Peter Hook cria própria ‘Eras Tour’ do New Order e Joy Division: ‘Tocar até me tirarem do palco’


Músico inglês mantém vivo o legado das duas ex-bandas e apresenta o repertório na íntegra de dois álbuns clássicos, ambos de nome ‘Substance’, em show único em São Paulo

Por Pedro Antunes

No ano em que Taylor Swift nasceu, em 1989, o New Order vivia um dos seus auges comerciais: o álbum Technique era o primeiro da banda inglesa a ficar em primeiro lugar nas paradas do Reino Unido e considerado um clássico como a síntese do rock e/ou pop dos anos 90.

Com menos tempo de vida do que Peter Hook (baixista do Joy Division e, depois, do New Order) tem de carreira, Taylor Swift ressignificou a experiência ao vivo ao voltar para turnês pós-pandemia com a estrondosa The Eras Tour, na qual cada uma das tais eras da artista (cada era representa um álbum e uma sonoridade, digamos assim, em termos genéricos) eram representadas por um punhado de músicas com cenário, figurino e luzes dedicadas em um palco todo iluminado de luzes de LED.

Claro, tudo com Taylor Swift é grandiloquente e esse é um texto sobre uma turnê em versão exponencialmente diminuta - mais “indie” na essência, digamos. Igualmente temática, contudo. A turnê de Substance de Peter Hook & The Light, cujo show único na América do Sul será realizado em São Paulo, nesta terça, 27, na Audio, é um resgate às memórias afetivas de duas fases extremante diferentes de praticamente uma mesma banda.

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Peter Hook em show de 2018 Foto: Paul Hudson/CC

Dois discos, um nome

Pode parece óbvio para alguém versado na história do rock alternativo, mas ainda gera surpresa de muita gente a informação de que o New Order é uma banda criada a partir de 1980, surgida das cinzas do Joy Division, grupo de rock triste, digamos, fundado com a morte do vocalista Ian Curtis.

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O que existia de deprê e art-punk do Joy Division, musicalmente falando, transacionou para um electro-dance-rock de primeira grandeza. Hook estava lá. E leva essa experiência transitória para a Audio acompanhado da banda The Light. Nele, além da função de baixista, Hook assume os vocais.

Curiosamente, ambas as bandas possuem coletâneas com o mesmo nome: Substance. A primeira foi lançada pelo New Order, em 1987, como se para celebrar a primeira fase da carreira do grupo, ao reunir os singles lançados ao longo dos seis primeiros anos de existência do grupo - e fundamentais para entender as mudanças sonoras pelas quais o grupo passava. Músicas como Cerimony, Blue Monday, Bizarre Love Triangle contam uma história de luto e libertação vivida pelo New Order.

Muito devido ao sucesso de Substance do New Order, nasceu também a Substance do Joy Division. Aqui, houve uma clara necessidade de resgatar singles lançados individualmente ao longo da curta e meteórica carreira do grupo então liderado por Ian Curtis, como uma forma de organizar uma discografia então bagunçada e reunir também músicas como Love Will Tear Us Apart e She Lost Control.

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Um trabalhador incansável

Peter Hook é um daqueles roqueiros a moda antiga. Falastrão, boa praça, mas de pouca paciência para mimimi dos antigos colegas de banda. O New Order, apesar do sucesso comercial experimentado ao longo da década de 1980, responsável por transformar a banda em ícone do new wave e do rock eletrônico, também implodia por dentro com as tensões entre os integrantes.

Não a toa, o grupo se separou algumas vezes. Em 1993, os integrantes foram para lados distintos e cuidar de projetos pessoais, reunidos cinco anos depois. A maior das brigas ocorreu em 2007, quando Peter Hook deixou o grupo definitivamente.

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Entre as muitas brigas de Hook com os antigos companheiros de banda girava em torno da revisitação do material do Joy Division, Hook queria celebrar o álbum Unkown Pleasures, a estreia com Ian Curtis, cujo aniversário de 30 anos se aproximava e seria celebrado em 2009.

Parte da existência de Hook, desde então, tem sido recriar as experiências musicais nos palcos mundo afora. Só no Brasil, com a The Light, ele tocou pelo menos 10 vezes, em turnês a partir de 2011.

“Simplesmente pensei que não poderia deixar esse aniversário passar”, ele explica ao Estadão, em entrevista por telefone, sobre a virada na carreira. “Decidi tocar Unknown Pleasures porque não queria fingir ser o Joy Division. Isso é impossível. Mas eu sabia que poderia fazer uma ótima rendição dos álbuns, da maneira como foram gravados, e isso se tornou meu truque.”

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Peter Hook faz o único show em São Paulo na terça, 27 Foto: Julien Lachaussée/Divulgação

A ideia era, claro, levar o Joy Division para lugares não visitados pela banda. “Tem sido maravilhoso porque, sabe, o Joy Division nunca chegou ao Brasil. Ou à maioria dos lugares na Europa.”

Há uma beleza na paixão que Hook mantém pelo jogo, pelas turnês e por preservar o legado dele e de seus antigos colegas de banda. “A ambição do Ian Curtis era levar nossa música ao redor do mundo, e eu estou muito feliz em fazer isso”, garante.

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“Toda vez que chego a algum lugar onde o Joy Division nunca tocou, sempre penso: ‘Isso é para você, Ian’”

A ‘hora dourada’

Com um estilo particular inconfundível de posicionar o baixo na altura dos joelhos, Hook tenta, ao longo da entrevista, explicar o que o motiva a seguir em turnês, encarar a rotina de hotéis e de aeroportos, entre alfândegas e horários de check in e check out.

“Para mim, desde os dias do punk, minha empolgação por estar em uma banda se concretizou com a execução da música ao vivo. Amo tocar e, realmente, não me importo com o tempo que leva para chegar até o palco. O fato de eu poder tocar quando chego faz tudo valer a pena”, avalia. “E é uma hora dourada.”

Hook mexe no baú de memórias. Em Manchester, por um tempo, foi vizinho de Dave Dee, um importante músico inglês integrante de um grupo chamado Dave Dee, Dozy, Beaky, Mick & Tich, de relativo sucesso nos anos 60.

“Dee era um pai para mim”, explica Hook. O músico via o amigo, diagnosticado com câncer, enfrentar a doença nos palcos, em shows e turnês. “Quando ele tinha 75, 77 anos, eu disse a ele: ‘Com a sua idade, com o quão doente você está, não deveria estar se cuidando?’ Ele me respondeu: ‘Pete, aquela hora e meia em que estou no palco é quando estou sem dor’”, relembra.

Hook, hoje aos 68 anos, entende Dee. “Ele me explicava: ‘É por isso que eu faço esses shows. Todo o resto do meu dia é cheio de dor. Eu me levanto e me apresento, e seja lá quem ou o que for que me ajude a superar isso faz valer a pena’. Isso me deixou francamente impressionado, porque, felizmente, nunca passei por isso. Mas para ele, era uma hora dourada”.

A relação com Dee, a liberdade de ser líder da própria banda e ter um repertório de enorme história para poder revisitar no palco são os três motivos que fazem da turnê dos álbuns Substance essa espécie de The Eras Tour alternativa, com shows enormes de três horas de duração.

Um oposto, por exemplo, de como eram as apresentações de Joy Division e New order, no início de carreira. “Os primeiros shows que tocamos como New Order tinham 21 minutos de duração. Onde quer que tocássemos, tocávamos por 21 minutos. E quando os promotores reclamavam, porque os fãs ficavam revoltados e causavam tumultos em todos os lugares, aumentávamos para 24 minutos”, relembra ele. “Agora, não consigo imaginar ir ao Brasil e tocar por 24 minutos, entende?. Não, eu quero ficar naquele palco até alguém me tirar de lá.”

“Não podemos subestimar o poder que os grandes músicos têm ao vivo. Fui ver Bruce Springsteen recentemente, em Dublin, na Irlanda. Uau. E, meu Deus, ele foi fantástico. Fiquei absolutamente impressionado. Ele tocou por 3 horas, assim como faço agora. É irônico, não é? Todos ficamos velhos e tocamos mais do que nunca”

Para Hook, o melhor momento de estar em uma banda – e o que faz valer todas as possíveis chateações das logísticas –, são aqueles segundos quando os músicos sobem ao palco e começam a pegar os instrumentos. Momentos de silêncio antes da barulheira. “É a expectativa. Saber que, em alguns segundos, você vai fazer um som glorioso e que você vai fazer aquelas pessoas extremamente felizes. Quero dizer, meu Deus, eu que deveria pagar o público por estar ali para viver isso comigo.”

Peter Hook & The Lights

  • Data: 27/8, a partir das 22h.
  • Local: Audio (Av. Francisco Matarazzo, 694 - Água Branca)
  • Ingressos: esgotados

No ano em que Taylor Swift nasceu, em 1989, o New Order vivia um dos seus auges comerciais: o álbum Technique era o primeiro da banda inglesa a ficar em primeiro lugar nas paradas do Reino Unido e considerado um clássico como a síntese do rock e/ou pop dos anos 90.

Com menos tempo de vida do que Peter Hook (baixista do Joy Division e, depois, do New Order) tem de carreira, Taylor Swift ressignificou a experiência ao vivo ao voltar para turnês pós-pandemia com a estrondosa The Eras Tour, na qual cada uma das tais eras da artista (cada era representa um álbum e uma sonoridade, digamos assim, em termos genéricos) eram representadas por um punhado de músicas com cenário, figurino e luzes dedicadas em um palco todo iluminado de luzes de LED.

Claro, tudo com Taylor Swift é grandiloquente e esse é um texto sobre uma turnê em versão exponencialmente diminuta - mais “indie” na essência, digamos. Igualmente temática, contudo. A turnê de Substance de Peter Hook & The Light, cujo show único na América do Sul será realizado em São Paulo, nesta terça, 27, na Audio, é um resgate às memórias afetivas de duas fases extremante diferentes de praticamente uma mesma banda.

Peter Hook em show de 2018 Foto: Paul Hudson/CC

Dois discos, um nome

Pode parece óbvio para alguém versado na história do rock alternativo, mas ainda gera surpresa de muita gente a informação de que o New Order é uma banda criada a partir de 1980, surgida das cinzas do Joy Division, grupo de rock triste, digamos, fundado com a morte do vocalista Ian Curtis.

O que existia de deprê e art-punk do Joy Division, musicalmente falando, transacionou para um electro-dance-rock de primeira grandeza. Hook estava lá. E leva essa experiência transitória para a Audio acompanhado da banda The Light. Nele, além da função de baixista, Hook assume os vocais.

Curiosamente, ambas as bandas possuem coletâneas com o mesmo nome: Substance. A primeira foi lançada pelo New Order, em 1987, como se para celebrar a primeira fase da carreira do grupo, ao reunir os singles lançados ao longo dos seis primeiros anos de existência do grupo - e fundamentais para entender as mudanças sonoras pelas quais o grupo passava. Músicas como Cerimony, Blue Monday, Bizarre Love Triangle contam uma história de luto e libertação vivida pelo New Order.

Muito devido ao sucesso de Substance do New Order, nasceu também a Substance do Joy Division. Aqui, houve uma clara necessidade de resgatar singles lançados individualmente ao longo da curta e meteórica carreira do grupo então liderado por Ian Curtis, como uma forma de organizar uma discografia então bagunçada e reunir também músicas como Love Will Tear Us Apart e She Lost Control.

Um trabalhador incansável

Peter Hook é um daqueles roqueiros a moda antiga. Falastrão, boa praça, mas de pouca paciência para mimimi dos antigos colegas de banda. O New Order, apesar do sucesso comercial experimentado ao longo da década de 1980, responsável por transformar a banda em ícone do new wave e do rock eletrônico, também implodia por dentro com as tensões entre os integrantes.

Não a toa, o grupo se separou algumas vezes. Em 1993, os integrantes foram para lados distintos e cuidar de projetos pessoais, reunidos cinco anos depois. A maior das brigas ocorreu em 2007, quando Peter Hook deixou o grupo definitivamente.

Entre as muitas brigas de Hook com os antigos companheiros de banda girava em torno da revisitação do material do Joy Division, Hook queria celebrar o álbum Unkown Pleasures, a estreia com Ian Curtis, cujo aniversário de 30 anos se aproximava e seria celebrado em 2009.

Parte da existência de Hook, desde então, tem sido recriar as experiências musicais nos palcos mundo afora. Só no Brasil, com a The Light, ele tocou pelo menos 10 vezes, em turnês a partir de 2011.

“Simplesmente pensei que não poderia deixar esse aniversário passar”, ele explica ao Estadão, em entrevista por telefone, sobre a virada na carreira. “Decidi tocar Unknown Pleasures porque não queria fingir ser o Joy Division. Isso é impossível. Mas eu sabia que poderia fazer uma ótima rendição dos álbuns, da maneira como foram gravados, e isso se tornou meu truque.”

Peter Hook faz o único show em São Paulo na terça, 27 Foto: Julien Lachaussée/Divulgação

A ideia era, claro, levar o Joy Division para lugares não visitados pela banda. “Tem sido maravilhoso porque, sabe, o Joy Division nunca chegou ao Brasil. Ou à maioria dos lugares na Europa.”

Há uma beleza na paixão que Hook mantém pelo jogo, pelas turnês e por preservar o legado dele e de seus antigos colegas de banda. “A ambição do Ian Curtis era levar nossa música ao redor do mundo, e eu estou muito feliz em fazer isso”, garante.

“Toda vez que chego a algum lugar onde o Joy Division nunca tocou, sempre penso: ‘Isso é para você, Ian’”

A ‘hora dourada’

Com um estilo particular inconfundível de posicionar o baixo na altura dos joelhos, Hook tenta, ao longo da entrevista, explicar o que o motiva a seguir em turnês, encarar a rotina de hotéis e de aeroportos, entre alfândegas e horários de check in e check out.

“Para mim, desde os dias do punk, minha empolgação por estar em uma banda se concretizou com a execução da música ao vivo. Amo tocar e, realmente, não me importo com o tempo que leva para chegar até o palco. O fato de eu poder tocar quando chego faz tudo valer a pena”, avalia. “E é uma hora dourada.”

Hook mexe no baú de memórias. Em Manchester, por um tempo, foi vizinho de Dave Dee, um importante músico inglês integrante de um grupo chamado Dave Dee, Dozy, Beaky, Mick & Tich, de relativo sucesso nos anos 60.

“Dee era um pai para mim”, explica Hook. O músico via o amigo, diagnosticado com câncer, enfrentar a doença nos palcos, em shows e turnês. “Quando ele tinha 75, 77 anos, eu disse a ele: ‘Com a sua idade, com o quão doente você está, não deveria estar se cuidando?’ Ele me respondeu: ‘Pete, aquela hora e meia em que estou no palco é quando estou sem dor’”, relembra.

Hook, hoje aos 68 anos, entende Dee. “Ele me explicava: ‘É por isso que eu faço esses shows. Todo o resto do meu dia é cheio de dor. Eu me levanto e me apresento, e seja lá quem ou o que for que me ajude a superar isso faz valer a pena’. Isso me deixou francamente impressionado, porque, felizmente, nunca passei por isso. Mas para ele, era uma hora dourada”.

A relação com Dee, a liberdade de ser líder da própria banda e ter um repertório de enorme história para poder revisitar no palco são os três motivos que fazem da turnê dos álbuns Substance essa espécie de The Eras Tour alternativa, com shows enormes de três horas de duração.

Um oposto, por exemplo, de como eram as apresentações de Joy Division e New order, no início de carreira. “Os primeiros shows que tocamos como New Order tinham 21 minutos de duração. Onde quer que tocássemos, tocávamos por 21 minutos. E quando os promotores reclamavam, porque os fãs ficavam revoltados e causavam tumultos em todos os lugares, aumentávamos para 24 minutos”, relembra ele. “Agora, não consigo imaginar ir ao Brasil e tocar por 24 minutos, entende?. Não, eu quero ficar naquele palco até alguém me tirar de lá.”

“Não podemos subestimar o poder que os grandes músicos têm ao vivo. Fui ver Bruce Springsteen recentemente, em Dublin, na Irlanda. Uau. E, meu Deus, ele foi fantástico. Fiquei absolutamente impressionado. Ele tocou por 3 horas, assim como faço agora. É irônico, não é? Todos ficamos velhos e tocamos mais do que nunca”

Para Hook, o melhor momento de estar em uma banda – e o que faz valer todas as possíveis chateações das logísticas –, são aqueles segundos quando os músicos sobem ao palco e começam a pegar os instrumentos. Momentos de silêncio antes da barulheira. “É a expectativa. Saber que, em alguns segundos, você vai fazer um som glorioso e que você vai fazer aquelas pessoas extremamente felizes. Quero dizer, meu Deus, eu que deveria pagar o público por estar ali para viver isso comigo.”

Peter Hook & The Lights

  • Data: 27/8, a partir das 22h.
  • Local: Audio (Av. Francisco Matarazzo, 694 - Água Branca)
  • Ingressos: esgotados

No ano em que Taylor Swift nasceu, em 1989, o New Order vivia um dos seus auges comerciais: o álbum Technique era o primeiro da banda inglesa a ficar em primeiro lugar nas paradas do Reino Unido e considerado um clássico como a síntese do rock e/ou pop dos anos 90.

Com menos tempo de vida do que Peter Hook (baixista do Joy Division e, depois, do New Order) tem de carreira, Taylor Swift ressignificou a experiência ao vivo ao voltar para turnês pós-pandemia com a estrondosa The Eras Tour, na qual cada uma das tais eras da artista (cada era representa um álbum e uma sonoridade, digamos assim, em termos genéricos) eram representadas por um punhado de músicas com cenário, figurino e luzes dedicadas em um palco todo iluminado de luzes de LED.

Claro, tudo com Taylor Swift é grandiloquente e esse é um texto sobre uma turnê em versão exponencialmente diminuta - mais “indie” na essência, digamos. Igualmente temática, contudo. A turnê de Substance de Peter Hook & The Light, cujo show único na América do Sul será realizado em São Paulo, nesta terça, 27, na Audio, é um resgate às memórias afetivas de duas fases extremante diferentes de praticamente uma mesma banda.

Peter Hook em show de 2018 Foto: Paul Hudson/CC

Dois discos, um nome

Pode parece óbvio para alguém versado na história do rock alternativo, mas ainda gera surpresa de muita gente a informação de que o New Order é uma banda criada a partir de 1980, surgida das cinzas do Joy Division, grupo de rock triste, digamos, fundado com a morte do vocalista Ian Curtis.

O que existia de deprê e art-punk do Joy Division, musicalmente falando, transacionou para um electro-dance-rock de primeira grandeza. Hook estava lá. E leva essa experiência transitória para a Audio acompanhado da banda The Light. Nele, além da função de baixista, Hook assume os vocais.

Curiosamente, ambas as bandas possuem coletâneas com o mesmo nome: Substance. A primeira foi lançada pelo New Order, em 1987, como se para celebrar a primeira fase da carreira do grupo, ao reunir os singles lançados ao longo dos seis primeiros anos de existência do grupo - e fundamentais para entender as mudanças sonoras pelas quais o grupo passava. Músicas como Cerimony, Blue Monday, Bizarre Love Triangle contam uma história de luto e libertação vivida pelo New Order.

Muito devido ao sucesso de Substance do New Order, nasceu também a Substance do Joy Division. Aqui, houve uma clara necessidade de resgatar singles lançados individualmente ao longo da curta e meteórica carreira do grupo então liderado por Ian Curtis, como uma forma de organizar uma discografia então bagunçada e reunir também músicas como Love Will Tear Us Apart e She Lost Control.

Um trabalhador incansável

Peter Hook é um daqueles roqueiros a moda antiga. Falastrão, boa praça, mas de pouca paciência para mimimi dos antigos colegas de banda. O New Order, apesar do sucesso comercial experimentado ao longo da década de 1980, responsável por transformar a banda em ícone do new wave e do rock eletrônico, também implodia por dentro com as tensões entre os integrantes.

Não a toa, o grupo se separou algumas vezes. Em 1993, os integrantes foram para lados distintos e cuidar de projetos pessoais, reunidos cinco anos depois. A maior das brigas ocorreu em 2007, quando Peter Hook deixou o grupo definitivamente.

Entre as muitas brigas de Hook com os antigos companheiros de banda girava em torno da revisitação do material do Joy Division, Hook queria celebrar o álbum Unkown Pleasures, a estreia com Ian Curtis, cujo aniversário de 30 anos se aproximava e seria celebrado em 2009.

Parte da existência de Hook, desde então, tem sido recriar as experiências musicais nos palcos mundo afora. Só no Brasil, com a The Light, ele tocou pelo menos 10 vezes, em turnês a partir de 2011.

“Simplesmente pensei que não poderia deixar esse aniversário passar”, ele explica ao Estadão, em entrevista por telefone, sobre a virada na carreira. “Decidi tocar Unknown Pleasures porque não queria fingir ser o Joy Division. Isso é impossível. Mas eu sabia que poderia fazer uma ótima rendição dos álbuns, da maneira como foram gravados, e isso se tornou meu truque.”

Peter Hook faz o único show em São Paulo na terça, 27 Foto: Julien Lachaussée/Divulgação

A ideia era, claro, levar o Joy Division para lugares não visitados pela banda. “Tem sido maravilhoso porque, sabe, o Joy Division nunca chegou ao Brasil. Ou à maioria dos lugares na Europa.”

Há uma beleza na paixão que Hook mantém pelo jogo, pelas turnês e por preservar o legado dele e de seus antigos colegas de banda. “A ambição do Ian Curtis era levar nossa música ao redor do mundo, e eu estou muito feliz em fazer isso”, garante.

“Toda vez que chego a algum lugar onde o Joy Division nunca tocou, sempre penso: ‘Isso é para você, Ian’”

A ‘hora dourada’

Com um estilo particular inconfundível de posicionar o baixo na altura dos joelhos, Hook tenta, ao longo da entrevista, explicar o que o motiva a seguir em turnês, encarar a rotina de hotéis e de aeroportos, entre alfândegas e horários de check in e check out.

“Para mim, desde os dias do punk, minha empolgação por estar em uma banda se concretizou com a execução da música ao vivo. Amo tocar e, realmente, não me importo com o tempo que leva para chegar até o palco. O fato de eu poder tocar quando chego faz tudo valer a pena”, avalia. “E é uma hora dourada.”

Hook mexe no baú de memórias. Em Manchester, por um tempo, foi vizinho de Dave Dee, um importante músico inglês integrante de um grupo chamado Dave Dee, Dozy, Beaky, Mick & Tich, de relativo sucesso nos anos 60.

“Dee era um pai para mim”, explica Hook. O músico via o amigo, diagnosticado com câncer, enfrentar a doença nos palcos, em shows e turnês. “Quando ele tinha 75, 77 anos, eu disse a ele: ‘Com a sua idade, com o quão doente você está, não deveria estar se cuidando?’ Ele me respondeu: ‘Pete, aquela hora e meia em que estou no palco é quando estou sem dor’”, relembra.

Hook, hoje aos 68 anos, entende Dee. “Ele me explicava: ‘É por isso que eu faço esses shows. Todo o resto do meu dia é cheio de dor. Eu me levanto e me apresento, e seja lá quem ou o que for que me ajude a superar isso faz valer a pena’. Isso me deixou francamente impressionado, porque, felizmente, nunca passei por isso. Mas para ele, era uma hora dourada”.

A relação com Dee, a liberdade de ser líder da própria banda e ter um repertório de enorme história para poder revisitar no palco são os três motivos que fazem da turnê dos álbuns Substance essa espécie de The Eras Tour alternativa, com shows enormes de três horas de duração.

Um oposto, por exemplo, de como eram as apresentações de Joy Division e New order, no início de carreira. “Os primeiros shows que tocamos como New Order tinham 21 minutos de duração. Onde quer que tocássemos, tocávamos por 21 minutos. E quando os promotores reclamavam, porque os fãs ficavam revoltados e causavam tumultos em todos os lugares, aumentávamos para 24 minutos”, relembra ele. “Agora, não consigo imaginar ir ao Brasil e tocar por 24 minutos, entende?. Não, eu quero ficar naquele palco até alguém me tirar de lá.”

“Não podemos subestimar o poder que os grandes músicos têm ao vivo. Fui ver Bruce Springsteen recentemente, em Dublin, na Irlanda. Uau. E, meu Deus, ele foi fantástico. Fiquei absolutamente impressionado. Ele tocou por 3 horas, assim como faço agora. É irônico, não é? Todos ficamos velhos e tocamos mais do que nunca”

Para Hook, o melhor momento de estar em uma banda – e o que faz valer todas as possíveis chateações das logísticas –, são aqueles segundos quando os músicos sobem ao palco e começam a pegar os instrumentos. Momentos de silêncio antes da barulheira. “É a expectativa. Saber que, em alguns segundos, você vai fazer um som glorioso e que você vai fazer aquelas pessoas extremamente felizes. Quero dizer, meu Deus, eu que deveria pagar o público por estar ali para viver isso comigo.”

Peter Hook & The Lights

  • Data: 27/8, a partir das 22h.
  • Local: Audio (Av. Francisco Matarazzo, 694 - Água Branca)
  • Ingressos: esgotados

No ano em que Taylor Swift nasceu, em 1989, o New Order vivia um dos seus auges comerciais: o álbum Technique era o primeiro da banda inglesa a ficar em primeiro lugar nas paradas do Reino Unido e considerado um clássico como a síntese do rock e/ou pop dos anos 90.

Com menos tempo de vida do que Peter Hook (baixista do Joy Division e, depois, do New Order) tem de carreira, Taylor Swift ressignificou a experiência ao vivo ao voltar para turnês pós-pandemia com a estrondosa The Eras Tour, na qual cada uma das tais eras da artista (cada era representa um álbum e uma sonoridade, digamos assim, em termos genéricos) eram representadas por um punhado de músicas com cenário, figurino e luzes dedicadas em um palco todo iluminado de luzes de LED.

Claro, tudo com Taylor Swift é grandiloquente e esse é um texto sobre uma turnê em versão exponencialmente diminuta - mais “indie” na essência, digamos. Igualmente temática, contudo. A turnê de Substance de Peter Hook & The Light, cujo show único na América do Sul será realizado em São Paulo, nesta terça, 27, na Audio, é um resgate às memórias afetivas de duas fases extremante diferentes de praticamente uma mesma banda.

Peter Hook em show de 2018 Foto: Paul Hudson/CC

Dois discos, um nome

Pode parece óbvio para alguém versado na história do rock alternativo, mas ainda gera surpresa de muita gente a informação de que o New Order é uma banda criada a partir de 1980, surgida das cinzas do Joy Division, grupo de rock triste, digamos, fundado com a morte do vocalista Ian Curtis.

O que existia de deprê e art-punk do Joy Division, musicalmente falando, transacionou para um electro-dance-rock de primeira grandeza. Hook estava lá. E leva essa experiência transitória para a Audio acompanhado da banda The Light. Nele, além da função de baixista, Hook assume os vocais.

Curiosamente, ambas as bandas possuem coletâneas com o mesmo nome: Substance. A primeira foi lançada pelo New Order, em 1987, como se para celebrar a primeira fase da carreira do grupo, ao reunir os singles lançados ao longo dos seis primeiros anos de existência do grupo - e fundamentais para entender as mudanças sonoras pelas quais o grupo passava. Músicas como Cerimony, Blue Monday, Bizarre Love Triangle contam uma história de luto e libertação vivida pelo New Order.

Muito devido ao sucesso de Substance do New Order, nasceu também a Substance do Joy Division. Aqui, houve uma clara necessidade de resgatar singles lançados individualmente ao longo da curta e meteórica carreira do grupo então liderado por Ian Curtis, como uma forma de organizar uma discografia então bagunçada e reunir também músicas como Love Will Tear Us Apart e She Lost Control.

Um trabalhador incansável

Peter Hook é um daqueles roqueiros a moda antiga. Falastrão, boa praça, mas de pouca paciência para mimimi dos antigos colegas de banda. O New Order, apesar do sucesso comercial experimentado ao longo da década de 1980, responsável por transformar a banda em ícone do new wave e do rock eletrônico, também implodia por dentro com as tensões entre os integrantes.

Não a toa, o grupo se separou algumas vezes. Em 1993, os integrantes foram para lados distintos e cuidar de projetos pessoais, reunidos cinco anos depois. A maior das brigas ocorreu em 2007, quando Peter Hook deixou o grupo definitivamente.

Entre as muitas brigas de Hook com os antigos companheiros de banda girava em torno da revisitação do material do Joy Division, Hook queria celebrar o álbum Unkown Pleasures, a estreia com Ian Curtis, cujo aniversário de 30 anos se aproximava e seria celebrado em 2009.

Parte da existência de Hook, desde então, tem sido recriar as experiências musicais nos palcos mundo afora. Só no Brasil, com a The Light, ele tocou pelo menos 10 vezes, em turnês a partir de 2011.

“Simplesmente pensei que não poderia deixar esse aniversário passar”, ele explica ao Estadão, em entrevista por telefone, sobre a virada na carreira. “Decidi tocar Unknown Pleasures porque não queria fingir ser o Joy Division. Isso é impossível. Mas eu sabia que poderia fazer uma ótima rendição dos álbuns, da maneira como foram gravados, e isso se tornou meu truque.”

Peter Hook faz o único show em São Paulo na terça, 27 Foto: Julien Lachaussée/Divulgação

A ideia era, claro, levar o Joy Division para lugares não visitados pela banda. “Tem sido maravilhoso porque, sabe, o Joy Division nunca chegou ao Brasil. Ou à maioria dos lugares na Europa.”

Há uma beleza na paixão que Hook mantém pelo jogo, pelas turnês e por preservar o legado dele e de seus antigos colegas de banda. “A ambição do Ian Curtis era levar nossa música ao redor do mundo, e eu estou muito feliz em fazer isso”, garante.

“Toda vez que chego a algum lugar onde o Joy Division nunca tocou, sempre penso: ‘Isso é para você, Ian’”

A ‘hora dourada’

Com um estilo particular inconfundível de posicionar o baixo na altura dos joelhos, Hook tenta, ao longo da entrevista, explicar o que o motiva a seguir em turnês, encarar a rotina de hotéis e de aeroportos, entre alfândegas e horários de check in e check out.

“Para mim, desde os dias do punk, minha empolgação por estar em uma banda se concretizou com a execução da música ao vivo. Amo tocar e, realmente, não me importo com o tempo que leva para chegar até o palco. O fato de eu poder tocar quando chego faz tudo valer a pena”, avalia. “E é uma hora dourada.”

Hook mexe no baú de memórias. Em Manchester, por um tempo, foi vizinho de Dave Dee, um importante músico inglês integrante de um grupo chamado Dave Dee, Dozy, Beaky, Mick & Tich, de relativo sucesso nos anos 60.

“Dee era um pai para mim”, explica Hook. O músico via o amigo, diagnosticado com câncer, enfrentar a doença nos palcos, em shows e turnês. “Quando ele tinha 75, 77 anos, eu disse a ele: ‘Com a sua idade, com o quão doente você está, não deveria estar se cuidando?’ Ele me respondeu: ‘Pete, aquela hora e meia em que estou no palco é quando estou sem dor’”, relembra.

Hook, hoje aos 68 anos, entende Dee. “Ele me explicava: ‘É por isso que eu faço esses shows. Todo o resto do meu dia é cheio de dor. Eu me levanto e me apresento, e seja lá quem ou o que for que me ajude a superar isso faz valer a pena’. Isso me deixou francamente impressionado, porque, felizmente, nunca passei por isso. Mas para ele, era uma hora dourada”.

A relação com Dee, a liberdade de ser líder da própria banda e ter um repertório de enorme história para poder revisitar no palco são os três motivos que fazem da turnê dos álbuns Substance essa espécie de The Eras Tour alternativa, com shows enormes de três horas de duração.

Um oposto, por exemplo, de como eram as apresentações de Joy Division e New order, no início de carreira. “Os primeiros shows que tocamos como New Order tinham 21 minutos de duração. Onde quer que tocássemos, tocávamos por 21 minutos. E quando os promotores reclamavam, porque os fãs ficavam revoltados e causavam tumultos em todos os lugares, aumentávamos para 24 minutos”, relembra ele. “Agora, não consigo imaginar ir ao Brasil e tocar por 24 minutos, entende?. Não, eu quero ficar naquele palco até alguém me tirar de lá.”

“Não podemos subestimar o poder que os grandes músicos têm ao vivo. Fui ver Bruce Springsteen recentemente, em Dublin, na Irlanda. Uau. E, meu Deus, ele foi fantástico. Fiquei absolutamente impressionado. Ele tocou por 3 horas, assim como faço agora. É irônico, não é? Todos ficamos velhos e tocamos mais do que nunca”

Para Hook, o melhor momento de estar em uma banda – e o que faz valer todas as possíveis chateações das logísticas –, são aqueles segundos quando os músicos sobem ao palco e começam a pegar os instrumentos. Momentos de silêncio antes da barulheira. “É a expectativa. Saber que, em alguns segundos, você vai fazer um som glorioso e que você vai fazer aquelas pessoas extremamente felizes. Quero dizer, meu Deus, eu que deveria pagar o público por estar ali para viver isso comigo.”

Peter Hook & The Lights

  • Data: 27/8, a partir das 22h.
  • Local: Audio (Av. Francisco Matarazzo, 694 - Água Branca)
  • Ingressos: esgotados

No ano em que Taylor Swift nasceu, em 1989, o New Order vivia um dos seus auges comerciais: o álbum Technique era o primeiro da banda inglesa a ficar em primeiro lugar nas paradas do Reino Unido e considerado um clássico como a síntese do rock e/ou pop dos anos 90.

Com menos tempo de vida do que Peter Hook (baixista do Joy Division e, depois, do New Order) tem de carreira, Taylor Swift ressignificou a experiência ao vivo ao voltar para turnês pós-pandemia com a estrondosa The Eras Tour, na qual cada uma das tais eras da artista (cada era representa um álbum e uma sonoridade, digamos assim, em termos genéricos) eram representadas por um punhado de músicas com cenário, figurino e luzes dedicadas em um palco todo iluminado de luzes de LED.

Claro, tudo com Taylor Swift é grandiloquente e esse é um texto sobre uma turnê em versão exponencialmente diminuta - mais “indie” na essência, digamos. Igualmente temática, contudo. A turnê de Substance de Peter Hook & The Light, cujo show único na América do Sul será realizado em São Paulo, nesta terça, 27, na Audio, é um resgate às memórias afetivas de duas fases extremante diferentes de praticamente uma mesma banda.

Peter Hook em show de 2018 Foto: Paul Hudson/CC

Dois discos, um nome

Pode parece óbvio para alguém versado na história do rock alternativo, mas ainda gera surpresa de muita gente a informação de que o New Order é uma banda criada a partir de 1980, surgida das cinzas do Joy Division, grupo de rock triste, digamos, fundado com a morte do vocalista Ian Curtis.

O que existia de deprê e art-punk do Joy Division, musicalmente falando, transacionou para um electro-dance-rock de primeira grandeza. Hook estava lá. E leva essa experiência transitória para a Audio acompanhado da banda The Light. Nele, além da função de baixista, Hook assume os vocais.

Curiosamente, ambas as bandas possuem coletâneas com o mesmo nome: Substance. A primeira foi lançada pelo New Order, em 1987, como se para celebrar a primeira fase da carreira do grupo, ao reunir os singles lançados ao longo dos seis primeiros anos de existência do grupo - e fundamentais para entender as mudanças sonoras pelas quais o grupo passava. Músicas como Cerimony, Blue Monday, Bizarre Love Triangle contam uma história de luto e libertação vivida pelo New Order.

Muito devido ao sucesso de Substance do New Order, nasceu também a Substance do Joy Division. Aqui, houve uma clara necessidade de resgatar singles lançados individualmente ao longo da curta e meteórica carreira do grupo então liderado por Ian Curtis, como uma forma de organizar uma discografia então bagunçada e reunir também músicas como Love Will Tear Us Apart e She Lost Control.

Um trabalhador incansável

Peter Hook é um daqueles roqueiros a moda antiga. Falastrão, boa praça, mas de pouca paciência para mimimi dos antigos colegas de banda. O New Order, apesar do sucesso comercial experimentado ao longo da década de 1980, responsável por transformar a banda em ícone do new wave e do rock eletrônico, também implodia por dentro com as tensões entre os integrantes.

Não a toa, o grupo se separou algumas vezes. Em 1993, os integrantes foram para lados distintos e cuidar de projetos pessoais, reunidos cinco anos depois. A maior das brigas ocorreu em 2007, quando Peter Hook deixou o grupo definitivamente.

Entre as muitas brigas de Hook com os antigos companheiros de banda girava em torno da revisitação do material do Joy Division, Hook queria celebrar o álbum Unkown Pleasures, a estreia com Ian Curtis, cujo aniversário de 30 anos se aproximava e seria celebrado em 2009.

Parte da existência de Hook, desde então, tem sido recriar as experiências musicais nos palcos mundo afora. Só no Brasil, com a The Light, ele tocou pelo menos 10 vezes, em turnês a partir de 2011.

“Simplesmente pensei que não poderia deixar esse aniversário passar”, ele explica ao Estadão, em entrevista por telefone, sobre a virada na carreira. “Decidi tocar Unknown Pleasures porque não queria fingir ser o Joy Division. Isso é impossível. Mas eu sabia que poderia fazer uma ótima rendição dos álbuns, da maneira como foram gravados, e isso se tornou meu truque.”

Peter Hook faz o único show em São Paulo na terça, 27 Foto: Julien Lachaussée/Divulgação

A ideia era, claro, levar o Joy Division para lugares não visitados pela banda. “Tem sido maravilhoso porque, sabe, o Joy Division nunca chegou ao Brasil. Ou à maioria dos lugares na Europa.”

Há uma beleza na paixão que Hook mantém pelo jogo, pelas turnês e por preservar o legado dele e de seus antigos colegas de banda. “A ambição do Ian Curtis era levar nossa música ao redor do mundo, e eu estou muito feliz em fazer isso”, garante.

“Toda vez que chego a algum lugar onde o Joy Division nunca tocou, sempre penso: ‘Isso é para você, Ian’”

A ‘hora dourada’

Com um estilo particular inconfundível de posicionar o baixo na altura dos joelhos, Hook tenta, ao longo da entrevista, explicar o que o motiva a seguir em turnês, encarar a rotina de hotéis e de aeroportos, entre alfândegas e horários de check in e check out.

“Para mim, desde os dias do punk, minha empolgação por estar em uma banda se concretizou com a execução da música ao vivo. Amo tocar e, realmente, não me importo com o tempo que leva para chegar até o palco. O fato de eu poder tocar quando chego faz tudo valer a pena”, avalia. “E é uma hora dourada.”

Hook mexe no baú de memórias. Em Manchester, por um tempo, foi vizinho de Dave Dee, um importante músico inglês integrante de um grupo chamado Dave Dee, Dozy, Beaky, Mick & Tich, de relativo sucesso nos anos 60.

“Dee era um pai para mim”, explica Hook. O músico via o amigo, diagnosticado com câncer, enfrentar a doença nos palcos, em shows e turnês. “Quando ele tinha 75, 77 anos, eu disse a ele: ‘Com a sua idade, com o quão doente você está, não deveria estar se cuidando?’ Ele me respondeu: ‘Pete, aquela hora e meia em que estou no palco é quando estou sem dor’”, relembra.

Hook, hoje aos 68 anos, entende Dee. “Ele me explicava: ‘É por isso que eu faço esses shows. Todo o resto do meu dia é cheio de dor. Eu me levanto e me apresento, e seja lá quem ou o que for que me ajude a superar isso faz valer a pena’. Isso me deixou francamente impressionado, porque, felizmente, nunca passei por isso. Mas para ele, era uma hora dourada”.

A relação com Dee, a liberdade de ser líder da própria banda e ter um repertório de enorme história para poder revisitar no palco são os três motivos que fazem da turnê dos álbuns Substance essa espécie de The Eras Tour alternativa, com shows enormes de três horas de duração.

Um oposto, por exemplo, de como eram as apresentações de Joy Division e New order, no início de carreira. “Os primeiros shows que tocamos como New Order tinham 21 minutos de duração. Onde quer que tocássemos, tocávamos por 21 minutos. E quando os promotores reclamavam, porque os fãs ficavam revoltados e causavam tumultos em todos os lugares, aumentávamos para 24 minutos”, relembra ele. “Agora, não consigo imaginar ir ao Brasil e tocar por 24 minutos, entende?. Não, eu quero ficar naquele palco até alguém me tirar de lá.”

“Não podemos subestimar o poder que os grandes músicos têm ao vivo. Fui ver Bruce Springsteen recentemente, em Dublin, na Irlanda. Uau. E, meu Deus, ele foi fantástico. Fiquei absolutamente impressionado. Ele tocou por 3 horas, assim como faço agora. É irônico, não é? Todos ficamos velhos e tocamos mais do que nunca”

Para Hook, o melhor momento de estar em uma banda – e o que faz valer todas as possíveis chateações das logísticas –, são aqueles segundos quando os músicos sobem ao palco e começam a pegar os instrumentos. Momentos de silêncio antes da barulheira. “É a expectativa. Saber que, em alguns segundos, você vai fazer um som glorioso e que você vai fazer aquelas pessoas extremamente felizes. Quero dizer, meu Deus, eu que deveria pagar o público por estar ali para viver isso comigo.”

Peter Hook & The Lights

  • Data: 27/8, a partir das 22h.
  • Local: Audio (Av. Francisco Matarazzo, 694 - Água Branca)
  • Ingressos: esgotados

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