Opinião|O megaespetáculo da Broadway de Madonna entra para a história; leia crítica


Entre beijos, celebrações, discursos inspiradores e a participação de Anitta e Pabllo Vittar, Madonna reúne 1,6 milhão de pessoas em performance que revive como surgiu de garota de Michigan para o topo do mundo

Por Pedro Só
Atualização:

Foi carnaval, foi réveillon, foi bailão popular, noite catártica e histórica, diante de 1,6 milhão de pessoas (segundo estimativa da Riotur, público que supera o do show dos Rolling Stones em 2006, no mesmo local, a praia de Copacabana, no Rio de Janeiro). A boa e eterna Madonna, 65 anos, fechou sua turnê de despedida numa nota alta.

+ 10 momentos mais marcantes do show da Madonna em Copacabana

A intensidade de Madonna se transforma em um show com suor, coreografias e homenagens Foto: Pedro Kirilos/Estadão
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Deu muito beijo na boca (dos bailarinos), “performou” muitas coreografias provocantes, fez discursos libertários e contou com o tempero local em participações de Anitta e Pabllo Vittar — sem cantar, mas botando para quebrar e requebrar. Ninguém brilhou mais do que a dona da festa.

Durante a semana, a polêmica sobre a ausência de banda na Celebration Tour fez brotar frases como “quem acha que Madonna é sobre boa ou má música não entendeu a dimensão dessa história de décadas”. Mas todas as leituras sociológicas e políticas falham ao não identificar que a comoção e a devoção à superstar passam essencialmente por ela, a danada da música.

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A “garota do Michigan que não era pra ter chegado tão longe” — como ela se definiu, no palco de Copacabana —, mata essa charada com um verso só de seu megahit “Music”: “Music makes the people come together” (“A música faz as pessoas se juntarem”).

O megaespetáculo de Broadway pop que fez milhões festejarem a vida no Rio de Janeiro (e no resto do Brasil, via streaming) se apoia em storytelling (é um show que poderia vir com o selo “com história” que acompanhava alguns DVDs pornôs do século passado), dança, luz, vídeo, celebridades, ativismo e surpresas locais.

Madonna performs in the final show of her The Celebration Tour, on Copacabana Beach in Rio de Janeiro, Brazil, Saturday, May 4, 2024. (AP Photo/Silvia Izquierdo) Foto: Silvia Izquierdo/AP
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Mas o que emociona e impulsiona tudo é a música, seja gravada ou tocada ao vivo. Com banda ou não, é a força das canções e dos grooves que talhou a memória afetiva de milhões de pessoas e que construiu o mito Madonna.

Não existe dicotomia ou polarização: Madonna é a favor da música. Tanto que arregaça metaforicamente as mangas de diva pop, pega no violão e dispensa o auxílio luxuoso dos playbacks e efeitos vocais para transformar um de seus grandes hits no momento mais emocionado de sua noite histórica. Antes, abriu o coração, bem ao seu estilo destemido e desbocado, agradecendo o afeto do público brasileiro: “Eu quero chorar. Por tantos anos, vocês, mulheres, vocês todos, me apoiaram tanto (...) Eu sinto no meu coração, eu sinto na minha vagina. (...) Estou no paraíso. Obrigado por me trazerem aqui”.No embalo, lembrou que 4 de maio é o aniversário do grafiteiro e artista plástico pop americano Keith Haring (1958-1990): “Um dos primeiros membros da comunidade gay que se tornou meu amigo quando cheguei a Nova York. A nação queer sempre esteve ao meu lado”.

Em tom de despedida, agradeceu a todos que lutam pelo direito de ser livre e amar a quem quiser, recomendou “não tenham medo” e prometeu: “Eu vou lutar pelo direito de vocês até a morte”. “Express Yourself”.

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Na música seguinte, “La Isla Bonita”, com a levada shuffle alterada, recebeu o reforço do filho David Banda ao violão e calou a boca de críticos com as intervenções ao violoncelo do jovem Matthew Jamal, 24 anos. Quem disse que não tinha músico contratado na equipe? No fecho desse bloco, ainda houve uma feliz adição de ritmistas mirins de várias escolas de samba no arranjo de “Music”, com Pabllo Vittar rebolando e ensaiando uma divertida pegação com Madonna, as duas de verde e amarelo.

Antes, Madonna já havia chorado, ao cantar “Live to Tell”, enquanto o telão mostrava rostos de vítimas da Aids; entre os brasileiros, Renato Russo e Cazuza foram os mais saudados pelo público, mas havia rostos femininos menos lembrados, como os das atrizes Sandra Breá e Cláudia Magno

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Madonna entrou em cena 62 minutos depois do previsto, às 22h47, e se apresentou por pouco mais de duas horas. Contou sua história em sete atos, desde o começo como jovem barrada no baile na boate Paradise Lost, em Nova York, até os momentos mais diva, sem contornar nenhuma polêmica religiosa até o número de encerrramento. Cariocamente, saiu de cena com um “obrigada” em português e uma bandeira do Brasil nas mãos, submergindo no palco para entrar na história. A segunda Madonna de Copacabana.

Foi carnaval, foi réveillon, foi bailão popular, noite catártica e histórica, diante de 1,6 milhão de pessoas (segundo estimativa da Riotur, público que supera o do show dos Rolling Stones em 2006, no mesmo local, a praia de Copacabana, no Rio de Janeiro). A boa e eterna Madonna, 65 anos, fechou sua turnê de despedida numa nota alta.

+ 10 momentos mais marcantes do show da Madonna em Copacabana

A intensidade de Madonna se transforma em um show com suor, coreografias e homenagens Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Deu muito beijo na boca (dos bailarinos), “performou” muitas coreografias provocantes, fez discursos libertários e contou com o tempero local em participações de Anitta e Pabllo Vittar — sem cantar, mas botando para quebrar e requebrar. Ninguém brilhou mais do que a dona da festa.

Durante a semana, a polêmica sobre a ausência de banda na Celebration Tour fez brotar frases como “quem acha que Madonna é sobre boa ou má música não entendeu a dimensão dessa história de décadas”. Mas todas as leituras sociológicas e políticas falham ao não identificar que a comoção e a devoção à superstar passam essencialmente por ela, a danada da música.

A “garota do Michigan que não era pra ter chegado tão longe” — como ela se definiu, no palco de Copacabana —, mata essa charada com um verso só de seu megahit “Music”: “Music makes the people come together” (“A música faz as pessoas se juntarem”).

O megaespetáculo de Broadway pop que fez milhões festejarem a vida no Rio de Janeiro (e no resto do Brasil, via streaming) se apoia em storytelling (é um show que poderia vir com o selo “com história” que acompanhava alguns DVDs pornôs do século passado), dança, luz, vídeo, celebridades, ativismo e surpresas locais.

Madonna performs in the final show of her The Celebration Tour, on Copacabana Beach in Rio de Janeiro, Brazil, Saturday, May 4, 2024. (AP Photo/Silvia Izquierdo) Foto: Silvia Izquierdo/AP

Mas o que emociona e impulsiona tudo é a música, seja gravada ou tocada ao vivo. Com banda ou não, é a força das canções e dos grooves que talhou a memória afetiva de milhões de pessoas e que construiu o mito Madonna.

Não existe dicotomia ou polarização: Madonna é a favor da música. Tanto que arregaça metaforicamente as mangas de diva pop, pega no violão e dispensa o auxílio luxuoso dos playbacks e efeitos vocais para transformar um de seus grandes hits no momento mais emocionado de sua noite histórica. Antes, abriu o coração, bem ao seu estilo destemido e desbocado, agradecendo o afeto do público brasileiro: “Eu quero chorar. Por tantos anos, vocês, mulheres, vocês todos, me apoiaram tanto (...) Eu sinto no meu coração, eu sinto na minha vagina. (...) Estou no paraíso. Obrigado por me trazerem aqui”.No embalo, lembrou que 4 de maio é o aniversário do grafiteiro e artista plástico pop americano Keith Haring (1958-1990): “Um dos primeiros membros da comunidade gay que se tornou meu amigo quando cheguei a Nova York. A nação queer sempre esteve ao meu lado”.

Em tom de despedida, agradeceu a todos que lutam pelo direito de ser livre e amar a quem quiser, recomendou “não tenham medo” e prometeu: “Eu vou lutar pelo direito de vocês até a morte”. “Express Yourself”.

Na música seguinte, “La Isla Bonita”, com a levada shuffle alterada, recebeu o reforço do filho David Banda ao violão e calou a boca de críticos com as intervenções ao violoncelo do jovem Matthew Jamal, 24 anos. Quem disse que não tinha músico contratado na equipe? No fecho desse bloco, ainda houve uma feliz adição de ritmistas mirins de várias escolas de samba no arranjo de “Music”, com Pabllo Vittar rebolando e ensaiando uma divertida pegação com Madonna, as duas de verde e amarelo.

Antes, Madonna já havia chorado, ao cantar “Live to Tell”, enquanto o telão mostrava rostos de vítimas da Aids; entre os brasileiros, Renato Russo e Cazuza foram os mais saudados pelo público, mas havia rostos femininos menos lembrados, como os das atrizes Sandra Breá e Cláudia Magno

Madonna entrou em cena 62 minutos depois do previsto, às 22h47, e se apresentou por pouco mais de duas horas. Contou sua história em sete atos, desde o começo como jovem barrada no baile na boate Paradise Lost, em Nova York, até os momentos mais diva, sem contornar nenhuma polêmica religiosa até o número de encerrramento. Cariocamente, saiu de cena com um “obrigada” em português e uma bandeira do Brasil nas mãos, submergindo no palco para entrar na história. A segunda Madonna de Copacabana.

Foi carnaval, foi réveillon, foi bailão popular, noite catártica e histórica, diante de 1,6 milhão de pessoas (segundo estimativa da Riotur, público que supera o do show dos Rolling Stones em 2006, no mesmo local, a praia de Copacabana, no Rio de Janeiro). A boa e eterna Madonna, 65 anos, fechou sua turnê de despedida numa nota alta.

+ 10 momentos mais marcantes do show da Madonna em Copacabana

A intensidade de Madonna se transforma em um show com suor, coreografias e homenagens Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Deu muito beijo na boca (dos bailarinos), “performou” muitas coreografias provocantes, fez discursos libertários e contou com o tempero local em participações de Anitta e Pabllo Vittar — sem cantar, mas botando para quebrar e requebrar. Ninguém brilhou mais do que a dona da festa.

Durante a semana, a polêmica sobre a ausência de banda na Celebration Tour fez brotar frases como “quem acha que Madonna é sobre boa ou má música não entendeu a dimensão dessa história de décadas”. Mas todas as leituras sociológicas e políticas falham ao não identificar que a comoção e a devoção à superstar passam essencialmente por ela, a danada da música.

A “garota do Michigan que não era pra ter chegado tão longe” — como ela se definiu, no palco de Copacabana —, mata essa charada com um verso só de seu megahit “Music”: “Music makes the people come together” (“A música faz as pessoas se juntarem”).

O megaespetáculo de Broadway pop que fez milhões festejarem a vida no Rio de Janeiro (e no resto do Brasil, via streaming) se apoia em storytelling (é um show que poderia vir com o selo “com história” que acompanhava alguns DVDs pornôs do século passado), dança, luz, vídeo, celebridades, ativismo e surpresas locais.

Madonna performs in the final show of her The Celebration Tour, on Copacabana Beach in Rio de Janeiro, Brazil, Saturday, May 4, 2024. (AP Photo/Silvia Izquierdo) Foto: Silvia Izquierdo/AP

Mas o que emociona e impulsiona tudo é a música, seja gravada ou tocada ao vivo. Com banda ou não, é a força das canções e dos grooves que talhou a memória afetiva de milhões de pessoas e que construiu o mito Madonna.

Não existe dicotomia ou polarização: Madonna é a favor da música. Tanto que arregaça metaforicamente as mangas de diva pop, pega no violão e dispensa o auxílio luxuoso dos playbacks e efeitos vocais para transformar um de seus grandes hits no momento mais emocionado de sua noite histórica. Antes, abriu o coração, bem ao seu estilo destemido e desbocado, agradecendo o afeto do público brasileiro: “Eu quero chorar. Por tantos anos, vocês, mulheres, vocês todos, me apoiaram tanto (...) Eu sinto no meu coração, eu sinto na minha vagina. (...) Estou no paraíso. Obrigado por me trazerem aqui”.No embalo, lembrou que 4 de maio é o aniversário do grafiteiro e artista plástico pop americano Keith Haring (1958-1990): “Um dos primeiros membros da comunidade gay que se tornou meu amigo quando cheguei a Nova York. A nação queer sempre esteve ao meu lado”.

Em tom de despedida, agradeceu a todos que lutam pelo direito de ser livre e amar a quem quiser, recomendou “não tenham medo” e prometeu: “Eu vou lutar pelo direito de vocês até a morte”. “Express Yourself”.

Na música seguinte, “La Isla Bonita”, com a levada shuffle alterada, recebeu o reforço do filho David Banda ao violão e calou a boca de críticos com as intervenções ao violoncelo do jovem Matthew Jamal, 24 anos. Quem disse que não tinha músico contratado na equipe? No fecho desse bloco, ainda houve uma feliz adição de ritmistas mirins de várias escolas de samba no arranjo de “Music”, com Pabllo Vittar rebolando e ensaiando uma divertida pegação com Madonna, as duas de verde e amarelo.

Antes, Madonna já havia chorado, ao cantar “Live to Tell”, enquanto o telão mostrava rostos de vítimas da Aids; entre os brasileiros, Renato Russo e Cazuza foram os mais saudados pelo público, mas havia rostos femininos menos lembrados, como os das atrizes Sandra Breá e Cláudia Magno

Madonna entrou em cena 62 minutos depois do previsto, às 22h47, e se apresentou por pouco mais de duas horas. Contou sua história em sete atos, desde o começo como jovem barrada no baile na boate Paradise Lost, em Nova York, até os momentos mais diva, sem contornar nenhuma polêmica religiosa até o número de encerrramento. Cariocamente, saiu de cena com um “obrigada” em português e uma bandeira do Brasil nas mãos, submergindo no palco para entrar na história. A segunda Madonna de Copacabana.

Opinião por Pedro Só

Jornalista especializado em música

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