As histórias de Seu Francisco ficaram em um tempo que não existe mais, impossíveis de se repetirem por terem acontecido em um mundo tão distante. Ao morrer na noite de segunda-feira, 23, aos 83 anos, depois de resistir a uma internação de 14 dias em um hospital de Goiânia, ele se foi, levando as memórias de uma das sagas mais impressionantes do mundo sertanejo. Fã de Tonico & Tinoco, homem simples da cidade de Pirenópolis, no interior de Goiás, Francisco se tornou protagonista de uma saga que acabaria por revelar uma das duplas mais vitoriosas do meio sertanejo.
Mesmo romanceada pelo diretor Breno Silveira no filme 2 Filhos de Francisco, em 2005, a essência de tudo o que aconteceu foi contada para a posteridade, chegando a um público de mais de 5,3 milhões de espectadores. Quieto, de poucas palavras, sem saber muito como lidar com todo o luxo no qual a prosperidade de seus filhos Zezé di Camargo e Luciano o colocaram um dia, Francisco era de olhar de longe e preferir o campo.
Quando o filme se tornou um estouro de público, fui com Seu Francisco e sua mulher, Helena, até Goiânia para visitarmos, pela primeira vez, a 'rádio dos milagres', Terra FM, a emissora que sofreu um ataque de ligações telefônicas em 1991, quando seus meninos, ainda desconhecidos do Brasil, lançaram a música É o Amor. Centenas de pessoas, uma após a outra, ligavam pedindo para ouvir É o Amor intrigando os produtores. Eles só descobririam depois que era Seu Francisco quem mandava todos os amigos do bairro ficarem nos orelhões da cidade ligando por horas com dezenas de fichas telefônicas distribuídas por ele.
Ao entrarmos de surpresa na sala da rádio, onde um programa era transmitido, o locutor Ferreira Jr e o rapaz da mesa de som levaram um susto e se levantaram, deixando o volume aberto aos ouvintes. “Seu Francisco!” E ali ficou ele, contando causos e pedindo, 15 anos depois, É o Amor como nos velhos tempos de orelhão, mas agora como um convidado especial. Quando Zezé Di Camargo nasceu, Francisco falou a Helena que eles precisavam fabricar a “segunda voz”. Fabricaram mais oito. As duas que vingaram têm agora mais motivos para honrar cada uma das fichas colocadas nos orelhões de Goiânia.