Livro mapeia a pluralidade sonora paulistana


‘O Som de São Paulo’ mergulha na história e nos lugares onde nasceram a Tropicália, Os Mutantes, os Secos & Molhados e o punk paulistano

Por Danilo Casaletti
Atualização:

Os irmãos Baptistas deram seus primeiros riffs psicodélicos no bairro da Pompeia. No Centro, acordes dissonantes botaram as guitarras definitivamente na música popular brasileira. No Bixiga, reduto do samba de Adoniran Barbosa, um grupo criou algo totalmente novo. Em uma praça de Pinheiros, artistas vanguardistas se apresentavam para um público ávido por novidades. Na Vila Carolina, na zona norte, o punk da periferia ganhou força.

São Paulo abrigou e abraçou diversos gêneros musicais. É como se tivesse várias Copacabanas (bairro carioca onde nasceu a bossa nova) espalhadas pela cidade, reunindo pessoas em torno de algo novo. Essa pluralidade sonora da capital está retratada no livro O Som de São Paulo (Editora Terreno Estranho), da jornalista Fabiana Caso.

Capa do disco 'Tropicália' pelo traço de Talita Hoffmann, ilustração do livro 'O Som de São Paulo' Foto: Talita Hoffmann
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O livro, ilustrado pelos traços de Talita Hoffmann, aborda o período de 1967 a 1985, com início no Tropicalismo, movimento que juntou a poesia concretista de Augusto de Campos, os baianos Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa e os paulistanos Sérgio Dias, Arnaldo Baptista e Rita Lee – Os Mutantes. Mais São Paulo impossível.

“Tudo que veio depois do Tropicalismo, até mesmo o punk rock, é devido à liberdade estética que esse movimento apresentou. O ano de 1967 foi crucial, não só para a música brasileira, mas também para a mundial”, explica Fabiana, paulistana, moradora do Edifício Copan, um dos símbolos da cidade.

Nesse capítulo sobre o Tropicalismo e a psicodelia, surgem ainda outros personagens – e o livro é repleto deles – como o cantor Ronnie Von, o guitarrista Lanny Gordin, músico fundamental para álbuns de Caetano e Gal, e o maestro Rogério Duprat, dono dos arranjos que formataram o álbum Tropicália ou Panis et Circencis, de 1968, além de um álbum próprio, A Banda Tropicalista de Duprat, do mesmo ano, adorado pelos entendedores de música, porém menos famoso para o grande público do que o primeiro.

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Influências na música

Fabiana também mostra como o movimento influenciou artistas ao longo dos anos. Entre os brasileiros, ela cita a banda O Terno e o cantor e compositor Tatá Aeroplano como seguidores do psicodelismo. Dos estrangeiros, ela lembra que Kurt Cobain e Sean Lennon declararam amor por Os Mutantes.

No capítulo que batizou de Glam Tropical, Fabiana lembra do grupo Secos & Molhados, que tinha Ney Matogrosso, Gerson Conrad e João Ricardo na formação mais clássica da banda. Em bate-papo com Conrad, a autora destacou a originalidade dos rapazes que mexeram com a música e a imaginação do público ao fazer um rock misturado com ritmos regionais.

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“O fato de a gente trabalhar com criação nos tirava um pouco desse chão explorado por 99% dos músicos daquela época, que estavam muito mais preocupados em fazer cover”, disse Conrad a Fabiana.

O Lira Paulistana, teatro que abrigou nomes da vanguarda como Itamar Assumpção, Tetê Espíndola e Cida Moreira, e no qual Arrigo Barnabé também estava inserido, ganha destaque no livro, assim como o punk rock de bandas pioneiras como Inocentes, Cólera e AI-5.

O Som de São Paulo traz uma Cartografia Sonora, a qual destaca locais nos quais essas cenas musicais ainda resistem, como lojas de vinis e teatros, a exemplo do Sesc Pompeia, local sempre aberto a apresentações de novos artistas.

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Pelo mundo

O formato do livro, conta Fabiana, nasceu em 2013, quando ela morava em Berlim, na Alemanha. A jornalista queria contar cenas da música brasileira de maneira leve e, ao mesmo tempo, homenagear os fanzines. A ideia era publicar algo que atendesse não apenas ao público nacional, mas também ao estrangeiro – sempre muito curioso e atento à música brasileira. Por isso, o livro é bilíngue – português e inglês. Está à venda no Reino Unido e, em breve, desembarca em Portugal.

Fabiana Caso, autora de 'O Som de São Paulo' Foto: Alberto Oliveira
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“Há uma série de biografias, todas muito boas, sobre gêneros específicos, como a bossa nova, ou artistas. Resolvi, então, fazer um almanaque – e que ele tivesse essa ideia de tour musical. As canções são as melhores fontes para conhecer uma cidade”, diz Fabiana. DJ e curadora de playlists para agências internacionais, Fabiana destaca o que o público estrangeiro procura sobre música brasileira.

“Os Mutantes, sem dúvida, ainda despertam interesse. Os franceses, que têm uma ligação bem forte com a música brasileira, acabam chegando ao Rogério Duprat – e ficam loucos com os arranjos dele, aquela fusão de música experimental erudita com o rock psicodélico. Os Secos & Molhados, tanto musicalmente quanto esteticamente, causam surpresa. Tudo neles ainda é muito contemporâneo.”

O Som de São Paulo Fabiana Caso Editora Terreno Estranho 192 págs. R$ 84,90

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Para ouvir São Paulo

  • Hey Boy, com os Mutantes

  •  Augusta, Angélica e Consolação, música de Tom Zé

  • Pro Bem da Cidade, canção interpretada pelo Grupo Rumo

  • Persigo São Paulo, música de Itamar Assumpção

  • Cidade Industrial, na interpretação do grupo Agentss

  • Step Psicodélico, canção de Tatá Aeroplano

  • Vale do Anhangabaú, música do grupo Jonnata Doll & Os Garotos Solvente

  • O Cinza, música do grupo O Terno

Os irmãos Baptistas deram seus primeiros riffs psicodélicos no bairro da Pompeia. No Centro, acordes dissonantes botaram as guitarras definitivamente na música popular brasileira. No Bixiga, reduto do samba de Adoniran Barbosa, um grupo criou algo totalmente novo. Em uma praça de Pinheiros, artistas vanguardistas se apresentavam para um público ávido por novidades. Na Vila Carolina, na zona norte, o punk da periferia ganhou força.

São Paulo abrigou e abraçou diversos gêneros musicais. É como se tivesse várias Copacabanas (bairro carioca onde nasceu a bossa nova) espalhadas pela cidade, reunindo pessoas em torno de algo novo. Essa pluralidade sonora da capital está retratada no livro O Som de São Paulo (Editora Terreno Estranho), da jornalista Fabiana Caso.

Capa do disco 'Tropicália' pelo traço de Talita Hoffmann, ilustração do livro 'O Som de São Paulo' Foto: Talita Hoffmann

O livro, ilustrado pelos traços de Talita Hoffmann, aborda o período de 1967 a 1985, com início no Tropicalismo, movimento que juntou a poesia concretista de Augusto de Campos, os baianos Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa e os paulistanos Sérgio Dias, Arnaldo Baptista e Rita Lee – Os Mutantes. Mais São Paulo impossível.

“Tudo que veio depois do Tropicalismo, até mesmo o punk rock, é devido à liberdade estética que esse movimento apresentou. O ano de 1967 foi crucial, não só para a música brasileira, mas também para a mundial”, explica Fabiana, paulistana, moradora do Edifício Copan, um dos símbolos da cidade.

Nesse capítulo sobre o Tropicalismo e a psicodelia, surgem ainda outros personagens – e o livro é repleto deles – como o cantor Ronnie Von, o guitarrista Lanny Gordin, músico fundamental para álbuns de Caetano e Gal, e o maestro Rogério Duprat, dono dos arranjos que formataram o álbum Tropicália ou Panis et Circencis, de 1968, além de um álbum próprio, A Banda Tropicalista de Duprat, do mesmo ano, adorado pelos entendedores de música, porém menos famoso para o grande público do que o primeiro.

Influências na música

Fabiana também mostra como o movimento influenciou artistas ao longo dos anos. Entre os brasileiros, ela cita a banda O Terno e o cantor e compositor Tatá Aeroplano como seguidores do psicodelismo. Dos estrangeiros, ela lembra que Kurt Cobain e Sean Lennon declararam amor por Os Mutantes.

No capítulo que batizou de Glam Tropical, Fabiana lembra do grupo Secos & Molhados, que tinha Ney Matogrosso, Gerson Conrad e João Ricardo na formação mais clássica da banda. Em bate-papo com Conrad, a autora destacou a originalidade dos rapazes que mexeram com a música e a imaginação do público ao fazer um rock misturado com ritmos regionais.

“O fato de a gente trabalhar com criação nos tirava um pouco desse chão explorado por 99% dos músicos daquela época, que estavam muito mais preocupados em fazer cover”, disse Conrad a Fabiana.

O Lira Paulistana, teatro que abrigou nomes da vanguarda como Itamar Assumpção, Tetê Espíndola e Cida Moreira, e no qual Arrigo Barnabé também estava inserido, ganha destaque no livro, assim como o punk rock de bandas pioneiras como Inocentes, Cólera e AI-5.

O Som de São Paulo traz uma Cartografia Sonora, a qual destaca locais nos quais essas cenas musicais ainda resistem, como lojas de vinis e teatros, a exemplo do Sesc Pompeia, local sempre aberto a apresentações de novos artistas.

Pelo mundo

O formato do livro, conta Fabiana, nasceu em 2013, quando ela morava em Berlim, na Alemanha. A jornalista queria contar cenas da música brasileira de maneira leve e, ao mesmo tempo, homenagear os fanzines. A ideia era publicar algo que atendesse não apenas ao público nacional, mas também ao estrangeiro – sempre muito curioso e atento à música brasileira. Por isso, o livro é bilíngue – português e inglês. Está à venda no Reino Unido e, em breve, desembarca em Portugal.

Fabiana Caso, autora de 'O Som de São Paulo' Foto: Alberto Oliveira

“Há uma série de biografias, todas muito boas, sobre gêneros específicos, como a bossa nova, ou artistas. Resolvi, então, fazer um almanaque – e que ele tivesse essa ideia de tour musical. As canções são as melhores fontes para conhecer uma cidade”, diz Fabiana. DJ e curadora de playlists para agências internacionais, Fabiana destaca o que o público estrangeiro procura sobre música brasileira.

“Os Mutantes, sem dúvida, ainda despertam interesse. Os franceses, que têm uma ligação bem forte com a música brasileira, acabam chegando ao Rogério Duprat – e ficam loucos com os arranjos dele, aquela fusão de música experimental erudita com o rock psicodélico. Os Secos & Molhados, tanto musicalmente quanto esteticamente, causam surpresa. Tudo neles ainda é muito contemporâneo.”

O Som de São Paulo Fabiana Caso Editora Terreno Estranho 192 págs. R$ 84,90

Para ouvir São Paulo

  • Hey Boy, com os Mutantes

  •  Augusta, Angélica e Consolação, música de Tom Zé

  • Pro Bem da Cidade, canção interpretada pelo Grupo Rumo

  • Persigo São Paulo, música de Itamar Assumpção

  • Cidade Industrial, na interpretação do grupo Agentss

  • Step Psicodélico, canção de Tatá Aeroplano

  • Vale do Anhangabaú, música do grupo Jonnata Doll & Os Garotos Solvente

  • O Cinza, música do grupo O Terno

Os irmãos Baptistas deram seus primeiros riffs psicodélicos no bairro da Pompeia. No Centro, acordes dissonantes botaram as guitarras definitivamente na música popular brasileira. No Bixiga, reduto do samba de Adoniran Barbosa, um grupo criou algo totalmente novo. Em uma praça de Pinheiros, artistas vanguardistas se apresentavam para um público ávido por novidades. Na Vila Carolina, na zona norte, o punk da periferia ganhou força.

São Paulo abrigou e abraçou diversos gêneros musicais. É como se tivesse várias Copacabanas (bairro carioca onde nasceu a bossa nova) espalhadas pela cidade, reunindo pessoas em torno de algo novo. Essa pluralidade sonora da capital está retratada no livro O Som de São Paulo (Editora Terreno Estranho), da jornalista Fabiana Caso.

Capa do disco 'Tropicália' pelo traço de Talita Hoffmann, ilustração do livro 'O Som de São Paulo' Foto: Talita Hoffmann

O livro, ilustrado pelos traços de Talita Hoffmann, aborda o período de 1967 a 1985, com início no Tropicalismo, movimento que juntou a poesia concretista de Augusto de Campos, os baianos Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa e os paulistanos Sérgio Dias, Arnaldo Baptista e Rita Lee – Os Mutantes. Mais São Paulo impossível.

“Tudo que veio depois do Tropicalismo, até mesmo o punk rock, é devido à liberdade estética que esse movimento apresentou. O ano de 1967 foi crucial, não só para a música brasileira, mas também para a mundial”, explica Fabiana, paulistana, moradora do Edifício Copan, um dos símbolos da cidade.

Nesse capítulo sobre o Tropicalismo e a psicodelia, surgem ainda outros personagens – e o livro é repleto deles – como o cantor Ronnie Von, o guitarrista Lanny Gordin, músico fundamental para álbuns de Caetano e Gal, e o maestro Rogério Duprat, dono dos arranjos que formataram o álbum Tropicália ou Panis et Circencis, de 1968, além de um álbum próprio, A Banda Tropicalista de Duprat, do mesmo ano, adorado pelos entendedores de música, porém menos famoso para o grande público do que o primeiro.

Influências na música

Fabiana também mostra como o movimento influenciou artistas ao longo dos anos. Entre os brasileiros, ela cita a banda O Terno e o cantor e compositor Tatá Aeroplano como seguidores do psicodelismo. Dos estrangeiros, ela lembra que Kurt Cobain e Sean Lennon declararam amor por Os Mutantes.

No capítulo que batizou de Glam Tropical, Fabiana lembra do grupo Secos & Molhados, que tinha Ney Matogrosso, Gerson Conrad e João Ricardo na formação mais clássica da banda. Em bate-papo com Conrad, a autora destacou a originalidade dos rapazes que mexeram com a música e a imaginação do público ao fazer um rock misturado com ritmos regionais.

“O fato de a gente trabalhar com criação nos tirava um pouco desse chão explorado por 99% dos músicos daquela época, que estavam muito mais preocupados em fazer cover”, disse Conrad a Fabiana.

O Lira Paulistana, teatro que abrigou nomes da vanguarda como Itamar Assumpção, Tetê Espíndola e Cida Moreira, e no qual Arrigo Barnabé também estava inserido, ganha destaque no livro, assim como o punk rock de bandas pioneiras como Inocentes, Cólera e AI-5.

O Som de São Paulo traz uma Cartografia Sonora, a qual destaca locais nos quais essas cenas musicais ainda resistem, como lojas de vinis e teatros, a exemplo do Sesc Pompeia, local sempre aberto a apresentações de novos artistas.

Pelo mundo

O formato do livro, conta Fabiana, nasceu em 2013, quando ela morava em Berlim, na Alemanha. A jornalista queria contar cenas da música brasileira de maneira leve e, ao mesmo tempo, homenagear os fanzines. A ideia era publicar algo que atendesse não apenas ao público nacional, mas também ao estrangeiro – sempre muito curioso e atento à música brasileira. Por isso, o livro é bilíngue – português e inglês. Está à venda no Reino Unido e, em breve, desembarca em Portugal.

Fabiana Caso, autora de 'O Som de São Paulo' Foto: Alberto Oliveira

“Há uma série de biografias, todas muito boas, sobre gêneros específicos, como a bossa nova, ou artistas. Resolvi, então, fazer um almanaque – e que ele tivesse essa ideia de tour musical. As canções são as melhores fontes para conhecer uma cidade”, diz Fabiana. DJ e curadora de playlists para agências internacionais, Fabiana destaca o que o público estrangeiro procura sobre música brasileira.

“Os Mutantes, sem dúvida, ainda despertam interesse. Os franceses, que têm uma ligação bem forte com a música brasileira, acabam chegando ao Rogério Duprat – e ficam loucos com os arranjos dele, aquela fusão de música experimental erudita com o rock psicodélico. Os Secos & Molhados, tanto musicalmente quanto esteticamente, causam surpresa. Tudo neles ainda é muito contemporâneo.”

O Som de São Paulo Fabiana Caso Editora Terreno Estranho 192 págs. R$ 84,90

Para ouvir São Paulo

  • Hey Boy, com os Mutantes

  •  Augusta, Angélica e Consolação, música de Tom Zé

  • Pro Bem da Cidade, canção interpretada pelo Grupo Rumo

  • Persigo São Paulo, música de Itamar Assumpção

  • Cidade Industrial, na interpretação do grupo Agentss

  • Step Psicodélico, canção de Tatá Aeroplano

  • Vale do Anhangabaú, música do grupo Jonnata Doll & Os Garotos Solvente

  • O Cinza, música do grupo O Terno

Os irmãos Baptistas deram seus primeiros riffs psicodélicos no bairro da Pompeia. No Centro, acordes dissonantes botaram as guitarras definitivamente na música popular brasileira. No Bixiga, reduto do samba de Adoniran Barbosa, um grupo criou algo totalmente novo. Em uma praça de Pinheiros, artistas vanguardistas se apresentavam para um público ávido por novidades. Na Vila Carolina, na zona norte, o punk da periferia ganhou força.

São Paulo abrigou e abraçou diversos gêneros musicais. É como se tivesse várias Copacabanas (bairro carioca onde nasceu a bossa nova) espalhadas pela cidade, reunindo pessoas em torno de algo novo. Essa pluralidade sonora da capital está retratada no livro O Som de São Paulo (Editora Terreno Estranho), da jornalista Fabiana Caso.

Capa do disco 'Tropicália' pelo traço de Talita Hoffmann, ilustração do livro 'O Som de São Paulo' Foto: Talita Hoffmann

O livro, ilustrado pelos traços de Talita Hoffmann, aborda o período de 1967 a 1985, com início no Tropicalismo, movimento que juntou a poesia concretista de Augusto de Campos, os baianos Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa e os paulistanos Sérgio Dias, Arnaldo Baptista e Rita Lee – Os Mutantes. Mais São Paulo impossível.

“Tudo que veio depois do Tropicalismo, até mesmo o punk rock, é devido à liberdade estética que esse movimento apresentou. O ano de 1967 foi crucial, não só para a música brasileira, mas também para a mundial”, explica Fabiana, paulistana, moradora do Edifício Copan, um dos símbolos da cidade.

Nesse capítulo sobre o Tropicalismo e a psicodelia, surgem ainda outros personagens – e o livro é repleto deles – como o cantor Ronnie Von, o guitarrista Lanny Gordin, músico fundamental para álbuns de Caetano e Gal, e o maestro Rogério Duprat, dono dos arranjos que formataram o álbum Tropicália ou Panis et Circencis, de 1968, além de um álbum próprio, A Banda Tropicalista de Duprat, do mesmo ano, adorado pelos entendedores de música, porém menos famoso para o grande público do que o primeiro.

Influências na música

Fabiana também mostra como o movimento influenciou artistas ao longo dos anos. Entre os brasileiros, ela cita a banda O Terno e o cantor e compositor Tatá Aeroplano como seguidores do psicodelismo. Dos estrangeiros, ela lembra que Kurt Cobain e Sean Lennon declararam amor por Os Mutantes.

No capítulo que batizou de Glam Tropical, Fabiana lembra do grupo Secos & Molhados, que tinha Ney Matogrosso, Gerson Conrad e João Ricardo na formação mais clássica da banda. Em bate-papo com Conrad, a autora destacou a originalidade dos rapazes que mexeram com a música e a imaginação do público ao fazer um rock misturado com ritmos regionais.

“O fato de a gente trabalhar com criação nos tirava um pouco desse chão explorado por 99% dos músicos daquela época, que estavam muito mais preocupados em fazer cover”, disse Conrad a Fabiana.

O Lira Paulistana, teatro que abrigou nomes da vanguarda como Itamar Assumpção, Tetê Espíndola e Cida Moreira, e no qual Arrigo Barnabé também estava inserido, ganha destaque no livro, assim como o punk rock de bandas pioneiras como Inocentes, Cólera e AI-5.

O Som de São Paulo traz uma Cartografia Sonora, a qual destaca locais nos quais essas cenas musicais ainda resistem, como lojas de vinis e teatros, a exemplo do Sesc Pompeia, local sempre aberto a apresentações de novos artistas.

Pelo mundo

O formato do livro, conta Fabiana, nasceu em 2013, quando ela morava em Berlim, na Alemanha. A jornalista queria contar cenas da música brasileira de maneira leve e, ao mesmo tempo, homenagear os fanzines. A ideia era publicar algo que atendesse não apenas ao público nacional, mas também ao estrangeiro – sempre muito curioso e atento à música brasileira. Por isso, o livro é bilíngue – português e inglês. Está à venda no Reino Unido e, em breve, desembarca em Portugal.

Fabiana Caso, autora de 'O Som de São Paulo' Foto: Alberto Oliveira

“Há uma série de biografias, todas muito boas, sobre gêneros específicos, como a bossa nova, ou artistas. Resolvi, então, fazer um almanaque – e que ele tivesse essa ideia de tour musical. As canções são as melhores fontes para conhecer uma cidade”, diz Fabiana. DJ e curadora de playlists para agências internacionais, Fabiana destaca o que o público estrangeiro procura sobre música brasileira.

“Os Mutantes, sem dúvida, ainda despertam interesse. Os franceses, que têm uma ligação bem forte com a música brasileira, acabam chegando ao Rogério Duprat – e ficam loucos com os arranjos dele, aquela fusão de música experimental erudita com o rock psicodélico. Os Secos & Molhados, tanto musicalmente quanto esteticamente, causam surpresa. Tudo neles ainda é muito contemporâneo.”

O Som de São Paulo Fabiana Caso Editora Terreno Estranho 192 págs. R$ 84,90

Para ouvir São Paulo

  • Hey Boy, com os Mutantes

  •  Augusta, Angélica e Consolação, música de Tom Zé

  • Pro Bem da Cidade, canção interpretada pelo Grupo Rumo

  • Persigo São Paulo, música de Itamar Assumpção

  • Cidade Industrial, na interpretação do grupo Agentss

  • Step Psicodélico, canção de Tatá Aeroplano

  • Vale do Anhangabaú, música do grupo Jonnata Doll & Os Garotos Solvente

  • O Cinza, música do grupo O Terno

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