Luan Santana roqueiro e Ana Castela emocionada: Sertanejos do Rock in Rio ensaiam em Heliópolis


Cantores se reuniram com Chitãozinho e Xororó e Orquestra Sinfônica no Instituto Baccarelli, em São Paulo, na terça, 3. ‘Intenção não é atender a pedidos, é propor’, diz curador sobre críticas da inclusão do gênero

Por Sabrina Legramandi

Foi uma verdadeira surpresa quando o Rock in Rio anunciou, em abril, que a música sertaneja estaria presente pela primeira vez na história do maior festival do Brasil. Chitãozinho & Xororó, Ana Castela, Luan Santana, Simone Mendes e Junior se unirão à Orquestra Sinfônica de Heliópolis para apresentar o show Pra Sempre Sertanejo no Dia Brasil, dedicado apenas a atrações e ritmos brasileiros. A dupla ainda convidou o rapper Cabal para uma participação especial.

O Estadão teve a oportunidade de acompanhar o início da materialização da apresentação tão esperada. Na última terça, 3, Chitãozinho & Xororó comandaram o primeiro ensaio do Pra Sempre Sertanejo no “lar” da Orquestra Sinfônica: o Instituto Baccarelli, em São Paulo. Ana Castela, Luan Santana e Cabal também estavam presentes.

Luan Santana e Chitãozinho & Xororó ensaiam com a Orquestra Sinfônica de Heliópolis no Instituto Baccarelli, em São Paulo. Foto: Daniel Teixeira/Estadão
continua após a publicidade

A reunião deu um “gostinho” do que deve ser a apresentação no Rock in Rio. A Orquestra e a dupla devem ficar o tempo todo no palco, enquanto os demais artistas irão entrar, um de cada vez, para cantar os seus maiores sucessos.

“Eu quis trazer uma proposta geracional”, diz o cantor e compositor Zé Ricardo, curador que atua no Rock in Rio desde 2007 e, neste ano, ficou responsável pelo Dia Brasil. Segundo o artista, apenas dois repertórios da data não foram montados por ele: o do Pra Sempre Sertanejo, a cargo de Chitãozinho & Xororó, e do Pra Sempre Samba, feito por Zeca Pagodinho.

A dupla escolheu iniciar o show com o “sertanejo raiz”: vai cantar Saudade de Minha Terra. Depois, entrará Ana Castela, a mais jovem entre os sertanejos. Em entrevista coletiva realizada no camarim da cantora no Instituto, ela brinca que levará “a criançada” para o festival.

continua após a publicidade

“Nem sei se pode ter criança no Rock in Rio, mas vai ter”, brinca Ana, já chamada de “Xuxa da nova geração” por atrair o público infantil. “Automaticamente, a criançada que gosta de mim vai voltar a ouvir ‘modão’”, celebra.

Ana Castela se emocionou em ensaio com a Orquestra Sinfônica de Heliópolis. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O ensaio também significou descobertas e emoção para a cantora. Ela conta ter visto uma orquestra “pela primeira vez na vida” lá, no Instituto Baccarelli. Ana apareceu visivelmente emocionada ao ouvir os primeiros acordes da Orquestra Sinfônica de Heliópolis tocando dois de seus maiores hits, Nosso Quadro e Solteiro Forçado.

continua após a publicidade

“Muita coisa passando na minha cabeça”, define a cantora. “Mexe um pouco com o coração da gente, deixa a gente emocionado. Eu chorei aqui dentro [no camarim]. Lá, eu chorei. [...] Eu quero orquestra no meu show todo dia agora.”

Música clássica, rock e sertanejo

Foi com entusiasmo e certeza que Xororó recebeu o convite para cantar com o irmão no Rock in Rio. “[Na ligação com Zé Ricardo], eu falei: ‘Vou falar pelo meu irmão já. Ele sempre falou que tinha um defeito, uma falha no Rock in Rio, que não tinha sertanejo. Com certeza, ele vai topar, então está topado’”, relata, também em entrevista coletiva no Instituto Baccarelli ao lado de Chitãozinho.

continua após a publicidade

Para a dupla, “fazer um show bem bonito” é sinônimo de que o sertanejo possa ter ainda mais espaço no festival. “Nós pretendemos fazer lá o que viemos fazendo já há muito tempo. A diferença é que vai ter a Sinfônica tocando conosco e nós vamos ‘pesar um pouquinho mais a mão’ nas guitarras”, diz Xororó.

Chitãozinho & Xororó irão comandar show 'Pra Sempre Sertanejo' no Rock in Rio. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O peso das guitarras já pôde ser sentido no ensaio - mais especificamente, quando Luan Santana entrou para cantar o sucesso que o apresentou para o Brasil, Meteoro. No festival, o artista vai entoar seus maiores hits em um “pot-pourri”, nome dado à combinação de várias músicas em uma única faixa.

continua após a publicidade

O cantor conta já ter uma relação com o rock e o Rock in Rio: foi uma vez ao evento para assistir ao show de Elton John. O britânico esteve duas vezes no festival, em 2011 e 2015. “A primeira versão da Meteoro, se você ouviu, você já fala que é um pop rock sertanejo. Esse arranjo [do Pra Sempre Sertanejo] acentuou mais esse ‘lance’ do rock. Mas eu sempre gostei de ouvir rock”, afirma, também em uma coletiva no Instituto.

Da mesma maneira, a apresentação significa uma novidade para a Orquestra Sinfônica de Heliópolis. O grupo, que chegou a tocar com os Racionais MCs no The Town, quer continuar em grandes festivais para “quebrar paradigmas”, conta o maestro Edilson Ventureli ao Estadão.

Presença da Orquestra Sinfônica de Heliópolis no Rock in Rio é para 'quebrar paradigmas', diz maestro. Foto: Daniel Teixeira/Estadão
continua após a publicidade

“Quando nós começamos a ensinar música clássica na favela, 27 anos atrás, ninguém acreditava que era possível”, diz. “E hoje nós, de novo, vamos estar fazendo história, nos apresentando no primeiro show de música sertaneja do Rock in Rio.”

Com shows como o Para Sempre Sertanejo, a Orquestra e o maestro querem mostrar “que a música clássica com uma orquestra sinfônica não é uma coisa ‘careta’”. “As pessoas ainda vivem muito no imaginário de que vão chegar em um teatro pra assistir a um concerto e vão encontrar as pessoas de casaco e vestido longo, que é o que vemos nos filmes, nos programas de televisão”, afirma.

Isso não é real. A música clássica aqui é tão acessível quanto a música sertaneja, porque quem tem que entender ela somos nós [artistas]. A plateia só tem que abrir o coração e ouvir.

Edilson Ventureli

Para ‘propor’

O anúncio da inclusão dos sertanejos no festival provocou as mais diversas reações. Teve gente que achou que a adição veio até com certo atraso. Mas também teve aqueles que questionaram: o Rock in Rio não é sobre rock?

“Eu já ouvi muito esse tipo de comentário, [de pessoas] falando que o Rock in Rio tem que ser um evento completamente de rock, mas faz tempo que não é assim”, comenta Luan Santana, chamando as críticas de “opiniões individuais”. Ana Castela, que conta querer assistir ao show de Katy Perry no festival, diz focar mais no significado da apresentação para a sua carreira e a história da música sertaneja.

“Se você está lá pra me ver, se você não está lá pra me ver, eu estou no rock in Rio. Olha que ‘massa’, olha que legal, que benção de Deus na minha vida de estar no Rock in Rio”, comemora. “Tem muitas pessoas reclamando, mas essas pessoas não sabem o quanto para nós [artistas sertanejos] é tão bom isso.”

Segundo Zé Ricardo, a ideia de criar o Dia Brasil foi de Roberto Medina, criador do Rock in Rio. A proposta de incluir os sertanejos, porém, foi dele. “Depois de várias noites sem dormir, eu cheguei à conclusão de que a melhor coisa era homenagear os estilos mais importantes da música brasileira. E como fazer um Dia Brasil sem falar de sertanejo?”, questiona.

'Trabalho da curadoria não é atender a pedidos, é propor', diz curador do Dia Brasil no Rock in Rio. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Zé Ricardo esclarece que o trabalho da curadoria de um festival “não é atender a pedidos, é propor”. “Um festival é sobre você entrar em um lugar e sair com coisas que você não tinha. Porque, se for pra ver o show do seu artista preferido, você compra um ingresso na arena e vai. [O Rock in Rio] é para você entrar de um jeito e sair de outro”, afirma.

Integrantes da história da música sertaneja, Chitãozinho & Xororó avaliam a participação do gênero no festival como a “realização de um sonho”. Eles sabem que tiveram mérito em popularizar o gênero.

“Nós sentimos isso muito no começo [da carreira], que a gente não tinha o nosso trabalho reconhecido. Mas, com os anos e com tantas músicas que nós gravamos que se tornaram importantes na vida de tantas pessoas, fomos rompendo essa barreira”, diz Chitãozinho. “O doutor não tinha mais vergonha de ir na loja comprar o [nosso] disco”, celebra Xororó.

Foi uma verdadeira surpresa quando o Rock in Rio anunciou, em abril, que a música sertaneja estaria presente pela primeira vez na história do maior festival do Brasil. Chitãozinho & Xororó, Ana Castela, Luan Santana, Simone Mendes e Junior se unirão à Orquestra Sinfônica de Heliópolis para apresentar o show Pra Sempre Sertanejo no Dia Brasil, dedicado apenas a atrações e ritmos brasileiros. A dupla ainda convidou o rapper Cabal para uma participação especial.

O Estadão teve a oportunidade de acompanhar o início da materialização da apresentação tão esperada. Na última terça, 3, Chitãozinho & Xororó comandaram o primeiro ensaio do Pra Sempre Sertanejo no “lar” da Orquestra Sinfônica: o Instituto Baccarelli, em São Paulo. Ana Castela, Luan Santana e Cabal também estavam presentes.

Luan Santana e Chitãozinho & Xororó ensaiam com a Orquestra Sinfônica de Heliópolis no Instituto Baccarelli, em São Paulo. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

A reunião deu um “gostinho” do que deve ser a apresentação no Rock in Rio. A Orquestra e a dupla devem ficar o tempo todo no palco, enquanto os demais artistas irão entrar, um de cada vez, para cantar os seus maiores sucessos.

“Eu quis trazer uma proposta geracional”, diz o cantor e compositor Zé Ricardo, curador que atua no Rock in Rio desde 2007 e, neste ano, ficou responsável pelo Dia Brasil. Segundo o artista, apenas dois repertórios da data não foram montados por ele: o do Pra Sempre Sertanejo, a cargo de Chitãozinho & Xororó, e do Pra Sempre Samba, feito por Zeca Pagodinho.

A dupla escolheu iniciar o show com o “sertanejo raiz”: vai cantar Saudade de Minha Terra. Depois, entrará Ana Castela, a mais jovem entre os sertanejos. Em entrevista coletiva realizada no camarim da cantora no Instituto, ela brinca que levará “a criançada” para o festival.

“Nem sei se pode ter criança no Rock in Rio, mas vai ter”, brinca Ana, já chamada de “Xuxa da nova geração” por atrair o público infantil. “Automaticamente, a criançada que gosta de mim vai voltar a ouvir ‘modão’”, celebra.

Ana Castela se emocionou em ensaio com a Orquestra Sinfônica de Heliópolis. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O ensaio também significou descobertas e emoção para a cantora. Ela conta ter visto uma orquestra “pela primeira vez na vida” lá, no Instituto Baccarelli. Ana apareceu visivelmente emocionada ao ouvir os primeiros acordes da Orquestra Sinfônica de Heliópolis tocando dois de seus maiores hits, Nosso Quadro e Solteiro Forçado.

“Muita coisa passando na minha cabeça”, define a cantora. “Mexe um pouco com o coração da gente, deixa a gente emocionado. Eu chorei aqui dentro [no camarim]. Lá, eu chorei. [...] Eu quero orquestra no meu show todo dia agora.”

Música clássica, rock e sertanejo

Foi com entusiasmo e certeza que Xororó recebeu o convite para cantar com o irmão no Rock in Rio. “[Na ligação com Zé Ricardo], eu falei: ‘Vou falar pelo meu irmão já. Ele sempre falou que tinha um defeito, uma falha no Rock in Rio, que não tinha sertanejo. Com certeza, ele vai topar, então está topado’”, relata, também em entrevista coletiva no Instituto Baccarelli ao lado de Chitãozinho.

Para a dupla, “fazer um show bem bonito” é sinônimo de que o sertanejo possa ter ainda mais espaço no festival. “Nós pretendemos fazer lá o que viemos fazendo já há muito tempo. A diferença é que vai ter a Sinfônica tocando conosco e nós vamos ‘pesar um pouquinho mais a mão’ nas guitarras”, diz Xororó.

Chitãozinho & Xororó irão comandar show 'Pra Sempre Sertanejo' no Rock in Rio. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O peso das guitarras já pôde ser sentido no ensaio - mais especificamente, quando Luan Santana entrou para cantar o sucesso que o apresentou para o Brasil, Meteoro. No festival, o artista vai entoar seus maiores hits em um “pot-pourri”, nome dado à combinação de várias músicas em uma única faixa.

O cantor conta já ter uma relação com o rock e o Rock in Rio: foi uma vez ao evento para assistir ao show de Elton John. O britânico esteve duas vezes no festival, em 2011 e 2015. “A primeira versão da Meteoro, se você ouviu, você já fala que é um pop rock sertanejo. Esse arranjo [do Pra Sempre Sertanejo] acentuou mais esse ‘lance’ do rock. Mas eu sempre gostei de ouvir rock”, afirma, também em uma coletiva no Instituto.

Da mesma maneira, a apresentação significa uma novidade para a Orquestra Sinfônica de Heliópolis. O grupo, que chegou a tocar com os Racionais MCs no The Town, quer continuar em grandes festivais para “quebrar paradigmas”, conta o maestro Edilson Ventureli ao Estadão.

Presença da Orquestra Sinfônica de Heliópolis no Rock in Rio é para 'quebrar paradigmas', diz maestro. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

“Quando nós começamos a ensinar música clássica na favela, 27 anos atrás, ninguém acreditava que era possível”, diz. “E hoje nós, de novo, vamos estar fazendo história, nos apresentando no primeiro show de música sertaneja do Rock in Rio.”

Com shows como o Para Sempre Sertanejo, a Orquestra e o maestro querem mostrar “que a música clássica com uma orquestra sinfônica não é uma coisa ‘careta’”. “As pessoas ainda vivem muito no imaginário de que vão chegar em um teatro pra assistir a um concerto e vão encontrar as pessoas de casaco e vestido longo, que é o que vemos nos filmes, nos programas de televisão”, afirma.

Isso não é real. A música clássica aqui é tão acessível quanto a música sertaneja, porque quem tem que entender ela somos nós [artistas]. A plateia só tem que abrir o coração e ouvir.

Edilson Ventureli

Para ‘propor’

O anúncio da inclusão dos sertanejos no festival provocou as mais diversas reações. Teve gente que achou que a adição veio até com certo atraso. Mas também teve aqueles que questionaram: o Rock in Rio não é sobre rock?

“Eu já ouvi muito esse tipo de comentário, [de pessoas] falando que o Rock in Rio tem que ser um evento completamente de rock, mas faz tempo que não é assim”, comenta Luan Santana, chamando as críticas de “opiniões individuais”. Ana Castela, que conta querer assistir ao show de Katy Perry no festival, diz focar mais no significado da apresentação para a sua carreira e a história da música sertaneja.

“Se você está lá pra me ver, se você não está lá pra me ver, eu estou no rock in Rio. Olha que ‘massa’, olha que legal, que benção de Deus na minha vida de estar no Rock in Rio”, comemora. “Tem muitas pessoas reclamando, mas essas pessoas não sabem o quanto para nós [artistas sertanejos] é tão bom isso.”

Segundo Zé Ricardo, a ideia de criar o Dia Brasil foi de Roberto Medina, criador do Rock in Rio. A proposta de incluir os sertanejos, porém, foi dele. “Depois de várias noites sem dormir, eu cheguei à conclusão de que a melhor coisa era homenagear os estilos mais importantes da música brasileira. E como fazer um Dia Brasil sem falar de sertanejo?”, questiona.

'Trabalho da curadoria não é atender a pedidos, é propor', diz curador do Dia Brasil no Rock in Rio. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Zé Ricardo esclarece que o trabalho da curadoria de um festival “não é atender a pedidos, é propor”. “Um festival é sobre você entrar em um lugar e sair com coisas que você não tinha. Porque, se for pra ver o show do seu artista preferido, você compra um ingresso na arena e vai. [O Rock in Rio] é para você entrar de um jeito e sair de outro”, afirma.

Integrantes da história da música sertaneja, Chitãozinho & Xororó avaliam a participação do gênero no festival como a “realização de um sonho”. Eles sabem que tiveram mérito em popularizar o gênero.

“Nós sentimos isso muito no começo [da carreira], que a gente não tinha o nosso trabalho reconhecido. Mas, com os anos e com tantas músicas que nós gravamos que se tornaram importantes na vida de tantas pessoas, fomos rompendo essa barreira”, diz Chitãozinho. “O doutor não tinha mais vergonha de ir na loja comprar o [nosso] disco”, celebra Xororó.

Foi uma verdadeira surpresa quando o Rock in Rio anunciou, em abril, que a música sertaneja estaria presente pela primeira vez na história do maior festival do Brasil. Chitãozinho & Xororó, Ana Castela, Luan Santana, Simone Mendes e Junior se unirão à Orquestra Sinfônica de Heliópolis para apresentar o show Pra Sempre Sertanejo no Dia Brasil, dedicado apenas a atrações e ritmos brasileiros. A dupla ainda convidou o rapper Cabal para uma participação especial.

O Estadão teve a oportunidade de acompanhar o início da materialização da apresentação tão esperada. Na última terça, 3, Chitãozinho & Xororó comandaram o primeiro ensaio do Pra Sempre Sertanejo no “lar” da Orquestra Sinfônica: o Instituto Baccarelli, em São Paulo. Ana Castela, Luan Santana e Cabal também estavam presentes.

Luan Santana e Chitãozinho & Xororó ensaiam com a Orquestra Sinfônica de Heliópolis no Instituto Baccarelli, em São Paulo. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

A reunião deu um “gostinho” do que deve ser a apresentação no Rock in Rio. A Orquestra e a dupla devem ficar o tempo todo no palco, enquanto os demais artistas irão entrar, um de cada vez, para cantar os seus maiores sucessos.

“Eu quis trazer uma proposta geracional”, diz o cantor e compositor Zé Ricardo, curador que atua no Rock in Rio desde 2007 e, neste ano, ficou responsável pelo Dia Brasil. Segundo o artista, apenas dois repertórios da data não foram montados por ele: o do Pra Sempre Sertanejo, a cargo de Chitãozinho & Xororó, e do Pra Sempre Samba, feito por Zeca Pagodinho.

A dupla escolheu iniciar o show com o “sertanejo raiz”: vai cantar Saudade de Minha Terra. Depois, entrará Ana Castela, a mais jovem entre os sertanejos. Em entrevista coletiva realizada no camarim da cantora no Instituto, ela brinca que levará “a criançada” para o festival.

“Nem sei se pode ter criança no Rock in Rio, mas vai ter”, brinca Ana, já chamada de “Xuxa da nova geração” por atrair o público infantil. “Automaticamente, a criançada que gosta de mim vai voltar a ouvir ‘modão’”, celebra.

Ana Castela se emocionou em ensaio com a Orquestra Sinfônica de Heliópolis. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O ensaio também significou descobertas e emoção para a cantora. Ela conta ter visto uma orquestra “pela primeira vez na vida” lá, no Instituto Baccarelli. Ana apareceu visivelmente emocionada ao ouvir os primeiros acordes da Orquestra Sinfônica de Heliópolis tocando dois de seus maiores hits, Nosso Quadro e Solteiro Forçado.

“Muita coisa passando na minha cabeça”, define a cantora. “Mexe um pouco com o coração da gente, deixa a gente emocionado. Eu chorei aqui dentro [no camarim]. Lá, eu chorei. [...] Eu quero orquestra no meu show todo dia agora.”

Música clássica, rock e sertanejo

Foi com entusiasmo e certeza que Xororó recebeu o convite para cantar com o irmão no Rock in Rio. “[Na ligação com Zé Ricardo], eu falei: ‘Vou falar pelo meu irmão já. Ele sempre falou que tinha um defeito, uma falha no Rock in Rio, que não tinha sertanejo. Com certeza, ele vai topar, então está topado’”, relata, também em entrevista coletiva no Instituto Baccarelli ao lado de Chitãozinho.

Para a dupla, “fazer um show bem bonito” é sinônimo de que o sertanejo possa ter ainda mais espaço no festival. “Nós pretendemos fazer lá o que viemos fazendo já há muito tempo. A diferença é que vai ter a Sinfônica tocando conosco e nós vamos ‘pesar um pouquinho mais a mão’ nas guitarras”, diz Xororó.

Chitãozinho & Xororó irão comandar show 'Pra Sempre Sertanejo' no Rock in Rio. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O peso das guitarras já pôde ser sentido no ensaio - mais especificamente, quando Luan Santana entrou para cantar o sucesso que o apresentou para o Brasil, Meteoro. No festival, o artista vai entoar seus maiores hits em um “pot-pourri”, nome dado à combinação de várias músicas em uma única faixa.

O cantor conta já ter uma relação com o rock e o Rock in Rio: foi uma vez ao evento para assistir ao show de Elton John. O britânico esteve duas vezes no festival, em 2011 e 2015. “A primeira versão da Meteoro, se você ouviu, você já fala que é um pop rock sertanejo. Esse arranjo [do Pra Sempre Sertanejo] acentuou mais esse ‘lance’ do rock. Mas eu sempre gostei de ouvir rock”, afirma, também em uma coletiva no Instituto.

Da mesma maneira, a apresentação significa uma novidade para a Orquestra Sinfônica de Heliópolis. O grupo, que chegou a tocar com os Racionais MCs no The Town, quer continuar em grandes festivais para “quebrar paradigmas”, conta o maestro Edilson Ventureli ao Estadão.

Presença da Orquestra Sinfônica de Heliópolis no Rock in Rio é para 'quebrar paradigmas', diz maestro. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

“Quando nós começamos a ensinar música clássica na favela, 27 anos atrás, ninguém acreditava que era possível”, diz. “E hoje nós, de novo, vamos estar fazendo história, nos apresentando no primeiro show de música sertaneja do Rock in Rio.”

Com shows como o Para Sempre Sertanejo, a Orquestra e o maestro querem mostrar “que a música clássica com uma orquestra sinfônica não é uma coisa ‘careta’”. “As pessoas ainda vivem muito no imaginário de que vão chegar em um teatro pra assistir a um concerto e vão encontrar as pessoas de casaco e vestido longo, que é o que vemos nos filmes, nos programas de televisão”, afirma.

Isso não é real. A música clássica aqui é tão acessível quanto a música sertaneja, porque quem tem que entender ela somos nós [artistas]. A plateia só tem que abrir o coração e ouvir.

Edilson Ventureli

Para ‘propor’

O anúncio da inclusão dos sertanejos no festival provocou as mais diversas reações. Teve gente que achou que a adição veio até com certo atraso. Mas também teve aqueles que questionaram: o Rock in Rio não é sobre rock?

“Eu já ouvi muito esse tipo de comentário, [de pessoas] falando que o Rock in Rio tem que ser um evento completamente de rock, mas faz tempo que não é assim”, comenta Luan Santana, chamando as críticas de “opiniões individuais”. Ana Castela, que conta querer assistir ao show de Katy Perry no festival, diz focar mais no significado da apresentação para a sua carreira e a história da música sertaneja.

“Se você está lá pra me ver, se você não está lá pra me ver, eu estou no rock in Rio. Olha que ‘massa’, olha que legal, que benção de Deus na minha vida de estar no Rock in Rio”, comemora. “Tem muitas pessoas reclamando, mas essas pessoas não sabem o quanto para nós [artistas sertanejos] é tão bom isso.”

Segundo Zé Ricardo, a ideia de criar o Dia Brasil foi de Roberto Medina, criador do Rock in Rio. A proposta de incluir os sertanejos, porém, foi dele. “Depois de várias noites sem dormir, eu cheguei à conclusão de que a melhor coisa era homenagear os estilos mais importantes da música brasileira. E como fazer um Dia Brasil sem falar de sertanejo?”, questiona.

'Trabalho da curadoria não é atender a pedidos, é propor', diz curador do Dia Brasil no Rock in Rio. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Zé Ricardo esclarece que o trabalho da curadoria de um festival “não é atender a pedidos, é propor”. “Um festival é sobre você entrar em um lugar e sair com coisas que você não tinha. Porque, se for pra ver o show do seu artista preferido, você compra um ingresso na arena e vai. [O Rock in Rio] é para você entrar de um jeito e sair de outro”, afirma.

Integrantes da história da música sertaneja, Chitãozinho & Xororó avaliam a participação do gênero no festival como a “realização de um sonho”. Eles sabem que tiveram mérito em popularizar o gênero.

“Nós sentimos isso muito no começo [da carreira], que a gente não tinha o nosso trabalho reconhecido. Mas, com os anos e com tantas músicas que nós gravamos que se tornaram importantes na vida de tantas pessoas, fomos rompendo essa barreira”, diz Chitãozinho. “O doutor não tinha mais vergonha de ir na loja comprar o [nosso] disco”, celebra Xororó.

Foi uma verdadeira surpresa quando o Rock in Rio anunciou, em abril, que a música sertaneja estaria presente pela primeira vez na história do maior festival do Brasil. Chitãozinho & Xororó, Ana Castela, Luan Santana, Simone Mendes e Junior se unirão à Orquestra Sinfônica de Heliópolis para apresentar o show Pra Sempre Sertanejo no Dia Brasil, dedicado apenas a atrações e ritmos brasileiros. A dupla ainda convidou o rapper Cabal para uma participação especial.

O Estadão teve a oportunidade de acompanhar o início da materialização da apresentação tão esperada. Na última terça, 3, Chitãozinho & Xororó comandaram o primeiro ensaio do Pra Sempre Sertanejo no “lar” da Orquestra Sinfônica: o Instituto Baccarelli, em São Paulo. Ana Castela, Luan Santana e Cabal também estavam presentes.

Luan Santana e Chitãozinho & Xororó ensaiam com a Orquestra Sinfônica de Heliópolis no Instituto Baccarelli, em São Paulo. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

A reunião deu um “gostinho” do que deve ser a apresentação no Rock in Rio. A Orquestra e a dupla devem ficar o tempo todo no palco, enquanto os demais artistas irão entrar, um de cada vez, para cantar os seus maiores sucessos.

“Eu quis trazer uma proposta geracional”, diz o cantor e compositor Zé Ricardo, curador que atua no Rock in Rio desde 2007 e, neste ano, ficou responsável pelo Dia Brasil. Segundo o artista, apenas dois repertórios da data não foram montados por ele: o do Pra Sempre Sertanejo, a cargo de Chitãozinho & Xororó, e do Pra Sempre Samba, feito por Zeca Pagodinho.

A dupla escolheu iniciar o show com o “sertanejo raiz”: vai cantar Saudade de Minha Terra. Depois, entrará Ana Castela, a mais jovem entre os sertanejos. Em entrevista coletiva realizada no camarim da cantora no Instituto, ela brinca que levará “a criançada” para o festival.

“Nem sei se pode ter criança no Rock in Rio, mas vai ter”, brinca Ana, já chamada de “Xuxa da nova geração” por atrair o público infantil. “Automaticamente, a criançada que gosta de mim vai voltar a ouvir ‘modão’”, celebra.

Ana Castela se emocionou em ensaio com a Orquestra Sinfônica de Heliópolis. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O ensaio também significou descobertas e emoção para a cantora. Ela conta ter visto uma orquestra “pela primeira vez na vida” lá, no Instituto Baccarelli. Ana apareceu visivelmente emocionada ao ouvir os primeiros acordes da Orquestra Sinfônica de Heliópolis tocando dois de seus maiores hits, Nosso Quadro e Solteiro Forçado.

“Muita coisa passando na minha cabeça”, define a cantora. “Mexe um pouco com o coração da gente, deixa a gente emocionado. Eu chorei aqui dentro [no camarim]. Lá, eu chorei. [...] Eu quero orquestra no meu show todo dia agora.”

Música clássica, rock e sertanejo

Foi com entusiasmo e certeza que Xororó recebeu o convite para cantar com o irmão no Rock in Rio. “[Na ligação com Zé Ricardo], eu falei: ‘Vou falar pelo meu irmão já. Ele sempre falou que tinha um defeito, uma falha no Rock in Rio, que não tinha sertanejo. Com certeza, ele vai topar, então está topado’”, relata, também em entrevista coletiva no Instituto Baccarelli ao lado de Chitãozinho.

Para a dupla, “fazer um show bem bonito” é sinônimo de que o sertanejo possa ter ainda mais espaço no festival. “Nós pretendemos fazer lá o que viemos fazendo já há muito tempo. A diferença é que vai ter a Sinfônica tocando conosco e nós vamos ‘pesar um pouquinho mais a mão’ nas guitarras”, diz Xororó.

Chitãozinho & Xororó irão comandar show 'Pra Sempre Sertanejo' no Rock in Rio. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O peso das guitarras já pôde ser sentido no ensaio - mais especificamente, quando Luan Santana entrou para cantar o sucesso que o apresentou para o Brasil, Meteoro. No festival, o artista vai entoar seus maiores hits em um “pot-pourri”, nome dado à combinação de várias músicas em uma única faixa.

O cantor conta já ter uma relação com o rock e o Rock in Rio: foi uma vez ao evento para assistir ao show de Elton John. O britânico esteve duas vezes no festival, em 2011 e 2015. “A primeira versão da Meteoro, se você ouviu, você já fala que é um pop rock sertanejo. Esse arranjo [do Pra Sempre Sertanejo] acentuou mais esse ‘lance’ do rock. Mas eu sempre gostei de ouvir rock”, afirma, também em uma coletiva no Instituto.

Da mesma maneira, a apresentação significa uma novidade para a Orquestra Sinfônica de Heliópolis. O grupo, que chegou a tocar com os Racionais MCs no The Town, quer continuar em grandes festivais para “quebrar paradigmas”, conta o maestro Edilson Ventureli ao Estadão.

Presença da Orquestra Sinfônica de Heliópolis no Rock in Rio é para 'quebrar paradigmas', diz maestro. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

“Quando nós começamos a ensinar música clássica na favela, 27 anos atrás, ninguém acreditava que era possível”, diz. “E hoje nós, de novo, vamos estar fazendo história, nos apresentando no primeiro show de música sertaneja do Rock in Rio.”

Com shows como o Para Sempre Sertanejo, a Orquestra e o maestro querem mostrar “que a música clássica com uma orquestra sinfônica não é uma coisa ‘careta’”. “As pessoas ainda vivem muito no imaginário de que vão chegar em um teatro pra assistir a um concerto e vão encontrar as pessoas de casaco e vestido longo, que é o que vemos nos filmes, nos programas de televisão”, afirma.

Isso não é real. A música clássica aqui é tão acessível quanto a música sertaneja, porque quem tem que entender ela somos nós [artistas]. A plateia só tem que abrir o coração e ouvir.

Edilson Ventureli

Para ‘propor’

O anúncio da inclusão dos sertanejos no festival provocou as mais diversas reações. Teve gente que achou que a adição veio até com certo atraso. Mas também teve aqueles que questionaram: o Rock in Rio não é sobre rock?

“Eu já ouvi muito esse tipo de comentário, [de pessoas] falando que o Rock in Rio tem que ser um evento completamente de rock, mas faz tempo que não é assim”, comenta Luan Santana, chamando as críticas de “opiniões individuais”. Ana Castela, que conta querer assistir ao show de Katy Perry no festival, diz focar mais no significado da apresentação para a sua carreira e a história da música sertaneja.

“Se você está lá pra me ver, se você não está lá pra me ver, eu estou no rock in Rio. Olha que ‘massa’, olha que legal, que benção de Deus na minha vida de estar no Rock in Rio”, comemora. “Tem muitas pessoas reclamando, mas essas pessoas não sabem o quanto para nós [artistas sertanejos] é tão bom isso.”

Segundo Zé Ricardo, a ideia de criar o Dia Brasil foi de Roberto Medina, criador do Rock in Rio. A proposta de incluir os sertanejos, porém, foi dele. “Depois de várias noites sem dormir, eu cheguei à conclusão de que a melhor coisa era homenagear os estilos mais importantes da música brasileira. E como fazer um Dia Brasil sem falar de sertanejo?”, questiona.

'Trabalho da curadoria não é atender a pedidos, é propor', diz curador do Dia Brasil no Rock in Rio. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Zé Ricardo esclarece que o trabalho da curadoria de um festival “não é atender a pedidos, é propor”. “Um festival é sobre você entrar em um lugar e sair com coisas que você não tinha. Porque, se for pra ver o show do seu artista preferido, você compra um ingresso na arena e vai. [O Rock in Rio] é para você entrar de um jeito e sair de outro”, afirma.

Integrantes da história da música sertaneja, Chitãozinho & Xororó avaliam a participação do gênero no festival como a “realização de um sonho”. Eles sabem que tiveram mérito em popularizar o gênero.

“Nós sentimos isso muito no começo [da carreira], que a gente não tinha o nosso trabalho reconhecido. Mas, com os anos e com tantas músicas que nós gravamos que se tornaram importantes na vida de tantas pessoas, fomos rompendo essa barreira”, diz Chitãozinho. “O doutor não tinha mais vergonha de ir na loja comprar o [nosso] disco”, celebra Xororó.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.