THE NEW YORK TIMES - A apresentação do maestro John Eliot Gardiner à frente do Coral Monteverdi e da Orquestra Révolutionnaire et Romantique no sudeste da França esta semana deveria ser uma celebração: o início de uma turnê pela Europa de um dos maestros mais reverenciados da música clássica e seus renomados conjuntos.
No entanto, Gardiner, aos 80 anos, causou alvoroço quando, na terça-feira à noite, foi acusado de agredir um cantor no rosto nos bastidores após uma apresentação dos dois primeiros atos da ópera Les Troyens de Berlioz no Festival Berlioz em La Côte-Saint-André.
Gardiner teria agredido o cantor, William Thomas, porque ele tinha saído do pódio pelo caminho errado após o concerto, segundo uma pessoa que pediu anonimato para descrever o incidente, pois não estava autorizada a discutir publicamente.
Thomas, um baixo em ascensão da Inglaterra que interpretava o papel de Priam, não parecia estar gravemente ferido e estava programado para se apresentar novamente na quarta-feira à noite. Seus representantes não responderam aos pedidos de comentários.
Gardiner se retirou do festival na quarta-feira para retornar a Londres e consultar seu médico, disse Nicholas Boyd-Vaughan, porta-voz da Intermusica, agência que o representa. Gardiner não estava disponível para comentar, disse Boyd-Vaughan.
Gardiner — pioneiro do movimento de instrumentos de época e fundador de alguns de seus conjuntos mais valorizados, como o Coral Monteverdi, os Solistas Barrocos Ingleses e a Orquestra Révolutionnaire et Romantique — regeu na coroação do Rei Charles III da Grã-Bretanha em maio. Além de fazer inúmeras gravações, muitas consideradas clássicas, seu livro de 2013 sobre Johann Sebastian Bach, Bach no Castelo do Céu, foi bem recebido pela crítica.
O incidente em Les Troyens, inicialmente relatado pelo site de música clássica Slippedisc, gerou críticas na indústria da música clássica, com alguns dizendo que Gardiner deveria enfrentar consequências. Gardiner e os conjuntos ainda têm mais quatro paradas planejadas na turnê, incluindo no Festival de Salzburgo na Áustria, no Opéra Royal em Versalhes, França, no Berliner Festspiele na Alemanha e no Proms, o festival de música clássica da BBC, na Inglaterra.
“John Eliot Gardiner ainda vai ser permitido reger @bbcproms?”, escreveu na quarta-feira a mezzo-soprano Helena Cooke no X, a plataforma de mídia social anteriormente conhecida como Twitter. “Estão brincando?”
Os Proms disseram que estavam investigando. “Levamos a sério alegações sobre comportamento inadequado e estamos atualmente estabelecendo os fatos sobre o incidente”, disse George Chambers, porta-voz do festival.
Gardiner foi substituído no Festival Berlioz na quarta-feira por Dinis Sousa, maestro associado do Coral Monteverdi, para uma apresentação dos atos finais de Les Troyens.
Bruno Messina, diretor geral e artístico do Festival Berlioz, disse em um comunicado que estava “devastado pelo incidente”, que ele não descreveu ou detalhou, mas sentiu que era importante que o espetáculo de quarta-feira continuasse.
Pedido de desculpas
Por meio dos seus agentes, John Eliot Gardiner divulgou um pedido de desculpas no site site de música clássica Slippedisc. Confira a mensagem na íntegra:
“Lamento profundamente o incidente que ocorreu no Festival Berlioz em La Côte-Saint-André na terça-feira à noite e peço desculpas sem reservas por perder a paciência imediatamente após a apresentação. Não posso justificar o meu comportamento e já pedi desculpas pessoalmente a Will Thomas, por quem tenho o maior respeito. Mas faço isso novamente, e aos outros artistas, pelo sofrimento que isso causou. Reconheço o quanto isso afetou todos os participantes envolvidos neste grande projeto, que é tão querido para mim.
Retornei ao Reino Unido e decidi me abster de conduzir todas as apresentações restantes de Les Troyens. Desejo a Dinis Sousa e a todos os músicos grande sucesso para os concertos restantes da turnê.
Sei que a violência física nunca é aceitável e que os músicos devem sempre se sentir seguros. Peço sua paciência e compreensão enquanto reflito sobre minhas ações.”
Este artigo foi publicado originalmente no The New York Times.