‘Moraes Moreira tinha o frevo, que era o nosso metal’, diz Davi Moraes, que lança álbum sobre o pai


O disco ‘Moraes É Frevo’ traz novas versões para sucessos de Moraes interpretadas por nomes como Lenine, Maria Rita, Criolo e Luiz Caldas

Por Danilo Casaletti

Foi em um apartamento no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro, que os músicos Moraes Moreira (1947-2020) e Armandinho acertaram o que foi uma das maiores revoluções do carnaval baiano. No encontro, Moraes perguntou ao filho de seu Osmar, um dos criadores do trio elétrico ao lado de Dodô, o que ele achava sobre a ideia de colocar letras nos temas instrumentais da dupla.

Moraes Moreira: um frevista baiano Foto: Marcos de Paula/Estadão

O frevo, que naquela altura já aparecia relido pelas ruas de Salvador, cairia, então, definitivamente na boca do povo com Pombo Correio, lançado em 1977, no disco de Moraes.

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O álbum Moraes É Frevo, da Muzak Music, que chega agora às plataformas digitais, aborda justamente essa produção que marcou toda a carreira de Moraes. São 10 frevos cantados por diferentes intérpretes, entre eles, Lenine, Maria Rita, Céu, Criolo, Luiz Caldas, Otto e Agnes Nunes.

Para além de uma mera celebração, o disco corrige uma detalhe importante nessa história toda: os 10 frevos selecionados tiveram arranjos de sopro escritos por maestros pernambucanos - o ritmo nasceu em Recife - , algo que Moraes nunca teve oportunidade de fazer em vida. Para a missão, foram convocados Maestro Spok, Maestro Duda, Henrique Albino e Nilsinho Amarante.

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Uma ideia do músico e arranjador Davi Moraes, filho de Moraes, e do baterista pernambucano Pupillo. Os dois excursionaram juntos pelo Brasil e pelo mundo na turnê Portas, a mais recente de Marisa Monte.

Nos intervalos, entre hotéis e aeroportos, o papo era os frevos de Moraes. “Meu pai foi nomeado como cidadão do frevo em Recife. Conhecia os maestros Duda e Spok, mas faltava um registro com a escola de frevo pernambucana”, diz Davi.

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O objetivo, explica Davi, era fazer os arranjos de sopro como grandes protagonistas do álbum. É por isso que além dos metais, apenas guitarra, baixo e bateria completam as músicas.

São os sopros que dão o colorido da harmonia. É um disco cheio, mas que tem um vazio muito bonito para que você possa escutar cada nota do sax, da flauta, do trombone...

Davi Moraes

No passado, os frevos de Moraes foram arranjados, sobretudo, pelo músico fluminense Lincoln Olivetti (1954-2015). O exemplo mais claro é Festa do Interior, parceria com Abel Silva, com gravação de Gal Costa (1945-2022) em 1981.

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A difícil missão de cantar Festa do Interior no disco coube a Maria Rita, que faz versão mais contida que Gal. “A Maria colocou aquele grave dela que é lindo. Quando eu chamei, ela cantou à capela para a gente ao telefone. Ficou uma gravação moderna e clássica ao mesmo tempo”, diz Davi. O arranjo mantém a frase musical marcante que abre a gravação original.

Festa do Interior, assim como Pombo Correio, que agora renasceu na voz de Otto, traz uma característica marcante de Moraes: usar o fraseado do frevo e cantar rápido. Ia em cima do som que saía da guitarra baiana, que ele transpunha para o violão, instrumento que usava para compor - vide a música Guitarra Baiana. Esse universo musical ainda vive até os dias de hoje nos trios elétricos baianos.

Davi Moraes e Pupillo, os idealizadores do álbum 'Moraes é Frevo' Foto: Pablo Savalla
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Toda essa revolução trazida por Moraes - a segunda dela, já que a primeira foi deflagrada nos tempos de Novos Baianos - foi parar no palco da edição de estreia do Rock in Rio, em 1985, em data dedicada ao metal. Moraes subiu ao palco no mesmo dia que o roqueiro britânico Ozzy Osbourne.

“Todo mundo com medo. Mas estava tudo certo. Armandinho, que estava com ele, era o nosso Van Halen e o frevo nosso metal. O frevo é assim, chega com o pé na porta”, diz Davi, sobre a popularidade que o frevo alcançou nos anos seguintes a Pombo Correio.

A capa do álbum 'Moraes é Frevo' Foto: Muzak Music
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De uma gravação instrumental dos Novos Baianos para Preta, Pretinha, com guitarra tocada por Pepeu Gomes, nasceu a versão em frevo para a música. A faixa coube a Criolo e os arranjos de sopros ao Maestro Spok.

Criolo tem uma voz de Novos Baianos. É uma mistura de Moraes com Paulinho Boca de Cantor. Um jeito solto de cantar

Davi Moraes

Sintonia, música que fez parte da telenovela Tieta, aparece agora como uma marcha frevo cantada por Céu. “Pupillo costuma dizer que meu pai é tão frevista que qualquer música que a gente pegar e botar em frevo vai dar certo”, diz Davi. A gravação tem ainda a participação do Bloco da Saudade, representante dos antigos carnavais de Recife, no coro.

Davi e Pupillo estão juntos na faixa Guitarra Baiana, que encerra o álbum. A voz de Moraes também, tirada da gravação que ele fez em 1975, em seu primeiro disco solo. Davi toca guitarra. Pupillo o surdo. O povo, que consagrou as canções de Moraes pelas ruas, está ao fundo de uma maneira bastante poética.

Talvez a música que resume toda a paixão de Moraes pelo frevo e a perfeita conjunção que ele fez entre Bahia e Pernambuco está em Vassourinha Elétrica, cantada pelo baiano Luiz Caldas. “E o frevo que é pernambucano/Sofreu ao chegar na Bahia/Um toque, um sotaque baiano/Pintou uma nova energia”. A energia Moraes Moreira.

Foi em um apartamento no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro, que os músicos Moraes Moreira (1947-2020) e Armandinho acertaram o que foi uma das maiores revoluções do carnaval baiano. No encontro, Moraes perguntou ao filho de seu Osmar, um dos criadores do trio elétrico ao lado de Dodô, o que ele achava sobre a ideia de colocar letras nos temas instrumentais da dupla.

Moraes Moreira: um frevista baiano Foto: Marcos de Paula/Estadão

O frevo, que naquela altura já aparecia relido pelas ruas de Salvador, cairia, então, definitivamente na boca do povo com Pombo Correio, lançado em 1977, no disco de Moraes.

O álbum Moraes É Frevo, da Muzak Music, que chega agora às plataformas digitais, aborda justamente essa produção que marcou toda a carreira de Moraes. São 10 frevos cantados por diferentes intérpretes, entre eles, Lenine, Maria Rita, Céu, Criolo, Luiz Caldas, Otto e Agnes Nunes.

Para além de uma mera celebração, o disco corrige uma detalhe importante nessa história toda: os 10 frevos selecionados tiveram arranjos de sopro escritos por maestros pernambucanos - o ritmo nasceu em Recife - , algo que Moraes nunca teve oportunidade de fazer em vida. Para a missão, foram convocados Maestro Spok, Maestro Duda, Henrique Albino e Nilsinho Amarante.

Uma ideia do músico e arranjador Davi Moraes, filho de Moraes, e do baterista pernambucano Pupillo. Os dois excursionaram juntos pelo Brasil e pelo mundo na turnê Portas, a mais recente de Marisa Monte.

Nos intervalos, entre hotéis e aeroportos, o papo era os frevos de Moraes. “Meu pai foi nomeado como cidadão do frevo em Recife. Conhecia os maestros Duda e Spok, mas faltava um registro com a escola de frevo pernambucana”, diz Davi.

O objetivo, explica Davi, era fazer os arranjos de sopro como grandes protagonistas do álbum. É por isso que além dos metais, apenas guitarra, baixo e bateria completam as músicas.

São os sopros que dão o colorido da harmonia. É um disco cheio, mas que tem um vazio muito bonito para que você possa escutar cada nota do sax, da flauta, do trombone...

Davi Moraes

No passado, os frevos de Moraes foram arranjados, sobretudo, pelo músico fluminense Lincoln Olivetti (1954-2015). O exemplo mais claro é Festa do Interior, parceria com Abel Silva, com gravação de Gal Costa (1945-2022) em 1981.

A difícil missão de cantar Festa do Interior no disco coube a Maria Rita, que faz versão mais contida que Gal. “A Maria colocou aquele grave dela que é lindo. Quando eu chamei, ela cantou à capela para a gente ao telefone. Ficou uma gravação moderna e clássica ao mesmo tempo”, diz Davi. O arranjo mantém a frase musical marcante que abre a gravação original.

Festa do Interior, assim como Pombo Correio, que agora renasceu na voz de Otto, traz uma característica marcante de Moraes: usar o fraseado do frevo e cantar rápido. Ia em cima do som que saía da guitarra baiana, que ele transpunha para o violão, instrumento que usava para compor - vide a música Guitarra Baiana. Esse universo musical ainda vive até os dias de hoje nos trios elétricos baianos.

Davi Moraes e Pupillo, os idealizadores do álbum 'Moraes é Frevo' Foto: Pablo Savalla

Toda essa revolução trazida por Moraes - a segunda dela, já que a primeira foi deflagrada nos tempos de Novos Baianos - foi parar no palco da edição de estreia do Rock in Rio, em 1985, em data dedicada ao metal. Moraes subiu ao palco no mesmo dia que o roqueiro britânico Ozzy Osbourne.

“Todo mundo com medo. Mas estava tudo certo. Armandinho, que estava com ele, era o nosso Van Halen e o frevo nosso metal. O frevo é assim, chega com o pé na porta”, diz Davi, sobre a popularidade que o frevo alcançou nos anos seguintes a Pombo Correio.

A capa do álbum 'Moraes é Frevo' Foto: Muzak Music

De uma gravação instrumental dos Novos Baianos para Preta, Pretinha, com guitarra tocada por Pepeu Gomes, nasceu a versão em frevo para a música. A faixa coube a Criolo e os arranjos de sopros ao Maestro Spok.

Criolo tem uma voz de Novos Baianos. É uma mistura de Moraes com Paulinho Boca de Cantor. Um jeito solto de cantar

Davi Moraes

Sintonia, música que fez parte da telenovela Tieta, aparece agora como uma marcha frevo cantada por Céu. “Pupillo costuma dizer que meu pai é tão frevista que qualquer música que a gente pegar e botar em frevo vai dar certo”, diz Davi. A gravação tem ainda a participação do Bloco da Saudade, representante dos antigos carnavais de Recife, no coro.

Davi e Pupillo estão juntos na faixa Guitarra Baiana, que encerra o álbum. A voz de Moraes também, tirada da gravação que ele fez em 1975, em seu primeiro disco solo. Davi toca guitarra. Pupillo o surdo. O povo, que consagrou as canções de Moraes pelas ruas, está ao fundo de uma maneira bastante poética.

Talvez a música que resume toda a paixão de Moraes pelo frevo e a perfeita conjunção que ele fez entre Bahia e Pernambuco está em Vassourinha Elétrica, cantada pelo baiano Luiz Caldas. “E o frevo que é pernambucano/Sofreu ao chegar na Bahia/Um toque, um sotaque baiano/Pintou uma nova energia”. A energia Moraes Moreira.

Foi em um apartamento no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro, que os músicos Moraes Moreira (1947-2020) e Armandinho acertaram o que foi uma das maiores revoluções do carnaval baiano. No encontro, Moraes perguntou ao filho de seu Osmar, um dos criadores do trio elétrico ao lado de Dodô, o que ele achava sobre a ideia de colocar letras nos temas instrumentais da dupla.

Moraes Moreira: um frevista baiano Foto: Marcos de Paula/Estadão

O frevo, que naquela altura já aparecia relido pelas ruas de Salvador, cairia, então, definitivamente na boca do povo com Pombo Correio, lançado em 1977, no disco de Moraes.

O álbum Moraes É Frevo, da Muzak Music, que chega agora às plataformas digitais, aborda justamente essa produção que marcou toda a carreira de Moraes. São 10 frevos cantados por diferentes intérpretes, entre eles, Lenine, Maria Rita, Céu, Criolo, Luiz Caldas, Otto e Agnes Nunes.

Para além de uma mera celebração, o disco corrige uma detalhe importante nessa história toda: os 10 frevos selecionados tiveram arranjos de sopro escritos por maestros pernambucanos - o ritmo nasceu em Recife - , algo que Moraes nunca teve oportunidade de fazer em vida. Para a missão, foram convocados Maestro Spok, Maestro Duda, Henrique Albino e Nilsinho Amarante.

Uma ideia do músico e arranjador Davi Moraes, filho de Moraes, e do baterista pernambucano Pupillo. Os dois excursionaram juntos pelo Brasil e pelo mundo na turnê Portas, a mais recente de Marisa Monte.

Nos intervalos, entre hotéis e aeroportos, o papo era os frevos de Moraes. “Meu pai foi nomeado como cidadão do frevo em Recife. Conhecia os maestros Duda e Spok, mas faltava um registro com a escola de frevo pernambucana”, diz Davi.

O objetivo, explica Davi, era fazer os arranjos de sopro como grandes protagonistas do álbum. É por isso que além dos metais, apenas guitarra, baixo e bateria completam as músicas.

São os sopros que dão o colorido da harmonia. É um disco cheio, mas que tem um vazio muito bonito para que você possa escutar cada nota do sax, da flauta, do trombone...

Davi Moraes

No passado, os frevos de Moraes foram arranjados, sobretudo, pelo músico fluminense Lincoln Olivetti (1954-2015). O exemplo mais claro é Festa do Interior, parceria com Abel Silva, com gravação de Gal Costa (1945-2022) em 1981.

A difícil missão de cantar Festa do Interior no disco coube a Maria Rita, que faz versão mais contida que Gal. “A Maria colocou aquele grave dela que é lindo. Quando eu chamei, ela cantou à capela para a gente ao telefone. Ficou uma gravação moderna e clássica ao mesmo tempo”, diz Davi. O arranjo mantém a frase musical marcante que abre a gravação original.

Festa do Interior, assim como Pombo Correio, que agora renasceu na voz de Otto, traz uma característica marcante de Moraes: usar o fraseado do frevo e cantar rápido. Ia em cima do som que saía da guitarra baiana, que ele transpunha para o violão, instrumento que usava para compor - vide a música Guitarra Baiana. Esse universo musical ainda vive até os dias de hoje nos trios elétricos baianos.

Davi Moraes e Pupillo, os idealizadores do álbum 'Moraes é Frevo' Foto: Pablo Savalla

Toda essa revolução trazida por Moraes - a segunda dela, já que a primeira foi deflagrada nos tempos de Novos Baianos - foi parar no palco da edição de estreia do Rock in Rio, em 1985, em data dedicada ao metal. Moraes subiu ao palco no mesmo dia que o roqueiro britânico Ozzy Osbourne.

“Todo mundo com medo. Mas estava tudo certo. Armandinho, que estava com ele, era o nosso Van Halen e o frevo nosso metal. O frevo é assim, chega com o pé na porta”, diz Davi, sobre a popularidade que o frevo alcançou nos anos seguintes a Pombo Correio.

A capa do álbum 'Moraes é Frevo' Foto: Muzak Music

De uma gravação instrumental dos Novos Baianos para Preta, Pretinha, com guitarra tocada por Pepeu Gomes, nasceu a versão em frevo para a música. A faixa coube a Criolo e os arranjos de sopros ao Maestro Spok.

Criolo tem uma voz de Novos Baianos. É uma mistura de Moraes com Paulinho Boca de Cantor. Um jeito solto de cantar

Davi Moraes

Sintonia, música que fez parte da telenovela Tieta, aparece agora como uma marcha frevo cantada por Céu. “Pupillo costuma dizer que meu pai é tão frevista que qualquer música que a gente pegar e botar em frevo vai dar certo”, diz Davi. A gravação tem ainda a participação do Bloco da Saudade, representante dos antigos carnavais de Recife, no coro.

Davi e Pupillo estão juntos na faixa Guitarra Baiana, que encerra o álbum. A voz de Moraes também, tirada da gravação que ele fez em 1975, em seu primeiro disco solo. Davi toca guitarra. Pupillo o surdo. O povo, que consagrou as canções de Moraes pelas ruas, está ao fundo de uma maneira bastante poética.

Talvez a música que resume toda a paixão de Moraes pelo frevo e a perfeita conjunção que ele fez entre Bahia e Pernambuco está em Vassourinha Elétrica, cantada pelo baiano Luiz Caldas. “E o frevo que é pernambucano/Sofreu ao chegar na Bahia/Um toque, um sotaque baiano/Pintou uma nova energia”. A energia Moraes Moreira.

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