'Os jovens precisam trazer a África para o novo milênio'


Filho da lenda Fela Kuti, o seguidor do afrobeat vem fazer shows em São Paulo e no Festival Mimo de Paraty

Por Julio Maria

Mais que o filho da lenda, Seun Kuti é seu leal seguidor. O pai, Fela Kuti, homem que criou um gênero africano absolutamente original e com ele deu voz à sangrenta Nigéria dos anos 70, deixou no palco um menino de 15 anos transpirando sonhos e revolta quando morreu, em 1997. Seun herdou sua banda, a Egypt80, assumiu seu instrumento, o sax, e se apoderou de um discurso ainda mais impiedoso que o dos rappers norte-americanos: “Qualquer desenvolvimento da África só existe para as pessoas ricas. Nós temos um presidente que usa um jato privado, mas que não faz nenhum planejamento para ajudar as pessoas pobres. Só os pobres morrem na África”, diz em entrevista ao Estado, por e-mail, de sua cidade, Lagos, na Nigéria.

reference

Seun Kuti vem ao Brasil à frente da Egypt 80 ainda entusiasmado pelo resultado de seu álbum mais recente, A Long Way to the Beginning, com produção do norte-americano Robert Glasper e presenças do duo de hip hop Dead Prez, do trompetista Christian Scott e da cantora nigeriana Nneka. O primeiro show de Seun será em São Paulo, dia 28 de setembro, no Vale do Anhangabaú, com abertura da Orquestra Poly-Rythmo de Cotonou, do Benin. Já no dia 11 de outubro, ele se apresenta na passagem do Festival Mimo por Paraty (RJ), em show também gratuito na Praça da Matriz. Seun foi escalado para o lugar de outro africano, o malinês Salif Keita, que cancelou a vinda para o Mimo depois de adiar sua turnê internacional para 2015.

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Quais são as particularidades do novo álbum, A Long Way to the Beginning?O afrobeat segue juntando elementos da black music (soul, rock e funk). Chamei Robert Glasper para produzir e atuar em algumas faixas, como também Dead Prez, Christian Scott e Nneka. É importante manter o orgulho e o respeito pela black music.

Seu pai deixou um legado de enfrentamentos contra a opressão da ditadura na Nigéria nos anos 70. E hoje, quais os principais desafios de seu país?Os jovens precisam estar mais envolvidos. Acordar e mostrar que têm potencial. A nova geração tem que lutar por seus direitos, levantar-se para fazer uma África melhor. Quem faz a mudança são os jovens, a decisão está com eles. Mas eles não podem entrar na política para não se corromper. O que precisam fazer é liberar sua “destruição criativa” (conceito idealizado pelo economista austríaco Joseph Schumpeter que fala sobre uma nova economia de mercado recriada por produtos que destruirão velhas empresas e modelos de negócio). Os líderes econômicos e políticos têm medo da “destruição criativa”, estão com medo das novas tecnologias, do que os jovens podem criar com elas, com o novo sistema que irá destruir todos os antigos. Os jovens precisam trazer a África para o novo milênio, as chaves estão com eles.

As pessoas entenderam a mensagem de seu pai?Sim, as pessoas entenderam, e ele criou um movimento real e que ainda existe.

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Com foi sua infância?Muito simples, nós nem tínhamos carro. Eu ia para a escola de transporte público. Meu pai estava sempre em casa, sempre com tempo para conversar, mas minha mãe era rigorosa. Fela me fez simples, com a mente aberta, me fez aceitar quem eu sou. Ele foi um grande pai, sempre com os jovens a seu redor.

O Egypt 80, a última banda de Fela, está toda com você. Isso muda tudo?O Egypt80 é uma instituição! Essa banda deveria ganhar um prêmio por tudo o que eles têm feito e construído. Chegaram a gravar nove álbuns com o meu pai e três comigo. Eles já estão na história da música. Oito ou nove de seus integrantes tocaram com Fela.

A África de hoje não precisa de um novo Fela Kuti?Há vários Felas na África de hoje. O problema é a corrupção que não permite a eles divulgar suas ideias nas TVs ou nas rádios. Assim que aparecem, o governo trata de tirar as emissoras do ar. É difícil, ninguém pode falar sobre esses artistas. Mas há um pouco de Fela em todos nós. A África tem muitas grandes mentes.

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E em sua opinião, qual o principal álbum deixado por seu pai?Zumbi, o disco que lhe deu fama em todo o mundo.

Qual foi o sonho que seu pai não conseguiu realizar? E qual o seu sonho?Meu pai queria ser presidente do povo nigeriano. Já o meu sonho é criar Adala, minha filha, ensinando a ela bons valores.

Sente que o mundo e a África estão de fato empenhados em conter a epidemia do Ebola?Qualquer desenvolvimento da África está pensando nas pessoas ricas. Nós temos um presidente (Goodluck Jonathan) que usa um jato privado, mas que não faz nenhum planejamento para ajudar as pessoas pobres. Só os pobres morrem na África.

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Quando você ouve música brasileira, você ouve a África?Sim, sempre. E o grande músico, o grande homem, amigo de meu pai, se chama Gilberto Gil.

Mais que o filho da lenda, Seun Kuti é seu leal seguidor. O pai, Fela Kuti, homem que criou um gênero africano absolutamente original e com ele deu voz à sangrenta Nigéria dos anos 70, deixou no palco um menino de 15 anos transpirando sonhos e revolta quando morreu, em 1997. Seun herdou sua banda, a Egypt80, assumiu seu instrumento, o sax, e se apoderou de um discurso ainda mais impiedoso que o dos rappers norte-americanos: “Qualquer desenvolvimento da África só existe para as pessoas ricas. Nós temos um presidente que usa um jato privado, mas que não faz nenhum planejamento para ajudar as pessoas pobres. Só os pobres morrem na África”, diz em entrevista ao Estado, por e-mail, de sua cidade, Lagos, na Nigéria.

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Seun Kuti vem ao Brasil à frente da Egypt 80 ainda entusiasmado pelo resultado de seu álbum mais recente, A Long Way to the Beginning, com produção do norte-americano Robert Glasper e presenças do duo de hip hop Dead Prez, do trompetista Christian Scott e da cantora nigeriana Nneka. O primeiro show de Seun será em São Paulo, dia 28 de setembro, no Vale do Anhangabaú, com abertura da Orquestra Poly-Rythmo de Cotonou, do Benin. Já no dia 11 de outubro, ele se apresenta na passagem do Festival Mimo por Paraty (RJ), em show também gratuito na Praça da Matriz. Seun foi escalado para o lugar de outro africano, o malinês Salif Keita, que cancelou a vinda para o Mimo depois de adiar sua turnê internacional para 2015.

Quais são as particularidades do novo álbum, A Long Way to the Beginning?O afrobeat segue juntando elementos da black music (soul, rock e funk). Chamei Robert Glasper para produzir e atuar em algumas faixas, como também Dead Prez, Christian Scott e Nneka. É importante manter o orgulho e o respeito pela black music.

Seu pai deixou um legado de enfrentamentos contra a opressão da ditadura na Nigéria nos anos 70. E hoje, quais os principais desafios de seu país?Os jovens precisam estar mais envolvidos. Acordar e mostrar que têm potencial. A nova geração tem que lutar por seus direitos, levantar-se para fazer uma África melhor. Quem faz a mudança são os jovens, a decisão está com eles. Mas eles não podem entrar na política para não se corromper. O que precisam fazer é liberar sua “destruição criativa” (conceito idealizado pelo economista austríaco Joseph Schumpeter que fala sobre uma nova economia de mercado recriada por produtos que destruirão velhas empresas e modelos de negócio). Os líderes econômicos e políticos têm medo da “destruição criativa”, estão com medo das novas tecnologias, do que os jovens podem criar com elas, com o novo sistema que irá destruir todos os antigos. Os jovens precisam trazer a África para o novo milênio, as chaves estão com eles.

As pessoas entenderam a mensagem de seu pai?Sim, as pessoas entenderam, e ele criou um movimento real e que ainda existe.

Com foi sua infância?Muito simples, nós nem tínhamos carro. Eu ia para a escola de transporte público. Meu pai estava sempre em casa, sempre com tempo para conversar, mas minha mãe era rigorosa. Fela me fez simples, com a mente aberta, me fez aceitar quem eu sou. Ele foi um grande pai, sempre com os jovens a seu redor.

O Egypt 80, a última banda de Fela, está toda com você. Isso muda tudo?O Egypt80 é uma instituição! Essa banda deveria ganhar um prêmio por tudo o que eles têm feito e construído. Chegaram a gravar nove álbuns com o meu pai e três comigo. Eles já estão na história da música. Oito ou nove de seus integrantes tocaram com Fela.

A África de hoje não precisa de um novo Fela Kuti?Há vários Felas na África de hoje. O problema é a corrupção que não permite a eles divulgar suas ideias nas TVs ou nas rádios. Assim que aparecem, o governo trata de tirar as emissoras do ar. É difícil, ninguém pode falar sobre esses artistas. Mas há um pouco de Fela em todos nós. A África tem muitas grandes mentes.

E em sua opinião, qual o principal álbum deixado por seu pai?Zumbi, o disco que lhe deu fama em todo o mundo.

Qual foi o sonho que seu pai não conseguiu realizar? E qual o seu sonho?Meu pai queria ser presidente do povo nigeriano. Já o meu sonho é criar Adala, minha filha, ensinando a ela bons valores.

Sente que o mundo e a África estão de fato empenhados em conter a epidemia do Ebola?Qualquer desenvolvimento da África está pensando nas pessoas ricas. Nós temos um presidente (Goodluck Jonathan) que usa um jato privado, mas que não faz nenhum planejamento para ajudar as pessoas pobres. Só os pobres morrem na África.

Quando você ouve música brasileira, você ouve a África?Sim, sempre. E o grande músico, o grande homem, amigo de meu pai, se chama Gilberto Gil.

Mais que o filho da lenda, Seun Kuti é seu leal seguidor. O pai, Fela Kuti, homem que criou um gênero africano absolutamente original e com ele deu voz à sangrenta Nigéria dos anos 70, deixou no palco um menino de 15 anos transpirando sonhos e revolta quando morreu, em 1997. Seun herdou sua banda, a Egypt80, assumiu seu instrumento, o sax, e se apoderou de um discurso ainda mais impiedoso que o dos rappers norte-americanos: “Qualquer desenvolvimento da África só existe para as pessoas ricas. Nós temos um presidente que usa um jato privado, mas que não faz nenhum planejamento para ajudar as pessoas pobres. Só os pobres morrem na África”, diz em entrevista ao Estado, por e-mail, de sua cidade, Lagos, na Nigéria.

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Seun Kuti vem ao Brasil à frente da Egypt 80 ainda entusiasmado pelo resultado de seu álbum mais recente, A Long Way to the Beginning, com produção do norte-americano Robert Glasper e presenças do duo de hip hop Dead Prez, do trompetista Christian Scott e da cantora nigeriana Nneka. O primeiro show de Seun será em São Paulo, dia 28 de setembro, no Vale do Anhangabaú, com abertura da Orquestra Poly-Rythmo de Cotonou, do Benin. Já no dia 11 de outubro, ele se apresenta na passagem do Festival Mimo por Paraty (RJ), em show também gratuito na Praça da Matriz. Seun foi escalado para o lugar de outro africano, o malinês Salif Keita, que cancelou a vinda para o Mimo depois de adiar sua turnê internacional para 2015.

Quais são as particularidades do novo álbum, A Long Way to the Beginning?O afrobeat segue juntando elementos da black music (soul, rock e funk). Chamei Robert Glasper para produzir e atuar em algumas faixas, como também Dead Prez, Christian Scott e Nneka. É importante manter o orgulho e o respeito pela black music.

Seu pai deixou um legado de enfrentamentos contra a opressão da ditadura na Nigéria nos anos 70. E hoje, quais os principais desafios de seu país?Os jovens precisam estar mais envolvidos. Acordar e mostrar que têm potencial. A nova geração tem que lutar por seus direitos, levantar-se para fazer uma África melhor. Quem faz a mudança são os jovens, a decisão está com eles. Mas eles não podem entrar na política para não se corromper. O que precisam fazer é liberar sua “destruição criativa” (conceito idealizado pelo economista austríaco Joseph Schumpeter que fala sobre uma nova economia de mercado recriada por produtos que destruirão velhas empresas e modelos de negócio). Os líderes econômicos e políticos têm medo da “destruição criativa”, estão com medo das novas tecnologias, do que os jovens podem criar com elas, com o novo sistema que irá destruir todos os antigos. Os jovens precisam trazer a África para o novo milênio, as chaves estão com eles.

As pessoas entenderam a mensagem de seu pai?Sim, as pessoas entenderam, e ele criou um movimento real e que ainda existe.

Com foi sua infância?Muito simples, nós nem tínhamos carro. Eu ia para a escola de transporte público. Meu pai estava sempre em casa, sempre com tempo para conversar, mas minha mãe era rigorosa. Fela me fez simples, com a mente aberta, me fez aceitar quem eu sou. Ele foi um grande pai, sempre com os jovens a seu redor.

O Egypt 80, a última banda de Fela, está toda com você. Isso muda tudo?O Egypt80 é uma instituição! Essa banda deveria ganhar um prêmio por tudo o que eles têm feito e construído. Chegaram a gravar nove álbuns com o meu pai e três comigo. Eles já estão na história da música. Oito ou nove de seus integrantes tocaram com Fela.

A África de hoje não precisa de um novo Fela Kuti?Há vários Felas na África de hoje. O problema é a corrupção que não permite a eles divulgar suas ideias nas TVs ou nas rádios. Assim que aparecem, o governo trata de tirar as emissoras do ar. É difícil, ninguém pode falar sobre esses artistas. Mas há um pouco de Fela em todos nós. A África tem muitas grandes mentes.

E em sua opinião, qual o principal álbum deixado por seu pai?Zumbi, o disco que lhe deu fama em todo o mundo.

Qual foi o sonho que seu pai não conseguiu realizar? E qual o seu sonho?Meu pai queria ser presidente do povo nigeriano. Já o meu sonho é criar Adala, minha filha, ensinando a ela bons valores.

Sente que o mundo e a África estão de fato empenhados em conter a epidemia do Ebola?Qualquer desenvolvimento da África está pensando nas pessoas ricas. Nós temos um presidente (Goodluck Jonathan) que usa um jato privado, mas que não faz nenhum planejamento para ajudar as pessoas pobres. Só os pobres morrem na África.

Quando você ouve música brasileira, você ouve a África?Sim, sempre. E o grande músico, o grande homem, amigo de meu pai, se chama Gilberto Gil.

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