Paula Toller: ‘Tenho dificuldade de emplacar uma música nova hoje em dia. Elas competem entre si’


Cantora lança a versão audiovisual do projeto ‘Amorosa’ recheado de hits, responde se pensa em aceitar a proposta da volta do Kid Abelha e comenta fala de Herbert Vianna, que disse que ‘Nada por Mim’ foi composta na fase final do namoro dos dois

Por Danilo Casaletti
Atualização:

“Eu adoro hits!”, diz, animada, Paula Toller ao Estadão. Amorosa, seu novo projeto audiovisual lançado nesta sexta-feira, 2, tem uma fileira deles. Mérito inconteste de Paula - e de seu ex-companheiros de Kid Abelha. “Eu realizei um sonho que era viver de música. Ter uma música tocando no rádio, ao lado de uma canção de Milton Nascimento. Tem noção do que isso significa?”, diz ela sobre a era de ouro do pop rock brasileiro.

“Eu adoro mesmo [hits]! Não tem fórmula para fazer, é difícil emplacar um”, valoriza Paula. Atualmente, o desafio é maior ainda. Não apenas por questões do mercado, muito mais afeito a gêneros como o sertanejo, o rap e o trap. Paula explica: “Tenho dificuldade de emplacar uma música nova hoje em dia. Minhas músicas competem entre si. Se eu lanço uma nova, ela esbarra em uma antiga. É o tipo de problema bom. Mas é um problema”, diz.

Paula Toller em 'Amorosa': uma fileira de hits Foto: marcos hermes
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Em Amorosa está tudo muito bem resolvido. A Fórmula do Amor, Lágrimas e Chuva, Nada Sei (Apneia), Amanhã é 23, Pintura Íntima, Como Eu Quero... Estão todas lá. Paula, porém, tratou de fazer com que elas soassem novas, ou, pelo menos, diferentes - o que ela chama de “festa de 40 anos [42, na verdade] de casamento com o público”.

Para fazer arranjos essenciais para as velhas canções, Paula convidou Liminha, o músico que tem a chave do pop brasileiro. A solução foi colocar dois violões fazendo o som da guitarra. Uma ideia de Paula para aproximar as composições do som e da geração atuais. “É um show de rock com violão. Isso dá uma cara muito brasileira. É um olhar para o futuro”, diz.

A concepção dos novos arranjos também está ligada a um disco que parece distante um tanto de sua geração pós-tropicália/MPB e um ‘tantão’ da atual: Amoroso, uma das obras-primas de João Gilberto lançada em 1977. “Arranjos classudos”, indica Paula.

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Demorei, inclusive, a perceber que estava em uma posição de líder dentro de uma banda de rock. Algo inusitado na época

Gravado ao vivo, em dois dias, Amorosa foi dirigido por Gabriel Farias, filho de Paula e do cineasta Lui Farias. “Foi tudo em família. A afetiva e a do palco. Tudo sem briga ou bronca de mãe”, esclarece a cantora. A direção de arte é de Gringo Cardia.

Outra pitada de novidade é a participação da cantora Luísa Sonza, de 26 anos, em Nada Sei. Paula a conheceu no programa Altas Horas em homenagem a Rita Lee. Achou a voz da cantora perfeita para a canção. O resultado se mostra, de fato, afinado.

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“Foi ótimo, explosivo! Ainda mais nessa música, que fala da angústia da vida artística, que as pessoas levaram para uma questão mais geral da vida”, diz Paula. Ela confessa que não ouve tudo o que é produzido atualmente. “Não busco, até porque está muito compartimentado. Continuo gostando de ouvir Beatles, Carly Simon, Chico Buarque, Milton Nascimento, Guilherme Arantes, Rita Lee, Erasmo Carlos... Minhas músicas têm um pedacinho de todos eles.”

Outra convidada é a cantora Fernanda Abreu, companheira dos anos 1980, com quem ela divide os vocais em Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda. Paula a define como sua “cúmplice” de estrada e de música pop. Um carinho em que esteve com ela nos primórdios, na pavimentação de um som feito por mulheres.

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“Nunca me impediram de fazer nada. Até porque eu ia fazendo. Aprendi fazendo, aliás”, diz. Era ouvida no Kid Abelha? “Sempre me respeitaram. Até porque escolhi bem com quem estar. Demorei, inclusive, a perceber que estava em uma posição de líder dentro de uma banda de rock. Algo inusitado na época.”

‘Nada Por Mim’: diferentes versões

Paula Toller: com a cabeça no 'Amorosa'; nada de Kid Abelha Foto: Marcos Hermes
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O terceiro convidado de Paula Toller no show Amorosa é o compositor Roberto Menescal, 86 anos, nome da primeira turma da bossa nova. Paula chamou o músico para tocar guitarra na canção Nada Por Mim, parceria dela com Herbert Vianna. Com arranjo escrito por Menescal, a gravação ficou algo entre bossa nova e rock’n’roll, ou “sutil e radical”, como prefere definir Paula.

A escolha de Nada Por Mim não foi à toa. Segundo Paula, coube a Menescal, na época, diretor artístico da gravadora Philips (atual Universal), apontar a gravação de Marina como single do álbum Todas, de 1985. A balada foi um dos hits do disco, ao lado de Eu Te Amo Você. Paula fez sua gravação no ano seguinte, junto com o Kid Abelha.

Se Nada Por Mim une Paula e Menescal, separa Paula e Herbert Vianna. Os dois foram namorados nos anos 1980, mas têm versões diferentes sobre a inspiração para a letra. No programa Som Brasil, da TV Globo, apresentado em abril deste ano, Vianna afirmou que a música simboliza o “final da fase Paula Toller” e reflete um “momento de término”.

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“Não é assim que eu me lembro, mas... a música é linda”, afirma Paula. “Sei exatamente como ela foi feita. É um assunto delicado”, segue a cantora, sem querer revelar a verdadeira inspiração. “Quem sabe, quando eu escrever minhas memórias, todo mundo vai saber”, despista.

Pílulas de intimidade Paula guarda para suas canções. Em entrevistas, a cantora também prefere falar essencialmente sobre seu trabalho - além de evitar entrar em polêmicas. A frenética busca por “likes”, ela diz, é algo que lhe soa desconfortante. Tão estranho quanto, ela recorda, um fotógrafo flagrou um de seus primeiros jantares com Lui Farias, ainda na fase de namoro. “Colocou a câmera na nossa cara para nos irritar, arrancar alguma expressão facial mais irritada. E assim as fotos foram publicadas”, conta, com ojeriza.

Paula, no entanto, faz parte de uma linha do tempo muito clara e importante da música brasileira: a de mulheres que, por meio da música, puderam escrever e cantar aquilo que sentiam - sem dependência de compositores. Descende de nomes como Chiquinha Gonzaga, Dolores Duran, Maysa, Dona Ivone Lara, Anastácia, Joyce Moreno, Rita Lee, Angela Ro Ro e tem ascendência em Marisa Monte, Adriana Calcanhotto, Vanessa da Mata, Pitty, Mart’nália, Céu, Letrux, Liniker, Marília Mendonça, Iza, Ludmilla, Anitta, Marina Senna, Luísa Sonza, entre outras.

É natural que seja convidada a opinar sobre assuntos importantes que tangem o feminino, como o aborto, tema quase sempre cooptado pelos homens. “É uma questão delicada que envolve família e religião. Ninguém é a favor [do aborto], mas, sim, da liberdade de escolher. Cada mulher deve decidir de acordo com suas crenças e da opinião de seu marido ou parceiro, se eles existirem. Há pessoas mais religiosas, pessoas nada religiosas. Mas o importante é que o corpo da mulher não seja propriedade de ninguém”, diz a cantora.

Ninguém é a favor [do aborto], mas, sim, da liberdade de escolher

O Kid Abelha vai voltar?

Outro tema que parece uma fixação: o Kid Abelha pode voltar? A reportagem do Estadão diz ter ciência de que já foi oferecido a ela e seus ex-companheiros George Israel e Bruno Fortunato propostas, inclusive financeiras, de uma turnê de reencontro da banda. O que faltaria, então?

“Eu estou 100% Amorosa. Não sei o que me faria aceitar, pois nem estou pensando nisso. Dinheiro é importante, lógico, mas não é o mais importante. Se você toma todas suas decisões baseadas em dinheiro, e eu nem digo isso apenas sobre esse suposto projeto, tomará decisões erradas”, finaliza.

“Eu adoro hits!”, diz, animada, Paula Toller ao Estadão. Amorosa, seu novo projeto audiovisual lançado nesta sexta-feira, 2, tem uma fileira deles. Mérito inconteste de Paula - e de seu ex-companheiros de Kid Abelha. “Eu realizei um sonho que era viver de música. Ter uma música tocando no rádio, ao lado de uma canção de Milton Nascimento. Tem noção do que isso significa?”, diz ela sobre a era de ouro do pop rock brasileiro.

“Eu adoro mesmo [hits]! Não tem fórmula para fazer, é difícil emplacar um”, valoriza Paula. Atualmente, o desafio é maior ainda. Não apenas por questões do mercado, muito mais afeito a gêneros como o sertanejo, o rap e o trap. Paula explica: “Tenho dificuldade de emplacar uma música nova hoje em dia. Minhas músicas competem entre si. Se eu lanço uma nova, ela esbarra em uma antiga. É o tipo de problema bom. Mas é um problema”, diz.

Paula Toller em 'Amorosa': uma fileira de hits Foto: marcos hermes

Em Amorosa está tudo muito bem resolvido. A Fórmula do Amor, Lágrimas e Chuva, Nada Sei (Apneia), Amanhã é 23, Pintura Íntima, Como Eu Quero... Estão todas lá. Paula, porém, tratou de fazer com que elas soassem novas, ou, pelo menos, diferentes - o que ela chama de “festa de 40 anos [42, na verdade] de casamento com o público”.

Para fazer arranjos essenciais para as velhas canções, Paula convidou Liminha, o músico que tem a chave do pop brasileiro. A solução foi colocar dois violões fazendo o som da guitarra. Uma ideia de Paula para aproximar as composições do som e da geração atuais. “É um show de rock com violão. Isso dá uma cara muito brasileira. É um olhar para o futuro”, diz.

A concepção dos novos arranjos também está ligada a um disco que parece distante um tanto de sua geração pós-tropicália/MPB e um ‘tantão’ da atual: Amoroso, uma das obras-primas de João Gilberto lançada em 1977. “Arranjos classudos”, indica Paula.

Demorei, inclusive, a perceber que estava em uma posição de líder dentro de uma banda de rock. Algo inusitado na época

Gravado ao vivo, em dois dias, Amorosa foi dirigido por Gabriel Farias, filho de Paula e do cineasta Lui Farias. “Foi tudo em família. A afetiva e a do palco. Tudo sem briga ou bronca de mãe”, esclarece a cantora. A direção de arte é de Gringo Cardia.

Outra pitada de novidade é a participação da cantora Luísa Sonza, de 26 anos, em Nada Sei. Paula a conheceu no programa Altas Horas em homenagem a Rita Lee. Achou a voz da cantora perfeita para a canção. O resultado se mostra, de fato, afinado.

“Foi ótimo, explosivo! Ainda mais nessa música, que fala da angústia da vida artística, que as pessoas levaram para uma questão mais geral da vida”, diz Paula. Ela confessa que não ouve tudo o que é produzido atualmente. “Não busco, até porque está muito compartimentado. Continuo gostando de ouvir Beatles, Carly Simon, Chico Buarque, Milton Nascimento, Guilherme Arantes, Rita Lee, Erasmo Carlos... Minhas músicas têm um pedacinho de todos eles.”

Outra convidada é a cantora Fernanda Abreu, companheira dos anos 1980, com quem ela divide os vocais em Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda. Paula a define como sua “cúmplice” de estrada e de música pop. Um carinho em que esteve com ela nos primórdios, na pavimentação de um som feito por mulheres.

“Nunca me impediram de fazer nada. Até porque eu ia fazendo. Aprendi fazendo, aliás”, diz. Era ouvida no Kid Abelha? “Sempre me respeitaram. Até porque escolhi bem com quem estar. Demorei, inclusive, a perceber que estava em uma posição de líder dentro de uma banda de rock. Algo inusitado na época.”

‘Nada Por Mim’: diferentes versões

Paula Toller: com a cabeça no 'Amorosa'; nada de Kid Abelha Foto: Marcos Hermes

O terceiro convidado de Paula Toller no show Amorosa é o compositor Roberto Menescal, 86 anos, nome da primeira turma da bossa nova. Paula chamou o músico para tocar guitarra na canção Nada Por Mim, parceria dela com Herbert Vianna. Com arranjo escrito por Menescal, a gravação ficou algo entre bossa nova e rock’n’roll, ou “sutil e radical”, como prefere definir Paula.

A escolha de Nada Por Mim não foi à toa. Segundo Paula, coube a Menescal, na época, diretor artístico da gravadora Philips (atual Universal), apontar a gravação de Marina como single do álbum Todas, de 1985. A balada foi um dos hits do disco, ao lado de Eu Te Amo Você. Paula fez sua gravação no ano seguinte, junto com o Kid Abelha.

Se Nada Por Mim une Paula e Menescal, separa Paula e Herbert Vianna. Os dois foram namorados nos anos 1980, mas têm versões diferentes sobre a inspiração para a letra. No programa Som Brasil, da TV Globo, apresentado em abril deste ano, Vianna afirmou que a música simboliza o “final da fase Paula Toller” e reflete um “momento de término”.

“Não é assim que eu me lembro, mas... a música é linda”, afirma Paula. “Sei exatamente como ela foi feita. É um assunto delicado”, segue a cantora, sem querer revelar a verdadeira inspiração. “Quem sabe, quando eu escrever minhas memórias, todo mundo vai saber”, despista.

Pílulas de intimidade Paula guarda para suas canções. Em entrevistas, a cantora também prefere falar essencialmente sobre seu trabalho - além de evitar entrar em polêmicas. A frenética busca por “likes”, ela diz, é algo que lhe soa desconfortante. Tão estranho quanto, ela recorda, um fotógrafo flagrou um de seus primeiros jantares com Lui Farias, ainda na fase de namoro. “Colocou a câmera na nossa cara para nos irritar, arrancar alguma expressão facial mais irritada. E assim as fotos foram publicadas”, conta, com ojeriza.

Paula, no entanto, faz parte de uma linha do tempo muito clara e importante da música brasileira: a de mulheres que, por meio da música, puderam escrever e cantar aquilo que sentiam - sem dependência de compositores. Descende de nomes como Chiquinha Gonzaga, Dolores Duran, Maysa, Dona Ivone Lara, Anastácia, Joyce Moreno, Rita Lee, Angela Ro Ro e tem ascendência em Marisa Monte, Adriana Calcanhotto, Vanessa da Mata, Pitty, Mart’nália, Céu, Letrux, Liniker, Marília Mendonça, Iza, Ludmilla, Anitta, Marina Senna, Luísa Sonza, entre outras.

É natural que seja convidada a opinar sobre assuntos importantes que tangem o feminino, como o aborto, tema quase sempre cooptado pelos homens. “É uma questão delicada que envolve família e religião. Ninguém é a favor [do aborto], mas, sim, da liberdade de escolher. Cada mulher deve decidir de acordo com suas crenças e da opinião de seu marido ou parceiro, se eles existirem. Há pessoas mais religiosas, pessoas nada religiosas. Mas o importante é que o corpo da mulher não seja propriedade de ninguém”, diz a cantora.

Ninguém é a favor [do aborto], mas, sim, da liberdade de escolher

O Kid Abelha vai voltar?

Outro tema que parece uma fixação: o Kid Abelha pode voltar? A reportagem do Estadão diz ter ciência de que já foi oferecido a ela e seus ex-companheiros George Israel e Bruno Fortunato propostas, inclusive financeiras, de uma turnê de reencontro da banda. O que faltaria, então?

“Eu estou 100% Amorosa. Não sei o que me faria aceitar, pois nem estou pensando nisso. Dinheiro é importante, lógico, mas não é o mais importante. Se você toma todas suas decisões baseadas em dinheiro, e eu nem digo isso apenas sobre esse suposto projeto, tomará decisões erradas”, finaliza.

“Eu adoro hits!”, diz, animada, Paula Toller ao Estadão. Amorosa, seu novo projeto audiovisual lançado nesta sexta-feira, 2, tem uma fileira deles. Mérito inconteste de Paula - e de seu ex-companheiros de Kid Abelha. “Eu realizei um sonho que era viver de música. Ter uma música tocando no rádio, ao lado de uma canção de Milton Nascimento. Tem noção do que isso significa?”, diz ela sobre a era de ouro do pop rock brasileiro.

“Eu adoro mesmo [hits]! Não tem fórmula para fazer, é difícil emplacar um”, valoriza Paula. Atualmente, o desafio é maior ainda. Não apenas por questões do mercado, muito mais afeito a gêneros como o sertanejo, o rap e o trap. Paula explica: “Tenho dificuldade de emplacar uma música nova hoje em dia. Minhas músicas competem entre si. Se eu lanço uma nova, ela esbarra em uma antiga. É o tipo de problema bom. Mas é um problema”, diz.

Paula Toller em 'Amorosa': uma fileira de hits Foto: marcos hermes

Em Amorosa está tudo muito bem resolvido. A Fórmula do Amor, Lágrimas e Chuva, Nada Sei (Apneia), Amanhã é 23, Pintura Íntima, Como Eu Quero... Estão todas lá. Paula, porém, tratou de fazer com que elas soassem novas, ou, pelo menos, diferentes - o que ela chama de “festa de 40 anos [42, na verdade] de casamento com o público”.

Para fazer arranjos essenciais para as velhas canções, Paula convidou Liminha, o músico que tem a chave do pop brasileiro. A solução foi colocar dois violões fazendo o som da guitarra. Uma ideia de Paula para aproximar as composições do som e da geração atuais. “É um show de rock com violão. Isso dá uma cara muito brasileira. É um olhar para o futuro”, diz.

A concepção dos novos arranjos também está ligada a um disco que parece distante um tanto de sua geração pós-tropicália/MPB e um ‘tantão’ da atual: Amoroso, uma das obras-primas de João Gilberto lançada em 1977. “Arranjos classudos”, indica Paula.

Demorei, inclusive, a perceber que estava em uma posição de líder dentro de uma banda de rock. Algo inusitado na época

Gravado ao vivo, em dois dias, Amorosa foi dirigido por Gabriel Farias, filho de Paula e do cineasta Lui Farias. “Foi tudo em família. A afetiva e a do palco. Tudo sem briga ou bronca de mãe”, esclarece a cantora. A direção de arte é de Gringo Cardia.

Outra pitada de novidade é a participação da cantora Luísa Sonza, de 26 anos, em Nada Sei. Paula a conheceu no programa Altas Horas em homenagem a Rita Lee. Achou a voz da cantora perfeita para a canção. O resultado se mostra, de fato, afinado.

“Foi ótimo, explosivo! Ainda mais nessa música, que fala da angústia da vida artística, que as pessoas levaram para uma questão mais geral da vida”, diz Paula. Ela confessa que não ouve tudo o que é produzido atualmente. “Não busco, até porque está muito compartimentado. Continuo gostando de ouvir Beatles, Carly Simon, Chico Buarque, Milton Nascimento, Guilherme Arantes, Rita Lee, Erasmo Carlos... Minhas músicas têm um pedacinho de todos eles.”

Outra convidada é a cantora Fernanda Abreu, companheira dos anos 1980, com quem ela divide os vocais em Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda. Paula a define como sua “cúmplice” de estrada e de música pop. Um carinho em que esteve com ela nos primórdios, na pavimentação de um som feito por mulheres.

“Nunca me impediram de fazer nada. Até porque eu ia fazendo. Aprendi fazendo, aliás”, diz. Era ouvida no Kid Abelha? “Sempre me respeitaram. Até porque escolhi bem com quem estar. Demorei, inclusive, a perceber que estava em uma posição de líder dentro de uma banda de rock. Algo inusitado na época.”

‘Nada Por Mim’: diferentes versões

Paula Toller: com a cabeça no 'Amorosa'; nada de Kid Abelha Foto: Marcos Hermes

O terceiro convidado de Paula Toller no show Amorosa é o compositor Roberto Menescal, 86 anos, nome da primeira turma da bossa nova. Paula chamou o músico para tocar guitarra na canção Nada Por Mim, parceria dela com Herbert Vianna. Com arranjo escrito por Menescal, a gravação ficou algo entre bossa nova e rock’n’roll, ou “sutil e radical”, como prefere definir Paula.

A escolha de Nada Por Mim não foi à toa. Segundo Paula, coube a Menescal, na época, diretor artístico da gravadora Philips (atual Universal), apontar a gravação de Marina como single do álbum Todas, de 1985. A balada foi um dos hits do disco, ao lado de Eu Te Amo Você. Paula fez sua gravação no ano seguinte, junto com o Kid Abelha.

Se Nada Por Mim une Paula e Menescal, separa Paula e Herbert Vianna. Os dois foram namorados nos anos 1980, mas têm versões diferentes sobre a inspiração para a letra. No programa Som Brasil, da TV Globo, apresentado em abril deste ano, Vianna afirmou que a música simboliza o “final da fase Paula Toller” e reflete um “momento de término”.

“Não é assim que eu me lembro, mas... a música é linda”, afirma Paula. “Sei exatamente como ela foi feita. É um assunto delicado”, segue a cantora, sem querer revelar a verdadeira inspiração. “Quem sabe, quando eu escrever minhas memórias, todo mundo vai saber”, despista.

Pílulas de intimidade Paula guarda para suas canções. Em entrevistas, a cantora também prefere falar essencialmente sobre seu trabalho - além de evitar entrar em polêmicas. A frenética busca por “likes”, ela diz, é algo que lhe soa desconfortante. Tão estranho quanto, ela recorda, um fotógrafo flagrou um de seus primeiros jantares com Lui Farias, ainda na fase de namoro. “Colocou a câmera na nossa cara para nos irritar, arrancar alguma expressão facial mais irritada. E assim as fotos foram publicadas”, conta, com ojeriza.

Paula, no entanto, faz parte de uma linha do tempo muito clara e importante da música brasileira: a de mulheres que, por meio da música, puderam escrever e cantar aquilo que sentiam - sem dependência de compositores. Descende de nomes como Chiquinha Gonzaga, Dolores Duran, Maysa, Dona Ivone Lara, Anastácia, Joyce Moreno, Rita Lee, Angela Ro Ro e tem ascendência em Marisa Monte, Adriana Calcanhotto, Vanessa da Mata, Pitty, Mart’nália, Céu, Letrux, Liniker, Marília Mendonça, Iza, Ludmilla, Anitta, Marina Senna, Luísa Sonza, entre outras.

É natural que seja convidada a opinar sobre assuntos importantes que tangem o feminino, como o aborto, tema quase sempre cooptado pelos homens. “É uma questão delicada que envolve família e religião. Ninguém é a favor [do aborto], mas, sim, da liberdade de escolher. Cada mulher deve decidir de acordo com suas crenças e da opinião de seu marido ou parceiro, se eles existirem. Há pessoas mais religiosas, pessoas nada religiosas. Mas o importante é que o corpo da mulher não seja propriedade de ninguém”, diz a cantora.

Ninguém é a favor [do aborto], mas, sim, da liberdade de escolher

O Kid Abelha vai voltar?

Outro tema que parece uma fixação: o Kid Abelha pode voltar? A reportagem do Estadão diz ter ciência de que já foi oferecido a ela e seus ex-companheiros George Israel e Bruno Fortunato propostas, inclusive financeiras, de uma turnê de reencontro da banda. O que faltaria, então?

“Eu estou 100% Amorosa. Não sei o que me faria aceitar, pois nem estou pensando nisso. Dinheiro é importante, lógico, mas não é o mais importante. Se você toma todas suas decisões baseadas em dinheiro, e eu nem digo isso apenas sobre esse suposto projeto, tomará decisões erradas”, finaliza.

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