Um dia depois da morte de Prince, Max de Castro, o sócio Herbert Mota e o baixista Andrew Gouche, último a empunhar o instrumento na banda New Power Generation (ou N.P.G.), grupo que acompanhou o norte-americano durante a década de 1990 até 2013, almoçaram em Los Angeles. “A morte do Prince foi uma comoção lá, cara. Era como se tivesse morrido o Chico Buarque aqui”, relembra Max sobre aquele início de tarde de 22 de abril deste ano. “Aconteceu tudo de uma forma meio misteriosa. Ninguém sabia do que ele tinha morrido, ainda. E americano adora uma teoria, um mistério, né?”
Prince Rogers Nelson foi encontrado morto na casa onde morava. Os médicos acharam o corpo do músico de 57 anos já sem vida em um elevador, o que, inclusive, alimentou a teoria de que a canção Let’s Go Crazy, do disco Purple Rain, de 1984, que cita um elevador, tinha relação com a sua morte. Por fim, a biópsia descobriu que ele havia morrido após uma overdose acidental de fentanil, um opiáceo.
No almoço com Max, Gouche sugeriu que ele e o brasileiro fizessem uma parceria. Quando o gringo recebeu a ligação com a sugestão de um show em homenagem a Prince, topou na hora. “E ele ainda sugeriu que a gente trouxesse o restante da N.P.G. para tocar essas canções também”, conta o brasileiro. “Dois meses depois, aqui estamos.” Max de Castro, ao lado da banda com a qual Prince gravou a partir do disco Diamonds and Pearls, de 1991, se apresenta no Cine Joia, palco moderninho de São Paulo, nesta sexta-feira, 19, a partir da meia-noite.
“Para dar mais balanço ao som, acrescentei um naipe de metais”, conta o músico brasileiro. No palco, além do quarteto de sopro, estarão Gouche, John Blackwell (bateria) e tecladista Dominique Taplin e Cassandra O’Neal (ambos no comando de teclado e sintetizador). “Eles (os músicos norte-americanos) chegaram no começo da semana. Estamos ainda avaliando quais músicas funcionam melhor.”
Para Max, Prince integra aquilo que ele gosta de chamar de santíssima trindade musical, na qual estão reunidas as maiores influências dele. “A música do meu pai (Wilson Simonal) me influenciou bastante, é claro. E tem a música do Jorge Ben Jor, outro que foi fundamental para mim. E, ao lado deles, tem o Prince”, conta o músico. “Embora a minha música não seja tão parecida com a dele – na verdade, é bem diferente –, o Prince me ensinou muito sobre a ideia de criar e se produzir tudo sozinho. Arranjar as canções de forma única. Isso me influenciou muito. Nos discos dele, cada música é diferente da outra.”
Max selecionou 22 músicas de Prince. “Das mais dançantes”, ele faz questão de frisar. “É um clima de festa, de balanço.” Até o horário do show corrobora com a proposta do músico brasileiro. Faixas como I Wanna Be Your Lover (do disco Prince, de 1979), 1999 (do álbum homônimo de 1982), When Doves Cry (de Purple Rain, de 1984) e Kiss (do disco Parade (1986) estão incluídas no repertório.
“Assim como David Bowie e Stevie Wonder, Prince tem uma série de discos imbatíveis”, comenta Max. Para o brasileiro, a sequência arrasadora do norte-americano tem início em 1999 (1982) e segue por Around the World in a Day (1985), Parade (1986), Sign o’ the Times (1987) e Lovesexy (1988). “Com 1999, ele fez o impossível: uma new wave black. E eram gêneros opostos. Ele uniu Jimi Hendrix com George Clinton, com James Brown. Tudo ao mesmo tempo. Isso sem falar da androginia, de usar aqueles saltos altos.” Qual seria, então, a roupa usada por Max nesse show especial? “Figurino vai ser o meu, mesmo, cara”, ele ri.
MAX DE CASTRO E N.P.G. Cine Joia. Praça Carlos Gomes, 82, Liberdade. Tel.: 3101-1305. 6ª (19), às 0h (abertura da casa às 22h). R$ 40 a R$ 80.