A missão do trio de pop punk Blink-182, sucesso enorme no início dos anos 2000, ao subir no palco do Lollapalooza 2024, nesta sexta-feira, 22, era clara: agradar uma multidão de fãs que há décadas (sem exagero) esperavam a passagem da banda pelo País.
Em uma apresentação enérgica, barulhenta - no bom sentido - e emocionante, o vocalista e baixista Mark Hoppus, o guitarrista e vocalista Tom DeLonge e o baterista Travis Barker passaram por grandes hits, como All the Small Things e I Miss You, e apresentaram canções do disco One More Time…, de 2023, que representa esta nova fase da banda com a formação clássica que marcou quem era adolescente no começo do milênio.
As razões pelas quais o Blink-182 nunca havia vindo ao Brasil são quase fantasiosas. Já consolidados no cenário do pop rock, eles viriam ao País em setembro de 2005 para o extinto Chimera Music Festival. Meses antes, porém, anunciaram que o grupo entraria em hiato. Foram quatro anos até a reunião e mais dois até o lançamento de um novo disco, Neighborhoods - que aparece no setlist com Up All Night.
Depois, diz-se que foi o medo de avião de Barker que impediu a vinda. Ele teria superado o medo graças à atual mulher, Kourtney Kardashian. Fato é que o Blink não veio e, em 2015, mais uma pausa foi anunciada. Aí, em 2022, o trio fez a alegria dos fãs confirmando o retorno, novo álbum e a vinda ao Lollapalooza 2023. Só que não: Barker sofreu uma lesão no dedo e a banda foi substituída pelo duo Twenty One Pilots.
O Blink prometeu que viria neste ano e boatos de um novo cancelamento até surgiram, mas nada disso. Quando os primeiros acordes de Anthem Part Two entoaram no palco Budwiser, foi como se o recado estivesse dado: nós viemos, agora aproveitem! E o público, mesmo com o frio e molhada da chuva que atingiu o festival mais cedo, respondeu à altura.
Uma viagem no tempo
O Blink-182 escolheu começar o show em alta, com músicas mais antigas, como The Rock Show e Wendy Clear. Também gritaram, junto com os fãs, os palavrões e ofensas de Family Reunion, que fez sucesso no disco ao vivo The Mark, Tom, and Travis Show, de 2000.
A apresentação seguiu com músicas com Feeling This, Violence e Dumpweed. Foi nesse momento que o trio fez sua primeira interação com o público, um pouco esquisita, há de se dizer, com piadinhas de teor sexual e machistas que provavelmente fariam mais sentido em um show de 20 anos atrás. Era uma verdadeira viagem no tempo.
Depois de Reckless Abandon, o grupo ainda soltou algumas pérolas: “Grite se você acha que o Blink-182 é maior que os Beatles. Que p**** são os Beatles?”. Esse tipo de brincadeira faz parte dos shows da banda, mas é difícil não achar um pouco tosco. Perderam a chance de, por exemplo, fazer referências ao Brasil ou agradecerem aos fãs pela fidelidade.
A nostalgia é, de fato, o motor do show, tanto que, quando chegaram a tempos mais recentes, com More Than You Know e outras músicas de One More Time…, de 2023, o público desanimou um pouco. A banda recuperou o fôlego com Aliens Exist, do disco The Enema Strikes Back!, talvez o mais emblemático da carreira.
Depois, em um ponto alto do show, Mark Hoppus, anunciou: “É hora de uma música triste. É hora de um pouco de emo. De ligar para sua mãe e dizer que não foi só uma fase”. O público, grande parte na casa dos 30 anos, abraçou a ideia e cantou a ótima Stay Together for the Kids.
Foi perceptível, no entanto, que o trio escolheu deixar o melhor pro final: todas as músicas mais escutadas do grupo no streaming estão na última leva de canções do setlist.
O momento mais emocionante foi, sem dúvidas, I Miss You. Os fãs cantaram a plenos pulmões o refrão da música, que faz sucesso nas rádios brasileiras até hoje, e aplaudiram o solo de Barker ao final. E foi só então que veio uma menção ao cancelamento e aos anos de aguardo dos fãs. “Espero que nós sejamos dignos da espera”, disse Hoppus, acrescentando: “Tivemos que praticar muito”.
Outros bons momentos vieram, claro, com What’s My Age Again - quando pediram aplausos para as bandas que tocaram no festival antes deles, Arcade Fire e Offspring - e All The Small Things. Nesta segunda, foi bonito ver fãs pulando, sorrindo e fazendo um coro digno de uma plateia brasileira.
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A apresentação foi encerrada com One More Time…, que dá título à coletânea mais recente do grupo. “Older, but nothing’s any different” [Mais velhos, mas não tem nada diferente], cantam eles.
E de fato: Travis, Mark e Tom continuam os mesmos. Entregaram um show clássico que os fãs tanto esperavam. Dívida paga. Mas também fica a dúvida: será que não era a hora de deixar alguns comportamentos do passado de lado? Entre idas e vindas, o Blink-182 segue vivo há mais de três décadas. Se reinventar não faz mal para ninguém.