A cena é comum: você precisa se concentrar para realizar uma determinada tarefa, mas não consegue focar na atividade.
Na dúvida, você procura na internet alguma música para ajudar e encontra uma série de vídeos animados que reproduzem batidas instrumentais, em sua maioria relaxantes e divertidas.
Esse é o lo-fi, um gênero musical que explodiu durante a pandemia e segue conquistando admiradores. No texto abaixo, você entende porque ele é tão popular. E, neste link, você pode responder a um quiz e conhecer o lo-fi mais indicado para sua vida atual.
Neste texto, você vai saber:
- O que é o lo-Fi e por que se popularizou
- Como esse gênero auxilia na concentração e relaxamento
- Quem são os produtores brasileiros dessa vertente
- Quais são os tipos de lo-fi para cada atividade
Batidas repetitivas que estimulam a concentração marcam o estilo. O termo tem origem na expressão low fidelity (baixa fidelidade em português). Significa que não são produções de alta qualidade e, em geral, são caseiras e gratuitas - feitas por artistas independentes e disponibilizadas na internet.
Além disso, os sons podem reproduzir frases e palavras -o sample, quando uma amostra de som é reutilizada em outra gravação -, seja em tom de questionamento, afirmação ou surpresa. Tudo em nome do ritmo hipnotizante, em geral lento e suave.
Há releituras de clássicos e músicas mais recentes. Eles podem ser encontrados apenas no formato de áudio ou acompanhados de um vídeo com ilustrações.
Auxílio para ansiedade
O período de isolamento deixou sequelas para a maioria das pessoas, e potencializou problemas de saúde mental. Em países das Américas, por exemplo, houve um aumento de mais de 30% nos diagnósticos de transtornos de ansiedade e depressão.
Nesse contexto, músicas ajudaram muitas pessoas a lidar com o sintoma. O ator Will Smith foi uma das personalidades a incentivar o lo-fi durante a pandemia e criou a sua própria versão em seu canal no Youtube. O vídeo tem uma hora e meia de duração e atingiu 19 milhões de visualizações.
Criação
Ao desenvolver uma faixa, o artista pode transformar qualquer canção em lo-fi. É possível encontrar opções internacionais e nacionais em playlists organizadas nas plataformas digitais, como no Youtube ou Spotify. A playlist lofi beats já ultrapassou mais de cinco milhões de curtidas e conta com 750 músicas que são atualizadas diariamente pelos usuários.
No Youtube, o canal mais popular é o Lofi Girl, criado em 2017. A transmissão ao vivo é ininterrupta, 24 horas no ar, com telespectadores de todo o mundo acompanhando. A identidade visual da garota em diversas situações foi inspirada nas criações do artista Hayao Miyazaki, diretor e artista de mangá japonês.
Não por acaso, é comum encontrar vídeos do gênero com desenhos que seguem essa estética. Antes dela, no entanto, o canal Chillhop Music foi um dos pioneiros a subir uma playlist exclusiva com faixas Lo-Fi, em 2013.
Usado geralmente em momentos de foco, como estudos e leitura, a sonoridade do lo-fi promove um momento de tranquilidade e prazer. Influenciadores de leitura, por exemplo, costumam utilizar com frequência listas apenas com essas músicas.
O sucesso do gênero nos últimos anos provocou uma adaptação do som para diferentes ocasiões: estudar, trabalhar, dormir, meditar, cozinhar, relaxar etc.
Versão brasileira
O Brasil não ficou de fora. As produções locais incluem sucessos de bossa nova, funk, samba e MPB, além de composições 100% autorais.
O ex-integrante da banda Restart, Pedro Lucas Munhoz, o Pe Lu, possui o selo Lofi Land. “A maior parte do catálogo da Lofi Land é autoral, mas nós também trabalhamos com versões que reúnem produtores brasileiros para criarem versões de clássicos da nossa música”, explicou o artista ao Estadão.
Pe Lu conta que as músicas o ajudaram tanto em momentos de ansiedade como ao tentar trabalhar em casa. “Quanto mais eu ouvia e conhecia os artistas, mais me encantava com a cena, especialmente a brasileira, cheia de artistas gigantes que eu não conhecia”, disse.
Foi a partir dessa experiência que Pe Lu decidiu participar mais a fundo do movimento e criou a produtora. “O lo-fi é um gênero que tem alcance mundial. Pessoas de todos os continentes consomem muito, e ter produções brasileiras, sejam elas com influências de brasilidade ou somente feitas por pessoas daqui, cria uma ponte nossa com o mundo.”
Produção coletiva
Os artistas da Tangerina Music são outro exemplo do lo-fi brasileiro. Um dos álbuns produzidos pela equipe, o Chill Brazilian Storm, foi o primeiro feito apenas com artistas nacionais. São 14 faixas que trazem sons “amaciados”, conforme denominam.
“A música deixou de ser contemplativa e virou utilitária nos últimos anos”, ressalta Fábio Bittencourt, criador da Tangerina e conhecido por seu nome artístico FaOut. “É uma delícia estudar, trabalhar, meditar ou simplesmente relaxar ouvindo esses sons, principalmente por não terem letras e serem construídos com um BPM (batidas por minutos) mais lento.”
Conforme enfatiza Fábio, a Tangerina Music se volta para sons autorais e sem samples por uma questão legal, mas também para possibilitar uma criação mais livre aos artistas e autores brasileiros.
Ele ainda comenta que as músicas são, em geral, compostas em home studios, um espaço dentro de casa em que o artista dispõe das ferramentas para criação e finalização dos sons. É um ambiente que permite muitas colaborações.
“Os arquivos de áudio são compartilhados entre os autores que estão trabalhando nos sons e cada um vai adicionando, incluindo ou retirando texturas percussivas e instrumentos”, pontua. “É interessante notar que, às vezes, gravamos até um barulho da rua ou um ruído do computador. O processo é bem orgânico e artesanal.”