Morreu neste sábado, aos 88 anos, Hildemar Diniz, o Monarco, presidente de honra da escola de samba Portela, no Rio. O compositor estava internado desde novembro em um hospital na zona oeste do Rio, em razão de uma cirurgia no intestino.
A escola de samba divulgou uma nota de pesar em seu perfil no Instagram."Os versos cantados por Dona Ivone Lara na despedida de Silas de Oliveira na canção Adeus de um Poeta bem cabem ao sentimento que o mundo do samba sente agora. "Por nós tu não terias ido agora/É doloroso/Todo o samba chora (...)/É triste mas foi mais um bamba/Que o mundo do samba perdeu", escreveu a escola, completando que Monarco havia sido homenageado na sexta (10), com a inauguração da Sala de Troféus da Portela, que leva seu nome.
Filho de marceneiro e nascido e criado em Osvaldo Cruz, subúrbio do Rio de Janeiro, Monarco compunha desde os 11 anos e chegou à ala de compositores da escola na década de 1950, aos 17 anos. Gravou o primeiro álbum em 1976, e, desde então, gravou com nomes de peso da música brasileira, como Paulinho da Viola e Marisa Monte, entre outros.
O apelido foi inspirado em Monaco, personagem de história em quadrinhos, com a letra "R" sendo acrescentada posteriormente. "No começo eu tinha preguiça. Ficava lá por Osvaldo Cruz e as músicas morriam por lá mesmo. O Candeia me dizia: 'Vai ao Zicartola [restaurante]', mas eu pouco ia". Um dia, foi ao local e acabou recebido pelo próprio Cartola, que o levou aos camarins. Monarco, então, passou a frequentar as rodas de samba do Teatro Opinião, nas segundas-feiras que reuniam a nata dos bambas, como Clementina de Jesus, Nelson Cavaquinho e Dona Ivone Lara.
Tocador de cavaquinho e percussão, o histórico membro da Portela ajudou a compor músicas popularizadas nas vozes de diversos artistas, como Beth Carvalho (Fim de Sofrimento, Linda Borboleta, Você Pensa Que Me Apaixonei, Não Sou Feliz mas Amo, Mestre Coração), Paulinho da Viola (Lenço, Passado de Glória) e Clara Nunes (Vai Amor, Jardim da Solidão), entre outros.
Em entrevista ao Estadão, em 2003, Monarco comentava sobre sua relação com a arte: "Já é difícil a música nascer e são muitos obstáculos. Tem de mostrar ao cantor ou o produtor, que pode gostar ou não gostar, mas quando a música é boa, encontra seu caminho, pode demorar ou não, mas fatalmente acontece".
"[A composição] vem em qualquer lugar, de repente, e a gente dá para um parceiro, mas não qualquer um. Parceria é fidelidade, como Cartola e Carlos Cachaça, Bide e Marçal e alguns outros. Eu tive parceiros que Papai do Céu levou e agora faço música com meu filho, Mauro Diniz, e com uns poucos como o Ratinho", continuava.
Por fim, Monarco refletia, à época: "Viver de música não é fácil, mas tudo acontece a seu tempo. Não fiquei rico, mas consegui esse apartamentinho (em Riachuelo, com bela vista para a Zona Norte) onde vivo com Olinda, minha mulher há dez anos. O que conta é isso e o respeito dos amigos".
Repercussão
Em sua conta no Twitter, a cantora Marisa Monte falou sobre o compositor: "Monarco sempre foi um mestre nato, de personalidade generosa que gostava de compartilhar seu saber e suas histórias. Sua memória prodigiosa guardava os melhores sambas e era nossa enciclopédia. Testemunha viva da história do samba, a ele a gente recorria quando queria saber sobre os assuntos dos bambas. Um homem generoso e gentil. Um grande brasileiro. Nesse dia eu pude dizer o quanto o amo e digo agora que o amarei para sempre. Obrigada mestre, você viverá eternamente."
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