Projeto Gig Nova reúne no palco jovens músicos de feitos impressionantes


Segunda edição do evento realizado pelo Estadão tem direção e curadoria do jornalista Julio Maria e produção executiva de Débora Venturini; shows ocorrem na quinta-feira, 31

Por Redação

Um dos garotos evangélicos que se reúnem em uma laje de Cidade Tiradentes, na zona leste de São Paulo, é Vinicius Coelho, ou Vini King, 19 anos. Ao receber a ligação da reportagem, ele aparenta nervosismo. “Pô, vocês vão me colocar pra tocar com esses caras?”. Vini, criado com mais quatro irmãos pela mãe técnica de enfermagem, é outro desde a matéria que o Estado fez com ele, em 2015. A visibilidade de seu talento, com improvisos de jazz e fusion de clara influência do guitarrista George Benson, chamou a atenção de patrocinadores e lhe cederam aparelhagem e uma nova guitarra. Vini será um dos participantes do projeto Gig Nova, na próxima quinta-feira, dia 31, na casa Tupi or Not Tupi, da Vila Madalena.

+ Especial Multimídia: Gig Nova 2

Seu grupo, que tem o gaitista Gabriel Grossi, o pianista e compositor Felipe Senna, o baixista Thiago do Espírito Santo e o baterista Thiago Big Rabello, vai abrir a segunda edição do evento realizado pelo Estadão, com direção e curadoria do jornalista Julio Maria e produção executiva de Débora Venturini. A partir das 21h30, subirão ao palco quatro grupos diferentes, com músicos escolhidos pela reportagem que nunca haviam se apresentado juntos. A mostra surgiu de comentários feitos por autoridades do meio, como o pesquisador e jornalista Zuza Homem de Mello, a respeito de como a chamada música instrumental produzida em São Paulo tem gerado frutos em uma profusão pouco vista em outras épocas. Um passeio por suas histórias, na ordem das gigs, mostra a força de uma classe invisível apenas à mídia convencional.

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De pé: Vini King, Thiago do Espírito Santo, Mariana Sanchez, Rubinho Antunes, Michi Ruzitchska, Nicolas Krassik, Salomão Soares, Felipe Senna, Edson Sant'anna, Alê Ribeiro e Glécio Nascimento Sentados: Jorginho Gomes e Ana Karina Sebastião Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO

Gig 1. Ao lado de Vini, o gaitista Gabriel Grossi é o melhor em seu instrumento. Seu registro de solo mais recente está em Desaforos, um das belas canções do novo disco de Chico Buarque, Caravanas. Amigo e discípulo de Maurício Einhorn, ele tem dez discos autorais.

O pianista Felipe Senna faz uma atuação internacional cada vez mais aplaudida como compositor. Seu trabalho mais recente é a trilha da peça Tales of Bedshits and Departure Lounges, de Montague Kobbé, que estreou no Teatro Cervantes em Londres, em julho. Um mês antes, estava na Califórnia como solista convidado da Echo Chamber Orchestra, junto ao Berkley Choro Ensemble.

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O contrabaixo de Thiago do Espírito Santo é vigoroso, com um conjunto de propriedades que define grandes músicos. Ele traz junto suingue e fluência de uma linguagem ágil que coloca seu instrumento na linha de frente. Como produtor, foi indicado ao Grammy Latino em 2012 pelo álbum Forró Chorado, de Oswaldinho do Acordeon e, como professor, desenvolveu o método de contrabaixo aplicado hoje em 360 polos do Projeto Guri.

Aos 36 anos, Big tem uma vida artística de veterano. É baterista desde a adolescência, gravando e fazendo turnês com artistas desde ícones como Cesar Camargo Mariano e Romero Lubambo até estrelas sertanejas como Chitãozinho e Xororó e Jorge & Mateus. Sua bateria tem uma personalidade reconhecível à distância.

Gig 2. A segunda gig é imprevisível. O violino do francês naturalizado brasileiro Nicolas Krassik é ágil e sofisticado, pela origem na formação clássica ainda na França, e de comunicação imediata, pela vivência na música popular. Ele fez trabalhos relevantes ao lado do trio do violonista Yamandu Costa, Gilberto Gil (com quem tocou por cinco anos), Marisa Monte, Beth Carvalho, João Bosco e Chico Buarque.

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Salomão Soares, do interior da Paraíba, foi selecionado este ano para disputar o posto de melhor jovem pianista do mundo no Festival de Jazz de Montreux, na Suíça. Sua lista de trabalhos inclui nomes como Hermeto Pascoal, Filó Machado, Vinicius Dorin, Arismar do Espírito Santo e Lilian Carmona.

A ‘cozinha’ da Gig 2, baixo e batera, é formada pela baixista Ana Karina Sebastião e pelo baterista Pedro Ito. Ana, 23 anos, toca na banda do programa Conversa com Bial, da Globo, além de estar nos grupos de Chico César e Arrigo Barnabé. É uma ‘groveira’ de linhas movimentadas e grande suingue.

Formado pela Berkley College of Music, em 2002, Pedro Ito já foi requisitado pelo violinista Ricardo Herz, Arnaldo Antunes, Trio Improvisado, Esperanza Spalding, Céu e Romulo Fróes. Sobre a origem, ele cita o acontecimento que fez sua vida mudar. “Um dia, minha tia me deu de aniversário o álbum Thriller, do Michael Jackson.”

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Gig 3. O terceiro grupo tem outra formação inédita. O clarinete de Alexandre Ribeiro, o violão de Michi Ruzitchska e o piano de Edson Santana. Alê Ribeiro é dos maiores expoentes do clarinete moderno. Em 2014, lançou o disco Alexandre Ribeiro Quarteto e, em 2015, o solo, De Pé na Proa, produzidos por Swami Junior. De Pé... é um álbum magistral no qual Alê toca todos os sons que são executados.

Austríaco radicado no Brasil, Michi tem um violão na fronteira do erudito, aprendido em suas origens austríacas, e o popular, de sua vivência do Brasil. Ele e Alê fecham a ‘gig minimalista’ da noite com Edson Sant’anna, 35 anos, pianista catarinense de larga experiência em grupos como os de Bob Wyatt, Paulo Malheiros e Thiago do Espírito Santo.

Gig 4. O último grupo vem com os sopros de Jorginho Neto, trombone, e Rubinho Antunes, trompete. Jorge começou com Frank Sinatra Jr., Roberto Menescal, Johnny Alf e Joyce. É citado como referência em seu instrumento. Rubinho, 38 anos, também tocou para Johnny Alf, além de Toquinho, Banda Mantiqueira, Orquestra Jazz Sinfônica, Soundscape e outros. A gig fecha com a sessão rítmica de Mariana Sanchez, baterista de 29 anos, que já se apresentou com o norte-americano Steve Smith, nos EUA, e com o baixista Glecio Nascimento, uma fera de 34 anos que transborda musicalidade em cada nota. 

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GIG NOVA

Quinta (18), às 21h. Tupi or Not Tupi. Rua Fidalga, 360. Apresentação de quatro grupos (gigs) de 30 minutos cada. Tel. 38137404. Preço: R$ 35 

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Efervescência criativa desta geração inspirou projeto

Em maio, músicos como Mestrinho, Fábio Peron e Hércules Gomes ratificaram a existência de uma fase de prodígios 

A efervescência criativa da música instrumental produzida em São Paulo, tema que inspirou a criação do Gig Nova, já havia sido comprovada na primeira edição do projeto, dia 18 de maio, na mesma Tupi or Not Tupi. Com lotação de 100 lugares esgotada (os ingressos foram vendidos em dois dias), a casa mostrou 16 músicos se revezando no palco, dentre eles o sanfoneiro Mestrinho, o guitarrista Lupa Santana, o pianista Hércules Gomes, os bateristas Serginho Machado e Edu Ribeiro, o violinista Ricardo Herz e o bandolinista Fabio Peron. Uma reunião considerada espécie de ‘dream team’ pelos que acompanham a cena instrumental brasileira.

Gig 1. Cássio Ferreira (sax) e Mestrinho (sanfona) à frente de um dos pontos altos da noite Foto: Amanda Perobelli/Estadão

A noite teve apresentação feita pelo pesquisador e escritor Zuza Homem de Mello, autoridade no assunto, e depoimentos do pianista Amilton Godoy, lendário integrante do grupo Zimbo Trio, que acompanhou Elis Regina no início da carreira. 

Os músicos, ao final das gigs, elogiaram a qualidade de som da casa. A Tupi é reconhecida hoje como um dos mais confortáveis recantos dentre as pequenas casas de shows de São Paulo, uma raridade da noite com música ao vivo. Sua programação prima pela música brasileira e alguns cuidados, como a interrupção do serviço de bar durante os shows, é uma bela demonstração de respeito. 

Um dos garotos evangélicos que se reúnem em uma laje de Cidade Tiradentes, na zona leste de São Paulo, é Vinicius Coelho, ou Vini King, 19 anos. Ao receber a ligação da reportagem, ele aparenta nervosismo. “Pô, vocês vão me colocar pra tocar com esses caras?”. Vini, criado com mais quatro irmãos pela mãe técnica de enfermagem, é outro desde a matéria que o Estado fez com ele, em 2015. A visibilidade de seu talento, com improvisos de jazz e fusion de clara influência do guitarrista George Benson, chamou a atenção de patrocinadores e lhe cederam aparelhagem e uma nova guitarra. Vini será um dos participantes do projeto Gig Nova, na próxima quinta-feira, dia 31, na casa Tupi or Not Tupi, da Vila Madalena.

+ Especial Multimídia: Gig Nova 2

Seu grupo, que tem o gaitista Gabriel Grossi, o pianista e compositor Felipe Senna, o baixista Thiago do Espírito Santo e o baterista Thiago Big Rabello, vai abrir a segunda edição do evento realizado pelo Estadão, com direção e curadoria do jornalista Julio Maria e produção executiva de Débora Venturini. A partir das 21h30, subirão ao palco quatro grupos diferentes, com músicos escolhidos pela reportagem que nunca haviam se apresentado juntos. A mostra surgiu de comentários feitos por autoridades do meio, como o pesquisador e jornalista Zuza Homem de Mello, a respeito de como a chamada música instrumental produzida em São Paulo tem gerado frutos em uma profusão pouco vista em outras épocas. Um passeio por suas histórias, na ordem das gigs, mostra a força de uma classe invisível apenas à mídia convencional.

De pé: Vini King, Thiago do Espírito Santo, Mariana Sanchez, Rubinho Antunes, Michi Ruzitchska, Nicolas Krassik, Salomão Soares, Felipe Senna, Edson Sant'anna, Alê Ribeiro e Glécio Nascimento Sentados: Jorginho Gomes e Ana Karina Sebastião Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO

Gig 1. Ao lado de Vini, o gaitista Gabriel Grossi é o melhor em seu instrumento. Seu registro de solo mais recente está em Desaforos, um das belas canções do novo disco de Chico Buarque, Caravanas. Amigo e discípulo de Maurício Einhorn, ele tem dez discos autorais.

O pianista Felipe Senna faz uma atuação internacional cada vez mais aplaudida como compositor. Seu trabalho mais recente é a trilha da peça Tales of Bedshits and Departure Lounges, de Montague Kobbé, que estreou no Teatro Cervantes em Londres, em julho. Um mês antes, estava na Califórnia como solista convidado da Echo Chamber Orchestra, junto ao Berkley Choro Ensemble.

O contrabaixo de Thiago do Espírito Santo é vigoroso, com um conjunto de propriedades que define grandes músicos. Ele traz junto suingue e fluência de uma linguagem ágil que coloca seu instrumento na linha de frente. Como produtor, foi indicado ao Grammy Latino em 2012 pelo álbum Forró Chorado, de Oswaldinho do Acordeon e, como professor, desenvolveu o método de contrabaixo aplicado hoje em 360 polos do Projeto Guri.

Aos 36 anos, Big tem uma vida artística de veterano. É baterista desde a adolescência, gravando e fazendo turnês com artistas desde ícones como Cesar Camargo Mariano e Romero Lubambo até estrelas sertanejas como Chitãozinho e Xororó e Jorge & Mateus. Sua bateria tem uma personalidade reconhecível à distância.

Gig 2. A segunda gig é imprevisível. O violino do francês naturalizado brasileiro Nicolas Krassik é ágil e sofisticado, pela origem na formação clássica ainda na França, e de comunicação imediata, pela vivência na música popular. Ele fez trabalhos relevantes ao lado do trio do violonista Yamandu Costa, Gilberto Gil (com quem tocou por cinco anos), Marisa Monte, Beth Carvalho, João Bosco e Chico Buarque.

Salomão Soares, do interior da Paraíba, foi selecionado este ano para disputar o posto de melhor jovem pianista do mundo no Festival de Jazz de Montreux, na Suíça. Sua lista de trabalhos inclui nomes como Hermeto Pascoal, Filó Machado, Vinicius Dorin, Arismar do Espírito Santo e Lilian Carmona.

A ‘cozinha’ da Gig 2, baixo e batera, é formada pela baixista Ana Karina Sebastião e pelo baterista Pedro Ito. Ana, 23 anos, toca na banda do programa Conversa com Bial, da Globo, além de estar nos grupos de Chico César e Arrigo Barnabé. É uma ‘groveira’ de linhas movimentadas e grande suingue.

Formado pela Berkley College of Music, em 2002, Pedro Ito já foi requisitado pelo violinista Ricardo Herz, Arnaldo Antunes, Trio Improvisado, Esperanza Spalding, Céu e Romulo Fróes. Sobre a origem, ele cita o acontecimento que fez sua vida mudar. “Um dia, minha tia me deu de aniversário o álbum Thriller, do Michael Jackson.”

Gig 3. O terceiro grupo tem outra formação inédita. O clarinete de Alexandre Ribeiro, o violão de Michi Ruzitchska e o piano de Edson Santana. Alê Ribeiro é dos maiores expoentes do clarinete moderno. Em 2014, lançou o disco Alexandre Ribeiro Quarteto e, em 2015, o solo, De Pé na Proa, produzidos por Swami Junior. De Pé... é um álbum magistral no qual Alê toca todos os sons que são executados.

Austríaco radicado no Brasil, Michi tem um violão na fronteira do erudito, aprendido em suas origens austríacas, e o popular, de sua vivência do Brasil. Ele e Alê fecham a ‘gig minimalista’ da noite com Edson Sant’anna, 35 anos, pianista catarinense de larga experiência em grupos como os de Bob Wyatt, Paulo Malheiros e Thiago do Espírito Santo.

Gig 4. O último grupo vem com os sopros de Jorginho Neto, trombone, e Rubinho Antunes, trompete. Jorge começou com Frank Sinatra Jr., Roberto Menescal, Johnny Alf e Joyce. É citado como referência em seu instrumento. Rubinho, 38 anos, também tocou para Johnny Alf, além de Toquinho, Banda Mantiqueira, Orquestra Jazz Sinfônica, Soundscape e outros. A gig fecha com a sessão rítmica de Mariana Sanchez, baterista de 29 anos, que já se apresentou com o norte-americano Steve Smith, nos EUA, e com o baixista Glecio Nascimento, uma fera de 34 anos que transborda musicalidade em cada nota. 

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GIG NOVA

Quinta (18), às 21h. Tupi or Not Tupi. Rua Fidalga, 360. Apresentação de quatro grupos (gigs) de 30 minutos cada. Tel. 38137404. Preço: R$ 35 

Efervescência criativa desta geração inspirou projeto

Em maio, músicos como Mestrinho, Fábio Peron e Hércules Gomes ratificaram a existência de uma fase de prodígios 

A efervescência criativa da música instrumental produzida em São Paulo, tema que inspirou a criação do Gig Nova, já havia sido comprovada na primeira edição do projeto, dia 18 de maio, na mesma Tupi or Not Tupi. Com lotação de 100 lugares esgotada (os ingressos foram vendidos em dois dias), a casa mostrou 16 músicos se revezando no palco, dentre eles o sanfoneiro Mestrinho, o guitarrista Lupa Santana, o pianista Hércules Gomes, os bateristas Serginho Machado e Edu Ribeiro, o violinista Ricardo Herz e o bandolinista Fabio Peron. Uma reunião considerada espécie de ‘dream team’ pelos que acompanham a cena instrumental brasileira.

Gig 1. Cássio Ferreira (sax) e Mestrinho (sanfona) à frente de um dos pontos altos da noite Foto: Amanda Perobelli/Estadão

A noite teve apresentação feita pelo pesquisador e escritor Zuza Homem de Mello, autoridade no assunto, e depoimentos do pianista Amilton Godoy, lendário integrante do grupo Zimbo Trio, que acompanhou Elis Regina no início da carreira. 

Os músicos, ao final das gigs, elogiaram a qualidade de som da casa. A Tupi é reconhecida hoje como um dos mais confortáveis recantos dentre as pequenas casas de shows de São Paulo, uma raridade da noite com música ao vivo. Sua programação prima pela música brasileira e alguns cuidados, como a interrupção do serviço de bar durante os shows, é uma bela demonstração de respeito. 

Um dos garotos evangélicos que se reúnem em uma laje de Cidade Tiradentes, na zona leste de São Paulo, é Vinicius Coelho, ou Vini King, 19 anos. Ao receber a ligação da reportagem, ele aparenta nervosismo. “Pô, vocês vão me colocar pra tocar com esses caras?”. Vini, criado com mais quatro irmãos pela mãe técnica de enfermagem, é outro desde a matéria que o Estado fez com ele, em 2015. A visibilidade de seu talento, com improvisos de jazz e fusion de clara influência do guitarrista George Benson, chamou a atenção de patrocinadores e lhe cederam aparelhagem e uma nova guitarra. Vini será um dos participantes do projeto Gig Nova, na próxima quinta-feira, dia 31, na casa Tupi or Not Tupi, da Vila Madalena.

+ Especial Multimídia: Gig Nova 2

Seu grupo, que tem o gaitista Gabriel Grossi, o pianista e compositor Felipe Senna, o baixista Thiago do Espírito Santo e o baterista Thiago Big Rabello, vai abrir a segunda edição do evento realizado pelo Estadão, com direção e curadoria do jornalista Julio Maria e produção executiva de Débora Venturini. A partir das 21h30, subirão ao palco quatro grupos diferentes, com músicos escolhidos pela reportagem que nunca haviam se apresentado juntos. A mostra surgiu de comentários feitos por autoridades do meio, como o pesquisador e jornalista Zuza Homem de Mello, a respeito de como a chamada música instrumental produzida em São Paulo tem gerado frutos em uma profusão pouco vista em outras épocas. Um passeio por suas histórias, na ordem das gigs, mostra a força de uma classe invisível apenas à mídia convencional.

De pé: Vini King, Thiago do Espírito Santo, Mariana Sanchez, Rubinho Antunes, Michi Ruzitchska, Nicolas Krassik, Salomão Soares, Felipe Senna, Edson Sant'anna, Alê Ribeiro e Glécio Nascimento Sentados: Jorginho Gomes e Ana Karina Sebastião Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO

Gig 1. Ao lado de Vini, o gaitista Gabriel Grossi é o melhor em seu instrumento. Seu registro de solo mais recente está em Desaforos, um das belas canções do novo disco de Chico Buarque, Caravanas. Amigo e discípulo de Maurício Einhorn, ele tem dez discos autorais.

O pianista Felipe Senna faz uma atuação internacional cada vez mais aplaudida como compositor. Seu trabalho mais recente é a trilha da peça Tales of Bedshits and Departure Lounges, de Montague Kobbé, que estreou no Teatro Cervantes em Londres, em julho. Um mês antes, estava na Califórnia como solista convidado da Echo Chamber Orchestra, junto ao Berkley Choro Ensemble.

O contrabaixo de Thiago do Espírito Santo é vigoroso, com um conjunto de propriedades que define grandes músicos. Ele traz junto suingue e fluência de uma linguagem ágil que coloca seu instrumento na linha de frente. Como produtor, foi indicado ao Grammy Latino em 2012 pelo álbum Forró Chorado, de Oswaldinho do Acordeon e, como professor, desenvolveu o método de contrabaixo aplicado hoje em 360 polos do Projeto Guri.

Aos 36 anos, Big tem uma vida artística de veterano. É baterista desde a adolescência, gravando e fazendo turnês com artistas desde ícones como Cesar Camargo Mariano e Romero Lubambo até estrelas sertanejas como Chitãozinho e Xororó e Jorge & Mateus. Sua bateria tem uma personalidade reconhecível à distância.

Gig 2. A segunda gig é imprevisível. O violino do francês naturalizado brasileiro Nicolas Krassik é ágil e sofisticado, pela origem na formação clássica ainda na França, e de comunicação imediata, pela vivência na música popular. Ele fez trabalhos relevantes ao lado do trio do violonista Yamandu Costa, Gilberto Gil (com quem tocou por cinco anos), Marisa Monte, Beth Carvalho, João Bosco e Chico Buarque.

Salomão Soares, do interior da Paraíba, foi selecionado este ano para disputar o posto de melhor jovem pianista do mundo no Festival de Jazz de Montreux, na Suíça. Sua lista de trabalhos inclui nomes como Hermeto Pascoal, Filó Machado, Vinicius Dorin, Arismar do Espírito Santo e Lilian Carmona.

A ‘cozinha’ da Gig 2, baixo e batera, é formada pela baixista Ana Karina Sebastião e pelo baterista Pedro Ito. Ana, 23 anos, toca na banda do programa Conversa com Bial, da Globo, além de estar nos grupos de Chico César e Arrigo Barnabé. É uma ‘groveira’ de linhas movimentadas e grande suingue.

Formado pela Berkley College of Music, em 2002, Pedro Ito já foi requisitado pelo violinista Ricardo Herz, Arnaldo Antunes, Trio Improvisado, Esperanza Spalding, Céu e Romulo Fróes. Sobre a origem, ele cita o acontecimento que fez sua vida mudar. “Um dia, minha tia me deu de aniversário o álbum Thriller, do Michael Jackson.”

Gig 3. O terceiro grupo tem outra formação inédita. O clarinete de Alexandre Ribeiro, o violão de Michi Ruzitchska e o piano de Edson Santana. Alê Ribeiro é dos maiores expoentes do clarinete moderno. Em 2014, lançou o disco Alexandre Ribeiro Quarteto e, em 2015, o solo, De Pé na Proa, produzidos por Swami Junior. De Pé... é um álbum magistral no qual Alê toca todos os sons que são executados.

Austríaco radicado no Brasil, Michi tem um violão na fronteira do erudito, aprendido em suas origens austríacas, e o popular, de sua vivência do Brasil. Ele e Alê fecham a ‘gig minimalista’ da noite com Edson Sant’anna, 35 anos, pianista catarinense de larga experiência em grupos como os de Bob Wyatt, Paulo Malheiros e Thiago do Espírito Santo.

Gig 4. O último grupo vem com os sopros de Jorginho Neto, trombone, e Rubinho Antunes, trompete. Jorge começou com Frank Sinatra Jr., Roberto Menescal, Johnny Alf e Joyce. É citado como referência em seu instrumento. Rubinho, 38 anos, também tocou para Johnny Alf, além de Toquinho, Banda Mantiqueira, Orquestra Jazz Sinfônica, Soundscape e outros. A gig fecha com a sessão rítmica de Mariana Sanchez, baterista de 29 anos, que já se apresentou com o norte-americano Steve Smith, nos EUA, e com o baixista Glecio Nascimento, uma fera de 34 anos que transborda musicalidade em cada nota. 

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GIG NOVA

Quinta (18), às 21h. Tupi or Not Tupi. Rua Fidalga, 360. Apresentação de quatro grupos (gigs) de 30 minutos cada. Tel. 38137404. Preço: R$ 35 

Efervescência criativa desta geração inspirou projeto

Em maio, músicos como Mestrinho, Fábio Peron e Hércules Gomes ratificaram a existência de uma fase de prodígios 

A efervescência criativa da música instrumental produzida em São Paulo, tema que inspirou a criação do Gig Nova, já havia sido comprovada na primeira edição do projeto, dia 18 de maio, na mesma Tupi or Not Tupi. Com lotação de 100 lugares esgotada (os ingressos foram vendidos em dois dias), a casa mostrou 16 músicos se revezando no palco, dentre eles o sanfoneiro Mestrinho, o guitarrista Lupa Santana, o pianista Hércules Gomes, os bateristas Serginho Machado e Edu Ribeiro, o violinista Ricardo Herz e o bandolinista Fabio Peron. Uma reunião considerada espécie de ‘dream team’ pelos que acompanham a cena instrumental brasileira.

Gig 1. Cássio Ferreira (sax) e Mestrinho (sanfona) à frente de um dos pontos altos da noite Foto: Amanda Perobelli/Estadão

A noite teve apresentação feita pelo pesquisador e escritor Zuza Homem de Mello, autoridade no assunto, e depoimentos do pianista Amilton Godoy, lendário integrante do grupo Zimbo Trio, que acompanhou Elis Regina no início da carreira. 

Os músicos, ao final das gigs, elogiaram a qualidade de som da casa. A Tupi é reconhecida hoje como um dos mais confortáveis recantos dentre as pequenas casas de shows de São Paulo, uma raridade da noite com música ao vivo. Sua programação prima pela música brasileira e alguns cuidados, como a interrupção do serviço de bar durante os shows, é uma bela demonstração de respeito. 

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