Era a tarde triste de quarta, dia 10, pós-velório de Rita Lee, quando Paulinho da Viola atendeu ao telefone de sua casa, no Rio de Janeiro. A ligação era e foi para uma entrevista sobre sua vinda a São Paulo no próximo domingo, Dia das Mães, quando ele vai se apresentar como a atração maior no encerramento do festival Mimo. Um show que será generoso, gratuito, no aprazível Parque Villa Lobos, e que contará com a participação de sua talentosa filha, Beatriz Rabello. Mas Rita, a “rainha do rock”, se fez presente logo no início da conversa com o “príncipe do samba”. “Eu estava vendo as imagens pela TV, muito triste perdermos alguém como ela.”
As fronteiras territoriais não devem ser respeitadas quando falamos de alguns nomes, sugere Paulinho. E mesmo o samba e o rock, dois gêneros monarquizados o tempo todo, guardam perigos redutores quando elegem seus reis e empossam suas rainhas. Rita seria a rainha do rock para quem? “Olha, aparentemente fomos criados em universos diferentes, ela no rock e eu no samba, mas isso não me parece verdade. Em 1992, no mesmo Parque do Ibirapuera, onde foi velada, fizemos um grande show, com Caetano, Jorge Ben, João Gilberto e ela, Rita. Aquilo foi muito interessante, nada parecia separar essas pessoas.” A fala de Paulinho se torna insofreável por ser também irresistível. “Ela era a transgressora que dizem, mas no melhor sentido da palavra. E eu adoro aquele disco do Tutti Frutti.”
A conversa sobre Rita precisa terminar de algum jeito para que falemos do show. Mas, um segundo: o senhor disse Tutti Frutti? “Isso, adoro aquele disco.” O álbum é Fruto Proibido, da fase pós Mutantes, que tem Esse Tal de Roque Enrow, Agora só Falta Você e Ovelha Negra. “Então o senhor gosta da Rita mais rock and roll de todas? “Gosto”, diz. “Ou melhor, gosto dessa também.”
Ser transgressor seria um charme permitido aos roqueiros mas condenável no mundo samba, que carrega toneladas de passado nos ombros? “Não”, diz o sambista. “O samba também foi e pode ser transgressor. João da Baiana, Donga, Garoto, Radamés, Laércio de Freitas, Esmeraldino Salles, Valdir Azevedo, Canhoto da Paraíba, Pixinguinha, Lupércio Miranda, todas essas pessoas foram transgressoras dentro da linguagem do choro.” E Paulinho da Viola?
Convidado a fazer uma reflexão sobre suas próprias transgressões, e ele poderia citar, por exemplo, a construção ousada da harmonia de Sinal Fechado, de 1969, Paulinho pega a saída de emergência do passado: “Olha, eu sou um homem do século 19, não sei bem o que eu estou fazendo aqui. Não lido bem com celular, não entendo esses direitos autorais, que não pagam mais como pagavam, não sei lidar com esse negócio de lançar uma música por vez no Spotify.” E sorri.
O nome de Rita não está mais presente, mas seu espírito não arreda o pé, e é ele quem sopra a próxima outra pergunta: “Muita gente defende a legitimidade genética daqueles que representam certos gêneros musicais. Ou seja: se és brasileiro, não se atreva a cantar rock. Se és norte-americano, não se atreva a tocar choro. Onde o senhor se posiciona nisso?” “Eu jamais criaria uma celeuma por isso. Uma vez, em 1986, fui ao Japão apenas com o pandeirista Celsinho Silva. Os outros músicos seriam todos japoneses. E foram shows incríveis.”
Um novo portal em suas memórias nos leva ao Recife, final dos anos 60, quando Paulinho foi fazer sua primeira apresentação na cidade. “Havia um suíço na mesma pousada em que me colocaram, bem modesta, no bairro de Cordeiro” (impressionante como ele lembra de tudo). “Ele adorava ouvir jazz em uma vitrola e foi assim que conheci um dos álbuns mais marcantes de minha vida. The Prophet, do pianista Thelonious Monk. Você não imagina como aquilo mexeu comigo.”
Os 80 anos dão a Paulinho o direito de fazer o que quiser, como quiser, quando quiser. Álbum novo? “Tenho algumas composições, mas não sei ainda qual a melhor maneira de lançá-las. Não sei bem lidar com esse negócio de lançar uma música por vez.” Marcenaria? (Aquela que ele tem em casa e onde passa boa parte do tempo consertando objetos)? “Está meio desativada desde a pandemia”. Então, aposentadoria? “Agora que eu não posso parar mesmo” (risos). “Eu não penso em parar de fazer shows, nada disso. Vou seguindo até quando der. Claro que há um desgaste maior em pegar aviões, mesmo usando a fila das prioridades. O problema é agora tem mais gente na fila das prioridades do que na normal.” E o show na Mimo? “Vou levar a Beatriz. Vai ser lindo.”
SHOWS
SEXTA
18H - ARENA B3
MANUEL DE OLIVEIRA (PORTUGAL)
21H - MASP – GRANDE AUDITÓRIO
NICO SORIN PIAZZOLLA ELECTRÓNICO (ARGENTINA)
13.05 SÁBADO
12H - ARENA B3
KIKO DINUCCI – PART. JUÇARA MARÇAL (BRASIL)
14H30 - PARQUE VILLA-LOBOS
DJ MARINA LOPES (BRASIL)
15H - PARQUE VILLA-LOBOS
ARNALDO ANTUNES + VITOR ARAÚJO (BRASIL)
16H30 - PARQUE VILLA-LOBOS
PRINCE FATTY CONVIDA MONKEY JHAYAM & SHNIECE (BRASIL/INGLATERRA)
18H - PARQUE VILLA-LOBOS
LAKECIA BENJAMIN (EUA)
19H - PARQUE VILLA-LOBOS
DON LETTS DJ SET (INGLATERRA)
20H30 - PARQUE VILLA-LOBOS
JUPITER & OKWESS (CONGO)
14.05 DOMINGO
14H30 - PARQUE VILLA-LOBOS
DJ MARINA LOPES (BRASIL)
15H30 - PARQUE VILLA-LOBOS
LUCINHA TURNBULL (BRASIL)
17H - PARQUE VILLA-LOBOS
MARIO LUCIO & OS KRIOLS (CABO VERDE/PORTUGAL)
18H30 - PARQUE VILLA-LOBOS
PAULINHO DA VIOLA (BRASIL)
WORKSHOPS
AS INSCRIÇÕES PARA O PROGRAMA EDUCATIVO DEVEM SER FEITAS ANTECIPADAMENTE PELO E-MAIL EDUCATIVO@MIMOFESTIVAL.COM, INDICANDO O WORKSHOP DE INTERESSE NO TÍTULO.
AS AULAS ESTÃO SUJEITAS À CAPACIDADE DE ATENDIMENTO E À LOTAÇÃO DOS ESPAÇOS DE REALIZAÇÃO.
12.05 SEXTA
14H - MASP – GRANDE AUDITÓRIO
PRINCE FATTY (INGLATERRA)
EXPLORANDO AS ORIGENS DO DUB
13.05 SÁBADO
10H - MASP – PEQUENO AUDITÓRIO
MANUEL DE OLIVEIRA (PORTUGAL)
GUITARRA IBÉRICA – TERRITÓRIO, IDENTIDADE E INOVAÇÃO
16H30 - MASP – PEQUENO AUDITÓRIO
NICO SORIN (ARGENTINA)
O DESAFIO DE ADAPTAR A OBRA DE ASTOR PIAZZOLLA PARA DIFERENTES CONJUNTOS INSTRUMENTAIS
14.05 DOMINGO
14H - MASP – PEQUENO AUDITÓRIO
LAKECIA BENJAMIN (EUA)
UM RETRATO DO NOVO JAZZ
FÓRUM DE IDEIAS
MEDIADOR: LUIZ THUNDERBIRD
12.05 SEXTA
16H - MASP – GRANDE AUDITÓRIO
MARIO LUCIO & JUPITER (CABO VERDE/CONGO)
MIGRANTES DE ONTEM E DE HOJE
13.05 SÁBADO
15H - MASP – PEQUENO AUDITÓRIO
LUCINHA TURNBULL (BRASIL)
A MULHER NESSE TAL DE ROCK AND ROLL
14.05 DOMINGO
16H30 - CENTRO CULTURAL SÃO PAULO – SALA PAULO EMÍLIO
DON LETTS (INGLATERRA)
O REBEL DREAD
MOSTRA DE CINEMA
CENTRO CULTURAL SÃO PAULO – SALA PAULO EMÍLIO
12.05 SEXTA
17H - AS DIVAS DE TAGUERABT
DIREÇÃO: KARIM MOUSSAOUI
DOC | 15MIN | 2020 | LIVRE | FRANÇA
AFRICA MIA
DIREÇÃO: RICHARD MINIER E ÉDOUARD SALIER
DOC | 1H21 | 2019 | LIVRE | FRANÇA
19H - É D’OXUM – A FORÇA QUE MORA N’ÁGUA
DIREÇÃO: DAYANE SENA
DOC | 26MIN | 2023 | LIVRE | BRASIL/BA
MANGUEBIT
DIREÇÃO JURA CAPELA
DOC | 1H41 | 2022 | 12 ANOS | BRASIL/PE
13.05 SÁBADO
15H - FANTASMA NEON
DIREÇÃO: LEONARDO MARTINELLI
FIC | 20MIN | 2021 | 12 ANOS | BRASIL/RJ
ALAN
DIREÇÃO: DANIEL LISBOA E DIEGO LISBOA
DOC | 1H32 | 2022 | 16 ANOS | BRASIL/BA
17H - MANHÃ DE DOMINGO
DIREÇÃO: BRUNO RIBEIRO
FIC | 25MIN | 2022 | LIVRE | BRASIL/RJ
DOM SALVADOR & ABOLIÇÃO
DIREÇÃO: ARTUR RATTON KUMMER E LILKA HARA
DOC | 1H28 | 2020 | LIVRE | BRASIL/EUA
19 - HLETRUX: VIVER É UM FRENESI
DIREÇÃO: MARCIO DEBELLIAN
DOC | 35MIN | 2023 | 10 ANOS | BRASIL/RJ
AQUILO QUE EU NUNCA PERDI
DIREÇÃO: MARINA THOMÉ
DOC | 1H24 | 2021 | 12 ANOS | BRASIL/SP
14.05 DOMINGO
15H - REBEL DREAD
DIREÇÃO: WILLIAM E. BADGLEY
DOC | 1H27 | 2020 | 12 ANOS | UK
CHUVA DE POESIA