Bono conta segredos do U2 em biografia


Em ‘Surrender’, roqueiro investe na imagem do pacifista corajoso, engajado e sensível às injustiças sociais, mas soa plastificado por mostrar-se quase perfeito

Por Julio Maria

Bono é uma criatura boa, inteligente, audaciosa, engajada, justa, talentosa, inquieta e tudo o mais que pode fazê-lo, em uma biografia real, um imenso de um chato. Isso porque talvez falte um pouco do Bono real em seu livro de memórias lançado hoje no planeta, Surrender – 40 Songs, One Story, com todos os tropeços que ele certamente cometeu, mas dos quais seus leitores jamais saberão. O roteiro da vida de Bono escrito por ele mesmo quase o beatifica, mas investe em um outro elemento narrativo que substitui com força as confissões autodepreciativas que só nomes como Keith Richards, Elton John, Neil Young, Bruce Springsteen e Rod Stewart conseguiram fazer: uma história de superação.

Bono, em imagem do livro 'Surrender' Foto: Ross_Stewar

Bono, batizado Paul Hewlson em Dublin, Irlanda, em 10 de maio de 1960, investe na autopiedade ao colocar um dos focos dramáticos na perda prematura da mãe e, bem depois, em 2000, na do pai, vítima de um câncer. Em uma entrevista sobre o livro concedida não por acaso à NPR, a emissora norte-americana National Public Radio, uma companhia pública de comunicação social sem fins lucrativos, ele disse que a devastação provocada pela morte do pai, com quem não lidava bem, foi tamanha que sua voz começou a mudar. E para melhor.

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Surrender, o nome do livro, significa “entrega” – e Bono explica seu sentido. “Preciso ficar mais calado e me render à minha banda. Isso tem sido tudo o que estou tentando fazer com a minha vida: me render à minha esposa, ao nosso Criador. Estas não são coisas que vêm fáceis para mim.” Mas, ele diz, não se trata de uma rendição covarde. “Quando eu digo ‘entrega’, não quero dizer fazer as pazes com o mundo. Não estou pronto para fazer as pazes com o mundo. Estou tentando fazer as pazes comigo mesmo. O mundo é um lugar profundamente injusto, e estou pronto para ruir. Estou mantendo meus punhos cerrados para isso.”

Esse é o Bono de Surrender, um pacifista sensível à fome na África, às guerras santas do Oriente Médio, à Teologia da Libertação e até ao terrorismo político na América Latina. Ao lembrar do que o fez escrever a canção Mothers of the Disappeared (Mães dos Desaparecidos), ele reviveu o dia em que testemunhou o terror em El Salvador, nos anos 80, quando o governo ditatorial apoiado pelos Estados Unidos, eliminava as vozes contrárias. “As pessoas estavam desaparecendo. Indo de carro até um vilarejo, pouco depois de voarmos para San Salvador, passamos por um corpo na beira da estrada que acabara de ser jogado para fora de uma picape em alta velocidade. Paramos e vimos um bilhete preso no peito do morto: ‘Isso é o que acontece com quem tenta fazer a revolução’”.

Capa de 'Surrender' Foto: Intrínseca
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Da América Central para a África, lá foi Bono ver de perto a fome dos etíopes e fazer o que estava a seu alcance para, um dia, contar tudinho. “Estamos aqui para mostrar solidariedade ao povo deste país e para entender melhor a questão mais importante, embora seja um clichê, que o mundo já enfrentou. Uma pergunta que venho tentando responder em minha vida desde então: por que há fome em um mundo de abundância? Como as pessoas podem carecer de comida em um mundo em que há montanhas de açúcar e lagos de laticínios? E o que pode ser feito?”, ele escreve em Surrender. Os Estados Unidos já eram um alvo de sua indignação quando o clássico álbum The Joshua Tree, de 1987, foi lançado. “Não havia dúvidas de que estávamos atrás das barricadas. No início dos anos 1990, eu satirizava o governo dos EUA todas as noites.”

Sobre a própria voz, Bono fala de sua busca pelas tonalidades altas e da crença na quantidade de ar que seus pulmões podem armazenar. “Seu marido tem um poder de fogo e tanto naquele arsenal que carrega dentro do peito”, disse um médico à sua esposa, depois que Bono foi submetido a uma cirurgia. “Ele provavelmente tem cerca de 130% da capacidade pulmonar normal para a idade.”

E sobre ser artista, suas declarações podem ser lidas como recados a um jovem cantor. Para Bono, há um ponto a ser atingido em que “você não está mais cantando a música, mas a música está cantando você”. E “libertar-se da inibição é a jornada mais importante para qualquer artista, e a mais difícil. Mas, quando você consegue, o palco se torna o lugar onde você se sente totalmente em casa e onde, de uma forma estranha, você é totalmente você mesmo.” Em Surrender, Bono é totalmente ele mesmo, um pacifista autêntico, mas pavão.

Bono é uma criatura boa, inteligente, audaciosa, engajada, justa, talentosa, inquieta e tudo o mais que pode fazê-lo, em uma biografia real, um imenso de um chato. Isso porque talvez falte um pouco do Bono real em seu livro de memórias lançado hoje no planeta, Surrender – 40 Songs, One Story, com todos os tropeços que ele certamente cometeu, mas dos quais seus leitores jamais saberão. O roteiro da vida de Bono escrito por ele mesmo quase o beatifica, mas investe em um outro elemento narrativo que substitui com força as confissões autodepreciativas que só nomes como Keith Richards, Elton John, Neil Young, Bruce Springsteen e Rod Stewart conseguiram fazer: uma história de superação.

Bono, em imagem do livro 'Surrender' Foto: Ross_Stewar

Bono, batizado Paul Hewlson em Dublin, Irlanda, em 10 de maio de 1960, investe na autopiedade ao colocar um dos focos dramáticos na perda prematura da mãe e, bem depois, em 2000, na do pai, vítima de um câncer. Em uma entrevista sobre o livro concedida não por acaso à NPR, a emissora norte-americana National Public Radio, uma companhia pública de comunicação social sem fins lucrativos, ele disse que a devastação provocada pela morte do pai, com quem não lidava bem, foi tamanha que sua voz começou a mudar. E para melhor.

Surrender, o nome do livro, significa “entrega” – e Bono explica seu sentido. “Preciso ficar mais calado e me render à minha banda. Isso tem sido tudo o que estou tentando fazer com a minha vida: me render à minha esposa, ao nosso Criador. Estas não são coisas que vêm fáceis para mim.” Mas, ele diz, não se trata de uma rendição covarde. “Quando eu digo ‘entrega’, não quero dizer fazer as pazes com o mundo. Não estou pronto para fazer as pazes com o mundo. Estou tentando fazer as pazes comigo mesmo. O mundo é um lugar profundamente injusto, e estou pronto para ruir. Estou mantendo meus punhos cerrados para isso.”

Esse é o Bono de Surrender, um pacifista sensível à fome na África, às guerras santas do Oriente Médio, à Teologia da Libertação e até ao terrorismo político na América Latina. Ao lembrar do que o fez escrever a canção Mothers of the Disappeared (Mães dos Desaparecidos), ele reviveu o dia em que testemunhou o terror em El Salvador, nos anos 80, quando o governo ditatorial apoiado pelos Estados Unidos, eliminava as vozes contrárias. “As pessoas estavam desaparecendo. Indo de carro até um vilarejo, pouco depois de voarmos para San Salvador, passamos por um corpo na beira da estrada que acabara de ser jogado para fora de uma picape em alta velocidade. Paramos e vimos um bilhete preso no peito do morto: ‘Isso é o que acontece com quem tenta fazer a revolução’”.

Capa de 'Surrender' Foto: Intrínseca

Da América Central para a África, lá foi Bono ver de perto a fome dos etíopes e fazer o que estava a seu alcance para, um dia, contar tudinho. “Estamos aqui para mostrar solidariedade ao povo deste país e para entender melhor a questão mais importante, embora seja um clichê, que o mundo já enfrentou. Uma pergunta que venho tentando responder em minha vida desde então: por que há fome em um mundo de abundância? Como as pessoas podem carecer de comida em um mundo em que há montanhas de açúcar e lagos de laticínios? E o que pode ser feito?”, ele escreve em Surrender. Os Estados Unidos já eram um alvo de sua indignação quando o clássico álbum The Joshua Tree, de 1987, foi lançado. “Não havia dúvidas de que estávamos atrás das barricadas. No início dos anos 1990, eu satirizava o governo dos EUA todas as noites.”

Sobre a própria voz, Bono fala de sua busca pelas tonalidades altas e da crença na quantidade de ar que seus pulmões podem armazenar. “Seu marido tem um poder de fogo e tanto naquele arsenal que carrega dentro do peito”, disse um médico à sua esposa, depois que Bono foi submetido a uma cirurgia. “Ele provavelmente tem cerca de 130% da capacidade pulmonar normal para a idade.”

E sobre ser artista, suas declarações podem ser lidas como recados a um jovem cantor. Para Bono, há um ponto a ser atingido em que “você não está mais cantando a música, mas a música está cantando você”. E “libertar-se da inibição é a jornada mais importante para qualquer artista, e a mais difícil. Mas, quando você consegue, o palco se torna o lugar onde você se sente totalmente em casa e onde, de uma forma estranha, você é totalmente você mesmo.” Em Surrender, Bono é totalmente ele mesmo, um pacifista autêntico, mas pavão.

Bono é uma criatura boa, inteligente, audaciosa, engajada, justa, talentosa, inquieta e tudo o mais que pode fazê-lo, em uma biografia real, um imenso de um chato. Isso porque talvez falte um pouco do Bono real em seu livro de memórias lançado hoje no planeta, Surrender – 40 Songs, One Story, com todos os tropeços que ele certamente cometeu, mas dos quais seus leitores jamais saberão. O roteiro da vida de Bono escrito por ele mesmo quase o beatifica, mas investe em um outro elemento narrativo que substitui com força as confissões autodepreciativas que só nomes como Keith Richards, Elton John, Neil Young, Bruce Springsteen e Rod Stewart conseguiram fazer: uma história de superação.

Bono, em imagem do livro 'Surrender' Foto: Ross_Stewar

Bono, batizado Paul Hewlson em Dublin, Irlanda, em 10 de maio de 1960, investe na autopiedade ao colocar um dos focos dramáticos na perda prematura da mãe e, bem depois, em 2000, na do pai, vítima de um câncer. Em uma entrevista sobre o livro concedida não por acaso à NPR, a emissora norte-americana National Public Radio, uma companhia pública de comunicação social sem fins lucrativos, ele disse que a devastação provocada pela morte do pai, com quem não lidava bem, foi tamanha que sua voz começou a mudar. E para melhor.

Surrender, o nome do livro, significa “entrega” – e Bono explica seu sentido. “Preciso ficar mais calado e me render à minha banda. Isso tem sido tudo o que estou tentando fazer com a minha vida: me render à minha esposa, ao nosso Criador. Estas não são coisas que vêm fáceis para mim.” Mas, ele diz, não se trata de uma rendição covarde. “Quando eu digo ‘entrega’, não quero dizer fazer as pazes com o mundo. Não estou pronto para fazer as pazes com o mundo. Estou tentando fazer as pazes comigo mesmo. O mundo é um lugar profundamente injusto, e estou pronto para ruir. Estou mantendo meus punhos cerrados para isso.”

Esse é o Bono de Surrender, um pacifista sensível à fome na África, às guerras santas do Oriente Médio, à Teologia da Libertação e até ao terrorismo político na América Latina. Ao lembrar do que o fez escrever a canção Mothers of the Disappeared (Mães dos Desaparecidos), ele reviveu o dia em que testemunhou o terror em El Salvador, nos anos 80, quando o governo ditatorial apoiado pelos Estados Unidos, eliminava as vozes contrárias. “As pessoas estavam desaparecendo. Indo de carro até um vilarejo, pouco depois de voarmos para San Salvador, passamos por um corpo na beira da estrada que acabara de ser jogado para fora de uma picape em alta velocidade. Paramos e vimos um bilhete preso no peito do morto: ‘Isso é o que acontece com quem tenta fazer a revolução’”.

Capa de 'Surrender' Foto: Intrínseca

Da América Central para a África, lá foi Bono ver de perto a fome dos etíopes e fazer o que estava a seu alcance para, um dia, contar tudinho. “Estamos aqui para mostrar solidariedade ao povo deste país e para entender melhor a questão mais importante, embora seja um clichê, que o mundo já enfrentou. Uma pergunta que venho tentando responder em minha vida desde então: por que há fome em um mundo de abundância? Como as pessoas podem carecer de comida em um mundo em que há montanhas de açúcar e lagos de laticínios? E o que pode ser feito?”, ele escreve em Surrender. Os Estados Unidos já eram um alvo de sua indignação quando o clássico álbum The Joshua Tree, de 1987, foi lançado. “Não havia dúvidas de que estávamos atrás das barricadas. No início dos anos 1990, eu satirizava o governo dos EUA todas as noites.”

Sobre a própria voz, Bono fala de sua busca pelas tonalidades altas e da crença na quantidade de ar que seus pulmões podem armazenar. “Seu marido tem um poder de fogo e tanto naquele arsenal que carrega dentro do peito”, disse um médico à sua esposa, depois que Bono foi submetido a uma cirurgia. “Ele provavelmente tem cerca de 130% da capacidade pulmonar normal para a idade.”

E sobre ser artista, suas declarações podem ser lidas como recados a um jovem cantor. Para Bono, há um ponto a ser atingido em que “você não está mais cantando a música, mas a música está cantando você”. E “libertar-se da inibição é a jornada mais importante para qualquer artista, e a mais difícil. Mas, quando você consegue, o palco se torna o lugar onde você se sente totalmente em casa e onde, de uma forma estranha, você é totalmente você mesmo.” Em Surrender, Bono é totalmente ele mesmo, um pacifista autêntico, mas pavão.

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