Gilberto Gil não precisa provar mais nada a ninguém. Por esse motivo, a análise de sua apresentação no Lollapalooza Brasil na tarde deste domingo, 24, inicialmente, deve passar isenta dessa régua.
Aos 81 anos, Gil levou ao palco o repertório ligeiramente modificado do que vem apresentando em festivais e shows pelo País e mundo afora nos últimos dois anos, desde que a pandemia deu uma trégua, com a Aquele Abraço Tour.
O cantor e compositor sente-se seguro com filhos e netos no palco, rodeado de afeto e com o privilégio de ter dezenas de sucesso para lançar mão, embora tenha se fixado em algumas cancões.
Dizem que quando ele não estiver mais por aqui, se transformará em uma espécie de orixá, divindade da mitologia iorubá cultuada nas religiões de matrizes africanas. Oxalá!
Com essa iluminação, então, Gil subiu ao palco do Lolla sabendo que encontraria, principalmente, um público jovem, mais ainda do que nos dois primeiros dias - o domingo tem Sam Smith, SZA e Greta Van Flett entre os heardliners.
Como primeiro ponto de conexão, então, enfileirou Punk da Periferia, Realce, Vamos Fugir e A Novidade: contestação, direito ao brilho, amor e consciência social.
Logo saudou o público: “A juventude tomou a música mundial. Merecem. São devotados. Viva a juventude brasileira”.
Citou ainda o lamaçal que tomou conta do Lollapalooza no sábado, 23. “Fiquei sabendo. Mas faz parte. Em Woodstock teve. Na Ilha de Wight tambem”. Como resposta recebeu um coro de “Gil eu te amo!”.
Com uma banda acrescida de sopros, Gil aproveitou o som mais encorpado e privilegiou músicas mais agitadas. Além das já citadas, tocou e cantou Palco, Toda Menina Baiana, Aquele Abraço e Avisa Lá.
Quase no final, Tempo Rei mostrou que os 60 anos de carreira foram generosos com Gil. Aliás, com toda sua geração. O recente anúncio da turnê que juntará Caetano Veloso e Maria Bethânia no palco causou corrida por ingressos. Gal Costa vivia algo parecido antes de morrer. Milton Nascimento encerrou sua carreira coberto de referências.
“Não se iludam”, enfatizou Gil quando cantou Tempo Rei. Na música brasileira, cada vez mais plural, há muito espaço para quem fez de sua obra um testemunho atemporal.