O cantor e compositor João Nogueira morreu em sua casa, no Recreio dos Bandeirantes, na madrugada de ontem, vítima de enfarte. Aos 58 anos, considerava-se recuperado de um derrame que havia sofrido há cerca de dois. João Nogueira tinha 18 discos gravados e algumas músicas, como Malandro JB e Espelho, que viraram clássicos em sua voz. Estava com shows marcados neste mês de junho, na capital paulista. Seu enterro estava marcado para as 17 horas, no Cemitério São João Batista. João Nogueira nasceu no Méier, bairro tradicional da zona norte da cidade, e começou a fazer samba no bloco carnavalesco do bairro, Labaredas do Méier. No fim dos anos 60, conseguiu gravar sua primeira música, Espera, ó Nega, e teve outra, Corrente de Aço, incluída no repertório de Elizete Cardoso, então uma das cantoras de maior sucesso do País. Em 1971, estourou seu primeiro sucesso, Das Duzentas para Lá, um samba gravado por Eliane Pitman, abordando o aumento dos limites marítimos do país de 13 para 200 milhas. Nessa época, entrou para a Ala dos Compositores da escola de samba Portela, e fez músicas para o banqueiro de bicho Natalino do Nascimento, o Natal da Portela, presidente de honra da Agremiação. O fim dos anos 70 e início dos anos 80 foi a melhor época de João Nogueira. Dois sambas seus, os já citados Malandro JB, sátira aos jornalistas e intelectuais que começavam a freqüentar o samba, e Espelho, uma homenagem a seu pai, tornaram-se onipresentes nas emissoras de rádio. Reunido a outros sambistas como Beth Carvalho, Paulinho da Viola e Zé Ketti, fundou o Clube do Samba, que dava bailes lotados todas as sexta-feiras, primeiro na sede social do Flamento, no bairro do mesmo nome, e depois numa sede própria, na Barra da Tijuca. Em meados dos anos 80, acompanhando uma dissidência da Portela liderada por Nésio Nascimento, filho de Natal, fundou a escola de samba Tradição, que homenageou com alguns sambas. Nessa época, fez sucesso seu samba Depois que o Visual Virou Quesito, crítica ás modificações sofridas pelas escolas de samba. Nos anos 90, não teve nenhum grande sucesso, mas continuava fazendo shows pelo Brasil inteiro e gravado por cantoras como Beth Carvalho e Alcione. Para reanimar o carnaval de rua, fundou o bloco do Clube do Samba, que saía aos domingos e terça-feiras gordas, sempre com um enredo de crítica política e social. Desde 1997, o grupo passou a desfilar também na Avenida Atlântica, em Copacabana, na zona sul. No início de 1998, sofreu um derrame e ficou internado durante várias semanas, praticamente desacreditado pelos médicos. Recuperou-se e ainda conseguiu fazer sair o bloco do Clube do Samba em 1999, mas desistiu de levá-lo ao último carnaval. Nos últimos anos, fazia shows esparsos e freqüentava pouco as rodas de samba, por estar proibido de beber e fumar. Mesmo assim, sua morte foi uma surpresa para os sambistas.
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