Nos jardins da Torre de Belém, concerto com música brasileira celebra os 200 anos da Independência


Em Lisboa, Filarmônica de Minas Gerais interpretou peças de autores como Alberto Nepomuceno e Carlos Gomes para três mil pessoas

Por João Luiz Sampaio
Atualização:

PORTO - O Sr. Felipe regeu o concerto do início ao fim. Estilo enérgico, os braços ágeis, as mãos rápidas. Tem 77 anos. Sentado nas primeiras fileiras da plateia montada em frente à Torre de Belém, só não gostou do final. Queria que a Filarmônica de Minas Gerais tocasse mais uma vez Aquarela do Brasil. Tentou mesmo puxar um coro. “Aquarela, aquarela”. Até conquistou alguns aliados em seu entorno. Mas a orquestra já havia dado três bis. “É uma pena, é uma pena”, ele se resignou. “Gostou da minha maestreza?”

A filarmônica participou nesta quarta, 7, o Festival Lisboa na Rua em palco montado nos jardins da Torre de Belém. A apresentação reuniu um público de 3 mil pessoas para celebrar os 200 anos da Independência e era parte da turnê que a orquestra faz esta semana por Portugal: depois de passar pelo Porto na terça-feira, 6, ela voltou a tocar em Lisboa nesta quinta, 8, e encerra a viagem nesta sexta, 9, com apresentação em Coimbra.

O programa começou com três hinos, o brasileiro, o português e o da Independência, escrito pelo próprio Dom Pedro I, imperador do Brasil e, como lembrou o maestro Fabio Mechetti ao público, Dom Pedro IV, rei de Portugal. O próprio cenário do concerto, a Torre de Belém, ali ao lado, repousando sobre as águas do Tejo e iluminada pela lua, parecia significativo de dois mundos, celebrando as viagens marítimas – e as descobertas e riquezas que elas proporcionaram ao antigo império português.

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Entre os dois mundos, no palco ganhou o brasileiro. A orquestra fez a devida homenagem aos anfitriões com a Abertura Sinfônica nº 3 de Joly Braga Santos, compositor português do século 20. E, depois, música brasileira, muita. A abertura de O Garatuja, de Alberto Nepomuceno, a Congada de Francisco Mignone, o Batuque de Lorenzo Fernandez, o Mourão de Guerra-Peixe (acompanhado por palmas).

Filarmônica de Minas Gerais em apresentação em Lisboa  Foto: Vitorino Coragem

São todos autores que de alguma forma tentaram encontrar, já desde o final do século 19, uma identidade musical brasileira. Ela não rechaçava a herança europeia necessariamente, mas, isso acima de tudo, acreditava na força das manifestações regionais como inspiração – e como sentido de uma arte que se pudesse chamar de brasileira. Não se falou em Semana de Arte Moderna, mas que esses sejam autores – e essas sejam ainda questões – simbólicas da criação musical diz muito a respeito de tudo o que aquele momento suscitou e continua a propor em termos de ideia de arte.

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Para muitos desses autores, aliás, uma das influências a serem superadas era a de Carlos Gomes, o grande nome da composição brasileira no século 19. Um brasileiro autor de óperas italianas, cantadas em italiano, estreadas na Itália, mesmo quando tratavam de temas brasileiros: era um nêmeses bom demais para ser ignorado pelos modernistas – ou pelo menos por boa parte deles. Oswald de Andrade vinha na frente, “Carlos Gomes é horrível” – e, acreditem, não foi o pior comentário feito por ele sobre o compositor.

Mas Gomes também esteve nos jardins da Torre de Belém. Dele, a filarmônica tocou o prelúdio e a Alvorada de O Escravo e a abertura de O Guarani. Não deixa de ser curioso. As duas óperas têm portugueses como personagens. No Guarani, o indígena Peri se apaixona pela jovem portuguesa Ceci. Em O Escravo, o tamoio Iberê reprime sua paixão por Ilara, em respeito à promessa feita para o português Américo, por ela apaixonado.

São obras do século 19 e carregam nas costas seu próprio tempo. Peri e Iberê abrem mão do que sentem e daquilo que acreditam. E, ao fazê-lo, os dois pedem licença para compartilhar um conjunto de valores alheio às suas crenças, mas que daria origem a uma noção de povo brasileiro. Assim pensava José de Alencar, e nele pegou carona Carlos Gomes. De qualquer forma, no concerto deste 7 de Setembro, importava mesmo o clima de celebração, a pujança musical e a qualidade da interpretação da filarmônica, regida pelo maestro Fabio Mechetti. Mas a torre estava ali do lado, para quem quisesse vê-la.

PORTO - O Sr. Felipe regeu o concerto do início ao fim. Estilo enérgico, os braços ágeis, as mãos rápidas. Tem 77 anos. Sentado nas primeiras fileiras da plateia montada em frente à Torre de Belém, só não gostou do final. Queria que a Filarmônica de Minas Gerais tocasse mais uma vez Aquarela do Brasil. Tentou mesmo puxar um coro. “Aquarela, aquarela”. Até conquistou alguns aliados em seu entorno. Mas a orquestra já havia dado três bis. “É uma pena, é uma pena”, ele se resignou. “Gostou da minha maestreza?”

A filarmônica participou nesta quarta, 7, o Festival Lisboa na Rua em palco montado nos jardins da Torre de Belém. A apresentação reuniu um público de 3 mil pessoas para celebrar os 200 anos da Independência e era parte da turnê que a orquestra faz esta semana por Portugal: depois de passar pelo Porto na terça-feira, 6, ela voltou a tocar em Lisboa nesta quinta, 8, e encerra a viagem nesta sexta, 9, com apresentação em Coimbra.

O programa começou com três hinos, o brasileiro, o português e o da Independência, escrito pelo próprio Dom Pedro I, imperador do Brasil e, como lembrou o maestro Fabio Mechetti ao público, Dom Pedro IV, rei de Portugal. O próprio cenário do concerto, a Torre de Belém, ali ao lado, repousando sobre as águas do Tejo e iluminada pela lua, parecia significativo de dois mundos, celebrando as viagens marítimas – e as descobertas e riquezas que elas proporcionaram ao antigo império português.

Entre os dois mundos, no palco ganhou o brasileiro. A orquestra fez a devida homenagem aos anfitriões com a Abertura Sinfônica nº 3 de Joly Braga Santos, compositor português do século 20. E, depois, música brasileira, muita. A abertura de O Garatuja, de Alberto Nepomuceno, a Congada de Francisco Mignone, o Batuque de Lorenzo Fernandez, o Mourão de Guerra-Peixe (acompanhado por palmas).

Filarmônica de Minas Gerais em apresentação em Lisboa  Foto: Vitorino Coragem

São todos autores que de alguma forma tentaram encontrar, já desde o final do século 19, uma identidade musical brasileira. Ela não rechaçava a herança europeia necessariamente, mas, isso acima de tudo, acreditava na força das manifestações regionais como inspiração – e como sentido de uma arte que se pudesse chamar de brasileira. Não se falou em Semana de Arte Moderna, mas que esses sejam autores – e essas sejam ainda questões – simbólicas da criação musical diz muito a respeito de tudo o que aquele momento suscitou e continua a propor em termos de ideia de arte.

Para muitos desses autores, aliás, uma das influências a serem superadas era a de Carlos Gomes, o grande nome da composição brasileira no século 19. Um brasileiro autor de óperas italianas, cantadas em italiano, estreadas na Itália, mesmo quando tratavam de temas brasileiros: era um nêmeses bom demais para ser ignorado pelos modernistas – ou pelo menos por boa parte deles. Oswald de Andrade vinha na frente, “Carlos Gomes é horrível” – e, acreditem, não foi o pior comentário feito por ele sobre o compositor.

Mas Gomes também esteve nos jardins da Torre de Belém. Dele, a filarmônica tocou o prelúdio e a Alvorada de O Escravo e a abertura de O Guarani. Não deixa de ser curioso. As duas óperas têm portugueses como personagens. No Guarani, o indígena Peri se apaixona pela jovem portuguesa Ceci. Em O Escravo, o tamoio Iberê reprime sua paixão por Ilara, em respeito à promessa feita para o português Américo, por ela apaixonado.

São obras do século 19 e carregam nas costas seu próprio tempo. Peri e Iberê abrem mão do que sentem e daquilo que acreditam. E, ao fazê-lo, os dois pedem licença para compartilhar um conjunto de valores alheio às suas crenças, mas que daria origem a uma noção de povo brasileiro. Assim pensava José de Alencar, e nele pegou carona Carlos Gomes. De qualquer forma, no concerto deste 7 de Setembro, importava mesmo o clima de celebração, a pujança musical e a qualidade da interpretação da filarmônica, regida pelo maestro Fabio Mechetti. Mas a torre estava ali do lado, para quem quisesse vê-la.

PORTO - O Sr. Felipe regeu o concerto do início ao fim. Estilo enérgico, os braços ágeis, as mãos rápidas. Tem 77 anos. Sentado nas primeiras fileiras da plateia montada em frente à Torre de Belém, só não gostou do final. Queria que a Filarmônica de Minas Gerais tocasse mais uma vez Aquarela do Brasil. Tentou mesmo puxar um coro. “Aquarela, aquarela”. Até conquistou alguns aliados em seu entorno. Mas a orquestra já havia dado três bis. “É uma pena, é uma pena”, ele se resignou. “Gostou da minha maestreza?”

A filarmônica participou nesta quarta, 7, o Festival Lisboa na Rua em palco montado nos jardins da Torre de Belém. A apresentação reuniu um público de 3 mil pessoas para celebrar os 200 anos da Independência e era parte da turnê que a orquestra faz esta semana por Portugal: depois de passar pelo Porto na terça-feira, 6, ela voltou a tocar em Lisboa nesta quinta, 8, e encerra a viagem nesta sexta, 9, com apresentação em Coimbra.

O programa começou com três hinos, o brasileiro, o português e o da Independência, escrito pelo próprio Dom Pedro I, imperador do Brasil e, como lembrou o maestro Fabio Mechetti ao público, Dom Pedro IV, rei de Portugal. O próprio cenário do concerto, a Torre de Belém, ali ao lado, repousando sobre as águas do Tejo e iluminada pela lua, parecia significativo de dois mundos, celebrando as viagens marítimas – e as descobertas e riquezas que elas proporcionaram ao antigo império português.

Entre os dois mundos, no palco ganhou o brasileiro. A orquestra fez a devida homenagem aos anfitriões com a Abertura Sinfônica nº 3 de Joly Braga Santos, compositor português do século 20. E, depois, música brasileira, muita. A abertura de O Garatuja, de Alberto Nepomuceno, a Congada de Francisco Mignone, o Batuque de Lorenzo Fernandez, o Mourão de Guerra-Peixe (acompanhado por palmas).

Filarmônica de Minas Gerais em apresentação em Lisboa  Foto: Vitorino Coragem

São todos autores que de alguma forma tentaram encontrar, já desde o final do século 19, uma identidade musical brasileira. Ela não rechaçava a herança europeia necessariamente, mas, isso acima de tudo, acreditava na força das manifestações regionais como inspiração – e como sentido de uma arte que se pudesse chamar de brasileira. Não se falou em Semana de Arte Moderna, mas que esses sejam autores – e essas sejam ainda questões – simbólicas da criação musical diz muito a respeito de tudo o que aquele momento suscitou e continua a propor em termos de ideia de arte.

Para muitos desses autores, aliás, uma das influências a serem superadas era a de Carlos Gomes, o grande nome da composição brasileira no século 19. Um brasileiro autor de óperas italianas, cantadas em italiano, estreadas na Itália, mesmo quando tratavam de temas brasileiros: era um nêmeses bom demais para ser ignorado pelos modernistas – ou pelo menos por boa parte deles. Oswald de Andrade vinha na frente, “Carlos Gomes é horrível” – e, acreditem, não foi o pior comentário feito por ele sobre o compositor.

Mas Gomes também esteve nos jardins da Torre de Belém. Dele, a filarmônica tocou o prelúdio e a Alvorada de O Escravo e a abertura de O Guarani. Não deixa de ser curioso. As duas óperas têm portugueses como personagens. No Guarani, o indígena Peri se apaixona pela jovem portuguesa Ceci. Em O Escravo, o tamoio Iberê reprime sua paixão por Ilara, em respeito à promessa feita para o português Américo, por ela apaixonado.

São obras do século 19 e carregam nas costas seu próprio tempo. Peri e Iberê abrem mão do que sentem e daquilo que acreditam. E, ao fazê-lo, os dois pedem licença para compartilhar um conjunto de valores alheio às suas crenças, mas que daria origem a uma noção de povo brasileiro. Assim pensava José de Alencar, e nele pegou carona Carlos Gomes. De qualquer forma, no concerto deste 7 de Setembro, importava mesmo o clima de celebração, a pujança musical e a qualidade da interpretação da filarmônica, regida pelo maestro Fabio Mechetti. Mas a torre estava ali do lado, para quem quisesse vê-la.

PORTO - O Sr. Felipe regeu o concerto do início ao fim. Estilo enérgico, os braços ágeis, as mãos rápidas. Tem 77 anos. Sentado nas primeiras fileiras da plateia montada em frente à Torre de Belém, só não gostou do final. Queria que a Filarmônica de Minas Gerais tocasse mais uma vez Aquarela do Brasil. Tentou mesmo puxar um coro. “Aquarela, aquarela”. Até conquistou alguns aliados em seu entorno. Mas a orquestra já havia dado três bis. “É uma pena, é uma pena”, ele se resignou. “Gostou da minha maestreza?”

A filarmônica participou nesta quarta, 7, o Festival Lisboa na Rua em palco montado nos jardins da Torre de Belém. A apresentação reuniu um público de 3 mil pessoas para celebrar os 200 anos da Independência e era parte da turnê que a orquestra faz esta semana por Portugal: depois de passar pelo Porto na terça-feira, 6, ela voltou a tocar em Lisboa nesta quinta, 8, e encerra a viagem nesta sexta, 9, com apresentação em Coimbra.

O programa começou com três hinos, o brasileiro, o português e o da Independência, escrito pelo próprio Dom Pedro I, imperador do Brasil e, como lembrou o maestro Fabio Mechetti ao público, Dom Pedro IV, rei de Portugal. O próprio cenário do concerto, a Torre de Belém, ali ao lado, repousando sobre as águas do Tejo e iluminada pela lua, parecia significativo de dois mundos, celebrando as viagens marítimas – e as descobertas e riquezas que elas proporcionaram ao antigo império português.

Entre os dois mundos, no palco ganhou o brasileiro. A orquestra fez a devida homenagem aos anfitriões com a Abertura Sinfônica nº 3 de Joly Braga Santos, compositor português do século 20. E, depois, música brasileira, muita. A abertura de O Garatuja, de Alberto Nepomuceno, a Congada de Francisco Mignone, o Batuque de Lorenzo Fernandez, o Mourão de Guerra-Peixe (acompanhado por palmas).

Filarmônica de Minas Gerais em apresentação em Lisboa  Foto: Vitorino Coragem

São todos autores que de alguma forma tentaram encontrar, já desde o final do século 19, uma identidade musical brasileira. Ela não rechaçava a herança europeia necessariamente, mas, isso acima de tudo, acreditava na força das manifestações regionais como inspiração – e como sentido de uma arte que se pudesse chamar de brasileira. Não se falou em Semana de Arte Moderna, mas que esses sejam autores – e essas sejam ainda questões – simbólicas da criação musical diz muito a respeito de tudo o que aquele momento suscitou e continua a propor em termos de ideia de arte.

Para muitos desses autores, aliás, uma das influências a serem superadas era a de Carlos Gomes, o grande nome da composição brasileira no século 19. Um brasileiro autor de óperas italianas, cantadas em italiano, estreadas na Itália, mesmo quando tratavam de temas brasileiros: era um nêmeses bom demais para ser ignorado pelos modernistas – ou pelo menos por boa parte deles. Oswald de Andrade vinha na frente, “Carlos Gomes é horrível” – e, acreditem, não foi o pior comentário feito por ele sobre o compositor.

Mas Gomes também esteve nos jardins da Torre de Belém. Dele, a filarmônica tocou o prelúdio e a Alvorada de O Escravo e a abertura de O Guarani. Não deixa de ser curioso. As duas óperas têm portugueses como personagens. No Guarani, o indígena Peri se apaixona pela jovem portuguesa Ceci. Em O Escravo, o tamoio Iberê reprime sua paixão por Ilara, em respeito à promessa feita para o português Américo, por ela apaixonado.

São obras do século 19 e carregam nas costas seu próprio tempo. Peri e Iberê abrem mão do que sentem e daquilo que acreditam. E, ao fazê-lo, os dois pedem licença para compartilhar um conjunto de valores alheio às suas crenças, mas que daria origem a uma noção de povo brasileiro. Assim pensava José de Alencar, e nele pegou carona Carlos Gomes. De qualquer forma, no concerto deste 7 de Setembro, importava mesmo o clima de celebração, a pujança musical e a qualidade da interpretação da filarmônica, regida pelo maestro Fabio Mechetti. Mas a torre estava ali do lado, para quem quisesse vê-la.

PORTO - O Sr. Felipe regeu o concerto do início ao fim. Estilo enérgico, os braços ágeis, as mãos rápidas. Tem 77 anos. Sentado nas primeiras fileiras da plateia montada em frente à Torre de Belém, só não gostou do final. Queria que a Filarmônica de Minas Gerais tocasse mais uma vez Aquarela do Brasil. Tentou mesmo puxar um coro. “Aquarela, aquarela”. Até conquistou alguns aliados em seu entorno. Mas a orquestra já havia dado três bis. “É uma pena, é uma pena”, ele se resignou. “Gostou da minha maestreza?”

A filarmônica participou nesta quarta, 7, o Festival Lisboa na Rua em palco montado nos jardins da Torre de Belém. A apresentação reuniu um público de 3 mil pessoas para celebrar os 200 anos da Independência e era parte da turnê que a orquestra faz esta semana por Portugal: depois de passar pelo Porto na terça-feira, 6, ela voltou a tocar em Lisboa nesta quinta, 8, e encerra a viagem nesta sexta, 9, com apresentação em Coimbra.

O programa começou com três hinos, o brasileiro, o português e o da Independência, escrito pelo próprio Dom Pedro I, imperador do Brasil e, como lembrou o maestro Fabio Mechetti ao público, Dom Pedro IV, rei de Portugal. O próprio cenário do concerto, a Torre de Belém, ali ao lado, repousando sobre as águas do Tejo e iluminada pela lua, parecia significativo de dois mundos, celebrando as viagens marítimas – e as descobertas e riquezas que elas proporcionaram ao antigo império português.

Entre os dois mundos, no palco ganhou o brasileiro. A orquestra fez a devida homenagem aos anfitriões com a Abertura Sinfônica nº 3 de Joly Braga Santos, compositor português do século 20. E, depois, música brasileira, muita. A abertura de O Garatuja, de Alberto Nepomuceno, a Congada de Francisco Mignone, o Batuque de Lorenzo Fernandez, o Mourão de Guerra-Peixe (acompanhado por palmas).

Filarmônica de Minas Gerais em apresentação em Lisboa  Foto: Vitorino Coragem

São todos autores que de alguma forma tentaram encontrar, já desde o final do século 19, uma identidade musical brasileira. Ela não rechaçava a herança europeia necessariamente, mas, isso acima de tudo, acreditava na força das manifestações regionais como inspiração – e como sentido de uma arte que se pudesse chamar de brasileira. Não se falou em Semana de Arte Moderna, mas que esses sejam autores – e essas sejam ainda questões – simbólicas da criação musical diz muito a respeito de tudo o que aquele momento suscitou e continua a propor em termos de ideia de arte.

Para muitos desses autores, aliás, uma das influências a serem superadas era a de Carlos Gomes, o grande nome da composição brasileira no século 19. Um brasileiro autor de óperas italianas, cantadas em italiano, estreadas na Itália, mesmo quando tratavam de temas brasileiros: era um nêmeses bom demais para ser ignorado pelos modernistas – ou pelo menos por boa parte deles. Oswald de Andrade vinha na frente, “Carlos Gomes é horrível” – e, acreditem, não foi o pior comentário feito por ele sobre o compositor.

Mas Gomes também esteve nos jardins da Torre de Belém. Dele, a filarmônica tocou o prelúdio e a Alvorada de O Escravo e a abertura de O Guarani. Não deixa de ser curioso. As duas óperas têm portugueses como personagens. No Guarani, o indígena Peri se apaixona pela jovem portuguesa Ceci. Em O Escravo, o tamoio Iberê reprime sua paixão por Ilara, em respeito à promessa feita para o português Américo, por ela apaixonado.

São obras do século 19 e carregam nas costas seu próprio tempo. Peri e Iberê abrem mão do que sentem e daquilo que acreditam. E, ao fazê-lo, os dois pedem licença para compartilhar um conjunto de valores alheio às suas crenças, mas que daria origem a uma noção de povo brasileiro. Assim pensava José de Alencar, e nele pegou carona Carlos Gomes. De qualquer forma, no concerto deste 7 de Setembro, importava mesmo o clima de celebração, a pujança musical e a qualidade da interpretação da filarmônica, regida pelo maestro Fabio Mechetti. Mas a torre estava ali do lado, para quem quisesse vê-la.

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