Por que brasileiros estão gastando economias para fazer cobertura amadora de shows no exterior?


Transmissões ao vivo chegam a quase 70 mil espectadores simultâneos. Fãs de Beyoncé, Lady Gaga e Taylor Swift gastam até R$ 17 mil, ganham milhares de seguidores, e contam o que fizeram pelas cantoras favoritas

Por Julia Queiroz
Atualização:

Quando Beyoncé anunciou a turnê Renaissance em fevereiro de 2023, Eduardo Derrico, fotógrafo de 32 anos, já sabia que iria em pelo menos mais de um show da artista.

O que ele não esperava era que a transmissão ao vivo que realizou da abertura da turnê diretamente de Estocolmo, na Suécia, chegasse a cerca de 68 mil espectadores simultâneos.

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Eduardo participou de um fenômeno crescente: transmissões amadoras de megaturnês por pessoas da plateia no Instagram e no TikTok. De carona no interesse pelos popstars, os fãs que transmitem também ficam famosinhos por 15 minutos (ou enquanto durar o show). Veja neste texto histórias:

  • do fã de Beyoncé que economizou por dois anos, gastou cerca de R$ 17 mil para ir aos shows e viralizou não só pelos milhares de espectadores da live, mas também pelo celular na cabeça;
  • do fã de Lady Gaga que esperou seis anos por um show e conseguiu fazer uma transmissão para 22 mil pessoas, incluindo famosos e outros fanáticos pela cantora do Equador à Ucrânia;
  • da fã de Taylor Swift que gastou cerca de R$ 17,5 mil, ficou 12 horas na fila virtual por uma entrada VIP, fez vídeo com quase 200 mil views no TikTok e foi notada pela equipe da cantora.
Eduardo Derrico, fotógrafo de 34 anos, comprou suporte para celular para usar na cabeça e transmitir show da Beyoncé. Foto: Arquivo Pessoal/Eduardo Derrico
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Fã desde quando a cantora integrava o grupo Destiny’s Child, Eduardo Derrico já assistiu a artista ao vivo cinco vezes, uma em 2013, em São Paulo, na última passagem dela pelo Brasil, e outras quatro nos Estados Unidos entre 2015 e 2018.

Eduardo vinha se programando para comprar ingressos para uma nova turnê desde 2021, quando se mudou oficialmente para a cidade de Paris, na França, junto com o marido.

Na época, o disco Renaissance estava longe de ser lançado, mas ele já especulava que a artista poderia lançar um álbum nos anos seguintes e, consequentemente, uma nova leva de apresentações que teria alta possibilidade de passar pela Europa.

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“Estou me preparando há muito tempo, sempre tive a poupança para o show da Beyoncé, porque falei: ‘agora vou não só ver ela em vários shows, mas vou ficar na grade, na área VIP, não vou economizar”, conta.

Com isso, Eduardo comprou ingressos em setores privilegiados de cinco shows da cantora pela Europa: Estocolmo, Paris, Barcelona, na Espanha, Marselha, na França, e Amsterdã, na Holanda.

Eduardo Derrico em fila de show da turnê 'Renaissance', de Beyoncé. Foto: Arquivo Pessoal/Eduardo Derrico
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Eduardo viralizou com transmissão ao vivo

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Sabendo que o fotógrafo estaria presente em vários shows da turnê Renaissance, amigos de Eduardo que administram o fã-clube Beyoncé Access perguntaram se ele toparia fazer uma live e transmitir um dos shows ao vivo no perfil deles.

Ele aceitou, já que sabia que teria mais oportunidades para assistir à apresentação, mas tinha alguns empecilhos pela frente: “São três horas de show, é impossível. Nem que eu queira eu consigo ficar segurando um celular em pé por três horas”.

A solução encontrada foi comprar um suporte para telefone que fica preso na cabeça. Dessa forma, ele foi preparado para o evento, conseguiu transmitir a apresentação do início ao fim e ainda ficar “com as mãos livres para dançar”.

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A live realizada pelo fã no perfil do Beyoncé Access na tarde do dia 10 de maio chegou a ter 68 mil espectadores simultâneos, conforme diz Eduardo. O número foi crescendo ao longo do show e surpreendeu ele e os administradores do fã-clube.

“Nunca podia imaginar. Eu fiz tão despretensiosamente. No fundo, achei que não ia funcionar, porque nunca tem sinal nos estádios”, revela. “Não só deu para fazer a live, como a qualidade estava fantástica”.

O fotógrafo atribui o sucesso da transmissão ao fato de ter sido o primeiro show da turnê, à gratidão de outros fãs por terem conseguido presenciar o momento de alguma forma e por ele próprio ter viralizado por ter usado o suporte de celular na cabeça.

Vídeos de Eduardo no show ganharam muito repercussão no Twitter e no TikTok. “As pessoas acharam o máximo. Acharam uma loucura o que eu estava fazendo, falaram que eu revolucionei a forma de fazer lives”, diz.

Investimento

Eduardo sabia que não iria economizar quando chegasse a hora de ver Beyoncé ao vivo. Mas ele ressalta que a situação ficou mais barata por já morar na Europa, onde a cantora atualmente circula com a turnê Renaissance.

Somente com os ingressos para os cinco shows, ele gastou cerca de 2,5 mil euros, pouco mais R$ 13 mil na cotação atual. Já com passagens de trem, avião e com hospedagem, gastou aproximadamente 700 euros, cerca de R$ 3,6 mil.

“Tudo foi pago à vista. Não pedi dinheiro emprestado. Já tinha guardado dinheiro há algum tempo para isso”, destaca o fotógrafo.

Ele também explica que a live não teve nenhum retorno financeiro, apesar de ter recebido uma proposta de publicidade de uma marca de mochilas, que preferiu não aceitar. O crescimento expressivo ocorreu no número de seguidores de suas redes sociais.

“Ganhei quase 20 mil seguidores no meu perfil pessoal [no Instagram]. A página reserva do Beyoncé Access, que é por onde a gente fez a live, ganhou 80 mil seguidores em dois dias. O perfil normal deles tinha 20 ou 30 mil seguidores antes da turnê começar, agora já estão com 300 mil”, conta.

Show de Lady Gaga

Eduardo Derrico não é o único que viralizou após transmitir o show de uma diva pop. O mesmo aconteceu com Rodrigo Batista, de 24 anos. Natural de Cuiabá, no Mato Grosso, ele reside na Alemanha desde 2020.

Em 17 de julho de 2022, ele foi compareceu à abertura da turnê The Chromatica Ball, de Lady Gaga, em Düsseldorf, na Alemanha, e realizou uma live que chegou a cerca de 22 mil espectadores simultâneos, de acordo com o jovem.

Assim como Eduardo, Rodrigo aproveitou o fato de que mora fora do País para conseguir realizar o sonho de ver sua cantora favorita ao vivo.

“Eu já tinha planejado muito antes de anunciar”, explica. “Agora que tenho a oportunidade de poder fazer isso, queria estar no primeiro show. Não estava nem me preocupando onde fosse, mas dei a sorte de ser logo no país em que eu estava”.

Rodrigo Batista na fila para entrar em show da Lady Gaga em Düsseldorf, na Alemanha. Foto: Arquivo Pessoal/ Rodrigo Batista

Em 2017, Rodrigo assistiria ao show de Lady Gaga pela primeira no Rock in Rio, mas a apresentação foi cancelada no dia anterior. O evento ficou marcado entre os fãs e pelos memes que a situação gerou na época.

“Eu venho remoendo isso como um fã, como uma pessoa que acompanhou, desde 2017. Isso alimentou mais ainda o meu desejo de focar nesse objetivo de estar no primeiro show da próxima turnê”, diz.

O jovem, que trabalha com mercado imobiliário em Berlim, comprou ingressos em uma área privilegiada do estádio. Para isso, gastou 350 euros (cerca de R$ 1,83 mil) nas entradas e 360 euros ( R$ 1,89 mil) com hospedagem e passagem até Düsseldorf.

“Eu, pessoalmente, já tenho minhas economias”, explica Rodrigo. “Quando ela anunciou a turnê, eu estava em uma situação financeira ótima, então pensei: ‘o momento é agora’”.

Live teve presença de famosos e pessoas do mundo todo

Após comprar o ingresso para o show, Rodrigo já começou a se movimentar nas redes sociais e compartilhar os seus planos para a turnê com os seus então pouco mais dois mil seguidores.

Ele afirma que se preparou para realizar a transmissão ao vivo do show e comprou carregador portátil, mas que não prometeu isso nas redes, pois não sabia se funcionaria.

“No calor da emoção, quando já estava lá, decidi abri a live. Pensei comigo: ‘vou fazer por alguns minutos e depois desligo”, lembra.

O jovem precisou sentar no chão e perder os primeiros momentos da apresentação para conectar a internet no celular. “Abri mão da minha felicidade e do primeiro contato visual para tentar conectar essa live”, diz.

“O show foi rolando e eu percebi que cada vez mais pessoas estavam entrando na live. O momento que eu mais me surpreendi foi quando começaram a entrar pessoas famosas, com perfil verificado, tipo a Gaby Amarantos. Quando eu vi, já tinham 22 mil pessoas”, conta Rodrigo.

O que era para ser uma transmissão de poucos minutos durou quase duas horas, já que Rodrigo se sentiu responsável por continuar a mostrar o show para tantas pessoas que o estavam assistindo.

“Foi difícil ficar segurando o celular, mas rolou. Eu estava sozinho no show, mas tinham outros fãs muito legais que estavam me ajudando a conectar o carregador portátil ou segurar quando meu braço estava doendo”, explica.

Ele comenta que também viu um crescimento grande em seus seguidores após a realização da live, além de ter recebido mensagens de fãs de vários lugares do mundo, como Japão, Colômbia e até Ucrânia.

Rodrigo enviou à reportagem um compilado de mensagens que recebeu após a realização da live do show da Lady Gaga. Foto: Arquivo Pessoal / Rodrigo Batista

“Não tive nenhum retorno financeiro, mas tive um grande retorno moral. As pessoas me respeitam pelo que eu fiz e, para mim, isso é suficiente. Era o que eu queria”, afirma.

Show de Taylor Swift

Enquanto Eduardo e Rodrigo viajaram pela Europa para transmitir o show de suas ídolas, também tem quem saia do Brasil para fazer um tipo de diferente de cobertura amadora, como é o caso de Rany Higa, de 31 anos.

Publicitária e moradora de São Paulo, ela foi até Tampa, no estado da Flórida, nos Estados Unidos, para acompanhar um show da turnê The Eras, de Taylor Swift, no dia 13 de abril, e compartilhou diversos registros com seus seguidores no TikTok e no Instagram.

Rany mostrou sua preparação, incluindo a criação de uma roupa com as cores do Brasil para ir ao show, os bastidores de sua viagem, os espaços dentro do estádio, incluindo preços de bebidas e as filas, além de, claro, vídeos dos apresentação.

Fã da cantora desde 2008, ela conta que sempre teve uma “poupança da Taylor Swift”, pensando justamente em viajar para ver a cantora no exterior, já que ela nunca fez shows no Brasil - isso deve mudar, já que a artista anunciou shows em São Paulo e Rio para novembro.

Ela já tinha ido a Los Angeles para assistir a dois shows de Taylor em 2018. Gostou tanto da experiência que decidiu que tentaria ir em todas as próximas turnês da cantora.

Rany precisou enfrentar cerca de 12 horas de fila virtual para garantir seu ingresso para a The Eras Tour, mas acabou conseguindo comprar uma entrada VIP para o show.

“Não era o meu plano comprar o VIP, mas no desespero era o que tinha. Você atualizava e ia sumindo [os outros setores], então no que foi eu comprei”, explica.

Rany Higa em show de Taylor Swift em Tampa, EUA. Na imagem, é possível ver a distância da jovem para o palco. Foto: Arquivo Pessoal/Rany Higa

Para isso, a publicitária precisou desembolsar cerca de 1.030 dólares apenas no ingresso. Na cotação atual, o valor chega a pouco mais de R$ 5 mil, mas na época chegava perto de R$ 6 mil.

Rany também conta que gastou cerca de R$ 4,5 mil com passagens, R$ 2,5 mil com hospedagem de 10 dias na cidade de Orlando, por onde passeou nos dias em que não foi no show, além de quase R$ 3,4 mil para alimentação e aluguel de carro dividido em cinco pessoas.

“Eu me planejo. Acho que é o que todo faz quando quer alcançar um objetivo ou conquistar alguma coisa, tirar um pouco de dinheiro e ir guardando. É o que eu faço, tenho a minha poupança de viagens da Taylor e vou guardando todo mês mesmo que não saiba quando vai ser o show”, explica.

Rany foi ‘notada’ pela equipe da cantora

Um dos vídeos que Rany postou sobre o show chegou a mais de 191 mil visualizações no TikTok. A publicação destaca o fato de que a jovem “levou” o Brasil para o local, mostrando a bandeira do País e o seu figurino para a ocasião.

A roupa chamou tanto a atenção que uma foto da brasileira foi incluída em uma publicação do Taylor Nation, perfil oficial da equipe de gerenciamento da cantora.

Depois disso, os posts de Rany ganharam um alcance ainda maior, e suas redes sociais tiveram aumento expressivo. Atualmente, ela tem 13,3 mil seguidores no Instagram e pouco mais de 4 mil no TikTok.

“Muitos fãs não conseguem estar lá e [postar] é uma maneira de ver um pouco como é, tanto que eu até mostrei a fila, a bebida, a visão do palco, para matar a curiosidade dos fãs. Sempre tem alguém transmitindo, então [queria] mostrar a experiência além do show”, diz.

Há problema em transmitir shows ao vivo?

A transmissão de shows ao vivo não fere, em princípio, as regras de uso do Instagram e do TikTok. Na maioria das grandes turnês, os artistas permitem a entrada de celulares, e é comum que vários fãs filmem e transmitam com seus aparelhos. Essas lives podem ser barradas em dois casos:

  • Se os artistas fizeram um pedido às plataformas, já que estão sendo usadas a imagem e as obras deles. Mas isso não é comum, já que eles buscam o contrário: a divulgação da turnê nas redes.
  • Se o show tiver um show com contrato exclusivo de transmissão ao vivo. Foi o caso da apresentação de Anitta no final da Champions League, por exemplo. Neste caso, a pedido dos detentores dos direitos, costumam ser derrubadas outras transmissões do evento. Não é o caso dos citados aqui.

O Estadão conversou com as assessorias de imprensa do TikTok e do Instagram, que confirmaram as informações.

De acordo com a advogada Fernanda Rosa Picosse, especialista em direitos autorais e de entretenimento, a questão dos fins lucrativos também deve receber atenção quando se trata deste assunto.

Uma live pode ter mais chances de ser derrubada caso tenha a intenção de ganhar financeiramente de alguma forma - o que não aconteceu nos casos acima.

Fernanda também explica que é mais fácil que o conteúdo de um show não seja derrubado caso seja feito “em pedaços”, ou seja, não transmitir a apresentação completa. Eduardo e Rodrigo, contudo, filmaram os shows de Beyoncé e Lady Gaga com apenas breves interrupções e não tiveram problemas.

*Estagiária sob supervisão de Charlise Morais

Quando Beyoncé anunciou a turnê Renaissance em fevereiro de 2023, Eduardo Derrico, fotógrafo de 32 anos, já sabia que iria em pelo menos mais de um show da artista.

O que ele não esperava era que a transmissão ao vivo que realizou da abertura da turnê diretamente de Estocolmo, na Suécia, chegasse a cerca de 68 mil espectadores simultâneos.

Eduardo participou de um fenômeno crescente: transmissões amadoras de megaturnês por pessoas da plateia no Instagram e no TikTok. De carona no interesse pelos popstars, os fãs que transmitem também ficam famosinhos por 15 minutos (ou enquanto durar o show). Veja neste texto histórias:

  • do fã de Beyoncé que economizou por dois anos, gastou cerca de R$ 17 mil para ir aos shows e viralizou não só pelos milhares de espectadores da live, mas também pelo celular na cabeça;
  • do fã de Lady Gaga que esperou seis anos por um show e conseguiu fazer uma transmissão para 22 mil pessoas, incluindo famosos e outros fanáticos pela cantora do Equador à Ucrânia;
  • da fã de Taylor Swift que gastou cerca de R$ 17,5 mil, ficou 12 horas na fila virtual por uma entrada VIP, fez vídeo com quase 200 mil views no TikTok e foi notada pela equipe da cantora.
Eduardo Derrico, fotógrafo de 34 anos, comprou suporte para celular para usar na cabeça e transmitir show da Beyoncé. Foto: Arquivo Pessoal/Eduardo Derrico

Fã desde quando a cantora integrava o grupo Destiny’s Child, Eduardo Derrico já assistiu a artista ao vivo cinco vezes, uma em 2013, em São Paulo, na última passagem dela pelo Brasil, e outras quatro nos Estados Unidos entre 2015 e 2018.

Eduardo vinha se programando para comprar ingressos para uma nova turnê desde 2021, quando se mudou oficialmente para a cidade de Paris, na França, junto com o marido.

Na época, o disco Renaissance estava longe de ser lançado, mas ele já especulava que a artista poderia lançar um álbum nos anos seguintes e, consequentemente, uma nova leva de apresentações que teria alta possibilidade de passar pela Europa.

“Estou me preparando há muito tempo, sempre tive a poupança para o show da Beyoncé, porque falei: ‘agora vou não só ver ela em vários shows, mas vou ficar na grade, na área VIP, não vou economizar”, conta.

Com isso, Eduardo comprou ingressos em setores privilegiados de cinco shows da cantora pela Europa: Estocolmo, Paris, Barcelona, na Espanha, Marselha, na França, e Amsterdã, na Holanda.

Eduardo Derrico em fila de show da turnê 'Renaissance', de Beyoncé. Foto: Arquivo Pessoal/Eduardo Derrico

Eduardo viralizou com transmissão ao vivo

Sabendo que o fotógrafo estaria presente em vários shows da turnê Renaissance, amigos de Eduardo que administram o fã-clube Beyoncé Access perguntaram se ele toparia fazer uma live e transmitir um dos shows ao vivo no perfil deles.

Ele aceitou, já que sabia que teria mais oportunidades para assistir à apresentação, mas tinha alguns empecilhos pela frente: “São três horas de show, é impossível. Nem que eu queira eu consigo ficar segurando um celular em pé por três horas”.

A solução encontrada foi comprar um suporte para telefone que fica preso na cabeça. Dessa forma, ele foi preparado para o evento, conseguiu transmitir a apresentação do início ao fim e ainda ficar “com as mãos livres para dançar”.

A live realizada pelo fã no perfil do Beyoncé Access na tarde do dia 10 de maio chegou a ter 68 mil espectadores simultâneos, conforme diz Eduardo. O número foi crescendo ao longo do show e surpreendeu ele e os administradores do fã-clube.

“Nunca podia imaginar. Eu fiz tão despretensiosamente. No fundo, achei que não ia funcionar, porque nunca tem sinal nos estádios”, revela. “Não só deu para fazer a live, como a qualidade estava fantástica”.

O fotógrafo atribui o sucesso da transmissão ao fato de ter sido o primeiro show da turnê, à gratidão de outros fãs por terem conseguido presenciar o momento de alguma forma e por ele próprio ter viralizado por ter usado o suporte de celular na cabeça.

Vídeos de Eduardo no show ganharam muito repercussão no Twitter e no TikTok. “As pessoas acharam o máximo. Acharam uma loucura o que eu estava fazendo, falaram que eu revolucionei a forma de fazer lives”, diz.

Investimento

Eduardo sabia que não iria economizar quando chegasse a hora de ver Beyoncé ao vivo. Mas ele ressalta que a situação ficou mais barata por já morar na Europa, onde a cantora atualmente circula com a turnê Renaissance.

Somente com os ingressos para os cinco shows, ele gastou cerca de 2,5 mil euros, pouco mais R$ 13 mil na cotação atual. Já com passagens de trem, avião e com hospedagem, gastou aproximadamente 700 euros, cerca de R$ 3,6 mil.

“Tudo foi pago à vista. Não pedi dinheiro emprestado. Já tinha guardado dinheiro há algum tempo para isso”, destaca o fotógrafo.

Ele também explica que a live não teve nenhum retorno financeiro, apesar de ter recebido uma proposta de publicidade de uma marca de mochilas, que preferiu não aceitar. O crescimento expressivo ocorreu no número de seguidores de suas redes sociais.

“Ganhei quase 20 mil seguidores no meu perfil pessoal [no Instagram]. A página reserva do Beyoncé Access, que é por onde a gente fez a live, ganhou 80 mil seguidores em dois dias. O perfil normal deles tinha 20 ou 30 mil seguidores antes da turnê começar, agora já estão com 300 mil”, conta.

Show de Lady Gaga

Eduardo Derrico não é o único que viralizou após transmitir o show de uma diva pop. O mesmo aconteceu com Rodrigo Batista, de 24 anos. Natural de Cuiabá, no Mato Grosso, ele reside na Alemanha desde 2020.

Em 17 de julho de 2022, ele foi compareceu à abertura da turnê The Chromatica Ball, de Lady Gaga, em Düsseldorf, na Alemanha, e realizou uma live que chegou a cerca de 22 mil espectadores simultâneos, de acordo com o jovem.

Assim como Eduardo, Rodrigo aproveitou o fato de que mora fora do País para conseguir realizar o sonho de ver sua cantora favorita ao vivo.

“Eu já tinha planejado muito antes de anunciar”, explica. “Agora que tenho a oportunidade de poder fazer isso, queria estar no primeiro show. Não estava nem me preocupando onde fosse, mas dei a sorte de ser logo no país em que eu estava”.

Rodrigo Batista na fila para entrar em show da Lady Gaga em Düsseldorf, na Alemanha. Foto: Arquivo Pessoal/ Rodrigo Batista

Em 2017, Rodrigo assistiria ao show de Lady Gaga pela primeira no Rock in Rio, mas a apresentação foi cancelada no dia anterior. O evento ficou marcado entre os fãs e pelos memes que a situação gerou na época.

“Eu venho remoendo isso como um fã, como uma pessoa que acompanhou, desde 2017. Isso alimentou mais ainda o meu desejo de focar nesse objetivo de estar no primeiro show da próxima turnê”, diz.

O jovem, que trabalha com mercado imobiliário em Berlim, comprou ingressos em uma área privilegiada do estádio. Para isso, gastou 350 euros (cerca de R$ 1,83 mil) nas entradas e 360 euros ( R$ 1,89 mil) com hospedagem e passagem até Düsseldorf.

“Eu, pessoalmente, já tenho minhas economias”, explica Rodrigo. “Quando ela anunciou a turnê, eu estava em uma situação financeira ótima, então pensei: ‘o momento é agora’”.

Live teve presença de famosos e pessoas do mundo todo

Após comprar o ingresso para o show, Rodrigo já começou a se movimentar nas redes sociais e compartilhar os seus planos para a turnê com os seus então pouco mais dois mil seguidores.

Ele afirma que se preparou para realizar a transmissão ao vivo do show e comprou carregador portátil, mas que não prometeu isso nas redes, pois não sabia se funcionaria.

“No calor da emoção, quando já estava lá, decidi abri a live. Pensei comigo: ‘vou fazer por alguns minutos e depois desligo”, lembra.

O jovem precisou sentar no chão e perder os primeiros momentos da apresentação para conectar a internet no celular. “Abri mão da minha felicidade e do primeiro contato visual para tentar conectar essa live”, diz.

“O show foi rolando e eu percebi que cada vez mais pessoas estavam entrando na live. O momento que eu mais me surpreendi foi quando começaram a entrar pessoas famosas, com perfil verificado, tipo a Gaby Amarantos. Quando eu vi, já tinham 22 mil pessoas”, conta Rodrigo.

O que era para ser uma transmissão de poucos minutos durou quase duas horas, já que Rodrigo se sentiu responsável por continuar a mostrar o show para tantas pessoas que o estavam assistindo.

“Foi difícil ficar segurando o celular, mas rolou. Eu estava sozinho no show, mas tinham outros fãs muito legais que estavam me ajudando a conectar o carregador portátil ou segurar quando meu braço estava doendo”, explica.

Ele comenta que também viu um crescimento grande em seus seguidores após a realização da live, além de ter recebido mensagens de fãs de vários lugares do mundo, como Japão, Colômbia e até Ucrânia.

Rodrigo enviou à reportagem um compilado de mensagens que recebeu após a realização da live do show da Lady Gaga. Foto: Arquivo Pessoal / Rodrigo Batista

“Não tive nenhum retorno financeiro, mas tive um grande retorno moral. As pessoas me respeitam pelo que eu fiz e, para mim, isso é suficiente. Era o que eu queria”, afirma.

Show de Taylor Swift

Enquanto Eduardo e Rodrigo viajaram pela Europa para transmitir o show de suas ídolas, também tem quem saia do Brasil para fazer um tipo de diferente de cobertura amadora, como é o caso de Rany Higa, de 31 anos.

Publicitária e moradora de São Paulo, ela foi até Tampa, no estado da Flórida, nos Estados Unidos, para acompanhar um show da turnê The Eras, de Taylor Swift, no dia 13 de abril, e compartilhou diversos registros com seus seguidores no TikTok e no Instagram.

Rany mostrou sua preparação, incluindo a criação de uma roupa com as cores do Brasil para ir ao show, os bastidores de sua viagem, os espaços dentro do estádio, incluindo preços de bebidas e as filas, além de, claro, vídeos dos apresentação.

Fã da cantora desde 2008, ela conta que sempre teve uma “poupança da Taylor Swift”, pensando justamente em viajar para ver a cantora no exterior, já que ela nunca fez shows no Brasil - isso deve mudar, já que a artista anunciou shows em São Paulo e Rio para novembro.

Ela já tinha ido a Los Angeles para assistir a dois shows de Taylor em 2018. Gostou tanto da experiência que decidiu que tentaria ir em todas as próximas turnês da cantora.

Rany precisou enfrentar cerca de 12 horas de fila virtual para garantir seu ingresso para a The Eras Tour, mas acabou conseguindo comprar uma entrada VIP para o show.

“Não era o meu plano comprar o VIP, mas no desespero era o que tinha. Você atualizava e ia sumindo [os outros setores], então no que foi eu comprei”, explica.

Rany Higa em show de Taylor Swift em Tampa, EUA. Na imagem, é possível ver a distância da jovem para o palco. Foto: Arquivo Pessoal/Rany Higa

Para isso, a publicitária precisou desembolsar cerca de 1.030 dólares apenas no ingresso. Na cotação atual, o valor chega a pouco mais de R$ 5 mil, mas na época chegava perto de R$ 6 mil.

Rany também conta que gastou cerca de R$ 4,5 mil com passagens, R$ 2,5 mil com hospedagem de 10 dias na cidade de Orlando, por onde passeou nos dias em que não foi no show, além de quase R$ 3,4 mil para alimentação e aluguel de carro dividido em cinco pessoas.

“Eu me planejo. Acho que é o que todo faz quando quer alcançar um objetivo ou conquistar alguma coisa, tirar um pouco de dinheiro e ir guardando. É o que eu faço, tenho a minha poupança de viagens da Taylor e vou guardando todo mês mesmo que não saiba quando vai ser o show”, explica.

Rany foi ‘notada’ pela equipe da cantora

Um dos vídeos que Rany postou sobre o show chegou a mais de 191 mil visualizações no TikTok. A publicação destaca o fato de que a jovem “levou” o Brasil para o local, mostrando a bandeira do País e o seu figurino para a ocasião.

A roupa chamou tanto a atenção que uma foto da brasileira foi incluída em uma publicação do Taylor Nation, perfil oficial da equipe de gerenciamento da cantora.

Depois disso, os posts de Rany ganharam um alcance ainda maior, e suas redes sociais tiveram aumento expressivo. Atualmente, ela tem 13,3 mil seguidores no Instagram e pouco mais de 4 mil no TikTok.

“Muitos fãs não conseguem estar lá e [postar] é uma maneira de ver um pouco como é, tanto que eu até mostrei a fila, a bebida, a visão do palco, para matar a curiosidade dos fãs. Sempre tem alguém transmitindo, então [queria] mostrar a experiência além do show”, diz.

Há problema em transmitir shows ao vivo?

A transmissão de shows ao vivo não fere, em princípio, as regras de uso do Instagram e do TikTok. Na maioria das grandes turnês, os artistas permitem a entrada de celulares, e é comum que vários fãs filmem e transmitam com seus aparelhos. Essas lives podem ser barradas em dois casos:

  • Se os artistas fizeram um pedido às plataformas, já que estão sendo usadas a imagem e as obras deles. Mas isso não é comum, já que eles buscam o contrário: a divulgação da turnê nas redes.
  • Se o show tiver um show com contrato exclusivo de transmissão ao vivo. Foi o caso da apresentação de Anitta no final da Champions League, por exemplo. Neste caso, a pedido dos detentores dos direitos, costumam ser derrubadas outras transmissões do evento. Não é o caso dos citados aqui.

O Estadão conversou com as assessorias de imprensa do TikTok e do Instagram, que confirmaram as informações.

De acordo com a advogada Fernanda Rosa Picosse, especialista em direitos autorais e de entretenimento, a questão dos fins lucrativos também deve receber atenção quando se trata deste assunto.

Uma live pode ter mais chances de ser derrubada caso tenha a intenção de ganhar financeiramente de alguma forma - o que não aconteceu nos casos acima.

Fernanda também explica que é mais fácil que o conteúdo de um show não seja derrubado caso seja feito “em pedaços”, ou seja, não transmitir a apresentação completa. Eduardo e Rodrigo, contudo, filmaram os shows de Beyoncé e Lady Gaga com apenas breves interrupções e não tiveram problemas.

*Estagiária sob supervisão de Charlise Morais

Quando Beyoncé anunciou a turnê Renaissance em fevereiro de 2023, Eduardo Derrico, fotógrafo de 32 anos, já sabia que iria em pelo menos mais de um show da artista.

O que ele não esperava era que a transmissão ao vivo que realizou da abertura da turnê diretamente de Estocolmo, na Suécia, chegasse a cerca de 68 mil espectadores simultâneos.

Eduardo participou de um fenômeno crescente: transmissões amadoras de megaturnês por pessoas da plateia no Instagram e no TikTok. De carona no interesse pelos popstars, os fãs que transmitem também ficam famosinhos por 15 minutos (ou enquanto durar o show). Veja neste texto histórias:

  • do fã de Beyoncé que economizou por dois anos, gastou cerca de R$ 17 mil para ir aos shows e viralizou não só pelos milhares de espectadores da live, mas também pelo celular na cabeça;
  • do fã de Lady Gaga que esperou seis anos por um show e conseguiu fazer uma transmissão para 22 mil pessoas, incluindo famosos e outros fanáticos pela cantora do Equador à Ucrânia;
  • da fã de Taylor Swift que gastou cerca de R$ 17,5 mil, ficou 12 horas na fila virtual por uma entrada VIP, fez vídeo com quase 200 mil views no TikTok e foi notada pela equipe da cantora.
Eduardo Derrico, fotógrafo de 34 anos, comprou suporte para celular para usar na cabeça e transmitir show da Beyoncé. Foto: Arquivo Pessoal/Eduardo Derrico

Fã desde quando a cantora integrava o grupo Destiny’s Child, Eduardo Derrico já assistiu a artista ao vivo cinco vezes, uma em 2013, em São Paulo, na última passagem dela pelo Brasil, e outras quatro nos Estados Unidos entre 2015 e 2018.

Eduardo vinha se programando para comprar ingressos para uma nova turnê desde 2021, quando se mudou oficialmente para a cidade de Paris, na França, junto com o marido.

Na época, o disco Renaissance estava longe de ser lançado, mas ele já especulava que a artista poderia lançar um álbum nos anos seguintes e, consequentemente, uma nova leva de apresentações que teria alta possibilidade de passar pela Europa.

“Estou me preparando há muito tempo, sempre tive a poupança para o show da Beyoncé, porque falei: ‘agora vou não só ver ela em vários shows, mas vou ficar na grade, na área VIP, não vou economizar”, conta.

Com isso, Eduardo comprou ingressos em setores privilegiados de cinco shows da cantora pela Europa: Estocolmo, Paris, Barcelona, na Espanha, Marselha, na França, e Amsterdã, na Holanda.

Eduardo Derrico em fila de show da turnê 'Renaissance', de Beyoncé. Foto: Arquivo Pessoal/Eduardo Derrico

Eduardo viralizou com transmissão ao vivo

Sabendo que o fotógrafo estaria presente em vários shows da turnê Renaissance, amigos de Eduardo que administram o fã-clube Beyoncé Access perguntaram se ele toparia fazer uma live e transmitir um dos shows ao vivo no perfil deles.

Ele aceitou, já que sabia que teria mais oportunidades para assistir à apresentação, mas tinha alguns empecilhos pela frente: “São três horas de show, é impossível. Nem que eu queira eu consigo ficar segurando um celular em pé por três horas”.

A solução encontrada foi comprar um suporte para telefone que fica preso na cabeça. Dessa forma, ele foi preparado para o evento, conseguiu transmitir a apresentação do início ao fim e ainda ficar “com as mãos livres para dançar”.

A live realizada pelo fã no perfil do Beyoncé Access na tarde do dia 10 de maio chegou a ter 68 mil espectadores simultâneos, conforme diz Eduardo. O número foi crescendo ao longo do show e surpreendeu ele e os administradores do fã-clube.

“Nunca podia imaginar. Eu fiz tão despretensiosamente. No fundo, achei que não ia funcionar, porque nunca tem sinal nos estádios”, revela. “Não só deu para fazer a live, como a qualidade estava fantástica”.

O fotógrafo atribui o sucesso da transmissão ao fato de ter sido o primeiro show da turnê, à gratidão de outros fãs por terem conseguido presenciar o momento de alguma forma e por ele próprio ter viralizado por ter usado o suporte de celular na cabeça.

Vídeos de Eduardo no show ganharam muito repercussão no Twitter e no TikTok. “As pessoas acharam o máximo. Acharam uma loucura o que eu estava fazendo, falaram que eu revolucionei a forma de fazer lives”, diz.

Investimento

Eduardo sabia que não iria economizar quando chegasse a hora de ver Beyoncé ao vivo. Mas ele ressalta que a situação ficou mais barata por já morar na Europa, onde a cantora atualmente circula com a turnê Renaissance.

Somente com os ingressos para os cinco shows, ele gastou cerca de 2,5 mil euros, pouco mais R$ 13 mil na cotação atual. Já com passagens de trem, avião e com hospedagem, gastou aproximadamente 700 euros, cerca de R$ 3,6 mil.

“Tudo foi pago à vista. Não pedi dinheiro emprestado. Já tinha guardado dinheiro há algum tempo para isso”, destaca o fotógrafo.

Ele também explica que a live não teve nenhum retorno financeiro, apesar de ter recebido uma proposta de publicidade de uma marca de mochilas, que preferiu não aceitar. O crescimento expressivo ocorreu no número de seguidores de suas redes sociais.

“Ganhei quase 20 mil seguidores no meu perfil pessoal [no Instagram]. A página reserva do Beyoncé Access, que é por onde a gente fez a live, ganhou 80 mil seguidores em dois dias. O perfil normal deles tinha 20 ou 30 mil seguidores antes da turnê começar, agora já estão com 300 mil”, conta.

Show de Lady Gaga

Eduardo Derrico não é o único que viralizou após transmitir o show de uma diva pop. O mesmo aconteceu com Rodrigo Batista, de 24 anos. Natural de Cuiabá, no Mato Grosso, ele reside na Alemanha desde 2020.

Em 17 de julho de 2022, ele foi compareceu à abertura da turnê The Chromatica Ball, de Lady Gaga, em Düsseldorf, na Alemanha, e realizou uma live que chegou a cerca de 22 mil espectadores simultâneos, de acordo com o jovem.

Assim como Eduardo, Rodrigo aproveitou o fato de que mora fora do País para conseguir realizar o sonho de ver sua cantora favorita ao vivo.

“Eu já tinha planejado muito antes de anunciar”, explica. “Agora que tenho a oportunidade de poder fazer isso, queria estar no primeiro show. Não estava nem me preocupando onde fosse, mas dei a sorte de ser logo no país em que eu estava”.

Rodrigo Batista na fila para entrar em show da Lady Gaga em Düsseldorf, na Alemanha. Foto: Arquivo Pessoal/ Rodrigo Batista

Em 2017, Rodrigo assistiria ao show de Lady Gaga pela primeira no Rock in Rio, mas a apresentação foi cancelada no dia anterior. O evento ficou marcado entre os fãs e pelos memes que a situação gerou na época.

“Eu venho remoendo isso como um fã, como uma pessoa que acompanhou, desde 2017. Isso alimentou mais ainda o meu desejo de focar nesse objetivo de estar no primeiro show da próxima turnê”, diz.

O jovem, que trabalha com mercado imobiliário em Berlim, comprou ingressos em uma área privilegiada do estádio. Para isso, gastou 350 euros (cerca de R$ 1,83 mil) nas entradas e 360 euros ( R$ 1,89 mil) com hospedagem e passagem até Düsseldorf.

“Eu, pessoalmente, já tenho minhas economias”, explica Rodrigo. “Quando ela anunciou a turnê, eu estava em uma situação financeira ótima, então pensei: ‘o momento é agora’”.

Live teve presença de famosos e pessoas do mundo todo

Após comprar o ingresso para o show, Rodrigo já começou a se movimentar nas redes sociais e compartilhar os seus planos para a turnê com os seus então pouco mais dois mil seguidores.

Ele afirma que se preparou para realizar a transmissão ao vivo do show e comprou carregador portátil, mas que não prometeu isso nas redes, pois não sabia se funcionaria.

“No calor da emoção, quando já estava lá, decidi abri a live. Pensei comigo: ‘vou fazer por alguns minutos e depois desligo”, lembra.

O jovem precisou sentar no chão e perder os primeiros momentos da apresentação para conectar a internet no celular. “Abri mão da minha felicidade e do primeiro contato visual para tentar conectar essa live”, diz.

“O show foi rolando e eu percebi que cada vez mais pessoas estavam entrando na live. O momento que eu mais me surpreendi foi quando começaram a entrar pessoas famosas, com perfil verificado, tipo a Gaby Amarantos. Quando eu vi, já tinham 22 mil pessoas”, conta Rodrigo.

O que era para ser uma transmissão de poucos minutos durou quase duas horas, já que Rodrigo se sentiu responsável por continuar a mostrar o show para tantas pessoas que o estavam assistindo.

“Foi difícil ficar segurando o celular, mas rolou. Eu estava sozinho no show, mas tinham outros fãs muito legais que estavam me ajudando a conectar o carregador portátil ou segurar quando meu braço estava doendo”, explica.

Ele comenta que também viu um crescimento grande em seus seguidores após a realização da live, além de ter recebido mensagens de fãs de vários lugares do mundo, como Japão, Colômbia e até Ucrânia.

Rodrigo enviou à reportagem um compilado de mensagens que recebeu após a realização da live do show da Lady Gaga. Foto: Arquivo Pessoal / Rodrigo Batista

“Não tive nenhum retorno financeiro, mas tive um grande retorno moral. As pessoas me respeitam pelo que eu fiz e, para mim, isso é suficiente. Era o que eu queria”, afirma.

Show de Taylor Swift

Enquanto Eduardo e Rodrigo viajaram pela Europa para transmitir o show de suas ídolas, também tem quem saia do Brasil para fazer um tipo de diferente de cobertura amadora, como é o caso de Rany Higa, de 31 anos.

Publicitária e moradora de São Paulo, ela foi até Tampa, no estado da Flórida, nos Estados Unidos, para acompanhar um show da turnê The Eras, de Taylor Swift, no dia 13 de abril, e compartilhou diversos registros com seus seguidores no TikTok e no Instagram.

Rany mostrou sua preparação, incluindo a criação de uma roupa com as cores do Brasil para ir ao show, os bastidores de sua viagem, os espaços dentro do estádio, incluindo preços de bebidas e as filas, além de, claro, vídeos dos apresentação.

Fã da cantora desde 2008, ela conta que sempre teve uma “poupança da Taylor Swift”, pensando justamente em viajar para ver a cantora no exterior, já que ela nunca fez shows no Brasil - isso deve mudar, já que a artista anunciou shows em São Paulo e Rio para novembro.

Ela já tinha ido a Los Angeles para assistir a dois shows de Taylor em 2018. Gostou tanto da experiência que decidiu que tentaria ir em todas as próximas turnês da cantora.

Rany precisou enfrentar cerca de 12 horas de fila virtual para garantir seu ingresso para a The Eras Tour, mas acabou conseguindo comprar uma entrada VIP para o show.

“Não era o meu plano comprar o VIP, mas no desespero era o que tinha. Você atualizava e ia sumindo [os outros setores], então no que foi eu comprei”, explica.

Rany Higa em show de Taylor Swift em Tampa, EUA. Na imagem, é possível ver a distância da jovem para o palco. Foto: Arquivo Pessoal/Rany Higa

Para isso, a publicitária precisou desembolsar cerca de 1.030 dólares apenas no ingresso. Na cotação atual, o valor chega a pouco mais de R$ 5 mil, mas na época chegava perto de R$ 6 mil.

Rany também conta que gastou cerca de R$ 4,5 mil com passagens, R$ 2,5 mil com hospedagem de 10 dias na cidade de Orlando, por onde passeou nos dias em que não foi no show, além de quase R$ 3,4 mil para alimentação e aluguel de carro dividido em cinco pessoas.

“Eu me planejo. Acho que é o que todo faz quando quer alcançar um objetivo ou conquistar alguma coisa, tirar um pouco de dinheiro e ir guardando. É o que eu faço, tenho a minha poupança de viagens da Taylor e vou guardando todo mês mesmo que não saiba quando vai ser o show”, explica.

Rany foi ‘notada’ pela equipe da cantora

Um dos vídeos que Rany postou sobre o show chegou a mais de 191 mil visualizações no TikTok. A publicação destaca o fato de que a jovem “levou” o Brasil para o local, mostrando a bandeira do País e o seu figurino para a ocasião.

A roupa chamou tanto a atenção que uma foto da brasileira foi incluída em uma publicação do Taylor Nation, perfil oficial da equipe de gerenciamento da cantora.

Depois disso, os posts de Rany ganharam um alcance ainda maior, e suas redes sociais tiveram aumento expressivo. Atualmente, ela tem 13,3 mil seguidores no Instagram e pouco mais de 4 mil no TikTok.

“Muitos fãs não conseguem estar lá e [postar] é uma maneira de ver um pouco como é, tanto que eu até mostrei a fila, a bebida, a visão do palco, para matar a curiosidade dos fãs. Sempre tem alguém transmitindo, então [queria] mostrar a experiência além do show”, diz.

Há problema em transmitir shows ao vivo?

A transmissão de shows ao vivo não fere, em princípio, as regras de uso do Instagram e do TikTok. Na maioria das grandes turnês, os artistas permitem a entrada de celulares, e é comum que vários fãs filmem e transmitam com seus aparelhos. Essas lives podem ser barradas em dois casos:

  • Se os artistas fizeram um pedido às plataformas, já que estão sendo usadas a imagem e as obras deles. Mas isso não é comum, já que eles buscam o contrário: a divulgação da turnê nas redes.
  • Se o show tiver um show com contrato exclusivo de transmissão ao vivo. Foi o caso da apresentação de Anitta no final da Champions League, por exemplo. Neste caso, a pedido dos detentores dos direitos, costumam ser derrubadas outras transmissões do evento. Não é o caso dos citados aqui.

O Estadão conversou com as assessorias de imprensa do TikTok e do Instagram, que confirmaram as informações.

De acordo com a advogada Fernanda Rosa Picosse, especialista em direitos autorais e de entretenimento, a questão dos fins lucrativos também deve receber atenção quando se trata deste assunto.

Uma live pode ter mais chances de ser derrubada caso tenha a intenção de ganhar financeiramente de alguma forma - o que não aconteceu nos casos acima.

Fernanda também explica que é mais fácil que o conteúdo de um show não seja derrubado caso seja feito “em pedaços”, ou seja, não transmitir a apresentação completa. Eduardo e Rodrigo, contudo, filmaram os shows de Beyoncé e Lady Gaga com apenas breves interrupções e não tiveram problemas.

*Estagiária sob supervisão de Charlise Morais

Quando Beyoncé anunciou a turnê Renaissance em fevereiro de 2023, Eduardo Derrico, fotógrafo de 32 anos, já sabia que iria em pelo menos mais de um show da artista.

O que ele não esperava era que a transmissão ao vivo que realizou da abertura da turnê diretamente de Estocolmo, na Suécia, chegasse a cerca de 68 mil espectadores simultâneos.

Eduardo participou de um fenômeno crescente: transmissões amadoras de megaturnês por pessoas da plateia no Instagram e no TikTok. De carona no interesse pelos popstars, os fãs que transmitem também ficam famosinhos por 15 minutos (ou enquanto durar o show). Veja neste texto histórias:

  • do fã de Beyoncé que economizou por dois anos, gastou cerca de R$ 17 mil para ir aos shows e viralizou não só pelos milhares de espectadores da live, mas também pelo celular na cabeça;
  • do fã de Lady Gaga que esperou seis anos por um show e conseguiu fazer uma transmissão para 22 mil pessoas, incluindo famosos e outros fanáticos pela cantora do Equador à Ucrânia;
  • da fã de Taylor Swift que gastou cerca de R$ 17,5 mil, ficou 12 horas na fila virtual por uma entrada VIP, fez vídeo com quase 200 mil views no TikTok e foi notada pela equipe da cantora.
Eduardo Derrico, fotógrafo de 34 anos, comprou suporte para celular para usar na cabeça e transmitir show da Beyoncé. Foto: Arquivo Pessoal/Eduardo Derrico

Fã desde quando a cantora integrava o grupo Destiny’s Child, Eduardo Derrico já assistiu a artista ao vivo cinco vezes, uma em 2013, em São Paulo, na última passagem dela pelo Brasil, e outras quatro nos Estados Unidos entre 2015 e 2018.

Eduardo vinha se programando para comprar ingressos para uma nova turnê desde 2021, quando se mudou oficialmente para a cidade de Paris, na França, junto com o marido.

Na época, o disco Renaissance estava longe de ser lançado, mas ele já especulava que a artista poderia lançar um álbum nos anos seguintes e, consequentemente, uma nova leva de apresentações que teria alta possibilidade de passar pela Europa.

“Estou me preparando há muito tempo, sempre tive a poupança para o show da Beyoncé, porque falei: ‘agora vou não só ver ela em vários shows, mas vou ficar na grade, na área VIP, não vou economizar”, conta.

Com isso, Eduardo comprou ingressos em setores privilegiados de cinco shows da cantora pela Europa: Estocolmo, Paris, Barcelona, na Espanha, Marselha, na França, e Amsterdã, na Holanda.

Eduardo Derrico em fila de show da turnê 'Renaissance', de Beyoncé. Foto: Arquivo Pessoal/Eduardo Derrico

Eduardo viralizou com transmissão ao vivo

Sabendo que o fotógrafo estaria presente em vários shows da turnê Renaissance, amigos de Eduardo que administram o fã-clube Beyoncé Access perguntaram se ele toparia fazer uma live e transmitir um dos shows ao vivo no perfil deles.

Ele aceitou, já que sabia que teria mais oportunidades para assistir à apresentação, mas tinha alguns empecilhos pela frente: “São três horas de show, é impossível. Nem que eu queira eu consigo ficar segurando um celular em pé por três horas”.

A solução encontrada foi comprar um suporte para telefone que fica preso na cabeça. Dessa forma, ele foi preparado para o evento, conseguiu transmitir a apresentação do início ao fim e ainda ficar “com as mãos livres para dançar”.

A live realizada pelo fã no perfil do Beyoncé Access na tarde do dia 10 de maio chegou a ter 68 mil espectadores simultâneos, conforme diz Eduardo. O número foi crescendo ao longo do show e surpreendeu ele e os administradores do fã-clube.

“Nunca podia imaginar. Eu fiz tão despretensiosamente. No fundo, achei que não ia funcionar, porque nunca tem sinal nos estádios”, revela. “Não só deu para fazer a live, como a qualidade estava fantástica”.

O fotógrafo atribui o sucesso da transmissão ao fato de ter sido o primeiro show da turnê, à gratidão de outros fãs por terem conseguido presenciar o momento de alguma forma e por ele próprio ter viralizado por ter usado o suporte de celular na cabeça.

Vídeos de Eduardo no show ganharam muito repercussão no Twitter e no TikTok. “As pessoas acharam o máximo. Acharam uma loucura o que eu estava fazendo, falaram que eu revolucionei a forma de fazer lives”, diz.

Investimento

Eduardo sabia que não iria economizar quando chegasse a hora de ver Beyoncé ao vivo. Mas ele ressalta que a situação ficou mais barata por já morar na Europa, onde a cantora atualmente circula com a turnê Renaissance.

Somente com os ingressos para os cinco shows, ele gastou cerca de 2,5 mil euros, pouco mais R$ 13 mil na cotação atual. Já com passagens de trem, avião e com hospedagem, gastou aproximadamente 700 euros, cerca de R$ 3,6 mil.

“Tudo foi pago à vista. Não pedi dinheiro emprestado. Já tinha guardado dinheiro há algum tempo para isso”, destaca o fotógrafo.

Ele também explica que a live não teve nenhum retorno financeiro, apesar de ter recebido uma proposta de publicidade de uma marca de mochilas, que preferiu não aceitar. O crescimento expressivo ocorreu no número de seguidores de suas redes sociais.

“Ganhei quase 20 mil seguidores no meu perfil pessoal [no Instagram]. A página reserva do Beyoncé Access, que é por onde a gente fez a live, ganhou 80 mil seguidores em dois dias. O perfil normal deles tinha 20 ou 30 mil seguidores antes da turnê começar, agora já estão com 300 mil”, conta.

Show de Lady Gaga

Eduardo Derrico não é o único que viralizou após transmitir o show de uma diva pop. O mesmo aconteceu com Rodrigo Batista, de 24 anos. Natural de Cuiabá, no Mato Grosso, ele reside na Alemanha desde 2020.

Em 17 de julho de 2022, ele foi compareceu à abertura da turnê The Chromatica Ball, de Lady Gaga, em Düsseldorf, na Alemanha, e realizou uma live que chegou a cerca de 22 mil espectadores simultâneos, de acordo com o jovem.

Assim como Eduardo, Rodrigo aproveitou o fato de que mora fora do País para conseguir realizar o sonho de ver sua cantora favorita ao vivo.

“Eu já tinha planejado muito antes de anunciar”, explica. “Agora que tenho a oportunidade de poder fazer isso, queria estar no primeiro show. Não estava nem me preocupando onde fosse, mas dei a sorte de ser logo no país em que eu estava”.

Rodrigo Batista na fila para entrar em show da Lady Gaga em Düsseldorf, na Alemanha. Foto: Arquivo Pessoal/ Rodrigo Batista

Em 2017, Rodrigo assistiria ao show de Lady Gaga pela primeira no Rock in Rio, mas a apresentação foi cancelada no dia anterior. O evento ficou marcado entre os fãs e pelos memes que a situação gerou na época.

“Eu venho remoendo isso como um fã, como uma pessoa que acompanhou, desde 2017. Isso alimentou mais ainda o meu desejo de focar nesse objetivo de estar no primeiro show da próxima turnê”, diz.

O jovem, que trabalha com mercado imobiliário em Berlim, comprou ingressos em uma área privilegiada do estádio. Para isso, gastou 350 euros (cerca de R$ 1,83 mil) nas entradas e 360 euros ( R$ 1,89 mil) com hospedagem e passagem até Düsseldorf.

“Eu, pessoalmente, já tenho minhas economias”, explica Rodrigo. “Quando ela anunciou a turnê, eu estava em uma situação financeira ótima, então pensei: ‘o momento é agora’”.

Live teve presença de famosos e pessoas do mundo todo

Após comprar o ingresso para o show, Rodrigo já começou a se movimentar nas redes sociais e compartilhar os seus planos para a turnê com os seus então pouco mais dois mil seguidores.

Ele afirma que se preparou para realizar a transmissão ao vivo do show e comprou carregador portátil, mas que não prometeu isso nas redes, pois não sabia se funcionaria.

“No calor da emoção, quando já estava lá, decidi abri a live. Pensei comigo: ‘vou fazer por alguns minutos e depois desligo”, lembra.

O jovem precisou sentar no chão e perder os primeiros momentos da apresentação para conectar a internet no celular. “Abri mão da minha felicidade e do primeiro contato visual para tentar conectar essa live”, diz.

“O show foi rolando e eu percebi que cada vez mais pessoas estavam entrando na live. O momento que eu mais me surpreendi foi quando começaram a entrar pessoas famosas, com perfil verificado, tipo a Gaby Amarantos. Quando eu vi, já tinham 22 mil pessoas”, conta Rodrigo.

O que era para ser uma transmissão de poucos minutos durou quase duas horas, já que Rodrigo se sentiu responsável por continuar a mostrar o show para tantas pessoas que o estavam assistindo.

“Foi difícil ficar segurando o celular, mas rolou. Eu estava sozinho no show, mas tinham outros fãs muito legais que estavam me ajudando a conectar o carregador portátil ou segurar quando meu braço estava doendo”, explica.

Ele comenta que também viu um crescimento grande em seus seguidores após a realização da live, além de ter recebido mensagens de fãs de vários lugares do mundo, como Japão, Colômbia e até Ucrânia.

Rodrigo enviou à reportagem um compilado de mensagens que recebeu após a realização da live do show da Lady Gaga. Foto: Arquivo Pessoal / Rodrigo Batista

“Não tive nenhum retorno financeiro, mas tive um grande retorno moral. As pessoas me respeitam pelo que eu fiz e, para mim, isso é suficiente. Era o que eu queria”, afirma.

Show de Taylor Swift

Enquanto Eduardo e Rodrigo viajaram pela Europa para transmitir o show de suas ídolas, também tem quem saia do Brasil para fazer um tipo de diferente de cobertura amadora, como é o caso de Rany Higa, de 31 anos.

Publicitária e moradora de São Paulo, ela foi até Tampa, no estado da Flórida, nos Estados Unidos, para acompanhar um show da turnê The Eras, de Taylor Swift, no dia 13 de abril, e compartilhou diversos registros com seus seguidores no TikTok e no Instagram.

Rany mostrou sua preparação, incluindo a criação de uma roupa com as cores do Brasil para ir ao show, os bastidores de sua viagem, os espaços dentro do estádio, incluindo preços de bebidas e as filas, além de, claro, vídeos dos apresentação.

Fã da cantora desde 2008, ela conta que sempre teve uma “poupança da Taylor Swift”, pensando justamente em viajar para ver a cantora no exterior, já que ela nunca fez shows no Brasil - isso deve mudar, já que a artista anunciou shows em São Paulo e Rio para novembro.

Ela já tinha ido a Los Angeles para assistir a dois shows de Taylor em 2018. Gostou tanto da experiência que decidiu que tentaria ir em todas as próximas turnês da cantora.

Rany precisou enfrentar cerca de 12 horas de fila virtual para garantir seu ingresso para a The Eras Tour, mas acabou conseguindo comprar uma entrada VIP para o show.

“Não era o meu plano comprar o VIP, mas no desespero era o que tinha. Você atualizava e ia sumindo [os outros setores], então no que foi eu comprei”, explica.

Rany Higa em show de Taylor Swift em Tampa, EUA. Na imagem, é possível ver a distância da jovem para o palco. Foto: Arquivo Pessoal/Rany Higa

Para isso, a publicitária precisou desembolsar cerca de 1.030 dólares apenas no ingresso. Na cotação atual, o valor chega a pouco mais de R$ 5 mil, mas na época chegava perto de R$ 6 mil.

Rany também conta que gastou cerca de R$ 4,5 mil com passagens, R$ 2,5 mil com hospedagem de 10 dias na cidade de Orlando, por onde passeou nos dias em que não foi no show, além de quase R$ 3,4 mil para alimentação e aluguel de carro dividido em cinco pessoas.

“Eu me planejo. Acho que é o que todo faz quando quer alcançar um objetivo ou conquistar alguma coisa, tirar um pouco de dinheiro e ir guardando. É o que eu faço, tenho a minha poupança de viagens da Taylor e vou guardando todo mês mesmo que não saiba quando vai ser o show”, explica.

Rany foi ‘notada’ pela equipe da cantora

Um dos vídeos que Rany postou sobre o show chegou a mais de 191 mil visualizações no TikTok. A publicação destaca o fato de que a jovem “levou” o Brasil para o local, mostrando a bandeira do País e o seu figurino para a ocasião.

A roupa chamou tanto a atenção que uma foto da brasileira foi incluída em uma publicação do Taylor Nation, perfil oficial da equipe de gerenciamento da cantora.

Depois disso, os posts de Rany ganharam um alcance ainda maior, e suas redes sociais tiveram aumento expressivo. Atualmente, ela tem 13,3 mil seguidores no Instagram e pouco mais de 4 mil no TikTok.

“Muitos fãs não conseguem estar lá e [postar] é uma maneira de ver um pouco como é, tanto que eu até mostrei a fila, a bebida, a visão do palco, para matar a curiosidade dos fãs. Sempre tem alguém transmitindo, então [queria] mostrar a experiência além do show”, diz.

Há problema em transmitir shows ao vivo?

A transmissão de shows ao vivo não fere, em princípio, as regras de uso do Instagram e do TikTok. Na maioria das grandes turnês, os artistas permitem a entrada de celulares, e é comum que vários fãs filmem e transmitam com seus aparelhos. Essas lives podem ser barradas em dois casos:

  • Se os artistas fizeram um pedido às plataformas, já que estão sendo usadas a imagem e as obras deles. Mas isso não é comum, já que eles buscam o contrário: a divulgação da turnê nas redes.
  • Se o show tiver um show com contrato exclusivo de transmissão ao vivo. Foi o caso da apresentação de Anitta no final da Champions League, por exemplo. Neste caso, a pedido dos detentores dos direitos, costumam ser derrubadas outras transmissões do evento. Não é o caso dos citados aqui.

O Estadão conversou com as assessorias de imprensa do TikTok e do Instagram, que confirmaram as informações.

De acordo com a advogada Fernanda Rosa Picosse, especialista em direitos autorais e de entretenimento, a questão dos fins lucrativos também deve receber atenção quando se trata deste assunto.

Uma live pode ter mais chances de ser derrubada caso tenha a intenção de ganhar financeiramente de alguma forma - o que não aconteceu nos casos acima.

Fernanda também explica que é mais fácil que o conteúdo de um show não seja derrubado caso seja feito “em pedaços”, ou seja, não transmitir a apresentação completa. Eduardo e Rodrigo, contudo, filmaram os shows de Beyoncé e Lady Gaga com apenas breves interrupções e não tiveram problemas.

*Estagiária sob supervisão de Charlise Morais

Quando Beyoncé anunciou a turnê Renaissance em fevereiro de 2023, Eduardo Derrico, fotógrafo de 32 anos, já sabia que iria em pelo menos mais de um show da artista.

O que ele não esperava era que a transmissão ao vivo que realizou da abertura da turnê diretamente de Estocolmo, na Suécia, chegasse a cerca de 68 mil espectadores simultâneos.

Eduardo participou de um fenômeno crescente: transmissões amadoras de megaturnês por pessoas da plateia no Instagram e no TikTok. De carona no interesse pelos popstars, os fãs que transmitem também ficam famosinhos por 15 minutos (ou enquanto durar o show). Veja neste texto histórias:

  • do fã de Beyoncé que economizou por dois anos, gastou cerca de R$ 17 mil para ir aos shows e viralizou não só pelos milhares de espectadores da live, mas também pelo celular na cabeça;
  • do fã de Lady Gaga que esperou seis anos por um show e conseguiu fazer uma transmissão para 22 mil pessoas, incluindo famosos e outros fanáticos pela cantora do Equador à Ucrânia;
  • da fã de Taylor Swift que gastou cerca de R$ 17,5 mil, ficou 12 horas na fila virtual por uma entrada VIP, fez vídeo com quase 200 mil views no TikTok e foi notada pela equipe da cantora.
Eduardo Derrico, fotógrafo de 34 anos, comprou suporte para celular para usar na cabeça e transmitir show da Beyoncé. Foto: Arquivo Pessoal/Eduardo Derrico

Fã desde quando a cantora integrava o grupo Destiny’s Child, Eduardo Derrico já assistiu a artista ao vivo cinco vezes, uma em 2013, em São Paulo, na última passagem dela pelo Brasil, e outras quatro nos Estados Unidos entre 2015 e 2018.

Eduardo vinha se programando para comprar ingressos para uma nova turnê desde 2021, quando se mudou oficialmente para a cidade de Paris, na França, junto com o marido.

Na época, o disco Renaissance estava longe de ser lançado, mas ele já especulava que a artista poderia lançar um álbum nos anos seguintes e, consequentemente, uma nova leva de apresentações que teria alta possibilidade de passar pela Europa.

“Estou me preparando há muito tempo, sempre tive a poupança para o show da Beyoncé, porque falei: ‘agora vou não só ver ela em vários shows, mas vou ficar na grade, na área VIP, não vou economizar”, conta.

Com isso, Eduardo comprou ingressos em setores privilegiados de cinco shows da cantora pela Europa: Estocolmo, Paris, Barcelona, na Espanha, Marselha, na França, e Amsterdã, na Holanda.

Eduardo Derrico em fila de show da turnê 'Renaissance', de Beyoncé. Foto: Arquivo Pessoal/Eduardo Derrico

Eduardo viralizou com transmissão ao vivo

Sabendo que o fotógrafo estaria presente em vários shows da turnê Renaissance, amigos de Eduardo que administram o fã-clube Beyoncé Access perguntaram se ele toparia fazer uma live e transmitir um dos shows ao vivo no perfil deles.

Ele aceitou, já que sabia que teria mais oportunidades para assistir à apresentação, mas tinha alguns empecilhos pela frente: “São três horas de show, é impossível. Nem que eu queira eu consigo ficar segurando um celular em pé por três horas”.

A solução encontrada foi comprar um suporte para telefone que fica preso na cabeça. Dessa forma, ele foi preparado para o evento, conseguiu transmitir a apresentação do início ao fim e ainda ficar “com as mãos livres para dançar”.

A live realizada pelo fã no perfil do Beyoncé Access na tarde do dia 10 de maio chegou a ter 68 mil espectadores simultâneos, conforme diz Eduardo. O número foi crescendo ao longo do show e surpreendeu ele e os administradores do fã-clube.

“Nunca podia imaginar. Eu fiz tão despretensiosamente. No fundo, achei que não ia funcionar, porque nunca tem sinal nos estádios”, revela. “Não só deu para fazer a live, como a qualidade estava fantástica”.

O fotógrafo atribui o sucesso da transmissão ao fato de ter sido o primeiro show da turnê, à gratidão de outros fãs por terem conseguido presenciar o momento de alguma forma e por ele próprio ter viralizado por ter usado o suporte de celular na cabeça.

Vídeos de Eduardo no show ganharam muito repercussão no Twitter e no TikTok. “As pessoas acharam o máximo. Acharam uma loucura o que eu estava fazendo, falaram que eu revolucionei a forma de fazer lives”, diz.

Investimento

Eduardo sabia que não iria economizar quando chegasse a hora de ver Beyoncé ao vivo. Mas ele ressalta que a situação ficou mais barata por já morar na Europa, onde a cantora atualmente circula com a turnê Renaissance.

Somente com os ingressos para os cinco shows, ele gastou cerca de 2,5 mil euros, pouco mais R$ 13 mil na cotação atual. Já com passagens de trem, avião e com hospedagem, gastou aproximadamente 700 euros, cerca de R$ 3,6 mil.

“Tudo foi pago à vista. Não pedi dinheiro emprestado. Já tinha guardado dinheiro há algum tempo para isso”, destaca o fotógrafo.

Ele também explica que a live não teve nenhum retorno financeiro, apesar de ter recebido uma proposta de publicidade de uma marca de mochilas, que preferiu não aceitar. O crescimento expressivo ocorreu no número de seguidores de suas redes sociais.

“Ganhei quase 20 mil seguidores no meu perfil pessoal [no Instagram]. A página reserva do Beyoncé Access, que é por onde a gente fez a live, ganhou 80 mil seguidores em dois dias. O perfil normal deles tinha 20 ou 30 mil seguidores antes da turnê começar, agora já estão com 300 mil”, conta.

Show de Lady Gaga

Eduardo Derrico não é o único que viralizou após transmitir o show de uma diva pop. O mesmo aconteceu com Rodrigo Batista, de 24 anos. Natural de Cuiabá, no Mato Grosso, ele reside na Alemanha desde 2020.

Em 17 de julho de 2022, ele foi compareceu à abertura da turnê The Chromatica Ball, de Lady Gaga, em Düsseldorf, na Alemanha, e realizou uma live que chegou a cerca de 22 mil espectadores simultâneos, de acordo com o jovem.

Assim como Eduardo, Rodrigo aproveitou o fato de que mora fora do País para conseguir realizar o sonho de ver sua cantora favorita ao vivo.

“Eu já tinha planejado muito antes de anunciar”, explica. “Agora que tenho a oportunidade de poder fazer isso, queria estar no primeiro show. Não estava nem me preocupando onde fosse, mas dei a sorte de ser logo no país em que eu estava”.

Rodrigo Batista na fila para entrar em show da Lady Gaga em Düsseldorf, na Alemanha. Foto: Arquivo Pessoal/ Rodrigo Batista

Em 2017, Rodrigo assistiria ao show de Lady Gaga pela primeira no Rock in Rio, mas a apresentação foi cancelada no dia anterior. O evento ficou marcado entre os fãs e pelos memes que a situação gerou na época.

“Eu venho remoendo isso como um fã, como uma pessoa que acompanhou, desde 2017. Isso alimentou mais ainda o meu desejo de focar nesse objetivo de estar no primeiro show da próxima turnê”, diz.

O jovem, que trabalha com mercado imobiliário em Berlim, comprou ingressos em uma área privilegiada do estádio. Para isso, gastou 350 euros (cerca de R$ 1,83 mil) nas entradas e 360 euros ( R$ 1,89 mil) com hospedagem e passagem até Düsseldorf.

“Eu, pessoalmente, já tenho minhas economias”, explica Rodrigo. “Quando ela anunciou a turnê, eu estava em uma situação financeira ótima, então pensei: ‘o momento é agora’”.

Live teve presença de famosos e pessoas do mundo todo

Após comprar o ingresso para o show, Rodrigo já começou a se movimentar nas redes sociais e compartilhar os seus planos para a turnê com os seus então pouco mais dois mil seguidores.

Ele afirma que se preparou para realizar a transmissão ao vivo do show e comprou carregador portátil, mas que não prometeu isso nas redes, pois não sabia se funcionaria.

“No calor da emoção, quando já estava lá, decidi abri a live. Pensei comigo: ‘vou fazer por alguns minutos e depois desligo”, lembra.

O jovem precisou sentar no chão e perder os primeiros momentos da apresentação para conectar a internet no celular. “Abri mão da minha felicidade e do primeiro contato visual para tentar conectar essa live”, diz.

“O show foi rolando e eu percebi que cada vez mais pessoas estavam entrando na live. O momento que eu mais me surpreendi foi quando começaram a entrar pessoas famosas, com perfil verificado, tipo a Gaby Amarantos. Quando eu vi, já tinham 22 mil pessoas”, conta Rodrigo.

O que era para ser uma transmissão de poucos minutos durou quase duas horas, já que Rodrigo se sentiu responsável por continuar a mostrar o show para tantas pessoas que o estavam assistindo.

“Foi difícil ficar segurando o celular, mas rolou. Eu estava sozinho no show, mas tinham outros fãs muito legais que estavam me ajudando a conectar o carregador portátil ou segurar quando meu braço estava doendo”, explica.

Ele comenta que também viu um crescimento grande em seus seguidores após a realização da live, além de ter recebido mensagens de fãs de vários lugares do mundo, como Japão, Colômbia e até Ucrânia.

Rodrigo enviou à reportagem um compilado de mensagens que recebeu após a realização da live do show da Lady Gaga. Foto: Arquivo Pessoal / Rodrigo Batista

“Não tive nenhum retorno financeiro, mas tive um grande retorno moral. As pessoas me respeitam pelo que eu fiz e, para mim, isso é suficiente. Era o que eu queria”, afirma.

Show de Taylor Swift

Enquanto Eduardo e Rodrigo viajaram pela Europa para transmitir o show de suas ídolas, também tem quem saia do Brasil para fazer um tipo de diferente de cobertura amadora, como é o caso de Rany Higa, de 31 anos.

Publicitária e moradora de São Paulo, ela foi até Tampa, no estado da Flórida, nos Estados Unidos, para acompanhar um show da turnê The Eras, de Taylor Swift, no dia 13 de abril, e compartilhou diversos registros com seus seguidores no TikTok e no Instagram.

Rany mostrou sua preparação, incluindo a criação de uma roupa com as cores do Brasil para ir ao show, os bastidores de sua viagem, os espaços dentro do estádio, incluindo preços de bebidas e as filas, além de, claro, vídeos dos apresentação.

Fã da cantora desde 2008, ela conta que sempre teve uma “poupança da Taylor Swift”, pensando justamente em viajar para ver a cantora no exterior, já que ela nunca fez shows no Brasil - isso deve mudar, já que a artista anunciou shows em São Paulo e Rio para novembro.

Ela já tinha ido a Los Angeles para assistir a dois shows de Taylor em 2018. Gostou tanto da experiência que decidiu que tentaria ir em todas as próximas turnês da cantora.

Rany precisou enfrentar cerca de 12 horas de fila virtual para garantir seu ingresso para a The Eras Tour, mas acabou conseguindo comprar uma entrada VIP para o show.

“Não era o meu plano comprar o VIP, mas no desespero era o que tinha. Você atualizava e ia sumindo [os outros setores], então no que foi eu comprei”, explica.

Rany Higa em show de Taylor Swift em Tampa, EUA. Na imagem, é possível ver a distância da jovem para o palco. Foto: Arquivo Pessoal/Rany Higa

Para isso, a publicitária precisou desembolsar cerca de 1.030 dólares apenas no ingresso. Na cotação atual, o valor chega a pouco mais de R$ 5 mil, mas na época chegava perto de R$ 6 mil.

Rany também conta que gastou cerca de R$ 4,5 mil com passagens, R$ 2,5 mil com hospedagem de 10 dias na cidade de Orlando, por onde passeou nos dias em que não foi no show, além de quase R$ 3,4 mil para alimentação e aluguel de carro dividido em cinco pessoas.

“Eu me planejo. Acho que é o que todo faz quando quer alcançar um objetivo ou conquistar alguma coisa, tirar um pouco de dinheiro e ir guardando. É o que eu faço, tenho a minha poupança de viagens da Taylor e vou guardando todo mês mesmo que não saiba quando vai ser o show”, explica.

Rany foi ‘notada’ pela equipe da cantora

Um dos vídeos que Rany postou sobre o show chegou a mais de 191 mil visualizações no TikTok. A publicação destaca o fato de que a jovem “levou” o Brasil para o local, mostrando a bandeira do País e o seu figurino para a ocasião.

A roupa chamou tanto a atenção que uma foto da brasileira foi incluída em uma publicação do Taylor Nation, perfil oficial da equipe de gerenciamento da cantora.

Depois disso, os posts de Rany ganharam um alcance ainda maior, e suas redes sociais tiveram aumento expressivo. Atualmente, ela tem 13,3 mil seguidores no Instagram e pouco mais de 4 mil no TikTok.

“Muitos fãs não conseguem estar lá e [postar] é uma maneira de ver um pouco como é, tanto que eu até mostrei a fila, a bebida, a visão do palco, para matar a curiosidade dos fãs. Sempre tem alguém transmitindo, então [queria] mostrar a experiência além do show”, diz.

Há problema em transmitir shows ao vivo?

A transmissão de shows ao vivo não fere, em princípio, as regras de uso do Instagram e do TikTok. Na maioria das grandes turnês, os artistas permitem a entrada de celulares, e é comum que vários fãs filmem e transmitam com seus aparelhos. Essas lives podem ser barradas em dois casos:

  • Se os artistas fizeram um pedido às plataformas, já que estão sendo usadas a imagem e as obras deles. Mas isso não é comum, já que eles buscam o contrário: a divulgação da turnê nas redes.
  • Se o show tiver um show com contrato exclusivo de transmissão ao vivo. Foi o caso da apresentação de Anitta no final da Champions League, por exemplo. Neste caso, a pedido dos detentores dos direitos, costumam ser derrubadas outras transmissões do evento. Não é o caso dos citados aqui.

O Estadão conversou com as assessorias de imprensa do TikTok e do Instagram, que confirmaram as informações.

De acordo com a advogada Fernanda Rosa Picosse, especialista em direitos autorais e de entretenimento, a questão dos fins lucrativos também deve receber atenção quando se trata deste assunto.

Uma live pode ter mais chances de ser derrubada caso tenha a intenção de ganhar financeiramente de alguma forma - o que não aconteceu nos casos acima.

Fernanda também explica que é mais fácil que o conteúdo de um show não seja derrubado caso seja feito “em pedaços”, ou seja, não transmitir a apresentação completa. Eduardo e Rodrigo, contudo, filmaram os shows de Beyoncé e Lady Gaga com apenas breves interrupções e não tiveram problemas.

*Estagiária sob supervisão de Charlise Morais

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