Luiza Lian desconstrói ‘disco de canções’ e lança o álbum ‘Azul Moderno’


Álbum tem show de lançamento marcado para os dias 20 e 21 de outubro em São Paulo, no Teatro Oficina

Por Pedro Antunes

Luiza Lian, ao criar Oyá Tempo, aquele que era seu segundo disco e fundamental para posicioná-la como uma cantora “além da canção”, queria produzir um EP ou uma mixtape. “Eram algumas músicas”, ela se lembra.

Pois Oyá Tempo acabou por se tornar um álbum-visual, um média-metragem de pouco mais de 27 minutos composto por oito faixas nas quais a percussão da umbanda se encontra com elementos eletrônicos trazidos por Charles Tixier. Como uma árvore no campo, a artista deixou que a direção do vento guiasse para onde cresceria. 

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Funcionou, afinal. Oyá Tempo, que sequer era para ser um disco, figurou nas listas de melhores daquele ano (de 2017), inclusive para a APCA, a Associação Paulista de Críticos de Arte.

Nisso, Azul Moderno, o terceiro trabalho da cantora e compositora, se assemelha ao antecessor. De novo, Luiza se colocou ao vento. E deixou que ele a mostrasse qual seria a direção. 

E, mais uma vez, o resultado foi distante daquele que ela imaginava, lá atrás (por volta de 2015, quando algumas das canções foram criadas). Azul Moderno, lançado pelo Selo Risco, veja só, era um disco de canções, algo orgânico de violão.

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Sua versão final, cujo show de lançamento está marcado para este fim de semana (sábado, 20, e domingo, 21), no Teatro Oficina, em São Paulo, é uma revisão com colagens de um álbum que nunca viu a luz o dia. 

Explico: Azul Moderno, cujo título ela definira há tempos, foi criado sob a batuta principal de Tim Bernardes (d’O Terno e do elogiado disco solo Recomeçar), mas no meio do caminho, diante de novas necessidades estéticas de Luiza e de Tixier, produtor que já havia trabalhado em Oyá Tempo, passou a retrabalhar nas faixas já gravadas.

Fez um remix, recolocando cada peça que compunha Azul Moderno em outro lugar. 

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Luiza Lian lançou o disco 'Azul Moderno' Foto: Fernando Banzi

“As vontades foram mudando”, explica Luiza, sobre o resultado final do álbum. “Para mim, é importante deixar que as coisas me guiem dessa forma.” Ela cita Paulinho da Viola como forma de se levar na música, com um verso de Timoneiro: “Não sou eu quem me navega / Quem me navega é o mar”.

“Para mim, é isso. É interessante estar aberto para que os encontros possam trazer novidades e deixar que isso tudo seja levado. Para mim, isso foi importante, como ver os músicos lendo uma canção e tendo uma interpretação dela.” 

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Construído para depois ser desconstruído, o novo trabalho de Luiza Lian é poesia surpreendentemente pop. O que Tixier fez ao refazer essas canções não obstruiu a potência inerente de cada uma das faixas. Azul Moderno é um grito mais suave de Luiza Lian a respeito do tempo, do hoje, e de sua ancestralidade, se comparado ao antecessor.

“Tinha mais raiva no Oyá Tempo, né?”, ela concorda. Azul Moderno apresenta uma carga melancólica de impacto imediato. O canto de Luiza, sem o uso de efeitos, é ligado diretamente à essa ideia de pureza e cristalinidade. 

Vem Dizer Tchau é a faixa de abertura do disco, uma canção que desprende, de desfazer os últimos laços, do tipo que coloca, enfim, um ponto final. Por mais doloroso que ele possa ser. “Foi embora antes da cidade dormir / Hoje eu me lembrei do que aconteceu / Sobre a mesa esfria o macarrão de ontem / Não se despediu e o resto dispersou”, ela canta – o tal “macarrão de ontem” coloca o fim muito próximo, foi ontem, ainda esfria sobre a mesa. “Era um momento mais melancólico da minha vida”, explica. 

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Oyá Tempo e Azul Moderno produzem, juntos, um grande estudo de Luiza Lian sobre o tempo. Em Oyá, a artista se coloca na distância, buscando respostas na própria espiritualidade e na história. Com Azul Moderno, as composições, assinadas por Luiza e, em quatro delas, também por Leda Cartum, se aproximam dessa relação líquida com o mundo, com o amor, com a existência.

“Oyá é mais etéreo, que trata da espiritualidade. Desta vez, falo sobre um tempo mais próximo.”

Luiza Lian lançou o disco 'Azul Moderno' Foto: Fernando Banzi
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Por isso, também, Azul Moderno é mais próximo. Porque ele trata das agonias comuns ao ouvinte. Luiza Lian, artista que se prova cada vez mais camaleônica, desta vez canta o corriqueiro como disfarce para o existencialismo profundo e questionador que existe dentro do seu cancioneiro.

Uma transa de ontem, por exemplo, reflete sobre a ancestralidade feminina (da música Mil Mulheres), a rua com nome de um rio afogado pelo concreto trata do descaso com a natureza (em Iarinhas).

“Gosto mesmo é de cantar”, ela conta. “E de ver para onde o canto pode me levar.” 

Luiza Lian, ao criar Oyá Tempo, aquele que era seu segundo disco e fundamental para posicioná-la como uma cantora “além da canção”, queria produzir um EP ou uma mixtape. “Eram algumas músicas”, ela se lembra.

Pois Oyá Tempo acabou por se tornar um álbum-visual, um média-metragem de pouco mais de 27 minutos composto por oito faixas nas quais a percussão da umbanda se encontra com elementos eletrônicos trazidos por Charles Tixier. Como uma árvore no campo, a artista deixou que a direção do vento guiasse para onde cresceria. 

Funcionou, afinal. Oyá Tempo, que sequer era para ser um disco, figurou nas listas de melhores daquele ano (de 2017), inclusive para a APCA, a Associação Paulista de Críticos de Arte.

Nisso, Azul Moderno, o terceiro trabalho da cantora e compositora, se assemelha ao antecessor. De novo, Luiza se colocou ao vento. E deixou que ele a mostrasse qual seria a direção. 

E, mais uma vez, o resultado foi distante daquele que ela imaginava, lá atrás (por volta de 2015, quando algumas das canções foram criadas). Azul Moderno, lançado pelo Selo Risco, veja só, era um disco de canções, algo orgânico de violão.

Sua versão final, cujo show de lançamento está marcado para este fim de semana (sábado, 20, e domingo, 21), no Teatro Oficina, em São Paulo, é uma revisão com colagens de um álbum que nunca viu a luz o dia. 

Explico: Azul Moderno, cujo título ela definira há tempos, foi criado sob a batuta principal de Tim Bernardes (d’O Terno e do elogiado disco solo Recomeçar), mas no meio do caminho, diante de novas necessidades estéticas de Luiza e de Tixier, produtor que já havia trabalhado em Oyá Tempo, passou a retrabalhar nas faixas já gravadas.

Fez um remix, recolocando cada peça que compunha Azul Moderno em outro lugar. 

Luiza Lian lançou o disco 'Azul Moderno' Foto: Fernando Banzi

“As vontades foram mudando”, explica Luiza, sobre o resultado final do álbum. “Para mim, é importante deixar que as coisas me guiem dessa forma.” Ela cita Paulinho da Viola como forma de se levar na música, com um verso de Timoneiro: “Não sou eu quem me navega / Quem me navega é o mar”.

“Para mim, é isso. É interessante estar aberto para que os encontros possam trazer novidades e deixar que isso tudo seja levado. Para mim, isso foi importante, como ver os músicos lendo uma canção e tendo uma interpretação dela.” 

Construído para depois ser desconstruído, o novo trabalho de Luiza Lian é poesia surpreendentemente pop. O que Tixier fez ao refazer essas canções não obstruiu a potência inerente de cada uma das faixas. Azul Moderno é um grito mais suave de Luiza Lian a respeito do tempo, do hoje, e de sua ancestralidade, se comparado ao antecessor.

“Tinha mais raiva no Oyá Tempo, né?”, ela concorda. Azul Moderno apresenta uma carga melancólica de impacto imediato. O canto de Luiza, sem o uso de efeitos, é ligado diretamente à essa ideia de pureza e cristalinidade. 

Vem Dizer Tchau é a faixa de abertura do disco, uma canção que desprende, de desfazer os últimos laços, do tipo que coloca, enfim, um ponto final. Por mais doloroso que ele possa ser. “Foi embora antes da cidade dormir / Hoje eu me lembrei do que aconteceu / Sobre a mesa esfria o macarrão de ontem / Não se despediu e o resto dispersou”, ela canta – o tal “macarrão de ontem” coloca o fim muito próximo, foi ontem, ainda esfria sobre a mesa. “Era um momento mais melancólico da minha vida”, explica. 

Oyá Tempo e Azul Moderno produzem, juntos, um grande estudo de Luiza Lian sobre o tempo. Em Oyá, a artista se coloca na distância, buscando respostas na própria espiritualidade e na história. Com Azul Moderno, as composições, assinadas por Luiza e, em quatro delas, também por Leda Cartum, se aproximam dessa relação líquida com o mundo, com o amor, com a existência.

“Oyá é mais etéreo, que trata da espiritualidade. Desta vez, falo sobre um tempo mais próximo.”

Luiza Lian lançou o disco 'Azul Moderno' Foto: Fernando Banzi

Por isso, também, Azul Moderno é mais próximo. Porque ele trata das agonias comuns ao ouvinte. Luiza Lian, artista que se prova cada vez mais camaleônica, desta vez canta o corriqueiro como disfarce para o existencialismo profundo e questionador que existe dentro do seu cancioneiro.

Uma transa de ontem, por exemplo, reflete sobre a ancestralidade feminina (da música Mil Mulheres), a rua com nome de um rio afogado pelo concreto trata do descaso com a natureza (em Iarinhas).

“Gosto mesmo é de cantar”, ela conta. “E de ver para onde o canto pode me levar.” 

Luiza Lian, ao criar Oyá Tempo, aquele que era seu segundo disco e fundamental para posicioná-la como uma cantora “além da canção”, queria produzir um EP ou uma mixtape. “Eram algumas músicas”, ela se lembra.

Pois Oyá Tempo acabou por se tornar um álbum-visual, um média-metragem de pouco mais de 27 minutos composto por oito faixas nas quais a percussão da umbanda se encontra com elementos eletrônicos trazidos por Charles Tixier. Como uma árvore no campo, a artista deixou que a direção do vento guiasse para onde cresceria. 

Funcionou, afinal. Oyá Tempo, que sequer era para ser um disco, figurou nas listas de melhores daquele ano (de 2017), inclusive para a APCA, a Associação Paulista de Críticos de Arte.

Nisso, Azul Moderno, o terceiro trabalho da cantora e compositora, se assemelha ao antecessor. De novo, Luiza se colocou ao vento. E deixou que ele a mostrasse qual seria a direção. 

E, mais uma vez, o resultado foi distante daquele que ela imaginava, lá atrás (por volta de 2015, quando algumas das canções foram criadas). Azul Moderno, lançado pelo Selo Risco, veja só, era um disco de canções, algo orgânico de violão.

Sua versão final, cujo show de lançamento está marcado para este fim de semana (sábado, 20, e domingo, 21), no Teatro Oficina, em São Paulo, é uma revisão com colagens de um álbum que nunca viu a luz o dia. 

Explico: Azul Moderno, cujo título ela definira há tempos, foi criado sob a batuta principal de Tim Bernardes (d’O Terno e do elogiado disco solo Recomeçar), mas no meio do caminho, diante de novas necessidades estéticas de Luiza e de Tixier, produtor que já havia trabalhado em Oyá Tempo, passou a retrabalhar nas faixas já gravadas.

Fez um remix, recolocando cada peça que compunha Azul Moderno em outro lugar. 

Luiza Lian lançou o disco 'Azul Moderno' Foto: Fernando Banzi

“As vontades foram mudando”, explica Luiza, sobre o resultado final do álbum. “Para mim, é importante deixar que as coisas me guiem dessa forma.” Ela cita Paulinho da Viola como forma de se levar na música, com um verso de Timoneiro: “Não sou eu quem me navega / Quem me navega é o mar”.

“Para mim, é isso. É interessante estar aberto para que os encontros possam trazer novidades e deixar que isso tudo seja levado. Para mim, isso foi importante, como ver os músicos lendo uma canção e tendo uma interpretação dela.” 

Construído para depois ser desconstruído, o novo trabalho de Luiza Lian é poesia surpreendentemente pop. O que Tixier fez ao refazer essas canções não obstruiu a potência inerente de cada uma das faixas. Azul Moderno é um grito mais suave de Luiza Lian a respeito do tempo, do hoje, e de sua ancestralidade, se comparado ao antecessor.

“Tinha mais raiva no Oyá Tempo, né?”, ela concorda. Azul Moderno apresenta uma carga melancólica de impacto imediato. O canto de Luiza, sem o uso de efeitos, é ligado diretamente à essa ideia de pureza e cristalinidade. 

Vem Dizer Tchau é a faixa de abertura do disco, uma canção que desprende, de desfazer os últimos laços, do tipo que coloca, enfim, um ponto final. Por mais doloroso que ele possa ser. “Foi embora antes da cidade dormir / Hoje eu me lembrei do que aconteceu / Sobre a mesa esfria o macarrão de ontem / Não se despediu e o resto dispersou”, ela canta – o tal “macarrão de ontem” coloca o fim muito próximo, foi ontem, ainda esfria sobre a mesa. “Era um momento mais melancólico da minha vida”, explica. 

Oyá Tempo e Azul Moderno produzem, juntos, um grande estudo de Luiza Lian sobre o tempo. Em Oyá, a artista se coloca na distância, buscando respostas na própria espiritualidade e na história. Com Azul Moderno, as composições, assinadas por Luiza e, em quatro delas, também por Leda Cartum, se aproximam dessa relação líquida com o mundo, com o amor, com a existência.

“Oyá é mais etéreo, que trata da espiritualidade. Desta vez, falo sobre um tempo mais próximo.”

Luiza Lian lançou o disco 'Azul Moderno' Foto: Fernando Banzi

Por isso, também, Azul Moderno é mais próximo. Porque ele trata das agonias comuns ao ouvinte. Luiza Lian, artista que se prova cada vez mais camaleônica, desta vez canta o corriqueiro como disfarce para o existencialismo profundo e questionador que existe dentro do seu cancioneiro.

Uma transa de ontem, por exemplo, reflete sobre a ancestralidade feminina (da música Mil Mulheres), a rua com nome de um rio afogado pelo concreto trata do descaso com a natureza (em Iarinhas).

“Gosto mesmo é de cantar”, ela conta. “E de ver para onde o canto pode me levar.” 

Luiza Lian, ao criar Oyá Tempo, aquele que era seu segundo disco e fundamental para posicioná-la como uma cantora “além da canção”, queria produzir um EP ou uma mixtape. “Eram algumas músicas”, ela se lembra.

Pois Oyá Tempo acabou por se tornar um álbum-visual, um média-metragem de pouco mais de 27 minutos composto por oito faixas nas quais a percussão da umbanda se encontra com elementos eletrônicos trazidos por Charles Tixier. Como uma árvore no campo, a artista deixou que a direção do vento guiasse para onde cresceria. 

Funcionou, afinal. Oyá Tempo, que sequer era para ser um disco, figurou nas listas de melhores daquele ano (de 2017), inclusive para a APCA, a Associação Paulista de Críticos de Arte.

Nisso, Azul Moderno, o terceiro trabalho da cantora e compositora, se assemelha ao antecessor. De novo, Luiza se colocou ao vento. E deixou que ele a mostrasse qual seria a direção. 

E, mais uma vez, o resultado foi distante daquele que ela imaginava, lá atrás (por volta de 2015, quando algumas das canções foram criadas). Azul Moderno, lançado pelo Selo Risco, veja só, era um disco de canções, algo orgânico de violão.

Sua versão final, cujo show de lançamento está marcado para este fim de semana (sábado, 20, e domingo, 21), no Teatro Oficina, em São Paulo, é uma revisão com colagens de um álbum que nunca viu a luz o dia. 

Explico: Azul Moderno, cujo título ela definira há tempos, foi criado sob a batuta principal de Tim Bernardes (d’O Terno e do elogiado disco solo Recomeçar), mas no meio do caminho, diante de novas necessidades estéticas de Luiza e de Tixier, produtor que já havia trabalhado em Oyá Tempo, passou a retrabalhar nas faixas já gravadas.

Fez um remix, recolocando cada peça que compunha Azul Moderno em outro lugar. 

Luiza Lian lançou o disco 'Azul Moderno' Foto: Fernando Banzi

“As vontades foram mudando”, explica Luiza, sobre o resultado final do álbum. “Para mim, é importante deixar que as coisas me guiem dessa forma.” Ela cita Paulinho da Viola como forma de se levar na música, com um verso de Timoneiro: “Não sou eu quem me navega / Quem me navega é o mar”.

“Para mim, é isso. É interessante estar aberto para que os encontros possam trazer novidades e deixar que isso tudo seja levado. Para mim, isso foi importante, como ver os músicos lendo uma canção e tendo uma interpretação dela.” 

Construído para depois ser desconstruído, o novo trabalho de Luiza Lian é poesia surpreendentemente pop. O que Tixier fez ao refazer essas canções não obstruiu a potência inerente de cada uma das faixas. Azul Moderno é um grito mais suave de Luiza Lian a respeito do tempo, do hoje, e de sua ancestralidade, se comparado ao antecessor.

“Tinha mais raiva no Oyá Tempo, né?”, ela concorda. Azul Moderno apresenta uma carga melancólica de impacto imediato. O canto de Luiza, sem o uso de efeitos, é ligado diretamente à essa ideia de pureza e cristalinidade. 

Vem Dizer Tchau é a faixa de abertura do disco, uma canção que desprende, de desfazer os últimos laços, do tipo que coloca, enfim, um ponto final. Por mais doloroso que ele possa ser. “Foi embora antes da cidade dormir / Hoje eu me lembrei do que aconteceu / Sobre a mesa esfria o macarrão de ontem / Não se despediu e o resto dispersou”, ela canta – o tal “macarrão de ontem” coloca o fim muito próximo, foi ontem, ainda esfria sobre a mesa. “Era um momento mais melancólico da minha vida”, explica. 

Oyá Tempo e Azul Moderno produzem, juntos, um grande estudo de Luiza Lian sobre o tempo. Em Oyá, a artista se coloca na distância, buscando respostas na própria espiritualidade e na história. Com Azul Moderno, as composições, assinadas por Luiza e, em quatro delas, também por Leda Cartum, se aproximam dessa relação líquida com o mundo, com o amor, com a existência.

“Oyá é mais etéreo, que trata da espiritualidade. Desta vez, falo sobre um tempo mais próximo.”

Luiza Lian lançou o disco 'Azul Moderno' Foto: Fernando Banzi

Por isso, também, Azul Moderno é mais próximo. Porque ele trata das agonias comuns ao ouvinte. Luiza Lian, artista que se prova cada vez mais camaleônica, desta vez canta o corriqueiro como disfarce para o existencialismo profundo e questionador que existe dentro do seu cancioneiro.

Uma transa de ontem, por exemplo, reflete sobre a ancestralidade feminina (da música Mil Mulheres), a rua com nome de um rio afogado pelo concreto trata do descaso com a natureza (em Iarinhas).

“Gosto mesmo é de cantar”, ela conta. “E de ver para onde o canto pode me levar.” 

Luiza Lian, ao criar Oyá Tempo, aquele que era seu segundo disco e fundamental para posicioná-la como uma cantora “além da canção”, queria produzir um EP ou uma mixtape. “Eram algumas músicas”, ela se lembra.

Pois Oyá Tempo acabou por se tornar um álbum-visual, um média-metragem de pouco mais de 27 minutos composto por oito faixas nas quais a percussão da umbanda se encontra com elementos eletrônicos trazidos por Charles Tixier. Como uma árvore no campo, a artista deixou que a direção do vento guiasse para onde cresceria. 

Funcionou, afinal. Oyá Tempo, que sequer era para ser um disco, figurou nas listas de melhores daquele ano (de 2017), inclusive para a APCA, a Associação Paulista de Críticos de Arte.

Nisso, Azul Moderno, o terceiro trabalho da cantora e compositora, se assemelha ao antecessor. De novo, Luiza se colocou ao vento. E deixou que ele a mostrasse qual seria a direção. 

E, mais uma vez, o resultado foi distante daquele que ela imaginava, lá atrás (por volta de 2015, quando algumas das canções foram criadas). Azul Moderno, lançado pelo Selo Risco, veja só, era um disco de canções, algo orgânico de violão.

Sua versão final, cujo show de lançamento está marcado para este fim de semana (sábado, 20, e domingo, 21), no Teatro Oficina, em São Paulo, é uma revisão com colagens de um álbum que nunca viu a luz o dia. 

Explico: Azul Moderno, cujo título ela definira há tempos, foi criado sob a batuta principal de Tim Bernardes (d’O Terno e do elogiado disco solo Recomeçar), mas no meio do caminho, diante de novas necessidades estéticas de Luiza e de Tixier, produtor que já havia trabalhado em Oyá Tempo, passou a retrabalhar nas faixas já gravadas.

Fez um remix, recolocando cada peça que compunha Azul Moderno em outro lugar. 

Luiza Lian lançou o disco 'Azul Moderno' Foto: Fernando Banzi

“As vontades foram mudando”, explica Luiza, sobre o resultado final do álbum. “Para mim, é importante deixar que as coisas me guiem dessa forma.” Ela cita Paulinho da Viola como forma de se levar na música, com um verso de Timoneiro: “Não sou eu quem me navega / Quem me navega é o mar”.

“Para mim, é isso. É interessante estar aberto para que os encontros possam trazer novidades e deixar que isso tudo seja levado. Para mim, isso foi importante, como ver os músicos lendo uma canção e tendo uma interpretação dela.” 

Construído para depois ser desconstruído, o novo trabalho de Luiza Lian é poesia surpreendentemente pop. O que Tixier fez ao refazer essas canções não obstruiu a potência inerente de cada uma das faixas. Azul Moderno é um grito mais suave de Luiza Lian a respeito do tempo, do hoje, e de sua ancestralidade, se comparado ao antecessor.

“Tinha mais raiva no Oyá Tempo, né?”, ela concorda. Azul Moderno apresenta uma carga melancólica de impacto imediato. O canto de Luiza, sem o uso de efeitos, é ligado diretamente à essa ideia de pureza e cristalinidade. 

Vem Dizer Tchau é a faixa de abertura do disco, uma canção que desprende, de desfazer os últimos laços, do tipo que coloca, enfim, um ponto final. Por mais doloroso que ele possa ser. “Foi embora antes da cidade dormir / Hoje eu me lembrei do que aconteceu / Sobre a mesa esfria o macarrão de ontem / Não se despediu e o resto dispersou”, ela canta – o tal “macarrão de ontem” coloca o fim muito próximo, foi ontem, ainda esfria sobre a mesa. “Era um momento mais melancólico da minha vida”, explica. 

Oyá Tempo e Azul Moderno produzem, juntos, um grande estudo de Luiza Lian sobre o tempo. Em Oyá, a artista se coloca na distância, buscando respostas na própria espiritualidade e na história. Com Azul Moderno, as composições, assinadas por Luiza e, em quatro delas, também por Leda Cartum, se aproximam dessa relação líquida com o mundo, com o amor, com a existência.

“Oyá é mais etéreo, que trata da espiritualidade. Desta vez, falo sobre um tempo mais próximo.”

Luiza Lian lançou o disco 'Azul Moderno' Foto: Fernando Banzi

Por isso, também, Azul Moderno é mais próximo. Porque ele trata das agonias comuns ao ouvinte. Luiza Lian, artista que se prova cada vez mais camaleônica, desta vez canta o corriqueiro como disfarce para o existencialismo profundo e questionador que existe dentro do seu cancioneiro.

Uma transa de ontem, por exemplo, reflete sobre a ancestralidade feminina (da música Mil Mulheres), a rua com nome de um rio afogado pelo concreto trata do descaso com a natureza (em Iarinhas).

“Gosto mesmo é de cantar”, ela conta. “E de ver para onde o canto pode me levar.” 

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