Lobão: ‘Tive um insight epifânico: sou uma nulidade’, diz cantor sobre afastamento da política


Ao ‘Estadão’, controverso roqueiro que celebra 50 anos de carreira diz que veio para ‘chacoalhar o status quo mórbido da MPB’ e comenta sobre possível cinebiografia

Por Gabriel Zorzetto
Atualização:
Foto: Edu Firmo/Divulgação
Entrevista comLobãoMúsico

Lobão é uma figura rara da cultura brasileira. Contraditório, como os grandes artistas devem ser, tem uma relação de amor e ódio com sua geração, a dos anos 1980, que colocou o rock nacional nas rádios. Iconoclasta, sempre contestou o rótulo sacrossanto da MPB e jamais abaixou a cabeça para o poder da mídia ou das gravadoras – pagando um preço caro por isso. Não surpreende, afinal, é “da natureza dos lobos” ser desconfiado e estar atento a tudo, enquanto transita pela vida que é, ao mesmo tempo, doce e bandida.

A personalidade do cantor de 66 anos, responsável por hits como Me Chama e Vida Bandida, ultrapassou sua fama musical. Sábio e articulado como poucos do showbusiness, refletiu sobre o Brasil com rara destreza em debates, entrevistas e livros como o crítico Manifesto do Nada na Terra do Nunca (Nova Fronteira, 2013); além de analisar a própria trajetória em duas honestas autobiografias (Leya, 2010 e 2020) e confrontar colegas no polêmico Guia Politicamente Incorreto dos Anos 80 pelo Rock (Leya, 2018).

João Luiz (seu nome de batismo) também se associou e se desassociou de vários políticos ao longo das últimas décadas, despertando ódio de muitos e atraindo apoio de outros, como ocorre em qualquer democracia. Os problemas nacionais, contudo, já não lhe irritam mais como antes – conforme ele revela em entrevista ao Estadão, por telefone.

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Agora, a voz urgente de Lobão volta a rodar o País na turnê 50 Anos de Vida Bandida, que chega a São Paulo nesta sexta-feira, 26, na Audio Club, com participação especial do Jota Quest e do guitarrista Luiz Carlini. A apresentação traz o retrospecto de uma carreira iniciada nos anos 1970, quando o roqueiro tocava bateria no Vímana (grupo do qual faziam parte Lulu Santos e Ritchie), antes de participar da fundação da Blitz, banda que abandonou para construir uma carreira solo impulsionada não apenas por boas composições, mas também pelas polêmicas.

O cantor Lobão celebra 50 anos de carreira em nova turnê Foto: Du Firmo/Divulgação

Qual é a sensação de estar celebrando 50 anos de carreira com essa turnê? Você se sente um artista consagrado e respeitado no Brasil?

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É uma coisa que não acontece muito corriqueiramente: uma pessoa fazer 50 anos de carreira e estar no auge da sua forma. Sou muito grato ao destino, ao acaso. E como cheguei aqui eu não sei, mas realmente é um motivo de alegria muito grande. Estar aqui comemorando e poder fazer um show de 3, 4 horas. Estou tocando e cantando melhor do que nunca. Mesmo porque eu nunca fui cantor, né? Ao ponto de quando me chamam de cantor, eu ainda estranho. Eu preciso do meu trabalho muito mais que um ganha-pão. Claro que ele é um ganha-pão, mas ele é uma espécie de autocura. Então, no transcorrer das décadas, eu fui eliminando toda e qualquer expectativa de aprovação externa. Eu faço um show pra mim e pra minha banda, por diversão. Quanto a ser consagrado, eu acho isso muito cafona.

É certo afirmar que você prefere as suas canções do modo que elas soam no palco e não como elas foram gravadas?

Evidente. Sempre deixei bem claro que a qualidade das músicas não tem nada a ver com a cafonice ou a precariedade das produções. Os sons dos discos sempre foram muito, muito ruins. Até o ponto que eu comecei a ser o meu próprio técnico de som, ser meu próprio produtor musical, algo que aconteceu a partir de 1995, quando os discos tiveram um salto quântico de qualidade. Mas até ali, beira o obsceno (risos). Tanto o nível da qualidade de som como a questionabilidade do gosto dos arranjos.

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Qual a diferença de tocar numa casa pequena como a Audio para um grande festival?

Tocar para 1 milhão de pessoas, 100 mil pessoas, 10 mil pessoas ou nenhuma pessoa... tanto faz. Eu vou fazer o show como se fosse o último show da minha vida. Eu não estou nem aí se é uma casa grande, se é uma casa pequena. O meu compromisso é dar tudo de mim, sejam quais forem as circunstâncias externas. Podemos tocar num puteiro e a nossa energia desprendida será a mesma (risos).

Lobão na turnê '50 anos de Vida Bandida' Foto: Clovis Roman/Divulgação
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Hoje em dia, muitos artistas têm receio de emitir opiniões e se submeter à patrulha do cancelamento. Como você se tornou esse cara ‘incancelável’?

Eu tive um impacto no momento em que eu fui no Festival Internacional da Canção em 1971 e vi aquele show bíblico do Wilson Simonal no Maracanãzinho. E a coisa da ‘simonalização’, né? De ele ter sido ejetado cruelmente do meio musical por toda essa tradição de cancelamento. E por incrível que pareça, naquele mesmo festival, foram cancelados três negros: o Wilson Simonal, o Tony Tornado e o Erlon Chaves – com várias louras roçando nele, e a classe média ficou indignada. Então, quando eu entrei para a carreira de artista, eu falei para mim mesmo que seria um provocador profundo e jurei a mim mesmo que eu seria ‘insimonalizável’. A missão mais importante de um artista é instigar a provocação. Eu não vou entreter as pessoas, vou provocar as pessoas. E como nós temos também uma mentalidade muito atrasada, as pessoas se ofendem com muito mais facilidade do que o normal. Em nível mundial, o Brasil é bastante provinciano nessa situação. É claro que essa provocação gera consequências. Mas eu acho que tudo é uma grande aventura, afinal de contas eu sou artista para isso mesmo, para viver essas aventuras, esses desafios.

É claro que a MPB teve um papel nesse cancelamento do Simonal. Aliás, você sempre falou da ‘importância de destronar a MPB’, correto?

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É uma sigla absolutamente postiça. Eu me lembro de um prêmio em que aquela turma estava ganhando o prêmio de MPB e o Alceu Valença ganhou o prêmio de melhor disco regional, e ele mesmo reclamou: ‘Mas por que eu sou regional e os orçamentos são da MPB?’, afinal de contas a MPB tem influência de jazz, do rock... No entanto, essa sigla foi se consubstanciando no que ela é, dentro de uma esquerda politizada e ideologizada. Então eu vim aqui para poder chacoalhar isso, esse status quo que é mórbido. É uma herança muito ruim da Semana de Arte de 1922. Desde então a arte brasileira ficou toda estereotipada, e não muda de paradigma. Como é que pode passar 100 anos sem você revisitar, contestar, haver algum tipo de senão? Acho que a MPB tem essa coisa de uma herança delirante, de achar que o brasileiro é bonzinho. E isso refletiu muito na produção de rock no Brasil, porque as gravadoras achavam que o rock tem que ser fofo no Brasil, então amenizavam as mixagens, geralmente substituíam guitarras por violões. Agora, eu não questiono o talento dessas várias pessoas, o Tom Jobim é maravilhoso, o Caetano tem muito talento, o Gilberto Gil, todos tiveram parte integrante na minha formação musical.

Aproveitando o gancho da MPB, é curioso que ‘Me Chama’ tenha sido regravada pelo João Gilberto. Você ainda detesta essa versão?

Não detesto, é chiquérrima, a vestimenta é delicada. O João foi muito querido por me ligar de madrugada e detalhar o esmero que ele estava fazendo, com octeto de cordas, de violoncelo. Ele tinha gravado dez versões, queria mostrar tudo de uma maneira muito meticulosa. A minha gravação é uma das coisas mais precárias que existem em nível de qualidade sonora, mas ao mesmo tempo ela é a mais adequada porque é minha música, é a minha vida. E outra coisa, a música quando sai tem vida própria, seria patético da minha parte ficar policiando. Agora, sim, eu sou ciumento. Quando eu sei que uma pessoa vai fazer uma versão minha, fico num misto de gratidão, orgulho e apreensão. É normal para qualquer autor ter essa dualidade.

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Você que está sempre rodando o Brasil, como sente o País em 2024? Vê sinais de melhora ou ainda somos a ‘Terra do Nunca’?

A expectativa é a mãe da decepção, então eu não tenho expectativa simplesmente para não decepcionar. Se o Brasil é esse atoleiro, que seja, sabe? Eu quero, antes de mais nada, viver a minha aventura. O que eu posso fazer e posso modificar, geralmente são coisas internas, ou seja, me tornar uma pessoa melhor. Agora, essa coisa de ficar reclamando do mundo, isso evaporou de mim, nem me irrito mais.

E é por isso que você se afastou um pouco de debates políticos, não vale mais a pena discutir?

Eu me afastei absolutamente de política porque eu tive um insight epifânico em relação a que eu sou uma nulidade, minha opinião não vai alterar um milímetro da realidade. Eu detesto política, detesto militantes, seja da direita, seja da esquerda. Poxa, estou com 66 anos e não vou ficar aqui gastando minha vida com inutilidades, coisas que não têm saída. Quero desenvolver minhas potencialidades, que eu acho que é a missão de qualquer ser humano. Se todo mundo pensasse que, antes de qualquer coisa, você tem que melhorar a si mesmo, não teríamos um monte de cretinos, idiotas, querendo modificar a vida dos outros, policiando, cancelando.

No ano passado, vazaram alguns áudios seus onde você criticava alguns colegas. Em um deles você também dizia que era mal tratado em programas como o do Serginho Groisman. Por quê?

Olha, eu vou te dizer uma coisa mais genérica, porque os áudios foram todos editados, todos fora de contexto, então eu acho que tudo que saiu é de uma absurdidade tamanha que eu não tenho o que comentar sobre isso. O Serginho é meu amigo pessoal, pra você ter uma ideia. Somos amigos de 40 anos, então eu acho que a resposta basicamente é isso. A maneira que esses áudios foram vazados foi criminosa. Então querer contra argumentar com uma ação criminosa dessa espécie é simplesmente aceitar que aquela coisa criminosa possa ter uma plausibilidade. Ela, para mim, não tem plausibilidade nenhuma.

O cantor Lobão no festival Rock in Rio II, 30/01/1991. Foto: Ana Carolina Fernandes/ Estadão

Há anos circula o rumor sobre uma cinebiografia sua, é possível?

Eu sou muito chato para isso, sabe? Eu sei que a minha vida é um tremendo script, um roteiro espetacular, que deixaria até Breaking Bad parecer um show da Xuxa (risos). Eu sei que daria uma puta série. Tentei algumas vezes, mas até agora não consegui bater o martelo para que os direitos fossem liberados. Pode ser que aconteça, mas só vou liberar quando eu tiver plena certeza de que seja um trabalho de arte, que tenha o mesmo empenho e o mesmo tipo de excelência que eu coloco no meu trabalho. Quando eu enxergar isso, com certeza esse filme haverá de nascer.

Há planos para um álbum de músicas inéditas em breve?

Sim, o nome do disco será O Vale da Estranheza. Eu queria ter começado em março a produção, mas tive que me estender, porque a produção do show se tornou muito complexa. Tive que participar muito da feitura, dos arranjos, dos ensaios e, junto com o meu sobrinho, que fez toda a arte gráfica, dos telões, que são totalmente sincronizados com a banda. Mas eu espero que esse disco seja um projeto mais célere do que os últimos que eu tenho feito.

Lobão – 50 Anos de Vida Bandida

  • Onde: Audio Club (Av. Francisco Matarazzo, 694)
  • Data: 26 de abril de 2024
  • Preços: R$ 50 a R$120
  • Ingressos: ticket360.com.br

Próximos shows do Lobão

  • Londrina (27/4), Belo Horizonte (3/5), Juiz de Fora (4/5) e Rio de Janeiro (11/5)

Lobão é uma figura rara da cultura brasileira. Contraditório, como os grandes artistas devem ser, tem uma relação de amor e ódio com sua geração, a dos anos 1980, que colocou o rock nacional nas rádios. Iconoclasta, sempre contestou o rótulo sacrossanto da MPB e jamais abaixou a cabeça para o poder da mídia ou das gravadoras – pagando um preço caro por isso. Não surpreende, afinal, é “da natureza dos lobos” ser desconfiado e estar atento a tudo, enquanto transita pela vida que é, ao mesmo tempo, doce e bandida.

A personalidade do cantor de 66 anos, responsável por hits como Me Chama e Vida Bandida, ultrapassou sua fama musical. Sábio e articulado como poucos do showbusiness, refletiu sobre o Brasil com rara destreza em debates, entrevistas e livros como o crítico Manifesto do Nada na Terra do Nunca (Nova Fronteira, 2013); além de analisar a própria trajetória em duas honestas autobiografias (Leya, 2010 e 2020) e confrontar colegas no polêmico Guia Politicamente Incorreto dos Anos 80 pelo Rock (Leya, 2018).

João Luiz (seu nome de batismo) também se associou e se desassociou de vários políticos ao longo das últimas décadas, despertando ódio de muitos e atraindo apoio de outros, como ocorre em qualquer democracia. Os problemas nacionais, contudo, já não lhe irritam mais como antes – conforme ele revela em entrevista ao Estadão, por telefone.

Agora, a voz urgente de Lobão volta a rodar o País na turnê 50 Anos de Vida Bandida, que chega a São Paulo nesta sexta-feira, 26, na Audio Club, com participação especial do Jota Quest e do guitarrista Luiz Carlini. A apresentação traz o retrospecto de uma carreira iniciada nos anos 1970, quando o roqueiro tocava bateria no Vímana (grupo do qual faziam parte Lulu Santos e Ritchie), antes de participar da fundação da Blitz, banda que abandonou para construir uma carreira solo impulsionada não apenas por boas composições, mas também pelas polêmicas.

O cantor Lobão celebra 50 anos de carreira em nova turnê Foto: Du Firmo/Divulgação

Qual é a sensação de estar celebrando 50 anos de carreira com essa turnê? Você se sente um artista consagrado e respeitado no Brasil?

É uma coisa que não acontece muito corriqueiramente: uma pessoa fazer 50 anos de carreira e estar no auge da sua forma. Sou muito grato ao destino, ao acaso. E como cheguei aqui eu não sei, mas realmente é um motivo de alegria muito grande. Estar aqui comemorando e poder fazer um show de 3, 4 horas. Estou tocando e cantando melhor do que nunca. Mesmo porque eu nunca fui cantor, né? Ao ponto de quando me chamam de cantor, eu ainda estranho. Eu preciso do meu trabalho muito mais que um ganha-pão. Claro que ele é um ganha-pão, mas ele é uma espécie de autocura. Então, no transcorrer das décadas, eu fui eliminando toda e qualquer expectativa de aprovação externa. Eu faço um show pra mim e pra minha banda, por diversão. Quanto a ser consagrado, eu acho isso muito cafona.

É certo afirmar que você prefere as suas canções do modo que elas soam no palco e não como elas foram gravadas?

Evidente. Sempre deixei bem claro que a qualidade das músicas não tem nada a ver com a cafonice ou a precariedade das produções. Os sons dos discos sempre foram muito, muito ruins. Até o ponto que eu comecei a ser o meu próprio técnico de som, ser meu próprio produtor musical, algo que aconteceu a partir de 1995, quando os discos tiveram um salto quântico de qualidade. Mas até ali, beira o obsceno (risos). Tanto o nível da qualidade de som como a questionabilidade do gosto dos arranjos.

Qual a diferença de tocar numa casa pequena como a Audio para um grande festival?

Tocar para 1 milhão de pessoas, 100 mil pessoas, 10 mil pessoas ou nenhuma pessoa... tanto faz. Eu vou fazer o show como se fosse o último show da minha vida. Eu não estou nem aí se é uma casa grande, se é uma casa pequena. O meu compromisso é dar tudo de mim, sejam quais forem as circunstâncias externas. Podemos tocar num puteiro e a nossa energia desprendida será a mesma (risos).

Lobão na turnê '50 anos de Vida Bandida' Foto: Clovis Roman/Divulgação

Hoje em dia, muitos artistas têm receio de emitir opiniões e se submeter à patrulha do cancelamento. Como você se tornou esse cara ‘incancelável’?

Eu tive um impacto no momento em que eu fui no Festival Internacional da Canção em 1971 e vi aquele show bíblico do Wilson Simonal no Maracanãzinho. E a coisa da ‘simonalização’, né? De ele ter sido ejetado cruelmente do meio musical por toda essa tradição de cancelamento. E por incrível que pareça, naquele mesmo festival, foram cancelados três negros: o Wilson Simonal, o Tony Tornado e o Erlon Chaves – com várias louras roçando nele, e a classe média ficou indignada. Então, quando eu entrei para a carreira de artista, eu falei para mim mesmo que seria um provocador profundo e jurei a mim mesmo que eu seria ‘insimonalizável’. A missão mais importante de um artista é instigar a provocação. Eu não vou entreter as pessoas, vou provocar as pessoas. E como nós temos também uma mentalidade muito atrasada, as pessoas se ofendem com muito mais facilidade do que o normal. Em nível mundial, o Brasil é bastante provinciano nessa situação. É claro que essa provocação gera consequências. Mas eu acho que tudo é uma grande aventura, afinal de contas eu sou artista para isso mesmo, para viver essas aventuras, esses desafios.

É claro que a MPB teve um papel nesse cancelamento do Simonal. Aliás, você sempre falou da ‘importância de destronar a MPB’, correto?

É uma sigla absolutamente postiça. Eu me lembro de um prêmio em que aquela turma estava ganhando o prêmio de MPB e o Alceu Valença ganhou o prêmio de melhor disco regional, e ele mesmo reclamou: ‘Mas por que eu sou regional e os orçamentos são da MPB?’, afinal de contas a MPB tem influência de jazz, do rock... No entanto, essa sigla foi se consubstanciando no que ela é, dentro de uma esquerda politizada e ideologizada. Então eu vim aqui para poder chacoalhar isso, esse status quo que é mórbido. É uma herança muito ruim da Semana de Arte de 1922. Desde então a arte brasileira ficou toda estereotipada, e não muda de paradigma. Como é que pode passar 100 anos sem você revisitar, contestar, haver algum tipo de senão? Acho que a MPB tem essa coisa de uma herança delirante, de achar que o brasileiro é bonzinho. E isso refletiu muito na produção de rock no Brasil, porque as gravadoras achavam que o rock tem que ser fofo no Brasil, então amenizavam as mixagens, geralmente substituíam guitarras por violões. Agora, eu não questiono o talento dessas várias pessoas, o Tom Jobim é maravilhoso, o Caetano tem muito talento, o Gilberto Gil, todos tiveram parte integrante na minha formação musical.

Aproveitando o gancho da MPB, é curioso que ‘Me Chama’ tenha sido regravada pelo João Gilberto. Você ainda detesta essa versão?

Não detesto, é chiquérrima, a vestimenta é delicada. O João foi muito querido por me ligar de madrugada e detalhar o esmero que ele estava fazendo, com octeto de cordas, de violoncelo. Ele tinha gravado dez versões, queria mostrar tudo de uma maneira muito meticulosa. A minha gravação é uma das coisas mais precárias que existem em nível de qualidade sonora, mas ao mesmo tempo ela é a mais adequada porque é minha música, é a minha vida. E outra coisa, a música quando sai tem vida própria, seria patético da minha parte ficar policiando. Agora, sim, eu sou ciumento. Quando eu sei que uma pessoa vai fazer uma versão minha, fico num misto de gratidão, orgulho e apreensão. É normal para qualquer autor ter essa dualidade.

Você que está sempre rodando o Brasil, como sente o País em 2024? Vê sinais de melhora ou ainda somos a ‘Terra do Nunca’?

A expectativa é a mãe da decepção, então eu não tenho expectativa simplesmente para não decepcionar. Se o Brasil é esse atoleiro, que seja, sabe? Eu quero, antes de mais nada, viver a minha aventura. O que eu posso fazer e posso modificar, geralmente são coisas internas, ou seja, me tornar uma pessoa melhor. Agora, essa coisa de ficar reclamando do mundo, isso evaporou de mim, nem me irrito mais.

E é por isso que você se afastou um pouco de debates políticos, não vale mais a pena discutir?

Eu me afastei absolutamente de política porque eu tive um insight epifânico em relação a que eu sou uma nulidade, minha opinião não vai alterar um milímetro da realidade. Eu detesto política, detesto militantes, seja da direita, seja da esquerda. Poxa, estou com 66 anos e não vou ficar aqui gastando minha vida com inutilidades, coisas que não têm saída. Quero desenvolver minhas potencialidades, que eu acho que é a missão de qualquer ser humano. Se todo mundo pensasse que, antes de qualquer coisa, você tem que melhorar a si mesmo, não teríamos um monte de cretinos, idiotas, querendo modificar a vida dos outros, policiando, cancelando.

No ano passado, vazaram alguns áudios seus onde você criticava alguns colegas. Em um deles você também dizia que era mal tratado em programas como o do Serginho Groisman. Por quê?

Olha, eu vou te dizer uma coisa mais genérica, porque os áudios foram todos editados, todos fora de contexto, então eu acho que tudo que saiu é de uma absurdidade tamanha que eu não tenho o que comentar sobre isso. O Serginho é meu amigo pessoal, pra você ter uma ideia. Somos amigos de 40 anos, então eu acho que a resposta basicamente é isso. A maneira que esses áudios foram vazados foi criminosa. Então querer contra argumentar com uma ação criminosa dessa espécie é simplesmente aceitar que aquela coisa criminosa possa ter uma plausibilidade. Ela, para mim, não tem plausibilidade nenhuma.

O cantor Lobão no festival Rock in Rio II, 30/01/1991. Foto: Ana Carolina Fernandes/ Estadão

Há anos circula o rumor sobre uma cinebiografia sua, é possível?

Eu sou muito chato para isso, sabe? Eu sei que a minha vida é um tremendo script, um roteiro espetacular, que deixaria até Breaking Bad parecer um show da Xuxa (risos). Eu sei que daria uma puta série. Tentei algumas vezes, mas até agora não consegui bater o martelo para que os direitos fossem liberados. Pode ser que aconteça, mas só vou liberar quando eu tiver plena certeza de que seja um trabalho de arte, que tenha o mesmo empenho e o mesmo tipo de excelência que eu coloco no meu trabalho. Quando eu enxergar isso, com certeza esse filme haverá de nascer.

Há planos para um álbum de músicas inéditas em breve?

Sim, o nome do disco será O Vale da Estranheza. Eu queria ter começado em março a produção, mas tive que me estender, porque a produção do show se tornou muito complexa. Tive que participar muito da feitura, dos arranjos, dos ensaios e, junto com o meu sobrinho, que fez toda a arte gráfica, dos telões, que são totalmente sincronizados com a banda. Mas eu espero que esse disco seja um projeto mais célere do que os últimos que eu tenho feito.

Lobão – 50 Anos de Vida Bandida

  • Onde: Audio Club (Av. Francisco Matarazzo, 694)
  • Data: 26 de abril de 2024
  • Preços: R$ 50 a R$120
  • Ingressos: ticket360.com.br

Próximos shows do Lobão

  • Londrina (27/4), Belo Horizonte (3/5), Juiz de Fora (4/5) e Rio de Janeiro (11/5)

Lobão é uma figura rara da cultura brasileira. Contraditório, como os grandes artistas devem ser, tem uma relação de amor e ódio com sua geração, a dos anos 1980, que colocou o rock nacional nas rádios. Iconoclasta, sempre contestou o rótulo sacrossanto da MPB e jamais abaixou a cabeça para o poder da mídia ou das gravadoras – pagando um preço caro por isso. Não surpreende, afinal, é “da natureza dos lobos” ser desconfiado e estar atento a tudo, enquanto transita pela vida que é, ao mesmo tempo, doce e bandida.

A personalidade do cantor de 66 anos, responsável por hits como Me Chama e Vida Bandida, ultrapassou sua fama musical. Sábio e articulado como poucos do showbusiness, refletiu sobre o Brasil com rara destreza em debates, entrevistas e livros como o crítico Manifesto do Nada na Terra do Nunca (Nova Fronteira, 2013); além de analisar a própria trajetória em duas honestas autobiografias (Leya, 2010 e 2020) e confrontar colegas no polêmico Guia Politicamente Incorreto dos Anos 80 pelo Rock (Leya, 2018).

João Luiz (seu nome de batismo) também se associou e se desassociou de vários políticos ao longo das últimas décadas, despertando ódio de muitos e atraindo apoio de outros, como ocorre em qualquer democracia. Os problemas nacionais, contudo, já não lhe irritam mais como antes – conforme ele revela em entrevista ao Estadão, por telefone.

Agora, a voz urgente de Lobão volta a rodar o País na turnê 50 Anos de Vida Bandida, que chega a São Paulo nesta sexta-feira, 26, na Audio Club, com participação especial do Jota Quest e do guitarrista Luiz Carlini. A apresentação traz o retrospecto de uma carreira iniciada nos anos 1970, quando o roqueiro tocava bateria no Vímana (grupo do qual faziam parte Lulu Santos e Ritchie), antes de participar da fundação da Blitz, banda que abandonou para construir uma carreira solo impulsionada não apenas por boas composições, mas também pelas polêmicas.

O cantor Lobão celebra 50 anos de carreira em nova turnê Foto: Du Firmo/Divulgação

Qual é a sensação de estar celebrando 50 anos de carreira com essa turnê? Você se sente um artista consagrado e respeitado no Brasil?

É uma coisa que não acontece muito corriqueiramente: uma pessoa fazer 50 anos de carreira e estar no auge da sua forma. Sou muito grato ao destino, ao acaso. E como cheguei aqui eu não sei, mas realmente é um motivo de alegria muito grande. Estar aqui comemorando e poder fazer um show de 3, 4 horas. Estou tocando e cantando melhor do que nunca. Mesmo porque eu nunca fui cantor, né? Ao ponto de quando me chamam de cantor, eu ainda estranho. Eu preciso do meu trabalho muito mais que um ganha-pão. Claro que ele é um ganha-pão, mas ele é uma espécie de autocura. Então, no transcorrer das décadas, eu fui eliminando toda e qualquer expectativa de aprovação externa. Eu faço um show pra mim e pra minha banda, por diversão. Quanto a ser consagrado, eu acho isso muito cafona.

É certo afirmar que você prefere as suas canções do modo que elas soam no palco e não como elas foram gravadas?

Evidente. Sempre deixei bem claro que a qualidade das músicas não tem nada a ver com a cafonice ou a precariedade das produções. Os sons dos discos sempre foram muito, muito ruins. Até o ponto que eu comecei a ser o meu próprio técnico de som, ser meu próprio produtor musical, algo que aconteceu a partir de 1995, quando os discos tiveram um salto quântico de qualidade. Mas até ali, beira o obsceno (risos). Tanto o nível da qualidade de som como a questionabilidade do gosto dos arranjos.

Qual a diferença de tocar numa casa pequena como a Audio para um grande festival?

Tocar para 1 milhão de pessoas, 100 mil pessoas, 10 mil pessoas ou nenhuma pessoa... tanto faz. Eu vou fazer o show como se fosse o último show da minha vida. Eu não estou nem aí se é uma casa grande, se é uma casa pequena. O meu compromisso é dar tudo de mim, sejam quais forem as circunstâncias externas. Podemos tocar num puteiro e a nossa energia desprendida será a mesma (risos).

Lobão na turnê '50 anos de Vida Bandida' Foto: Clovis Roman/Divulgação

Hoje em dia, muitos artistas têm receio de emitir opiniões e se submeter à patrulha do cancelamento. Como você se tornou esse cara ‘incancelável’?

Eu tive um impacto no momento em que eu fui no Festival Internacional da Canção em 1971 e vi aquele show bíblico do Wilson Simonal no Maracanãzinho. E a coisa da ‘simonalização’, né? De ele ter sido ejetado cruelmente do meio musical por toda essa tradição de cancelamento. E por incrível que pareça, naquele mesmo festival, foram cancelados três negros: o Wilson Simonal, o Tony Tornado e o Erlon Chaves – com várias louras roçando nele, e a classe média ficou indignada. Então, quando eu entrei para a carreira de artista, eu falei para mim mesmo que seria um provocador profundo e jurei a mim mesmo que eu seria ‘insimonalizável’. A missão mais importante de um artista é instigar a provocação. Eu não vou entreter as pessoas, vou provocar as pessoas. E como nós temos também uma mentalidade muito atrasada, as pessoas se ofendem com muito mais facilidade do que o normal. Em nível mundial, o Brasil é bastante provinciano nessa situação. É claro que essa provocação gera consequências. Mas eu acho que tudo é uma grande aventura, afinal de contas eu sou artista para isso mesmo, para viver essas aventuras, esses desafios.

É claro que a MPB teve um papel nesse cancelamento do Simonal. Aliás, você sempre falou da ‘importância de destronar a MPB’, correto?

É uma sigla absolutamente postiça. Eu me lembro de um prêmio em que aquela turma estava ganhando o prêmio de MPB e o Alceu Valença ganhou o prêmio de melhor disco regional, e ele mesmo reclamou: ‘Mas por que eu sou regional e os orçamentos são da MPB?’, afinal de contas a MPB tem influência de jazz, do rock... No entanto, essa sigla foi se consubstanciando no que ela é, dentro de uma esquerda politizada e ideologizada. Então eu vim aqui para poder chacoalhar isso, esse status quo que é mórbido. É uma herança muito ruim da Semana de Arte de 1922. Desde então a arte brasileira ficou toda estereotipada, e não muda de paradigma. Como é que pode passar 100 anos sem você revisitar, contestar, haver algum tipo de senão? Acho que a MPB tem essa coisa de uma herança delirante, de achar que o brasileiro é bonzinho. E isso refletiu muito na produção de rock no Brasil, porque as gravadoras achavam que o rock tem que ser fofo no Brasil, então amenizavam as mixagens, geralmente substituíam guitarras por violões. Agora, eu não questiono o talento dessas várias pessoas, o Tom Jobim é maravilhoso, o Caetano tem muito talento, o Gilberto Gil, todos tiveram parte integrante na minha formação musical.

Aproveitando o gancho da MPB, é curioso que ‘Me Chama’ tenha sido regravada pelo João Gilberto. Você ainda detesta essa versão?

Não detesto, é chiquérrima, a vestimenta é delicada. O João foi muito querido por me ligar de madrugada e detalhar o esmero que ele estava fazendo, com octeto de cordas, de violoncelo. Ele tinha gravado dez versões, queria mostrar tudo de uma maneira muito meticulosa. A minha gravação é uma das coisas mais precárias que existem em nível de qualidade sonora, mas ao mesmo tempo ela é a mais adequada porque é minha música, é a minha vida. E outra coisa, a música quando sai tem vida própria, seria patético da minha parte ficar policiando. Agora, sim, eu sou ciumento. Quando eu sei que uma pessoa vai fazer uma versão minha, fico num misto de gratidão, orgulho e apreensão. É normal para qualquer autor ter essa dualidade.

Você que está sempre rodando o Brasil, como sente o País em 2024? Vê sinais de melhora ou ainda somos a ‘Terra do Nunca’?

A expectativa é a mãe da decepção, então eu não tenho expectativa simplesmente para não decepcionar. Se o Brasil é esse atoleiro, que seja, sabe? Eu quero, antes de mais nada, viver a minha aventura. O que eu posso fazer e posso modificar, geralmente são coisas internas, ou seja, me tornar uma pessoa melhor. Agora, essa coisa de ficar reclamando do mundo, isso evaporou de mim, nem me irrito mais.

E é por isso que você se afastou um pouco de debates políticos, não vale mais a pena discutir?

Eu me afastei absolutamente de política porque eu tive um insight epifânico em relação a que eu sou uma nulidade, minha opinião não vai alterar um milímetro da realidade. Eu detesto política, detesto militantes, seja da direita, seja da esquerda. Poxa, estou com 66 anos e não vou ficar aqui gastando minha vida com inutilidades, coisas que não têm saída. Quero desenvolver minhas potencialidades, que eu acho que é a missão de qualquer ser humano. Se todo mundo pensasse que, antes de qualquer coisa, você tem que melhorar a si mesmo, não teríamos um monte de cretinos, idiotas, querendo modificar a vida dos outros, policiando, cancelando.

No ano passado, vazaram alguns áudios seus onde você criticava alguns colegas. Em um deles você também dizia que era mal tratado em programas como o do Serginho Groisman. Por quê?

Olha, eu vou te dizer uma coisa mais genérica, porque os áudios foram todos editados, todos fora de contexto, então eu acho que tudo que saiu é de uma absurdidade tamanha que eu não tenho o que comentar sobre isso. O Serginho é meu amigo pessoal, pra você ter uma ideia. Somos amigos de 40 anos, então eu acho que a resposta basicamente é isso. A maneira que esses áudios foram vazados foi criminosa. Então querer contra argumentar com uma ação criminosa dessa espécie é simplesmente aceitar que aquela coisa criminosa possa ter uma plausibilidade. Ela, para mim, não tem plausibilidade nenhuma.

O cantor Lobão no festival Rock in Rio II, 30/01/1991. Foto: Ana Carolina Fernandes/ Estadão

Há anos circula o rumor sobre uma cinebiografia sua, é possível?

Eu sou muito chato para isso, sabe? Eu sei que a minha vida é um tremendo script, um roteiro espetacular, que deixaria até Breaking Bad parecer um show da Xuxa (risos). Eu sei que daria uma puta série. Tentei algumas vezes, mas até agora não consegui bater o martelo para que os direitos fossem liberados. Pode ser que aconteça, mas só vou liberar quando eu tiver plena certeza de que seja um trabalho de arte, que tenha o mesmo empenho e o mesmo tipo de excelência que eu coloco no meu trabalho. Quando eu enxergar isso, com certeza esse filme haverá de nascer.

Há planos para um álbum de músicas inéditas em breve?

Sim, o nome do disco será O Vale da Estranheza. Eu queria ter começado em março a produção, mas tive que me estender, porque a produção do show se tornou muito complexa. Tive que participar muito da feitura, dos arranjos, dos ensaios e, junto com o meu sobrinho, que fez toda a arte gráfica, dos telões, que são totalmente sincronizados com a banda. Mas eu espero que esse disco seja um projeto mais célere do que os últimos que eu tenho feito.

Lobão – 50 Anos de Vida Bandida

  • Onde: Audio Club (Av. Francisco Matarazzo, 694)
  • Data: 26 de abril de 2024
  • Preços: R$ 50 a R$120
  • Ingressos: ticket360.com.br

Próximos shows do Lobão

  • Londrina (27/4), Belo Horizonte (3/5), Juiz de Fora (4/5) e Rio de Janeiro (11/5)

Lobão é uma figura rara da cultura brasileira. Contraditório, como os grandes artistas devem ser, tem uma relação de amor e ódio com sua geração, a dos anos 1980, que colocou o rock nacional nas rádios. Iconoclasta, sempre contestou o rótulo sacrossanto da MPB e jamais abaixou a cabeça para o poder da mídia ou das gravadoras – pagando um preço caro por isso. Não surpreende, afinal, é “da natureza dos lobos” ser desconfiado e estar atento a tudo, enquanto transita pela vida que é, ao mesmo tempo, doce e bandida.

A personalidade do cantor de 66 anos, responsável por hits como Me Chama e Vida Bandida, ultrapassou sua fama musical. Sábio e articulado como poucos do showbusiness, refletiu sobre o Brasil com rara destreza em debates, entrevistas e livros como o crítico Manifesto do Nada na Terra do Nunca (Nova Fronteira, 2013); além de analisar a própria trajetória em duas honestas autobiografias (Leya, 2010 e 2020) e confrontar colegas no polêmico Guia Politicamente Incorreto dos Anos 80 pelo Rock (Leya, 2018).

João Luiz (seu nome de batismo) também se associou e se desassociou de vários políticos ao longo das últimas décadas, despertando ódio de muitos e atraindo apoio de outros, como ocorre em qualquer democracia. Os problemas nacionais, contudo, já não lhe irritam mais como antes – conforme ele revela em entrevista ao Estadão, por telefone.

Agora, a voz urgente de Lobão volta a rodar o País na turnê 50 Anos de Vida Bandida, que chega a São Paulo nesta sexta-feira, 26, na Audio Club, com participação especial do Jota Quest e do guitarrista Luiz Carlini. A apresentação traz o retrospecto de uma carreira iniciada nos anos 1970, quando o roqueiro tocava bateria no Vímana (grupo do qual faziam parte Lulu Santos e Ritchie), antes de participar da fundação da Blitz, banda que abandonou para construir uma carreira solo impulsionada não apenas por boas composições, mas também pelas polêmicas.

O cantor Lobão celebra 50 anos de carreira em nova turnê Foto: Du Firmo/Divulgação

Qual é a sensação de estar celebrando 50 anos de carreira com essa turnê? Você se sente um artista consagrado e respeitado no Brasil?

É uma coisa que não acontece muito corriqueiramente: uma pessoa fazer 50 anos de carreira e estar no auge da sua forma. Sou muito grato ao destino, ao acaso. E como cheguei aqui eu não sei, mas realmente é um motivo de alegria muito grande. Estar aqui comemorando e poder fazer um show de 3, 4 horas. Estou tocando e cantando melhor do que nunca. Mesmo porque eu nunca fui cantor, né? Ao ponto de quando me chamam de cantor, eu ainda estranho. Eu preciso do meu trabalho muito mais que um ganha-pão. Claro que ele é um ganha-pão, mas ele é uma espécie de autocura. Então, no transcorrer das décadas, eu fui eliminando toda e qualquer expectativa de aprovação externa. Eu faço um show pra mim e pra minha banda, por diversão. Quanto a ser consagrado, eu acho isso muito cafona.

É certo afirmar que você prefere as suas canções do modo que elas soam no palco e não como elas foram gravadas?

Evidente. Sempre deixei bem claro que a qualidade das músicas não tem nada a ver com a cafonice ou a precariedade das produções. Os sons dos discos sempre foram muito, muito ruins. Até o ponto que eu comecei a ser o meu próprio técnico de som, ser meu próprio produtor musical, algo que aconteceu a partir de 1995, quando os discos tiveram um salto quântico de qualidade. Mas até ali, beira o obsceno (risos). Tanto o nível da qualidade de som como a questionabilidade do gosto dos arranjos.

Qual a diferença de tocar numa casa pequena como a Audio para um grande festival?

Tocar para 1 milhão de pessoas, 100 mil pessoas, 10 mil pessoas ou nenhuma pessoa... tanto faz. Eu vou fazer o show como se fosse o último show da minha vida. Eu não estou nem aí se é uma casa grande, se é uma casa pequena. O meu compromisso é dar tudo de mim, sejam quais forem as circunstâncias externas. Podemos tocar num puteiro e a nossa energia desprendida será a mesma (risos).

Lobão na turnê '50 anos de Vida Bandida' Foto: Clovis Roman/Divulgação

Hoje em dia, muitos artistas têm receio de emitir opiniões e se submeter à patrulha do cancelamento. Como você se tornou esse cara ‘incancelável’?

Eu tive um impacto no momento em que eu fui no Festival Internacional da Canção em 1971 e vi aquele show bíblico do Wilson Simonal no Maracanãzinho. E a coisa da ‘simonalização’, né? De ele ter sido ejetado cruelmente do meio musical por toda essa tradição de cancelamento. E por incrível que pareça, naquele mesmo festival, foram cancelados três negros: o Wilson Simonal, o Tony Tornado e o Erlon Chaves – com várias louras roçando nele, e a classe média ficou indignada. Então, quando eu entrei para a carreira de artista, eu falei para mim mesmo que seria um provocador profundo e jurei a mim mesmo que eu seria ‘insimonalizável’. A missão mais importante de um artista é instigar a provocação. Eu não vou entreter as pessoas, vou provocar as pessoas. E como nós temos também uma mentalidade muito atrasada, as pessoas se ofendem com muito mais facilidade do que o normal. Em nível mundial, o Brasil é bastante provinciano nessa situação. É claro que essa provocação gera consequências. Mas eu acho que tudo é uma grande aventura, afinal de contas eu sou artista para isso mesmo, para viver essas aventuras, esses desafios.

É claro que a MPB teve um papel nesse cancelamento do Simonal. Aliás, você sempre falou da ‘importância de destronar a MPB’, correto?

É uma sigla absolutamente postiça. Eu me lembro de um prêmio em que aquela turma estava ganhando o prêmio de MPB e o Alceu Valença ganhou o prêmio de melhor disco regional, e ele mesmo reclamou: ‘Mas por que eu sou regional e os orçamentos são da MPB?’, afinal de contas a MPB tem influência de jazz, do rock... No entanto, essa sigla foi se consubstanciando no que ela é, dentro de uma esquerda politizada e ideologizada. Então eu vim aqui para poder chacoalhar isso, esse status quo que é mórbido. É uma herança muito ruim da Semana de Arte de 1922. Desde então a arte brasileira ficou toda estereotipada, e não muda de paradigma. Como é que pode passar 100 anos sem você revisitar, contestar, haver algum tipo de senão? Acho que a MPB tem essa coisa de uma herança delirante, de achar que o brasileiro é bonzinho. E isso refletiu muito na produção de rock no Brasil, porque as gravadoras achavam que o rock tem que ser fofo no Brasil, então amenizavam as mixagens, geralmente substituíam guitarras por violões. Agora, eu não questiono o talento dessas várias pessoas, o Tom Jobim é maravilhoso, o Caetano tem muito talento, o Gilberto Gil, todos tiveram parte integrante na minha formação musical.

Aproveitando o gancho da MPB, é curioso que ‘Me Chama’ tenha sido regravada pelo João Gilberto. Você ainda detesta essa versão?

Não detesto, é chiquérrima, a vestimenta é delicada. O João foi muito querido por me ligar de madrugada e detalhar o esmero que ele estava fazendo, com octeto de cordas, de violoncelo. Ele tinha gravado dez versões, queria mostrar tudo de uma maneira muito meticulosa. A minha gravação é uma das coisas mais precárias que existem em nível de qualidade sonora, mas ao mesmo tempo ela é a mais adequada porque é minha música, é a minha vida. E outra coisa, a música quando sai tem vida própria, seria patético da minha parte ficar policiando. Agora, sim, eu sou ciumento. Quando eu sei que uma pessoa vai fazer uma versão minha, fico num misto de gratidão, orgulho e apreensão. É normal para qualquer autor ter essa dualidade.

Você que está sempre rodando o Brasil, como sente o País em 2024? Vê sinais de melhora ou ainda somos a ‘Terra do Nunca’?

A expectativa é a mãe da decepção, então eu não tenho expectativa simplesmente para não decepcionar. Se o Brasil é esse atoleiro, que seja, sabe? Eu quero, antes de mais nada, viver a minha aventura. O que eu posso fazer e posso modificar, geralmente são coisas internas, ou seja, me tornar uma pessoa melhor. Agora, essa coisa de ficar reclamando do mundo, isso evaporou de mim, nem me irrito mais.

E é por isso que você se afastou um pouco de debates políticos, não vale mais a pena discutir?

Eu me afastei absolutamente de política porque eu tive um insight epifânico em relação a que eu sou uma nulidade, minha opinião não vai alterar um milímetro da realidade. Eu detesto política, detesto militantes, seja da direita, seja da esquerda. Poxa, estou com 66 anos e não vou ficar aqui gastando minha vida com inutilidades, coisas que não têm saída. Quero desenvolver minhas potencialidades, que eu acho que é a missão de qualquer ser humano. Se todo mundo pensasse que, antes de qualquer coisa, você tem que melhorar a si mesmo, não teríamos um monte de cretinos, idiotas, querendo modificar a vida dos outros, policiando, cancelando.

No ano passado, vazaram alguns áudios seus onde você criticava alguns colegas. Em um deles você também dizia que era mal tratado em programas como o do Serginho Groisman. Por quê?

Olha, eu vou te dizer uma coisa mais genérica, porque os áudios foram todos editados, todos fora de contexto, então eu acho que tudo que saiu é de uma absurdidade tamanha que eu não tenho o que comentar sobre isso. O Serginho é meu amigo pessoal, pra você ter uma ideia. Somos amigos de 40 anos, então eu acho que a resposta basicamente é isso. A maneira que esses áudios foram vazados foi criminosa. Então querer contra argumentar com uma ação criminosa dessa espécie é simplesmente aceitar que aquela coisa criminosa possa ter uma plausibilidade. Ela, para mim, não tem plausibilidade nenhuma.

O cantor Lobão no festival Rock in Rio II, 30/01/1991. Foto: Ana Carolina Fernandes/ Estadão

Há anos circula o rumor sobre uma cinebiografia sua, é possível?

Eu sou muito chato para isso, sabe? Eu sei que a minha vida é um tremendo script, um roteiro espetacular, que deixaria até Breaking Bad parecer um show da Xuxa (risos). Eu sei que daria uma puta série. Tentei algumas vezes, mas até agora não consegui bater o martelo para que os direitos fossem liberados. Pode ser que aconteça, mas só vou liberar quando eu tiver plena certeza de que seja um trabalho de arte, que tenha o mesmo empenho e o mesmo tipo de excelência que eu coloco no meu trabalho. Quando eu enxergar isso, com certeza esse filme haverá de nascer.

Há planos para um álbum de músicas inéditas em breve?

Sim, o nome do disco será O Vale da Estranheza. Eu queria ter começado em março a produção, mas tive que me estender, porque a produção do show se tornou muito complexa. Tive que participar muito da feitura, dos arranjos, dos ensaios e, junto com o meu sobrinho, que fez toda a arte gráfica, dos telões, que são totalmente sincronizados com a banda. Mas eu espero que esse disco seja um projeto mais célere do que os últimos que eu tenho feito.

Lobão – 50 Anos de Vida Bandida

  • Onde: Audio Club (Av. Francisco Matarazzo, 694)
  • Data: 26 de abril de 2024
  • Preços: R$ 50 a R$120
  • Ingressos: ticket360.com.br

Próximos shows do Lobão

  • Londrina (27/4), Belo Horizonte (3/5), Juiz de Fora (4/5) e Rio de Janeiro (11/5)

Lobão é uma figura rara da cultura brasileira. Contraditório, como os grandes artistas devem ser, tem uma relação de amor e ódio com sua geração, a dos anos 1980, que colocou o rock nacional nas rádios. Iconoclasta, sempre contestou o rótulo sacrossanto da MPB e jamais abaixou a cabeça para o poder da mídia ou das gravadoras – pagando um preço caro por isso. Não surpreende, afinal, é “da natureza dos lobos” ser desconfiado e estar atento a tudo, enquanto transita pela vida que é, ao mesmo tempo, doce e bandida.

A personalidade do cantor de 66 anos, responsável por hits como Me Chama e Vida Bandida, ultrapassou sua fama musical. Sábio e articulado como poucos do showbusiness, refletiu sobre o Brasil com rara destreza em debates, entrevistas e livros como o crítico Manifesto do Nada na Terra do Nunca (Nova Fronteira, 2013); além de analisar a própria trajetória em duas honestas autobiografias (Leya, 2010 e 2020) e confrontar colegas no polêmico Guia Politicamente Incorreto dos Anos 80 pelo Rock (Leya, 2018).

João Luiz (seu nome de batismo) também se associou e se desassociou de vários políticos ao longo das últimas décadas, despertando ódio de muitos e atraindo apoio de outros, como ocorre em qualquer democracia. Os problemas nacionais, contudo, já não lhe irritam mais como antes – conforme ele revela em entrevista ao Estadão, por telefone.

Agora, a voz urgente de Lobão volta a rodar o País na turnê 50 Anos de Vida Bandida, que chega a São Paulo nesta sexta-feira, 26, na Audio Club, com participação especial do Jota Quest e do guitarrista Luiz Carlini. A apresentação traz o retrospecto de uma carreira iniciada nos anos 1970, quando o roqueiro tocava bateria no Vímana (grupo do qual faziam parte Lulu Santos e Ritchie), antes de participar da fundação da Blitz, banda que abandonou para construir uma carreira solo impulsionada não apenas por boas composições, mas também pelas polêmicas.

O cantor Lobão celebra 50 anos de carreira em nova turnê Foto: Du Firmo/Divulgação

Qual é a sensação de estar celebrando 50 anos de carreira com essa turnê? Você se sente um artista consagrado e respeitado no Brasil?

É uma coisa que não acontece muito corriqueiramente: uma pessoa fazer 50 anos de carreira e estar no auge da sua forma. Sou muito grato ao destino, ao acaso. E como cheguei aqui eu não sei, mas realmente é um motivo de alegria muito grande. Estar aqui comemorando e poder fazer um show de 3, 4 horas. Estou tocando e cantando melhor do que nunca. Mesmo porque eu nunca fui cantor, né? Ao ponto de quando me chamam de cantor, eu ainda estranho. Eu preciso do meu trabalho muito mais que um ganha-pão. Claro que ele é um ganha-pão, mas ele é uma espécie de autocura. Então, no transcorrer das décadas, eu fui eliminando toda e qualquer expectativa de aprovação externa. Eu faço um show pra mim e pra minha banda, por diversão. Quanto a ser consagrado, eu acho isso muito cafona.

É certo afirmar que você prefere as suas canções do modo que elas soam no palco e não como elas foram gravadas?

Evidente. Sempre deixei bem claro que a qualidade das músicas não tem nada a ver com a cafonice ou a precariedade das produções. Os sons dos discos sempre foram muito, muito ruins. Até o ponto que eu comecei a ser o meu próprio técnico de som, ser meu próprio produtor musical, algo que aconteceu a partir de 1995, quando os discos tiveram um salto quântico de qualidade. Mas até ali, beira o obsceno (risos). Tanto o nível da qualidade de som como a questionabilidade do gosto dos arranjos.

Qual a diferença de tocar numa casa pequena como a Audio para um grande festival?

Tocar para 1 milhão de pessoas, 100 mil pessoas, 10 mil pessoas ou nenhuma pessoa... tanto faz. Eu vou fazer o show como se fosse o último show da minha vida. Eu não estou nem aí se é uma casa grande, se é uma casa pequena. O meu compromisso é dar tudo de mim, sejam quais forem as circunstâncias externas. Podemos tocar num puteiro e a nossa energia desprendida será a mesma (risos).

Lobão na turnê '50 anos de Vida Bandida' Foto: Clovis Roman/Divulgação

Hoje em dia, muitos artistas têm receio de emitir opiniões e se submeter à patrulha do cancelamento. Como você se tornou esse cara ‘incancelável’?

Eu tive um impacto no momento em que eu fui no Festival Internacional da Canção em 1971 e vi aquele show bíblico do Wilson Simonal no Maracanãzinho. E a coisa da ‘simonalização’, né? De ele ter sido ejetado cruelmente do meio musical por toda essa tradição de cancelamento. E por incrível que pareça, naquele mesmo festival, foram cancelados três negros: o Wilson Simonal, o Tony Tornado e o Erlon Chaves – com várias louras roçando nele, e a classe média ficou indignada. Então, quando eu entrei para a carreira de artista, eu falei para mim mesmo que seria um provocador profundo e jurei a mim mesmo que eu seria ‘insimonalizável’. A missão mais importante de um artista é instigar a provocação. Eu não vou entreter as pessoas, vou provocar as pessoas. E como nós temos também uma mentalidade muito atrasada, as pessoas se ofendem com muito mais facilidade do que o normal. Em nível mundial, o Brasil é bastante provinciano nessa situação. É claro que essa provocação gera consequências. Mas eu acho que tudo é uma grande aventura, afinal de contas eu sou artista para isso mesmo, para viver essas aventuras, esses desafios.

É claro que a MPB teve um papel nesse cancelamento do Simonal. Aliás, você sempre falou da ‘importância de destronar a MPB’, correto?

É uma sigla absolutamente postiça. Eu me lembro de um prêmio em que aquela turma estava ganhando o prêmio de MPB e o Alceu Valença ganhou o prêmio de melhor disco regional, e ele mesmo reclamou: ‘Mas por que eu sou regional e os orçamentos são da MPB?’, afinal de contas a MPB tem influência de jazz, do rock... No entanto, essa sigla foi se consubstanciando no que ela é, dentro de uma esquerda politizada e ideologizada. Então eu vim aqui para poder chacoalhar isso, esse status quo que é mórbido. É uma herança muito ruim da Semana de Arte de 1922. Desde então a arte brasileira ficou toda estereotipada, e não muda de paradigma. Como é que pode passar 100 anos sem você revisitar, contestar, haver algum tipo de senão? Acho que a MPB tem essa coisa de uma herança delirante, de achar que o brasileiro é bonzinho. E isso refletiu muito na produção de rock no Brasil, porque as gravadoras achavam que o rock tem que ser fofo no Brasil, então amenizavam as mixagens, geralmente substituíam guitarras por violões. Agora, eu não questiono o talento dessas várias pessoas, o Tom Jobim é maravilhoso, o Caetano tem muito talento, o Gilberto Gil, todos tiveram parte integrante na minha formação musical.

Aproveitando o gancho da MPB, é curioso que ‘Me Chama’ tenha sido regravada pelo João Gilberto. Você ainda detesta essa versão?

Não detesto, é chiquérrima, a vestimenta é delicada. O João foi muito querido por me ligar de madrugada e detalhar o esmero que ele estava fazendo, com octeto de cordas, de violoncelo. Ele tinha gravado dez versões, queria mostrar tudo de uma maneira muito meticulosa. A minha gravação é uma das coisas mais precárias que existem em nível de qualidade sonora, mas ao mesmo tempo ela é a mais adequada porque é minha música, é a minha vida. E outra coisa, a música quando sai tem vida própria, seria patético da minha parte ficar policiando. Agora, sim, eu sou ciumento. Quando eu sei que uma pessoa vai fazer uma versão minha, fico num misto de gratidão, orgulho e apreensão. É normal para qualquer autor ter essa dualidade.

Você que está sempre rodando o Brasil, como sente o País em 2024? Vê sinais de melhora ou ainda somos a ‘Terra do Nunca’?

A expectativa é a mãe da decepção, então eu não tenho expectativa simplesmente para não decepcionar. Se o Brasil é esse atoleiro, que seja, sabe? Eu quero, antes de mais nada, viver a minha aventura. O que eu posso fazer e posso modificar, geralmente são coisas internas, ou seja, me tornar uma pessoa melhor. Agora, essa coisa de ficar reclamando do mundo, isso evaporou de mim, nem me irrito mais.

E é por isso que você se afastou um pouco de debates políticos, não vale mais a pena discutir?

Eu me afastei absolutamente de política porque eu tive um insight epifânico em relação a que eu sou uma nulidade, minha opinião não vai alterar um milímetro da realidade. Eu detesto política, detesto militantes, seja da direita, seja da esquerda. Poxa, estou com 66 anos e não vou ficar aqui gastando minha vida com inutilidades, coisas que não têm saída. Quero desenvolver minhas potencialidades, que eu acho que é a missão de qualquer ser humano. Se todo mundo pensasse que, antes de qualquer coisa, você tem que melhorar a si mesmo, não teríamos um monte de cretinos, idiotas, querendo modificar a vida dos outros, policiando, cancelando.

No ano passado, vazaram alguns áudios seus onde você criticava alguns colegas. Em um deles você também dizia que era mal tratado em programas como o do Serginho Groisman. Por quê?

Olha, eu vou te dizer uma coisa mais genérica, porque os áudios foram todos editados, todos fora de contexto, então eu acho que tudo que saiu é de uma absurdidade tamanha que eu não tenho o que comentar sobre isso. O Serginho é meu amigo pessoal, pra você ter uma ideia. Somos amigos de 40 anos, então eu acho que a resposta basicamente é isso. A maneira que esses áudios foram vazados foi criminosa. Então querer contra argumentar com uma ação criminosa dessa espécie é simplesmente aceitar que aquela coisa criminosa possa ter uma plausibilidade. Ela, para mim, não tem plausibilidade nenhuma.

O cantor Lobão no festival Rock in Rio II, 30/01/1991. Foto: Ana Carolina Fernandes/ Estadão

Há anos circula o rumor sobre uma cinebiografia sua, é possível?

Eu sou muito chato para isso, sabe? Eu sei que a minha vida é um tremendo script, um roteiro espetacular, que deixaria até Breaking Bad parecer um show da Xuxa (risos). Eu sei que daria uma puta série. Tentei algumas vezes, mas até agora não consegui bater o martelo para que os direitos fossem liberados. Pode ser que aconteça, mas só vou liberar quando eu tiver plena certeza de que seja um trabalho de arte, que tenha o mesmo empenho e o mesmo tipo de excelência que eu coloco no meu trabalho. Quando eu enxergar isso, com certeza esse filme haverá de nascer.

Há planos para um álbum de músicas inéditas em breve?

Sim, o nome do disco será O Vale da Estranheza. Eu queria ter começado em março a produção, mas tive que me estender, porque a produção do show se tornou muito complexa. Tive que participar muito da feitura, dos arranjos, dos ensaios e, junto com o meu sobrinho, que fez toda a arte gráfica, dos telões, que são totalmente sincronizados com a banda. Mas eu espero que esse disco seja um projeto mais célere do que os últimos que eu tenho feito.

Lobão – 50 Anos de Vida Bandida

  • Onde: Audio Club (Av. Francisco Matarazzo, 694)
  • Data: 26 de abril de 2024
  • Preços: R$ 50 a R$120
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Próximos shows do Lobão

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Entrevista por Gabriel Zorzetto

Repórter de Cultura do Estadão

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