Patti Smith vem a São Paulo pela primeira vez com dois livros novos e 44 anos de carreira na bagagem


A padroeira do punk rock nova-iorquino é a atração principal do Popload Festival; 'O Ano do Macaco' e 'Devoção' chegam às livrarias ao mesmo tempo

Por Guilherme Sobota
Atualização:

Finalmente, a escriba viajante Patti Smith vai botar os pés em São Paulo, pela primeira vez em mais de 40 anos de carreira. A padroeira do punk rock nova-iorquino, escritora vencedora do National Book Award, fotógrafa e artista visual, compositora de hinos inesquecíveis e militante das causas humanitárias é a atração principal do Popload Festival, na sexta-feira, 15, no Memorial da América Latina.

Ela também marcou outras duas aparições. Na quinta, 14, participa de um bate-papo no Sesc Pompeia para apresentar seus dois novos livros – O Ano do Macaco e Devoção –, duas peças literárias que carregam sua voz sensível. No sábado, 16, ela faz outro show musical, beneficente, no auditório do Memorial.

Patti Smith. Voz literária poderosa, voz musical histórica Foto: Rebecca Miller/The Washington Post
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Patti falou com o Estado na tarde de quinta-feira, 7, por telefone de Nova York, onde vive, e onde havia chegado de uma viagem extensa pela Europa. Era o mesmo dia, também, do nascimento de Albert Camus, o gênio franco-argelino que influenciou de maneira fundamental sua escrita – e que “aparece” em Devoção. O livro é um conjunto de relatos em forma de diário recheado por um sensual conto fictício dividido em 10 partes – no primeiro capítulo do livro, ela esmiúça seu próprio processo criativo de construção da narrativa.

Em O Ano do Macaco, Patti narra em um misto enevoado de ficção e memória o ano de 2016, traumático, para ela, na política social – várias vezes ela se referiu a Donald Trump como um “idiota”, mas nunca no livro, cuja narrativa apenas sugere que algumas coisas estão fugindo dos trilhos –, mas também na esfera pessoal. Sandy Pearlman, o crítico que lhe sugeriu a formação de uma banda de rock em 1971 e foi seu amigo por mais de 50 anos, morreu naquele ano, e ele toma uma parte importante do livro.

Sam Shepard também está ali – outro de seus amigos célebres, um homem que, segundo as páginas e páginas de memórias que Patti fornece aos seus leitores, ela amou a vida inteira. Shepard se foi em 2017, e um epílogo – um panegírico – fecha o livro. A obra é como uma segunda parte de Linha M, de 2015, em que ela também explorou cantos da memória no seu fluxo de consciência particular.

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No papo com a reportagem, Patti se mostra animada ao visitar uma cidade pela primeira vez e também em tocar aqui. “Como nunca estivemos aí, quero fazer um mix de músicas que as pessoas vão gostar. Canções do Horses, do Easter (dois de seus discos dos anos 1970) alguns covers, músicas modernas. Tudo entre Horses e People Have the Power (canção de 1988 que virou hino entre jovens revolucionários mundo afora)”, explica.

Num lance de simpatia, pergunta ao repórter: “Você gosta de alguma?” Land (um punk rock declamado de 9 minutos, peça central do Horses, de 1975) é a resposta. “Olha, é um desafio? Vou anotar aqui e colocar na minha lista. Gosto de formar meu setlist assim. Eu só vou para cantar para as pessoas.”

Música ainda é uma parte grande de sua vida – durante a entrevista, ela conta que em cima da sua mesa estava uma cópia em CD do Electric Ladyland, álbum de Jimi Hendrix, um de seus heróis. “Escuto muito o que sempre escutei. Coltrane, My Bloody Valentine, ópera, trilhas sonoras de animes japoneses. Às vezes, também escuto música popular, o que os jovens estão escutando. Estive escutando Billie Eilish, Rihanna... Acho que Eilish é muito interessante. O que gosto sobre ela são seus movimentos físicos e toda sua apresentação. Ela é muito jovem.”

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Fã séries de TV policiais e animes (Ghost in the Shell é o seu preferido recentemente), Patti admite que tem sido, em primeiro lugar, escritora e leitora. Ela diz estar lendo Nona Fernández (escritora chilena), Yuri Herrera (mexicano) e gostar muito de César Aira (argentino). “Eu o encontrei algumas vezes, nós rimos muito. Eu disse a ele: ‘você é um gênio’. Ele respondeu: ‘Não sou não’. Eu disse: ‘É sim!’”, conta, aos risos.

“Eu não escrevo agora sobre ser mais velha, apenas sou”, ensina. “Eu poderia ter 11 anos de idade. Ainda me lembro de caminhar com o meu cachorro, sonhando acordada, e de algumas maneiras sou muito parecida com o que era quando era jovem. Mas nós evoluímos, sim, sou uma escritora melhor, tenho um entendimento melhor das coisas, tenho mais experiência.”

“Na maior parte do tempo, sou uma pessoa solitária. Tenho vários amigos, a banda, pessoas ao redor do mundo, mas muito do tempo passo sozinha. Como sozinha, escrevo, sento em cafés, ando na praia. Minha vida é paradoxal, porque escrever é muito solitário, mas fazer shows é público. Sou uma moeda de dois lados. Parte da minha vida é muito pública, e parte dela é muito solitária. Sou sortuda de ter as duas.”

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PATTI SMITH NO SESC POMPEIA

SESC POMPEIA. RUA CLÉLIA, 93, POMPEIA. SÃO PAULO. 14/11, ÀS 14H. GRÁTIS (INGRESSOS UMA HORA ANTES). 

POPLOAD FESTIVAL

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MEMORIAL DA AMÉRICA LATINA. AV. AURO SOARES DE MOURA ANDRADE, 664 – BARRA FUNDA, SÃO PAULO. 15/11. SHOWS A PARTIR DAS 11H. R$ 290 A R$ 800 (PROMOÇÃO 2X1 DISPONÍVEL).

POPLOAD SOCIAL

AUDITÓRIO SIMÓN BOLÍVAR - MEMORIAL DA AMÉRICA LATINA. 16/11. SHOW ÀS 21H. A PARTIR DE R$ 60,00.

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Trechos dos livros:

“Desejei de fato poder viver ali por um tempo, no próprio WOW, num quarto nos fundos sem nada além de uma simples cama de campanha, uma mesa onde escrever, uma geladeira velha (...). Mas tudo muda, afinal. É assim que o mundo é. Ciclos de morte e ressurreição, mas nem sempre do jeito que a gente imagina. Por exemplo, todos nós vamos ressuscitar parecendo bem diferentes, vestindo roupas que não usaríamos nem mortos.” (O Ano do Macaco)

“Este é o poder decisivo de uma obra singular: o chamado à ação. E eu, repetidamente, sou tomada por uma arrogância orgulhosa que me leva a acreditar que posso atender a esse chamado. As palavras à minha frente eram elegantes, cáusticas. Minhas mãos vibravam. Infundida de confiança, tive o ímpeto de sair correndo, subir as escadas, fechar a porta pesada que um dia foi dele, sentar diante do meu próprio monte de papel e começar meu próprio começo.” (Devoção)

'O Ano do Macaco'. Livro mistura memória e ficção Foto: Patti Smith/Companhia das Letras
Fotografias. Cliques fazem parte da sua narrativa literária Foto: Patti Smith/Companhia das Letras

Algumas canções de Patti Smith:

Finalmente, a escriba viajante Patti Smith vai botar os pés em São Paulo, pela primeira vez em mais de 40 anos de carreira. A padroeira do punk rock nova-iorquino, escritora vencedora do National Book Award, fotógrafa e artista visual, compositora de hinos inesquecíveis e militante das causas humanitárias é a atração principal do Popload Festival, na sexta-feira, 15, no Memorial da América Latina.

Ela também marcou outras duas aparições. Na quinta, 14, participa de um bate-papo no Sesc Pompeia para apresentar seus dois novos livros – O Ano do Macaco e Devoção –, duas peças literárias que carregam sua voz sensível. No sábado, 16, ela faz outro show musical, beneficente, no auditório do Memorial.

Patti Smith. Voz literária poderosa, voz musical histórica Foto: Rebecca Miller/The Washington Post

Patti falou com o Estado na tarde de quinta-feira, 7, por telefone de Nova York, onde vive, e onde havia chegado de uma viagem extensa pela Europa. Era o mesmo dia, também, do nascimento de Albert Camus, o gênio franco-argelino que influenciou de maneira fundamental sua escrita – e que “aparece” em Devoção. O livro é um conjunto de relatos em forma de diário recheado por um sensual conto fictício dividido em 10 partes – no primeiro capítulo do livro, ela esmiúça seu próprio processo criativo de construção da narrativa.

Em O Ano do Macaco, Patti narra em um misto enevoado de ficção e memória o ano de 2016, traumático, para ela, na política social – várias vezes ela se referiu a Donald Trump como um “idiota”, mas nunca no livro, cuja narrativa apenas sugere que algumas coisas estão fugindo dos trilhos –, mas também na esfera pessoal. Sandy Pearlman, o crítico que lhe sugeriu a formação de uma banda de rock em 1971 e foi seu amigo por mais de 50 anos, morreu naquele ano, e ele toma uma parte importante do livro.

Sam Shepard também está ali – outro de seus amigos célebres, um homem que, segundo as páginas e páginas de memórias que Patti fornece aos seus leitores, ela amou a vida inteira. Shepard se foi em 2017, e um epílogo – um panegírico – fecha o livro. A obra é como uma segunda parte de Linha M, de 2015, em que ela também explorou cantos da memória no seu fluxo de consciência particular.

No papo com a reportagem, Patti se mostra animada ao visitar uma cidade pela primeira vez e também em tocar aqui. “Como nunca estivemos aí, quero fazer um mix de músicas que as pessoas vão gostar. Canções do Horses, do Easter (dois de seus discos dos anos 1970) alguns covers, músicas modernas. Tudo entre Horses e People Have the Power (canção de 1988 que virou hino entre jovens revolucionários mundo afora)”, explica.

Num lance de simpatia, pergunta ao repórter: “Você gosta de alguma?” Land (um punk rock declamado de 9 minutos, peça central do Horses, de 1975) é a resposta. “Olha, é um desafio? Vou anotar aqui e colocar na minha lista. Gosto de formar meu setlist assim. Eu só vou para cantar para as pessoas.”

Música ainda é uma parte grande de sua vida – durante a entrevista, ela conta que em cima da sua mesa estava uma cópia em CD do Electric Ladyland, álbum de Jimi Hendrix, um de seus heróis. “Escuto muito o que sempre escutei. Coltrane, My Bloody Valentine, ópera, trilhas sonoras de animes japoneses. Às vezes, também escuto música popular, o que os jovens estão escutando. Estive escutando Billie Eilish, Rihanna... Acho que Eilish é muito interessante. O que gosto sobre ela são seus movimentos físicos e toda sua apresentação. Ela é muito jovem.”

Fã séries de TV policiais e animes (Ghost in the Shell é o seu preferido recentemente), Patti admite que tem sido, em primeiro lugar, escritora e leitora. Ela diz estar lendo Nona Fernández (escritora chilena), Yuri Herrera (mexicano) e gostar muito de César Aira (argentino). “Eu o encontrei algumas vezes, nós rimos muito. Eu disse a ele: ‘você é um gênio’. Ele respondeu: ‘Não sou não’. Eu disse: ‘É sim!’”, conta, aos risos.

“Eu não escrevo agora sobre ser mais velha, apenas sou”, ensina. “Eu poderia ter 11 anos de idade. Ainda me lembro de caminhar com o meu cachorro, sonhando acordada, e de algumas maneiras sou muito parecida com o que era quando era jovem. Mas nós evoluímos, sim, sou uma escritora melhor, tenho um entendimento melhor das coisas, tenho mais experiência.”

“Na maior parte do tempo, sou uma pessoa solitária. Tenho vários amigos, a banda, pessoas ao redor do mundo, mas muito do tempo passo sozinha. Como sozinha, escrevo, sento em cafés, ando na praia. Minha vida é paradoxal, porque escrever é muito solitário, mas fazer shows é público. Sou uma moeda de dois lados. Parte da minha vida é muito pública, e parte dela é muito solitária. Sou sortuda de ter as duas.”

PATTI SMITH NO SESC POMPEIA

SESC POMPEIA. RUA CLÉLIA, 93, POMPEIA. SÃO PAULO. 14/11, ÀS 14H. GRÁTIS (INGRESSOS UMA HORA ANTES). 

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MEMORIAL DA AMÉRICA LATINA. AV. AURO SOARES DE MOURA ANDRADE, 664 – BARRA FUNDA, SÃO PAULO. 15/11. SHOWS A PARTIR DAS 11H. R$ 290 A R$ 800 (PROMOÇÃO 2X1 DISPONÍVEL).

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Trechos dos livros:

“Desejei de fato poder viver ali por um tempo, no próprio WOW, num quarto nos fundos sem nada além de uma simples cama de campanha, uma mesa onde escrever, uma geladeira velha (...). Mas tudo muda, afinal. É assim que o mundo é. Ciclos de morte e ressurreição, mas nem sempre do jeito que a gente imagina. Por exemplo, todos nós vamos ressuscitar parecendo bem diferentes, vestindo roupas que não usaríamos nem mortos.” (O Ano do Macaco)

“Este é o poder decisivo de uma obra singular: o chamado à ação. E eu, repetidamente, sou tomada por uma arrogância orgulhosa que me leva a acreditar que posso atender a esse chamado. As palavras à minha frente eram elegantes, cáusticas. Minhas mãos vibravam. Infundida de confiança, tive o ímpeto de sair correndo, subir as escadas, fechar a porta pesada que um dia foi dele, sentar diante do meu próprio monte de papel e começar meu próprio começo.” (Devoção)

'O Ano do Macaco'. Livro mistura memória e ficção Foto: Patti Smith/Companhia das Letras
Fotografias. Cliques fazem parte da sua narrativa literária Foto: Patti Smith/Companhia das Letras

Algumas canções de Patti Smith:

Finalmente, a escriba viajante Patti Smith vai botar os pés em São Paulo, pela primeira vez em mais de 40 anos de carreira. A padroeira do punk rock nova-iorquino, escritora vencedora do National Book Award, fotógrafa e artista visual, compositora de hinos inesquecíveis e militante das causas humanitárias é a atração principal do Popload Festival, na sexta-feira, 15, no Memorial da América Latina.

Ela também marcou outras duas aparições. Na quinta, 14, participa de um bate-papo no Sesc Pompeia para apresentar seus dois novos livros – O Ano do Macaco e Devoção –, duas peças literárias que carregam sua voz sensível. No sábado, 16, ela faz outro show musical, beneficente, no auditório do Memorial.

Patti Smith. Voz literária poderosa, voz musical histórica Foto: Rebecca Miller/The Washington Post

Patti falou com o Estado na tarde de quinta-feira, 7, por telefone de Nova York, onde vive, e onde havia chegado de uma viagem extensa pela Europa. Era o mesmo dia, também, do nascimento de Albert Camus, o gênio franco-argelino que influenciou de maneira fundamental sua escrita – e que “aparece” em Devoção. O livro é um conjunto de relatos em forma de diário recheado por um sensual conto fictício dividido em 10 partes – no primeiro capítulo do livro, ela esmiúça seu próprio processo criativo de construção da narrativa.

Em O Ano do Macaco, Patti narra em um misto enevoado de ficção e memória o ano de 2016, traumático, para ela, na política social – várias vezes ela se referiu a Donald Trump como um “idiota”, mas nunca no livro, cuja narrativa apenas sugere que algumas coisas estão fugindo dos trilhos –, mas também na esfera pessoal. Sandy Pearlman, o crítico que lhe sugeriu a formação de uma banda de rock em 1971 e foi seu amigo por mais de 50 anos, morreu naquele ano, e ele toma uma parte importante do livro.

Sam Shepard também está ali – outro de seus amigos célebres, um homem que, segundo as páginas e páginas de memórias que Patti fornece aos seus leitores, ela amou a vida inteira. Shepard se foi em 2017, e um epílogo – um panegírico – fecha o livro. A obra é como uma segunda parte de Linha M, de 2015, em que ela também explorou cantos da memória no seu fluxo de consciência particular.

No papo com a reportagem, Patti se mostra animada ao visitar uma cidade pela primeira vez e também em tocar aqui. “Como nunca estivemos aí, quero fazer um mix de músicas que as pessoas vão gostar. Canções do Horses, do Easter (dois de seus discos dos anos 1970) alguns covers, músicas modernas. Tudo entre Horses e People Have the Power (canção de 1988 que virou hino entre jovens revolucionários mundo afora)”, explica.

Num lance de simpatia, pergunta ao repórter: “Você gosta de alguma?” Land (um punk rock declamado de 9 minutos, peça central do Horses, de 1975) é a resposta. “Olha, é um desafio? Vou anotar aqui e colocar na minha lista. Gosto de formar meu setlist assim. Eu só vou para cantar para as pessoas.”

Música ainda é uma parte grande de sua vida – durante a entrevista, ela conta que em cima da sua mesa estava uma cópia em CD do Electric Ladyland, álbum de Jimi Hendrix, um de seus heróis. “Escuto muito o que sempre escutei. Coltrane, My Bloody Valentine, ópera, trilhas sonoras de animes japoneses. Às vezes, também escuto música popular, o que os jovens estão escutando. Estive escutando Billie Eilish, Rihanna... Acho que Eilish é muito interessante. O que gosto sobre ela são seus movimentos físicos e toda sua apresentação. Ela é muito jovem.”

Fã séries de TV policiais e animes (Ghost in the Shell é o seu preferido recentemente), Patti admite que tem sido, em primeiro lugar, escritora e leitora. Ela diz estar lendo Nona Fernández (escritora chilena), Yuri Herrera (mexicano) e gostar muito de César Aira (argentino). “Eu o encontrei algumas vezes, nós rimos muito. Eu disse a ele: ‘você é um gênio’. Ele respondeu: ‘Não sou não’. Eu disse: ‘É sim!’”, conta, aos risos.

“Eu não escrevo agora sobre ser mais velha, apenas sou”, ensina. “Eu poderia ter 11 anos de idade. Ainda me lembro de caminhar com o meu cachorro, sonhando acordada, e de algumas maneiras sou muito parecida com o que era quando era jovem. Mas nós evoluímos, sim, sou uma escritora melhor, tenho um entendimento melhor das coisas, tenho mais experiência.”

“Na maior parte do tempo, sou uma pessoa solitária. Tenho vários amigos, a banda, pessoas ao redor do mundo, mas muito do tempo passo sozinha. Como sozinha, escrevo, sento em cafés, ando na praia. Minha vida é paradoxal, porque escrever é muito solitário, mas fazer shows é público. Sou uma moeda de dois lados. Parte da minha vida é muito pública, e parte dela é muito solitária. Sou sortuda de ter as duas.”

PATTI SMITH NO SESC POMPEIA

SESC POMPEIA. RUA CLÉLIA, 93, POMPEIA. SÃO PAULO. 14/11, ÀS 14H. GRÁTIS (INGRESSOS UMA HORA ANTES). 

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MEMORIAL DA AMÉRICA LATINA. AV. AURO SOARES DE MOURA ANDRADE, 664 – BARRA FUNDA, SÃO PAULO. 15/11. SHOWS A PARTIR DAS 11H. R$ 290 A R$ 800 (PROMOÇÃO 2X1 DISPONÍVEL).

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AUDITÓRIO SIMÓN BOLÍVAR - MEMORIAL DA AMÉRICA LATINA. 16/11. SHOW ÀS 21H. A PARTIR DE R$ 60,00.

Trechos dos livros:

“Desejei de fato poder viver ali por um tempo, no próprio WOW, num quarto nos fundos sem nada além de uma simples cama de campanha, uma mesa onde escrever, uma geladeira velha (...). Mas tudo muda, afinal. É assim que o mundo é. Ciclos de morte e ressurreição, mas nem sempre do jeito que a gente imagina. Por exemplo, todos nós vamos ressuscitar parecendo bem diferentes, vestindo roupas que não usaríamos nem mortos.” (O Ano do Macaco)

“Este é o poder decisivo de uma obra singular: o chamado à ação. E eu, repetidamente, sou tomada por uma arrogância orgulhosa que me leva a acreditar que posso atender a esse chamado. As palavras à minha frente eram elegantes, cáusticas. Minhas mãos vibravam. Infundida de confiança, tive o ímpeto de sair correndo, subir as escadas, fechar a porta pesada que um dia foi dele, sentar diante do meu próprio monte de papel e começar meu próprio começo.” (Devoção)

'O Ano do Macaco'. Livro mistura memória e ficção Foto: Patti Smith/Companhia das Letras
Fotografias. Cliques fazem parte da sua narrativa literária Foto: Patti Smith/Companhia das Letras

Algumas canções de Patti Smith:

Finalmente, a escriba viajante Patti Smith vai botar os pés em São Paulo, pela primeira vez em mais de 40 anos de carreira. A padroeira do punk rock nova-iorquino, escritora vencedora do National Book Award, fotógrafa e artista visual, compositora de hinos inesquecíveis e militante das causas humanitárias é a atração principal do Popload Festival, na sexta-feira, 15, no Memorial da América Latina.

Ela também marcou outras duas aparições. Na quinta, 14, participa de um bate-papo no Sesc Pompeia para apresentar seus dois novos livros – O Ano do Macaco e Devoção –, duas peças literárias que carregam sua voz sensível. No sábado, 16, ela faz outro show musical, beneficente, no auditório do Memorial.

Patti Smith. Voz literária poderosa, voz musical histórica Foto: Rebecca Miller/The Washington Post

Patti falou com o Estado na tarde de quinta-feira, 7, por telefone de Nova York, onde vive, e onde havia chegado de uma viagem extensa pela Europa. Era o mesmo dia, também, do nascimento de Albert Camus, o gênio franco-argelino que influenciou de maneira fundamental sua escrita – e que “aparece” em Devoção. O livro é um conjunto de relatos em forma de diário recheado por um sensual conto fictício dividido em 10 partes – no primeiro capítulo do livro, ela esmiúça seu próprio processo criativo de construção da narrativa.

Em O Ano do Macaco, Patti narra em um misto enevoado de ficção e memória o ano de 2016, traumático, para ela, na política social – várias vezes ela se referiu a Donald Trump como um “idiota”, mas nunca no livro, cuja narrativa apenas sugere que algumas coisas estão fugindo dos trilhos –, mas também na esfera pessoal. Sandy Pearlman, o crítico que lhe sugeriu a formação de uma banda de rock em 1971 e foi seu amigo por mais de 50 anos, morreu naquele ano, e ele toma uma parte importante do livro.

Sam Shepard também está ali – outro de seus amigos célebres, um homem que, segundo as páginas e páginas de memórias que Patti fornece aos seus leitores, ela amou a vida inteira. Shepard se foi em 2017, e um epílogo – um panegírico – fecha o livro. A obra é como uma segunda parte de Linha M, de 2015, em que ela também explorou cantos da memória no seu fluxo de consciência particular.

No papo com a reportagem, Patti se mostra animada ao visitar uma cidade pela primeira vez e também em tocar aqui. “Como nunca estivemos aí, quero fazer um mix de músicas que as pessoas vão gostar. Canções do Horses, do Easter (dois de seus discos dos anos 1970) alguns covers, músicas modernas. Tudo entre Horses e People Have the Power (canção de 1988 que virou hino entre jovens revolucionários mundo afora)”, explica.

Num lance de simpatia, pergunta ao repórter: “Você gosta de alguma?” Land (um punk rock declamado de 9 minutos, peça central do Horses, de 1975) é a resposta. “Olha, é um desafio? Vou anotar aqui e colocar na minha lista. Gosto de formar meu setlist assim. Eu só vou para cantar para as pessoas.”

Música ainda é uma parte grande de sua vida – durante a entrevista, ela conta que em cima da sua mesa estava uma cópia em CD do Electric Ladyland, álbum de Jimi Hendrix, um de seus heróis. “Escuto muito o que sempre escutei. Coltrane, My Bloody Valentine, ópera, trilhas sonoras de animes japoneses. Às vezes, também escuto música popular, o que os jovens estão escutando. Estive escutando Billie Eilish, Rihanna... Acho que Eilish é muito interessante. O que gosto sobre ela são seus movimentos físicos e toda sua apresentação. Ela é muito jovem.”

Fã séries de TV policiais e animes (Ghost in the Shell é o seu preferido recentemente), Patti admite que tem sido, em primeiro lugar, escritora e leitora. Ela diz estar lendo Nona Fernández (escritora chilena), Yuri Herrera (mexicano) e gostar muito de César Aira (argentino). “Eu o encontrei algumas vezes, nós rimos muito. Eu disse a ele: ‘você é um gênio’. Ele respondeu: ‘Não sou não’. Eu disse: ‘É sim!’”, conta, aos risos.

“Eu não escrevo agora sobre ser mais velha, apenas sou”, ensina. “Eu poderia ter 11 anos de idade. Ainda me lembro de caminhar com o meu cachorro, sonhando acordada, e de algumas maneiras sou muito parecida com o que era quando era jovem. Mas nós evoluímos, sim, sou uma escritora melhor, tenho um entendimento melhor das coisas, tenho mais experiência.”

“Na maior parte do tempo, sou uma pessoa solitária. Tenho vários amigos, a banda, pessoas ao redor do mundo, mas muito do tempo passo sozinha. Como sozinha, escrevo, sento em cafés, ando na praia. Minha vida é paradoxal, porque escrever é muito solitário, mas fazer shows é público. Sou uma moeda de dois lados. Parte da minha vida é muito pública, e parte dela é muito solitária. Sou sortuda de ter as duas.”

PATTI SMITH NO SESC POMPEIA

SESC POMPEIA. RUA CLÉLIA, 93, POMPEIA. SÃO PAULO. 14/11, ÀS 14H. GRÁTIS (INGRESSOS UMA HORA ANTES). 

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MEMORIAL DA AMÉRICA LATINA. AV. AURO SOARES DE MOURA ANDRADE, 664 – BARRA FUNDA, SÃO PAULO. 15/11. SHOWS A PARTIR DAS 11H. R$ 290 A R$ 800 (PROMOÇÃO 2X1 DISPONÍVEL).

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AUDITÓRIO SIMÓN BOLÍVAR - MEMORIAL DA AMÉRICA LATINA. 16/11. SHOW ÀS 21H. A PARTIR DE R$ 60,00.

Trechos dos livros:

“Desejei de fato poder viver ali por um tempo, no próprio WOW, num quarto nos fundos sem nada além de uma simples cama de campanha, uma mesa onde escrever, uma geladeira velha (...). Mas tudo muda, afinal. É assim que o mundo é. Ciclos de morte e ressurreição, mas nem sempre do jeito que a gente imagina. Por exemplo, todos nós vamos ressuscitar parecendo bem diferentes, vestindo roupas que não usaríamos nem mortos.” (O Ano do Macaco)

“Este é o poder decisivo de uma obra singular: o chamado à ação. E eu, repetidamente, sou tomada por uma arrogância orgulhosa que me leva a acreditar que posso atender a esse chamado. As palavras à minha frente eram elegantes, cáusticas. Minhas mãos vibravam. Infundida de confiança, tive o ímpeto de sair correndo, subir as escadas, fechar a porta pesada que um dia foi dele, sentar diante do meu próprio monte de papel e começar meu próprio começo.” (Devoção)

'O Ano do Macaco'. Livro mistura memória e ficção Foto: Patti Smith/Companhia das Letras
Fotografias. Cliques fazem parte da sua narrativa literária Foto: Patti Smith/Companhia das Letras

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