produzi junto com Cris Scabello. Fui ficando encantado com a possibilidade de fazer mais som com ela. Já vinha trocando ideia com Cuca e Gralha sobre essa sonoridade mais derretida. Aí, a gente se juntou e saiu rasgando.” Cuca diz que esse som “desconstruído, barulhento, free, crazy, derretido” que ele e Gralha vinham experimentando “só deu liga ao aplicar em canções lindas” como essas. “Alzira foi a grande faísca para a gente fazer uma coisa diferente.”

Uma das curiosidades dos sopros na formação da banda é que, diferentemente do que o trompetista e o saxofonista fazem no Bixiga, aqui eles parecem tocar em desafio mútuo, criando texturas e interferindo com ruídos, além de solos cadenciados e camadas que às vezes se fundem e criam, contraditoriamente, uma teia etérea, de modo que você sai do show martelando temas na cabeça, como é o caso de Cheguei, a canção de mais fácil assimilação, em ritmo meio abolerado, mas que a certa altura dá uma entortada.

O poeta e letrista arrudA é um dos fiéis parceiros de Alzira, que desta vez surpreende também por se associar ao baiano Tiganá Santana, autor de quatro letras do álbum. “A maneira de Tiganá escrever é muito instigante, me encantou demais, e o arrudA tem nesse disco as coisas mais psicodélicas que já escreveu”, diz Alzira. “Quando conheci Tiganá, parecia que éramos almas irmãs, ficamos íntimos sem conversar muito. Foi inesperado para mim ele começar a me escrever coisas. Ele fez um papel que eu só tinha sentido quando Itamar estava vivo, que era vir à minha casa, a gente conversar e no fim da tarde ele me entregar letras sobre os assuntos de que eu falava.”

Em Boca Talhada, a propósito, ela canta pela escrita dele: “Mulher não é nunca menos / É o sexo das risadas”. A canção que encerra o disco (Dízima) também tem versos dele. É a música mais sonoramente suave, porém a letra é contundente: “O último prato é o homem/ Quando acabará a dor que a morte não come?”. De arrudA (Em Nome de Quem) vem outra questão de ordem existencial diante de dogmas religiosos: “Em nome de quem você vai se perdoar?”.

A concepção do projeto tem a palavra como potência motriz. As canções foram compostas desde o início dos anos 2000 e aguardavam o momento certo para se realizar. “Essas letras não cabiam em nenhum tipo de som que eu vinha fazendo, porque elas não são românticas, não falam do outro. Apesar de que elas são simples, dá para você entender de várias formas como é o mundo hoje”, diz Alzira. Algumas letras das 10 canções que compõem o álbum - “nihilistas, apocalípticas, que falam de não lugares” que Dworeck estava procurando para golpear com esse tipo de som - são quase metalinguísticas, involuntariamente, como se fossem tentativas de descrever o som que as penetra, mas que ainda assim não as define.

O álbum começa com Nada Disso (letra de arrudA), com uma série de negações aliviadas pelos versos que dizem “que num instante tudo expande, tudo se desprende”. “Essa é a canção que melhor representa o projeto, por isso a colocamos na abertura do disco”, diz Dworecki. Cheguei (letra de Tiganá), que abria o show, parece falar da própria Alzira, pela inquietude de sua personalidade artística: “Cheguei / E a chegada nem é lugar / Nem é morada”.

O Que Move (só de Alzira) é outra canção que diz muito sobre esse processo todo de desenvolvimento e atuação de quem vive da música como forma de arte, não de entretimento, sem que uma impossibilite a outra. Em outra canção ela diz: “Não me invente outra, sou tantas e ainda assim tão pouca...”. É grande façanha viver de provocar a si mesma. A lista de melhores discos de 2017 já pode começar por esse.CORTE Casa do Mancha Rua Filipe de Alcaçova, s/nº, Vila Madalena. Tel: 3796-7981. Dom. (11/6), às 19h. R$ 25

“O novo sempre vem”, como já cravou Belchior (1946-2017) no cancioneiro nacional, provocando sua geração nos anos 1970. Quatro décadas depois, o CORTE entra em cena em São Paulo para dilacerar uma vez mais as convenções. Tem-se perguntado por aí que som é esse. É rock? Sim. E bem pesado, com eventuais distorções. Tem algo que remete à liberdade do jazz de linhagem vanguardista também. É experimental? Há quem veja mais por esse lado. É de vigor político e teor existencial também, porque as letras são tão afiadas quanto os instrumentos.

Como figura central surge Alzira E (de Espíndola), compositora e cantora de origem sul-mato-grossense, artista das mais arrojadas, associada à chamada vanguarda paulista desde que uniu forças criativas com Itamar Assumpção e, consequentemente, com Alice Ruiz, a partir da década de 1980. Ao lado dela estão Marcelo Dworecki (baixista e guitarrista), Daniel Gralha (trompetista) e Cuca Ferreira (saxofonista e flautista), um trio de músicos potentes integrantes da superbanda Bixiga 70, e o baterista Nandinho Thomaz, antigo parceiro de Dworecki. Vamos, no entanto, deixar de lado as referências sonoras desse didático cartão de visitas acima, porque o projeto do CORTE difere de tudo o que se conhece desses artistas. E de outros também.

Liberdade. Alzira E com a banda Bixiga 70: vanguarda Foto: Marina Thom

Engana-se quem pensa tratar-se de mais um álbum de Alzira, autora de todas as canções, sozinha ou em parceria com arrudA (ele grafa o nome dessa forma) e Tiganá Santana. A integração da banda é evidente, de modo que ela coloca a voz no plano instrumental, rascante e em tom roqueiro, devorando palavras num misto de tensão e gozo atenuante. Alzira também toca baixo pela primeira vez, o que mantém em brasa sua liga com Itamar, uma vez que ele compunha as canções a partir desse instrumento e deu várias pistas a ela.

O disco independente, recém-lançado pela YbMusic (por enquanto só nas plataformas digitais), e gravado em apenas quatro dias, é consequência eloquente da série de shows que o grupo vem fazendo desde 2015. O hoje fechado Puxadinho da Praça era um local apropriado para expandir ideias de arranjos e interpretações, que foram se desenvolvendo a cada apresentação. E assim tem sido. Neste domingo, 11, eles fazem o show de lançamento na Casa do Mancha, outro ambiente íntimo para sons nada intimistas. Desta vez, o baterista Thomas Harres toca no lugar de Nandinho, e arrudA faz participação especial.

“O encontro surgiu da vontade de fazer um tipo de som que não estava achando onde tocar”, diz Marcelo Dworecki, que deu o primeiro passo para a criação do projeto. “O que faço no Bixiga 70 é música dançante, e eu estava tocando com Alzira no show do disco O Que Vim Fazer Aqui, que também produzi junto com Cris Scabello. Fui ficando encantado com a possibilidade de fazer mais som com ela. Já vinha trocando ideia com Cuca e Gralha sobre essa sonoridade mais derretida. Aí, a gente se juntou e saiu rasgando.” Cuca diz que esse som “desconstruído, barulhento, free, crazy, derretido” que ele e Gralha vinham experimentando “só deu liga ao aplicar em canções lindas” como essas. “Alzira foi a grande faísca para a gente fazer uma coisa diferente.”

Uma das curiosidades dos sopros na formação da banda é que, diferentemente do que o trompetista e o saxofonista fazem no Bixiga, aqui eles parecem tocar em desafio mútuo, criando texturas e interferindo com ruídos, além de solos cadenciados e camadas que às vezes se fundem e criam, contraditoriamente, uma teia etérea, de modo que você sai do show martelando temas na cabeça, como é o caso de Cheguei, a canção de mais fácil assimilação, em ritmo meio abolerado, mas que a certa altura dá uma entortada.

O poeta e letrista arrudA é um dos fiéis parceiros de Alzira, que desta vez surpreende também por se associar ao baiano Tiganá Santana, autor de quatro letras do álbum. “A maneira de Tiganá escrever é muito instigante, me encantou demais, e o arrudA tem nesse disco as coisas mais psicodélicas que já escreveu”, diz Alzira. “Quando conheci Tiganá, parecia que éramos almas irmãs, ficamos íntimos sem conversar muito. Foi inesperado para mim ele começar a me escrever coisas. Ele fez um papel que eu só tinha sentido quando Itamar estava vivo, que era vir à minha casa, a gente conversar e no fim da tarde ele me entregar letras sobre os assuntos de que eu falava.”

Em Boca Talhada, a propósito, ela canta pela escrita dele: “Mulher não é nunca menos / É o sexo das risadas”. A canção que encerra o disco (Dízima) também tem versos dele. É a música mais sonoramente suave, porém a letra é contundente: “O último prato é o homem/ Quando acabará a dor que a morte não come?”. De arrudA (Em Nome de Quem) vem outra questão de ordem existencial diante de dogmas religiosos: “Em nome de quem você vai se perdoar?”.

A concepção do projeto tem a palavra como potência motriz. As canções foram compostas desde o início dos anos 2000 e aguardavam o momento certo para se realizar. “Essas letras não cabiam em nenhum tipo de som que eu vinha fazendo, porque elas não são românticas, não falam do outro. Apesar de que elas são simples, dá para você entender de várias formas como é o mundo hoje”, diz Alzira. Algumas letras das 10 canções que compõem o álbum - “nihilistas, apocalípticas, que falam de não lugares” que Dworeck estava procurando para golpear com esse tipo de som - são quase metalinguísticas, involuntariamente, como se fossem tentativas de descrever o som que as penetra, mas que ainda assim não as define.

O álbum começa com Nada Disso (letra de arrudA), com uma série de negações aliviadas pelos versos que dizem “que num instante tudo expande, tudo se desprende”. “Essa é a canção que melhor representa o projeto, por isso a colocamos na abertura do disco”, diz Dworecki. Cheguei (letra de Tiganá), que abria o show, parece falar da própria Alzira, pela inquietude de sua personalidade artística: “Cheguei / E a chegada nem é lugar / Nem é morada”.

O Que Move (só de Alzira) é outra canção que diz muito sobre esse processo todo de desenvolvimento e atuação de quem vive da música como forma de arte, não de entretimento, sem que uma impossibilite a outra. Em outra canção ela diz: “Não me invente outra, sou tantas e ainda assim tão pouca...”. É grande façanha viver de provocar a si mesma. A lista de melhores discos de 2017 já pode começar por esse.CORTE Casa do Mancha Rua Filipe de Alcaçova, s/nº, Vila Madalena. Tel: 3796-7981. Dom. (11/6), às 19h. R$ 25

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