Como será a turnê dos Novos Baianos? Antes da estreia no festival Coala, ‘Estadão’ mostra bastidores


Baby do Brasil, Pepeu Gomes e Paulinho Boca do Cantor mantêm a viva a célula do grupo e preparam uma nova turnê; ‘Estadão’ acompanhou os últimos retoques em texto e vídeo; assista

Por Danilo Casaletti

Preta, Pretinha ‘mole’ é duro de roer. Eu estou quase na valsa aqui, Pepeu”, diz Baby do Brasil, marcando o ritmo com os pés no primeiro ensaio que os Novos Baianos fizeram para o show que apresentarão no Coala Festival, neste sábado, dia 16, em São Paulo. A reportagem do Estadão acompanhou parte dos trabalhos, na quinta-feira à noite, 14.

“Pulsa, você, então, Baby”, diz Pepeu. “É perigoso! Eu sou rock’n’roll demais, você sabe”, devolve a cantora. “Então, deixa comigo. Eu dou esse pulso (andamento) há 50 anos”, reivindica o guitarrista.

Nesse clima, Baby, Pepeu e Paulinho Boca de Cantor mantêm a pulsação do grupo depois da morte do músico Moraes Moreira (1947-2020) e do poeta Luiz Galvão (1937-2022). Tudo parece quando começou, há cinco décadas, quando eles foram os responsáveis por dar uma nova sacudida na música popular brasileira depois da bossa nova e da Tropicália.

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Baby do Brasil. Pepeu Gomes e Paulinho Boca de Cantor ensaiando para o show que farão no Coala Festival Foto: Alex Silva/ Estadão

“Ainda posso sentir o gosto da laranja que dava lá no pé que tinha no sítio”, diz Baby, em referência ao lugar, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, onde todos moravam juntos, fazendo música e jogando bola. Era o Cantinho do Vovô, uma espécie de oásis em uma época de repressão do governo militar.

“Música era uma forma de ter felicidade. Não era obrigação, nem por dinheiro. Era arte. Estávamos fazendo vida. Isso está no som dos Novos Baianos”, diz Baby.

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“Essa versão de Preta Pretinha que você ouviu aqui é única, não tem em nenhum disco. Foi criada agora”, avisa o maestro Pepeu. A gravação original é com Moraes nos vocais. Agora, foi preciso adaptá-la para que Boca de cantor e Baby a cantem.

“Isso o mestre João (Gilberto) nos ensinou. Ele cantou Bésame Mucho duas mil vezes e nenhuma era igual a outra”, diz Paulinho Boca de Cantor. João foi uma espécie de guru do grupo no início dos anos 1970.

O pai da batida da bossa nova sugeriu que o grupo gravasse o samba Brasil Pandeiro, de Assis Valente, no disco Acabou Chorare, de 1972, o mais cultuado da banda, presença garantida em qualquer lista dos melhores álbuns de música brasileira.

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Esse show que os Novos Baianos farão no Coala, festival voltado à diversidade da música feita no País, será um pontapé para uma nova turnê do grupo.

Baby: animação no estúdio Foto: Alex Silva/Estadão

Formalmente, o grupo atuou de 1969 a 1979. Depois, cada um foi cuidar de sua carreira solo – Moraes foi o primeiro a debandar, em 1975. Ao longo das décadas, fez alguns reencontros. Com o interesse das novas gerações, eles têm se reunido com mais frequência desde 2015.

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“A gente não volta. A gente sempre esteve. Quando deixamos de fazer shows juntos, em 1979, no outro dia já tinha gente perguntando para mim: ‘quando vai ter Novos Baianos de novo?’. A gente soltou o anúncio do Coala e bombou. Isso que a gente gosta”, diz Boca de Cantor.

No show do Coala, além de músicas do Acabou Chorare, a banda vai tocar músicas que estão em outros álbuns, como Farol da Barra, Na Cadência do Samba e Anos 70, essa última do álbum ao vivo que lançaram em 2017.

Também está prevista a versão pop que o grupo fez para O Samba da Minha Terra, clássico de Dorival Caymmi, presente no álbum Novos Baianos Futebol Clube, lançado em 1973. “O Caymmi deve ter ficado louco”, brinca Pepeu.

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Pepeu segue como o maestro do grupo Foto: Alex Silva/Estadão

Aliás, o disco Novos Baianos Futebol Clube é citado por Baby, Pepeu e Boca de Cantor por diversas vezes na conversa com o Estadão. Seria, então, o preferido deles?

“Tem a mesma importância do Acabou Chorare. É praticamente o último disco antes da saída do Moraes. Nele, tem Os Pingos da Chuva, um rock genuinamente brasileiro. Queria botar nesse show, mas Baby não quis”, entrega Pepeu.

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“Quer colocar? Está com ela na mão?”, diz Baby, que sai cantarolando parte da letra. Quem sabe pode ser uma surpresa no repertório do show (o grupo ainda faria mais um ensaio antes da apresentação).

Influência para as novas gerações

Boca de Cantor revela as inspirações para as principais músicas do grupo Foto: Alex Silva/Estadão

Será que os Novos Baianos reconhecem a influência do som que criaram, uma mistura poderosa de samba e rock – entre outras misturas -, nas bandas e artistas atuais, sempre presentes nos festivais?

“Muita!”, diz Pepeu, com um sorriso nos lábios, sem, porém, entregar nenhum nome. O músico prefere ser didático e explicar o som que faziam – e fazem.

A gente descobriu que o samba e o rock têm a mesma relação. Só depende do jeito que você tocar. O nosso jazz brasileiro só se compara ao americano porque é tocado em chorinho. Nós temos a mesma ou maior possibilidade de improviso do que o jazz americano. Novos Baianos é improviso

Pepeu Gomes

Com isso, Pepeu aponta o que ninguém pode reproduzir.

“As duas ou três gerações depois da gente têm Novos Baianos”, diz Boca de Cantor. “Cada um absorve de seu jeito”, pondera Baby.

Para além da parte musical, a poética presente nas letras do grupo, responsabilidade, sobretudo de Luiz Galvão, também é modelo – e, nos anos 1970, um ponto diferencial. As músicas não se pareciam com nada do que era feito naquele momento.

Boca de Cantor diz que eles e Galvão captaram o que ocorria no País naquele momento de ditadura militar, mas olhavam além, sem ressentimentos.

Acabou Chorare, um dia lindo. O Brasil amanheceu lindo! Besta é Tu que não sabe que a vida é maravilhosa”, diz.

Ele ainda fala sobre outra canção, Dê um Rolê (parceria de Moraes e Galvão), sucesso na voz de Gal Costa (1945-2022), presente no disco Fa-Tal, de 1971, uma das músicas que até hoje conecta a cantora com as novas gerações.

“A gente tinha um carro. Sem IPVA pago. Quando chegávamos com ele na Lagoa Rodrigues de Freitas (no Rio de Janeiro), a polícia começava a nos acompanhar. Então, a gente dava um rolê. Era tudo assim, em vez de brigar, a gente dava risada para acabar com aquela obscuridade”, diz.

Mesmo sem Moraes e Galvão, o espírito de vida e música, célula do grupo, permanece com Baby, Pepeu e Boca de Cantor – e Jorginho Gomes, na bateria. “Novos Baianos nunca acabará. Não tem como sair!”, profetiza Baby.

Preta, Pretinha ‘mole’ é duro de roer. Eu estou quase na valsa aqui, Pepeu”, diz Baby do Brasil, marcando o ritmo com os pés no primeiro ensaio que os Novos Baianos fizeram para o show que apresentarão no Coala Festival, neste sábado, dia 16, em São Paulo. A reportagem do Estadão acompanhou parte dos trabalhos, na quinta-feira à noite, 14.

“Pulsa, você, então, Baby”, diz Pepeu. “É perigoso! Eu sou rock’n’roll demais, você sabe”, devolve a cantora. “Então, deixa comigo. Eu dou esse pulso (andamento) há 50 anos”, reivindica o guitarrista.

Nesse clima, Baby, Pepeu e Paulinho Boca de Cantor mantêm a pulsação do grupo depois da morte do músico Moraes Moreira (1947-2020) e do poeta Luiz Galvão (1937-2022). Tudo parece quando começou, há cinco décadas, quando eles foram os responsáveis por dar uma nova sacudida na música popular brasileira depois da bossa nova e da Tropicália.

Baby do Brasil. Pepeu Gomes e Paulinho Boca de Cantor ensaiando para o show que farão no Coala Festival Foto: Alex Silva/ Estadão

“Ainda posso sentir o gosto da laranja que dava lá no pé que tinha no sítio”, diz Baby, em referência ao lugar, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, onde todos moravam juntos, fazendo música e jogando bola. Era o Cantinho do Vovô, uma espécie de oásis em uma época de repressão do governo militar.

“Música era uma forma de ter felicidade. Não era obrigação, nem por dinheiro. Era arte. Estávamos fazendo vida. Isso está no som dos Novos Baianos”, diz Baby.

“Essa versão de Preta Pretinha que você ouviu aqui é única, não tem em nenhum disco. Foi criada agora”, avisa o maestro Pepeu. A gravação original é com Moraes nos vocais. Agora, foi preciso adaptá-la para que Boca de cantor e Baby a cantem.

“Isso o mestre João (Gilberto) nos ensinou. Ele cantou Bésame Mucho duas mil vezes e nenhuma era igual a outra”, diz Paulinho Boca de Cantor. João foi uma espécie de guru do grupo no início dos anos 1970.

O pai da batida da bossa nova sugeriu que o grupo gravasse o samba Brasil Pandeiro, de Assis Valente, no disco Acabou Chorare, de 1972, o mais cultuado da banda, presença garantida em qualquer lista dos melhores álbuns de música brasileira.

Esse show que os Novos Baianos farão no Coala, festival voltado à diversidade da música feita no País, será um pontapé para uma nova turnê do grupo.

Baby: animação no estúdio Foto: Alex Silva/Estadão

Formalmente, o grupo atuou de 1969 a 1979. Depois, cada um foi cuidar de sua carreira solo – Moraes foi o primeiro a debandar, em 1975. Ao longo das décadas, fez alguns reencontros. Com o interesse das novas gerações, eles têm se reunido com mais frequência desde 2015.

“A gente não volta. A gente sempre esteve. Quando deixamos de fazer shows juntos, em 1979, no outro dia já tinha gente perguntando para mim: ‘quando vai ter Novos Baianos de novo?’. A gente soltou o anúncio do Coala e bombou. Isso que a gente gosta”, diz Boca de Cantor.

No show do Coala, além de músicas do Acabou Chorare, a banda vai tocar músicas que estão em outros álbuns, como Farol da Barra, Na Cadência do Samba e Anos 70, essa última do álbum ao vivo que lançaram em 2017.

Também está prevista a versão pop que o grupo fez para O Samba da Minha Terra, clássico de Dorival Caymmi, presente no álbum Novos Baianos Futebol Clube, lançado em 1973. “O Caymmi deve ter ficado louco”, brinca Pepeu.

Pepeu segue como o maestro do grupo Foto: Alex Silva/Estadão

Aliás, o disco Novos Baianos Futebol Clube é citado por Baby, Pepeu e Boca de Cantor por diversas vezes na conversa com o Estadão. Seria, então, o preferido deles?

“Tem a mesma importância do Acabou Chorare. É praticamente o último disco antes da saída do Moraes. Nele, tem Os Pingos da Chuva, um rock genuinamente brasileiro. Queria botar nesse show, mas Baby não quis”, entrega Pepeu.

“Quer colocar? Está com ela na mão?”, diz Baby, que sai cantarolando parte da letra. Quem sabe pode ser uma surpresa no repertório do show (o grupo ainda faria mais um ensaio antes da apresentação).

Influência para as novas gerações

Boca de Cantor revela as inspirações para as principais músicas do grupo Foto: Alex Silva/Estadão

Será que os Novos Baianos reconhecem a influência do som que criaram, uma mistura poderosa de samba e rock – entre outras misturas -, nas bandas e artistas atuais, sempre presentes nos festivais?

“Muita!”, diz Pepeu, com um sorriso nos lábios, sem, porém, entregar nenhum nome. O músico prefere ser didático e explicar o som que faziam – e fazem.

A gente descobriu que o samba e o rock têm a mesma relação. Só depende do jeito que você tocar. O nosso jazz brasileiro só se compara ao americano porque é tocado em chorinho. Nós temos a mesma ou maior possibilidade de improviso do que o jazz americano. Novos Baianos é improviso

Pepeu Gomes

Com isso, Pepeu aponta o que ninguém pode reproduzir.

“As duas ou três gerações depois da gente têm Novos Baianos”, diz Boca de Cantor. “Cada um absorve de seu jeito”, pondera Baby.

Para além da parte musical, a poética presente nas letras do grupo, responsabilidade, sobretudo de Luiz Galvão, também é modelo – e, nos anos 1970, um ponto diferencial. As músicas não se pareciam com nada do que era feito naquele momento.

Boca de Cantor diz que eles e Galvão captaram o que ocorria no País naquele momento de ditadura militar, mas olhavam além, sem ressentimentos.

Acabou Chorare, um dia lindo. O Brasil amanheceu lindo! Besta é Tu que não sabe que a vida é maravilhosa”, diz.

Ele ainda fala sobre outra canção, Dê um Rolê (parceria de Moraes e Galvão), sucesso na voz de Gal Costa (1945-2022), presente no disco Fa-Tal, de 1971, uma das músicas que até hoje conecta a cantora com as novas gerações.

“A gente tinha um carro. Sem IPVA pago. Quando chegávamos com ele na Lagoa Rodrigues de Freitas (no Rio de Janeiro), a polícia começava a nos acompanhar. Então, a gente dava um rolê. Era tudo assim, em vez de brigar, a gente dava risada para acabar com aquela obscuridade”, diz.

Mesmo sem Moraes e Galvão, o espírito de vida e música, célula do grupo, permanece com Baby, Pepeu e Boca de Cantor – e Jorginho Gomes, na bateria. “Novos Baianos nunca acabará. Não tem como sair!”, profetiza Baby.

Preta, Pretinha ‘mole’ é duro de roer. Eu estou quase na valsa aqui, Pepeu”, diz Baby do Brasil, marcando o ritmo com os pés no primeiro ensaio que os Novos Baianos fizeram para o show que apresentarão no Coala Festival, neste sábado, dia 16, em São Paulo. A reportagem do Estadão acompanhou parte dos trabalhos, na quinta-feira à noite, 14.

“Pulsa, você, então, Baby”, diz Pepeu. “É perigoso! Eu sou rock’n’roll demais, você sabe”, devolve a cantora. “Então, deixa comigo. Eu dou esse pulso (andamento) há 50 anos”, reivindica o guitarrista.

Nesse clima, Baby, Pepeu e Paulinho Boca de Cantor mantêm a pulsação do grupo depois da morte do músico Moraes Moreira (1947-2020) e do poeta Luiz Galvão (1937-2022). Tudo parece quando começou, há cinco décadas, quando eles foram os responsáveis por dar uma nova sacudida na música popular brasileira depois da bossa nova e da Tropicália.

Baby do Brasil. Pepeu Gomes e Paulinho Boca de Cantor ensaiando para o show que farão no Coala Festival Foto: Alex Silva/ Estadão

“Ainda posso sentir o gosto da laranja que dava lá no pé que tinha no sítio”, diz Baby, em referência ao lugar, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, onde todos moravam juntos, fazendo música e jogando bola. Era o Cantinho do Vovô, uma espécie de oásis em uma época de repressão do governo militar.

“Música era uma forma de ter felicidade. Não era obrigação, nem por dinheiro. Era arte. Estávamos fazendo vida. Isso está no som dos Novos Baianos”, diz Baby.

“Essa versão de Preta Pretinha que você ouviu aqui é única, não tem em nenhum disco. Foi criada agora”, avisa o maestro Pepeu. A gravação original é com Moraes nos vocais. Agora, foi preciso adaptá-la para que Boca de cantor e Baby a cantem.

“Isso o mestre João (Gilberto) nos ensinou. Ele cantou Bésame Mucho duas mil vezes e nenhuma era igual a outra”, diz Paulinho Boca de Cantor. João foi uma espécie de guru do grupo no início dos anos 1970.

O pai da batida da bossa nova sugeriu que o grupo gravasse o samba Brasil Pandeiro, de Assis Valente, no disco Acabou Chorare, de 1972, o mais cultuado da banda, presença garantida em qualquer lista dos melhores álbuns de música brasileira.

Esse show que os Novos Baianos farão no Coala, festival voltado à diversidade da música feita no País, será um pontapé para uma nova turnê do grupo.

Baby: animação no estúdio Foto: Alex Silva/Estadão

Formalmente, o grupo atuou de 1969 a 1979. Depois, cada um foi cuidar de sua carreira solo – Moraes foi o primeiro a debandar, em 1975. Ao longo das décadas, fez alguns reencontros. Com o interesse das novas gerações, eles têm se reunido com mais frequência desde 2015.

“A gente não volta. A gente sempre esteve. Quando deixamos de fazer shows juntos, em 1979, no outro dia já tinha gente perguntando para mim: ‘quando vai ter Novos Baianos de novo?’. A gente soltou o anúncio do Coala e bombou. Isso que a gente gosta”, diz Boca de Cantor.

No show do Coala, além de músicas do Acabou Chorare, a banda vai tocar músicas que estão em outros álbuns, como Farol da Barra, Na Cadência do Samba e Anos 70, essa última do álbum ao vivo que lançaram em 2017.

Também está prevista a versão pop que o grupo fez para O Samba da Minha Terra, clássico de Dorival Caymmi, presente no álbum Novos Baianos Futebol Clube, lançado em 1973. “O Caymmi deve ter ficado louco”, brinca Pepeu.

Pepeu segue como o maestro do grupo Foto: Alex Silva/Estadão

Aliás, o disco Novos Baianos Futebol Clube é citado por Baby, Pepeu e Boca de Cantor por diversas vezes na conversa com o Estadão. Seria, então, o preferido deles?

“Tem a mesma importância do Acabou Chorare. É praticamente o último disco antes da saída do Moraes. Nele, tem Os Pingos da Chuva, um rock genuinamente brasileiro. Queria botar nesse show, mas Baby não quis”, entrega Pepeu.

“Quer colocar? Está com ela na mão?”, diz Baby, que sai cantarolando parte da letra. Quem sabe pode ser uma surpresa no repertório do show (o grupo ainda faria mais um ensaio antes da apresentação).

Influência para as novas gerações

Boca de Cantor revela as inspirações para as principais músicas do grupo Foto: Alex Silva/Estadão

Será que os Novos Baianos reconhecem a influência do som que criaram, uma mistura poderosa de samba e rock – entre outras misturas -, nas bandas e artistas atuais, sempre presentes nos festivais?

“Muita!”, diz Pepeu, com um sorriso nos lábios, sem, porém, entregar nenhum nome. O músico prefere ser didático e explicar o som que faziam – e fazem.

A gente descobriu que o samba e o rock têm a mesma relação. Só depende do jeito que você tocar. O nosso jazz brasileiro só se compara ao americano porque é tocado em chorinho. Nós temos a mesma ou maior possibilidade de improviso do que o jazz americano. Novos Baianos é improviso

Pepeu Gomes

Com isso, Pepeu aponta o que ninguém pode reproduzir.

“As duas ou três gerações depois da gente têm Novos Baianos”, diz Boca de Cantor. “Cada um absorve de seu jeito”, pondera Baby.

Para além da parte musical, a poética presente nas letras do grupo, responsabilidade, sobretudo de Luiz Galvão, também é modelo – e, nos anos 1970, um ponto diferencial. As músicas não se pareciam com nada do que era feito naquele momento.

Boca de Cantor diz que eles e Galvão captaram o que ocorria no País naquele momento de ditadura militar, mas olhavam além, sem ressentimentos.

Acabou Chorare, um dia lindo. O Brasil amanheceu lindo! Besta é Tu que não sabe que a vida é maravilhosa”, diz.

Ele ainda fala sobre outra canção, Dê um Rolê (parceria de Moraes e Galvão), sucesso na voz de Gal Costa (1945-2022), presente no disco Fa-Tal, de 1971, uma das músicas que até hoje conecta a cantora com as novas gerações.

“A gente tinha um carro. Sem IPVA pago. Quando chegávamos com ele na Lagoa Rodrigues de Freitas (no Rio de Janeiro), a polícia começava a nos acompanhar. Então, a gente dava um rolê. Era tudo assim, em vez de brigar, a gente dava risada para acabar com aquela obscuridade”, diz.

Mesmo sem Moraes e Galvão, o espírito de vida e música, célula do grupo, permanece com Baby, Pepeu e Boca de Cantor – e Jorginho Gomes, na bateria. “Novos Baianos nunca acabará. Não tem como sair!”, profetiza Baby.

Preta, Pretinha ‘mole’ é duro de roer. Eu estou quase na valsa aqui, Pepeu”, diz Baby do Brasil, marcando o ritmo com os pés no primeiro ensaio que os Novos Baianos fizeram para o show que apresentarão no Coala Festival, neste sábado, dia 16, em São Paulo. A reportagem do Estadão acompanhou parte dos trabalhos, na quinta-feira à noite, 14.

“Pulsa, você, então, Baby”, diz Pepeu. “É perigoso! Eu sou rock’n’roll demais, você sabe”, devolve a cantora. “Então, deixa comigo. Eu dou esse pulso (andamento) há 50 anos”, reivindica o guitarrista.

Nesse clima, Baby, Pepeu e Paulinho Boca de Cantor mantêm a pulsação do grupo depois da morte do músico Moraes Moreira (1947-2020) e do poeta Luiz Galvão (1937-2022). Tudo parece quando começou, há cinco décadas, quando eles foram os responsáveis por dar uma nova sacudida na música popular brasileira depois da bossa nova e da Tropicália.

Baby do Brasil. Pepeu Gomes e Paulinho Boca de Cantor ensaiando para o show que farão no Coala Festival Foto: Alex Silva/ Estadão

“Ainda posso sentir o gosto da laranja que dava lá no pé que tinha no sítio”, diz Baby, em referência ao lugar, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, onde todos moravam juntos, fazendo música e jogando bola. Era o Cantinho do Vovô, uma espécie de oásis em uma época de repressão do governo militar.

“Música era uma forma de ter felicidade. Não era obrigação, nem por dinheiro. Era arte. Estávamos fazendo vida. Isso está no som dos Novos Baianos”, diz Baby.

“Essa versão de Preta Pretinha que você ouviu aqui é única, não tem em nenhum disco. Foi criada agora”, avisa o maestro Pepeu. A gravação original é com Moraes nos vocais. Agora, foi preciso adaptá-la para que Boca de cantor e Baby a cantem.

“Isso o mestre João (Gilberto) nos ensinou. Ele cantou Bésame Mucho duas mil vezes e nenhuma era igual a outra”, diz Paulinho Boca de Cantor. João foi uma espécie de guru do grupo no início dos anos 1970.

O pai da batida da bossa nova sugeriu que o grupo gravasse o samba Brasil Pandeiro, de Assis Valente, no disco Acabou Chorare, de 1972, o mais cultuado da banda, presença garantida em qualquer lista dos melhores álbuns de música brasileira.

Esse show que os Novos Baianos farão no Coala, festival voltado à diversidade da música feita no País, será um pontapé para uma nova turnê do grupo.

Baby: animação no estúdio Foto: Alex Silva/Estadão

Formalmente, o grupo atuou de 1969 a 1979. Depois, cada um foi cuidar de sua carreira solo – Moraes foi o primeiro a debandar, em 1975. Ao longo das décadas, fez alguns reencontros. Com o interesse das novas gerações, eles têm se reunido com mais frequência desde 2015.

“A gente não volta. A gente sempre esteve. Quando deixamos de fazer shows juntos, em 1979, no outro dia já tinha gente perguntando para mim: ‘quando vai ter Novos Baianos de novo?’. A gente soltou o anúncio do Coala e bombou. Isso que a gente gosta”, diz Boca de Cantor.

No show do Coala, além de músicas do Acabou Chorare, a banda vai tocar músicas que estão em outros álbuns, como Farol da Barra, Na Cadência do Samba e Anos 70, essa última do álbum ao vivo que lançaram em 2017.

Também está prevista a versão pop que o grupo fez para O Samba da Minha Terra, clássico de Dorival Caymmi, presente no álbum Novos Baianos Futebol Clube, lançado em 1973. “O Caymmi deve ter ficado louco”, brinca Pepeu.

Pepeu segue como o maestro do grupo Foto: Alex Silva/Estadão

Aliás, o disco Novos Baianos Futebol Clube é citado por Baby, Pepeu e Boca de Cantor por diversas vezes na conversa com o Estadão. Seria, então, o preferido deles?

“Tem a mesma importância do Acabou Chorare. É praticamente o último disco antes da saída do Moraes. Nele, tem Os Pingos da Chuva, um rock genuinamente brasileiro. Queria botar nesse show, mas Baby não quis”, entrega Pepeu.

“Quer colocar? Está com ela na mão?”, diz Baby, que sai cantarolando parte da letra. Quem sabe pode ser uma surpresa no repertório do show (o grupo ainda faria mais um ensaio antes da apresentação).

Influência para as novas gerações

Boca de Cantor revela as inspirações para as principais músicas do grupo Foto: Alex Silva/Estadão

Será que os Novos Baianos reconhecem a influência do som que criaram, uma mistura poderosa de samba e rock – entre outras misturas -, nas bandas e artistas atuais, sempre presentes nos festivais?

“Muita!”, diz Pepeu, com um sorriso nos lábios, sem, porém, entregar nenhum nome. O músico prefere ser didático e explicar o som que faziam – e fazem.

A gente descobriu que o samba e o rock têm a mesma relação. Só depende do jeito que você tocar. O nosso jazz brasileiro só se compara ao americano porque é tocado em chorinho. Nós temos a mesma ou maior possibilidade de improviso do que o jazz americano. Novos Baianos é improviso

Pepeu Gomes

Com isso, Pepeu aponta o que ninguém pode reproduzir.

“As duas ou três gerações depois da gente têm Novos Baianos”, diz Boca de Cantor. “Cada um absorve de seu jeito”, pondera Baby.

Para além da parte musical, a poética presente nas letras do grupo, responsabilidade, sobretudo de Luiz Galvão, também é modelo – e, nos anos 1970, um ponto diferencial. As músicas não se pareciam com nada do que era feito naquele momento.

Boca de Cantor diz que eles e Galvão captaram o que ocorria no País naquele momento de ditadura militar, mas olhavam além, sem ressentimentos.

Acabou Chorare, um dia lindo. O Brasil amanheceu lindo! Besta é Tu que não sabe que a vida é maravilhosa”, diz.

Ele ainda fala sobre outra canção, Dê um Rolê (parceria de Moraes e Galvão), sucesso na voz de Gal Costa (1945-2022), presente no disco Fa-Tal, de 1971, uma das músicas que até hoje conecta a cantora com as novas gerações.

“A gente tinha um carro. Sem IPVA pago. Quando chegávamos com ele na Lagoa Rodrigues de Freitas (no Rio de Janeiro), a polícia começava a nos acompanhar. Então, a gente dava um rolê. Era tudo assim, em vez de brigar, a gente dava risada para acabar com aquela obscuridade”, diz.

Mesmo sem Moraes e Galvão, o espírito de vida e música, célula do grupo, permanece com Baby, Pepeu e Boca de Cantor – e Jorginho Gomes, na bateria. “Novos Baianos nunca acabará. Não tem como sair!”, profetiza Baby.

Preta, Pretinha ‘mole’ é duro de roer. Eu estou quase na valsa aqui, Pepeu”, diz Baby do Brasil, marcando o ritmo com os pés no primeiro ensaio que os Novos Baianos fizeram para o show que apresentarão no Coala Festival, neste sábado, dia 16, em São Paulo. A reportagem do Estadão acompanhou parte dos trabalhos, na quinta-feira à noite, 14.

“Pulsa, você, então, Baby”, diz Pepeu. “É perigoso! Eu sou rock’n’roll demais, você sabe”, devolve a cantora. “Então, deixa comigo. Eu dou esse pulso (andamento) há 50 anos”, reivindica o guitarrista.

Nesse clima, Baby, Pepeu e Paulinho Boca de Cantor mantêm a pulsação do grupo depois da morte do músico Moraes Moreira (1947-2020) e do poeta Luiz Galvão (1937-2022). Tudo parece quando começou, há cinco décadas, quando eles foram os responsáveis por dar uma nova sacudida na música popular brasileira depois da bossa nova e da Tropicália.

Baby do Brasil. Pepeu Gomes e Paulinho Boca de Cantor ensaiando para o show que farão no Coala Festival Foto: Alex Silva/ Estadão

“Ainda posso sentir o gosto da laranja que dava lá no pé que tinha no sítio”, diz Baby, em referência ao lugar, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, onde todos moravam juntos, fazendo música e jogando bola. Era o Cantinho do Vovô, uma espécie de oásis em uma época de repressão do governo militar.

“Música era uma forma de ter felicidade. Não era obrigação, nem por dinheiro. Era arte. Estávamos fazendo vida. Isso está no som dos Novos Baianos”, diz Baby.

“Essa versão de Preta Pretinha que você ouviu aqui é única, não tem em nenhum disco. Foi criada agora”, avisa o maestro Pepeu. A gravação original é com Moraes nos vocais. Agora, foi preciso adaptá-la para que Boca de cantor e Baby a cantem.

“Isso o mestre João (Gilberto) nos ensinou. Ele cantou Bésame Mucho duas mil vezes e nenhuma era igual a outra”, diz Paulinho Boca de Cantor. João foi uma espécie de guru do grupo no início dos anos 1970.

O pai da batida da bossa nova sugeriu que o grupo gravasse o samba Brasil Pandeiro, de Assis Valente, no disco Acabou Chorare, de 1972, o mais cultuado da banda, presença garantida em qualquer lista dos melhores álbuns de música brasileira.

Esse show que os Novos Baianos farão no Coala, festival voltado à diversidade da música feita no País, será um pontapé para uma nova turnê do grupo.

Baby: animação no estúdio Foto: Alex Silva/Estadão

Formalmente, o grupo atuou de 1969 a 1979. Depois, cada um foi cuidar de sua carreira solo – Moraes foi o primeiro a debandar, em 1975. Ao longo das décadas, fez alguns reencontros. Com o interesse das novas gerações, eles têm se reunido com mais frequência desde 2015.

“A gente não volta. A gente sempre esteve. Quando deixamos de fazer shows juntos, em 1979, no outro dia já tinha gente perguntando para mim: ‘quando vai ter Novos Baianos de novo?’. A gente soltou o anúncio do Coala e bombou. Isso que a gente gosta”, diz Boca de Cantor.

No show do Coala, além de músicas do Acabou Chorare, a banda vai tocar músicas que estão em outros álbuns, como Farol da Barra, Na Cadência do Samba e Anos 70, essa última do álbum ao vivo que lançaram em 2017.

Também está prevista a versão pop que o grupo fez para O Samba da Minha Terra, clássico de Dorival Caymmi, presente no álbum Novos Baianos Futebol Clube, lançado em 1973. “O Caymmi deve ter ficado louco”, brinca Pepeu.

Pepeu segue como o maestro do grupo Foto: Alex Silva/Estadão

Aliás, o disco Novos Baianos Futebol Clube é citado por Baby, Pepeu e Boca de Cantor por diversas vezes na conversa com o Estadão. Seria, então, o preferido deles?

“Tem a mesma importância do Acabou Chorare. É praticamente o último disco antes da saída do Moraes. Nele, tem Os Pingos da Chuva, um rock genuinamente brasileiro. Queria botar nesse show, mas Baby não quis”, entrega Pepeu.

“Quer colocar? Está com ela na mão?”, diz Baby, que sai cantarolando parte da letra. Quem sabe pode ser uma surpresa no repertório do show (o grupo ainda faria mais um ensaio antes da apresentação).

Influência para as novas gerações

Boca de Cantor revela as inspirações para as principais músicas do grupo Foto: Alex Silva/Estadão

Será que os Novos Baianos reconhecem a influência do som que criaram, uma mistura poderosa de samba e rock – entre outras misturas -, nas bandas e artistas atuais, sempre presentes nos festivais?

“Muita!”, diz Pepeu, com um sorriso nos lábios, sem, porém, entregar nenhum nome. O músico prefere ser didático e explicar o som que faziam – e fazem.

A gente descobriu que o samba e o rock têm a mesma relação. Só depende do jeito que você tocar. O nosso jazz brasileiro só se compara ao americano porque é tocado em chorinho. Nós temos a mesma ou maior possibilidade de improviso do que o jazz americano. Novos Baianos é improviso

Pepeu Gomes

Com isso, Pepeu aponta o que ninguém pode reproduzir.

“As duas ou três gerações depois da gente têm Novos Baianos”, diz Boca de Cantor. “Cada um absorve de seu jeito”, pondera Baby.

Para além da parte musical, a poética presente nas letras do grupo, responsabilidade, sobretudo de Luiz Galvão, também é modelo – e, nos anos 1970, um ponto diferencial. As músicas não se pareciam com nada do que era feito naquele momento.

Boca de Cantor diz que eles e Galvão captaram o que ocorria no País naquele momento de ditadura militar, mas olhavam além, sem ressentimentos.

Acabou Chorare, um dia lindo. O Brasil amanheceu lindo! Besta é Tu que não sabe que a vida é maravilhosa”, diz.

Ele ainda fala sobre outra canção, Dê um Rolê (parceria de Moraes e Galvão), sucesso na voz de Gal Costa (1945-2022), presente no disco Fa-Tal, de 1971, uma das músicas que até hoje conecta a cantora com as novas gerações.

“A gente tinha um carro. Sem IPVA pago. Quando chegávamos com ele na Lagoa Rodrigues de Freitas (no Rio de Janeiro), a polícia começava a nos acompanhar. Então, a gente dava um rolê. Era tudo assim, em vez de brigar, a gente dava risada para acabar com aquela obscuridade”, diz.

Mesmo sem Moraes e Galvão, o espírito de vida e música, célula do grupo, permanece com Baby, Pepeu e Boca de Cantor – e Jorginho Gomes, na bateria. “Novos Baianos nunca acabará. Não tem como sair!”, profetiza Baby.

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