Quais foram as melhores músicas brasileiras de 2023? Veja lista do Estadão, com 2 surpresas no topo


Entre a música pop, o samba e a MPB, a música brasileira se manteve extremamente ativa neste ano, produzindo lançamentos para todos os gostos. Duas jovens brasileiras ousadas se destacaram nas listas; conheça

Por Danilo Casaletti
Atualização:

Talvez muita gente ainda não saiba de um dado fundamental para entender a lista abaixo: todos os dias são lançadas mais de 100 mil músicas nas plataformas de streaming, entre produções nacionais e estrangeiras.

Por isso, o ranking das melhores canções brasileiras de 2023 apresentado abaixo é tão diverso. Melhor assim. A música brasileira é feita exatamente dessa pluralidade de gêneros e de artistas - e eles gostam de se encontrar, seja em gravações ou em referências.

O Estadão convidou jornalistas que estiveram profundamente envolvidos com a música neste ano que elaboraram uma lista de canções que, de uma maneira ou de outra, passaram pela vida dos ouvintes.

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As cantoras Ana Frango Elétrico e Ebony entre as mais votadas Foto: Hick Duarte; Mateus Aguiar

Veja, abaixo, as listas de melhores e as justificativas. Mesmo em listas tão diversas, duas cantoras brasileiras, Ebony e Ana Frango Elétrico, alcançaram o feito de serem citadas três vezes cada uma.

Danilo Casaletti, repórter de cultura do Estadão

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1 - O Canto da Terra Por um Fio (João Bosco/Francisco Bosco) - intérprete João Bosco

Quase no apagar das luzes de 2023, o cantor e compositor lançou sua primeira música inédita em seis anos - e que vai estar em um álbum que João pretende lançar em 2024, outra boa notícia. Com seu canto e violão repletos de ancestralidade, e o auxílio do cello tocado pelo craque Jacques Morelenbaum, João - sem pieguices - fala sobre os povos originários e da relação profunda que eles têm com a natureza e sua preservação. São 6 minutos e 35 segundos de puro transe. E uma frase sensacional escrita por Francisco: “pro homem do desterro o futuro é velho”.

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2- Ata-me (Junio Barreto) - intérprete Alaíde Costa

Alaíde Costa vive, há cerca de três anos, um potente renascimento artístico, sobretudo depois que lançou o álbum de inéditas O que Meus Calos Dizem Sobre Mim, em 2022. Mas foi neste 2023 que ela lançou uma canção visceral feita sob medida para sua voz marcante. Impossível não se emocionar ouvindo-a cantar os versos que ela ganhou do compositor pernambucano Junio Barreto. Em tempos de camping musical, onde uma música é assinada por cinco ou seis pessoas, é preciso louvar um compositor que faz letra e melodia de uma canção tão bonita.

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3- Meu Samba Anda Por Aí (João Nogueira/Paulo Valdez) - intérprete Diogo Nogueira

No ano em que o samba voltou à ancestralidade, Diogo encontrou, quase que por acaso, uma canção inédita de seu pai, João Nogueira, em parceria com Paulo Valdez, filho de Elizeth Cardoso. Samba à moda antiga, Meu Samba Anda Por Aí, certamente passará discretamente pelo grande público entre músicas de apelo mais popular no EP Sagrado. Injustiça. Mas, de certo, em algum boteco ou terreiro, onde se batuca o samba genuíno, há de se ouvir os versos “Gente lá do morro, da rua e do bar, onde não se estuda pra cantar”. LEIA MAIS AQUI.

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Bárbara Correa, repórter de cultura do Estadão

1- Tambor de Aço (Marcelo Peixoto e Vinicius Leonard ) - intérprete Marcelo D2

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Com letras que reverenciam a ancestralidade espiritual e musical, Iboru vai ficar para história. Dá para dizer até que marca o início de um gênero: o ‘novo samba tradicional’. Marcelo foi genial ao trazer os graves contemporâneos do hip-hop para o samba e integrar essas duas tribos em uma espécie de “terreiro” das ruas. A transversalidade do projeto, com exposição, filme e roda de samba, fez com que o álbum ganhasse um corpo vivo e se materializasse na energia de uma entidade. Tambor de Aço é a expressão mais palpável disso. Nela, D2 faz com que viajemos pela experiência quase sagrada dos tambores e transforma sua música em um ponto de terreiro (cânticos das religiões de matriz africana). LEIA AQUI.

2- Espero que Entendam (Ebony) - intérprete Ebony

Há 7 anos não víamos a cena do hip-hop tremer como Ebony fez com a diss track Espero que Entendam. Assim como Baco Exu do Blues e outros rappers do Nordeste fizeram em 2016 com Sulicidio, na qual eles criticaram a falta de espaço para artistas de rap fora do Sudeste, a artista chacoalhou a cena ao reivindicar que mulheres sejam mais ouvidas no rap e trap daqui. Não tem como negar que a rima e levada de Ebony são excepcionais e projetaram toda grandeza de seu álbum Terapia. LEIA MAIS.

3- Novo Balanço (André Nagallio e Veigh) - intérprete Veigh

Veigh também fez com que o trap furasse a bolha do hip-hop e competisse com o sertanejo e pop no ranking das músicas mais ouvidas neste ano. Em maio, seu álbum Dos Prédios Deluxe conquistou o top 1 global do Spotify e, com apenas dois anos de carreira, desbancou nomes como Anitta, Beyoncé e Harry Styles. Na principal música do álbum ele anuncia um Novo Balanço, como um prenúncio do que ele estava prestes a conquistar, enquanto enaltece a ascensão da cultura periférica no mainstream.

Dora Guerra, jornalista

1- Insista em Mim (Ana Frango Elétrico) - intérprete Ana Frango Elétrico

Antes de 2023, Ana Frango Elétrico já era a queridinha dos alternativos – se é que dá para chamar assim. Mas em seu caminho rumo ao grande disco Me Chama De Gato Que Sou Sua, ela provou que tem de tudo um pouco em Insista em Mim. É aquela balada charmosinha, que seduz, um soul brasileiro gostoso, autêntico. Pedir carinho é pouco: para Ana, o novo pedido é “me plante agora em seu jardim”.

2 - Homenagem (Luiza Lian e Charles Tixier) - intérprete Luiza Lian

Dizem que o Brasil está cheio de músicas de temática sexual, mas poucas têm o charme e sagacidade de Homenagem. Bem produzida, eletrônica sem acelerar, a faixa de Luiza Lian faz várias alusões, mas deixa a conclusão ao ouvinte. É empoderador até, se quiser entrar por esse lado. “Chega em casa, pensa em mim, faz uma homenagem”, canta Luiza, quase com uma piscadela. Não se deixe cair no papo da temática “repetida”: a sedução musical, quando bem-feita, nunca é demais.

3 -Espero que Entendam (Ebony) - intérprete Ebony e Larinhx

Mais que uma diss track, Espero Que Entendam foi o viral mais esperto e bem-humorado do ano. Os rappers brasileiros se levam muito a sério, lembrou Ebony. Em uma música, a artista conseguiu citar os grandes nomes do rap e reforçar que está à altura — senão acima – de quem a subestima. Chamou a atenção, fez todo mundo rir, mas exigiu respeito também. “Espero que entendam, vidas”. Tem que ter muito talento (e confiança) para acertar desse jeito.

Emanuel Bomfim, diretor artístico da Rádio Eldorado

1 -Mar Profundo (Jonatahn Ferr, Lay, Lio e Machado) - intérprete Jonathan Ferr

É das mãos do pianista nascido em Madureira (RJ) que se extrai a melhor canção de 2023. A linhagem erudita/jazzística está no deslizar das teclas, mas não é um elemento isolado, se “funde e confunde” com os vocais do Tuyo e uma base flutuante.

2- Rainha Africana (Rita Lee e Roberto de Carvalho) - intérprete Elza Soares

Quiseram os deuses que essas duas majestades, Rita Lee e Elza Soares, pudessem dar este presente a seus súditos, mesmo depois de partirem. A letra é da rainha do rock, um testamento poético à altura de Elza: “Rainha africana/ Brazuca sul-americana/ Poderosa no meu trono/ Eu não tenho dono”. LEIA AQUI.

3- Insista em Mim (Ana Frango Elétrico) - intérprete Ana Frango Elétrico

O melhor disco da música brasileira em 2023, Me Chama de Gato que Sou Sua, tem um punhado de canções inesquecíveis. Essa balada romântica, porém, é imbatível: um soul a la Cassiano/Curtis Mayfield, com a assinatura de uma autêntica esteta da canção pop.

Pedro Só, jornalista

1- Precipício (Vicente Nucci, Vinicius Castro e Zé Motta) - intérpretes Vicente Nucci, Vinicius Castro e Zé Motta (com participação de Lenine)

Ora, direis ouvir clarones! O single inicial do projeto Sopro, que reúne três filhos cariocas do Clube da Esquina e o arranjador Pedro Araújo, recupera a ambição e a grandiosidade de alguns dos melhores momentos da MPB setentista. Lenine canta sobre um mar de ideias e surpresas, ilustradas com precisão por uma orquestra gravada em Praga, na República Tcheca.

2- Embolada de Amor (Paloma Rocha e Rubinho Jacobina) - Rubinho Jacobina

Um dos encantos mais surpreendentes do terceiro e muito aguardado terceiro álbum de cantor e compositor carioca (Amor Universal), esta parceria com Paloma Rocha é um banho de ternura sacana e lirismo atemporal. Faz um contraponto perfeito para o espírito neotropicalista de Rubinho, bem expresso em outras canções da nova safra como Sambarilove.

3- Insista em Mim (Ana Frango Elétrico) - intérprete Ana Frango Elétrico

Uma das jóias de Me Chama de Gato que Eu Sou Sua, terceiro álbum da carioca Ana Fainguelernt, artista com A maiúsculo. Pop e supercontemporânea, mas ao mesmo tempo ancorada na tradição de excelência da música brasileira, ela brinca à vontade com linguagens de MPB e boogie em um arranjo classudo em que brilham Dora Morelenbaum, Marlon Sette e Alberto Continentino.

Rodrigo Ortega, editor de cultura do Estadão

1 - Erro Gostoso (De Ângelo, Edson Garcia, Eliane Quexin, Filipe Martins, Flavinho do Kadet e Lucas Souza) - intérprete Simone Mendes

O arranjo é vacilante nos versos, cheio de paradinhas, e decidido no refrão: intenso, derramado. No tal refrão, a melodia é circular, volta ao mesmo ponto de várias maneiras. A história é da mulher que vacila, para, reflete, e resolve tomar a decisão errada várias vezes. Tudo bem amarrado, perfeito. É a velha fórmula pop de cantar sobre um vício amoroso com uma melodia viciante - mas aqui mais brasileira, sob o calor escaldante de um forró arrochado.

2- Melhor Só (Baco Exu do Blues, KayBlack e Marquinho no Beat) - intérpretes Kayblack e Baco Exu do Blues

Há anos o trap, a variação mais chapada do rap do sul dos EUA, ganha adeptos brasileiros que tentam emplacar um grande hit autenticamente nacional. A grande maioria parece dublagem mal feita. Filho de um pagodeiro da periferia de São Paulo, Kayblack, não ficou perdido na tradução e acertou um dos sucessos do ano. Com Baco Exu do Blues, o trap sofrido Melhor Só lembra igualmente Drake e Jeito Moleque.

3 - Chorei na Vaquejada (Eric Land e Renatha Sales) - intérpretes Eric Land e Tarcísio do Acordeon

Na introdução, a sanfona de Tarcísio do Acordeon faz seus dois movimentos. O primeiro é direto, pop. A sequência tem um arremate mais quebrado. Em algum lugar ali se encontram U2 e Luiz Gonzaga. Chorei na Vaquejada é isso aí: a evolução do piseiro, o forró de teclado que renovou a linguagem do pop do Nordeste com sensibilidade de raiz e contemporânea. Agora a batida eletrônica ficou mais encorpada. É vaquejada com sotaque de David Guetta, ou o contrário. Pisadinha de arena.

Sabrina Legramandi, repórter de cultura do Estadão

1 - No Tempo da Intolerância (Elza Soares, Jefferson Junior, Pedro Loureiro e Umberto Tavares)- intérprete Elza Soares

Que privilégio é ouvir Elza Soares. E que privilégio é ouvir Elza Soares falando o que pensa. O ano foi marcado pelo lançamento do primeiro álbum póstumo da artista e, quem diria, o que mais possui a verdadeira voz de Elza. Oito das dez canções foram assinadas por ela. A cantora ainda nos presenteou com uma das últimas letras compostas pela eterna Rita Lee. No Tempo da Intolerância, que dá nome ao álbum, resume a majestade e o significado de Elza. Azar do passado, que não a permitiu ser tão autoral assim. Sorte do presente, que a permitiu ser atemporal. LEIA AQUI.

2 - Fé Nas Maluca (André Nine, Carolzinha, Douglas Moda e Iza) - intérpretes Iza e MC Carol

Iza teve um ano belíssimo. Com um novo álbum potente, coerente com o que já fez e shows impecáveis em festivais como o The Town, a cantora se coroou como uma das maiores popstars brasileiras de 2023. E tudo começou com Fé Nas Maluca, single que antecedeu o disco Afrodhit. A cantora apostou alto ao anunciar a parceria com MC Carol, outro nome forte na música brasileira atual. O resultado não poderia ser melhor: uma mistura entre funk e trap - que também foi um dos ritmos do ano -, um clipe lindo em película e, principalmente, um protesto. Iza merece chegar onde chegou e onde ainda vai chegar. LEIA AQUI.

3 - Espero que Entendam (Ebony) - intérprete Ebony

Quando você dá play em Espero Que Entendam, começa a pensar em quanto tempo Ebony guardou as palavras que canta até lançar a diss que gerou polêmica há cerca de um mês. A artista se coloca em uma posição extremamente vulnerável: já começa dizendo que “fã de rapper masculino é igual de diva pop”. Ela, uma mulher em um cenário musical extremamente masculino. Música precisa ser feita para incomodar. E Ebony incomodou, e muito. “Preciso provar meu ponto”, repete ela incontáveis vezes - algo que, depois do lançamento, conseguiu. Bastou a reação dos rappers citados: uma postura mais de admiração pela “coragem” do que um esforço em a colocar em posição de igualdade.

Ana Lourenço, repórter de saúde e bem-estar do Estadão

1 - Chico (Bruno Caliman, Carolzinha, Douglas Moda, Jenni Mosello e Luísa Sonza) - intérprete Luisa Sonza

Não tem como não citar uma das músicas mais escutadas do ano e, com certeza, uma das mais faladas do País. A melodia envolve o ouvinte que se permite entrar na poesia romântica escrita por Luísa para o então namorado, Chico Moedas. Há quem diga que é bossa nova, há quem discorde, mas é preciso admitir que chega perto. Se for, é a primeira do gênero a chegar ao topo das plataformas de streaming no Brasil. Afinal, na época do auge do estilo o streaming nem existia. É lindo, é cativante e se destaca no último disco de Luísa, Escândalo Íntimo. LEIA AQUI.

2 - Depois do Fim (João Ferreira, Otávio Cardoso Furtado e Pedro Calais) - intérprete Lagum

Entre o reggae e a MPB, a música da banda mineira Lagum é daquelas perfeitas para escutar em dias ruins. O ritmo dançante e a letra de incentivo para seguir em frente depois de um término deixam aquele clima de esperança no ar - uma vibe que já tinha sido vista no álbum anterior, Memórias. Ela dá nome ao quarto álbum da banda. Dentre tantos jovens cantando músicas pessimistas numa pose indie depressiva, o Lagum vem para quem já está disposto a deixar o sentimento para trás.

3 - Escorpião (Jão, Pedro Tofani e Zebu) - intérprete Jão

Sabe a sensação de finalmente falar em voz alta e clara algo que há tempos estava preso dentro de você? Jão consegue traduzir essa exata liberdade com a música que é uma resposta aliviada para um relacionamento passado. O clímax é criado com um solo de 20 segundos, seguido por um desabafo ritmado do cantor sobre insegurança e dores que carrega. Finalmente no refrão ele explode falando realmente o que sente em uma clara resposta de raiva e ódio. O álbum Super é quase um diário aberto, onde Jão fala da sua relação consigo mesmo, incluindo sua bissexualidade já assumida e relações passadas. É por ser tão destemido e expor letras tão sinceras que qualquer um consegue se identificar. LEIA MAIS AQUI.

Leia mais sobre as duas cantoras mais citadas:

Ouça uma playlist com as melhores músicas selecionadas pelo Estadão

Talvez muita gente ainda não saiba de um dado fundamental para entender a lista abaixo: todos os dias são lançadas mais de 100 mil músicas nas plataformas de streaming, entre produções nacionais e estrangeiras.

Por isso, o ranking das melhores canções brasileiras de 2023 apresentado abaixo é tão diverso. Melhor assim. A música brasileira é feita exatamente dessa pluralidade de gêneros e de artistas - e eles gostam de se encontrar, seja em gravações ou em referências.

O Estadão convidou jornalistas que estiveram profundamente envolvidos com a música neste ano que elaboraram uma lista de canções que, de uma maneira ou de outra, passaram pela vida dos ouvintes.

As cantoras Ana Frango Elétrico e Ebony entre as mais votadas Foto: Hick Duarte; Mateus Aguiar

Veja, abaixo, as listas de melhores e as justificativas. Mesmo em listas tão diversas, duas cantoras brasileiras, Ebony e Ana Frango Elétrico, alcançaram o feito de serem citadas três vezes cada uma.

Danilo Casaletti, repórter de cultura do Estadão

1 - O Canto da Terra Por um Fio (João Bosco/Francisco Bosco) - intérprete João Bosco

Quase no apagar das luzes de 2023, o cantor e compositor lançou sua primeira música inédita em seis anos - e que vai estar em um álbum que João pretende lançar em 2024, outra boa notícia. Com seu canto e violão repletos de ancestralidade, e o auxílio do cello tocado pelo craque Jacques Morelenbaum, João - sem pieguices - fala sobre os povos originários e da relação profunda que eles têm com a natureza e sua preservação. São 6 minutos e 35 segundos de puro transe. E uma frase sensacional escrita por Francisco: “pro homem do desterro o futuro é velho”.

2- Ata-me (Junio Barreto) - intérprete Alaíde Costa

Alaíde Costa vive, há cerca de três anos, um potente renascimento artístico, sobretudo depois que lançou o álbum de inéditas O que Meus Calos Dizem Sobre Mim, em 2022. Mas foi neste 2023 que ela lançou uma canção visceral feita sob medida para sua voz marcante. Impossível não se emocionar ouvindo-a cantar os versos que ela ganhou do compositor pernambucano Junio Barreto. Em tempos de camping musical, onde uma música é assinada por cinco ou seis pessoas, é preciso louvar um compositor que faz letra e melodia de uma canção tão bonita.

3- Meu Samba Anda Por Aí (João Nogueira/Paulo Valdez) - intérprete Diogo Nogueira

No ano em que o samba voltou à ancestralidade, Diogo encontrou, quase que por acaso, uma canção inédita de seu pai, João Nogueira, em parceria com Paulo Valdez, filho de Elizeth Cardoso. Samba à moda antiga, Meu Samba Anda Por Aí, certamente passará discretamente pelo grande público entre músicas de apelo mais popular no EP Sagrado. Injustiça. Mas, de certo, em algum boteco ou terreiro, onde se batuca o samba genuíno, há de se ouvir os versos “Gente lá do morro, da rua e do bar, onde não se estuda pra cantar”. LEIA MAIS AQUI.

Bárbara Correa, repórter de cultura do Estadão

1- Tambor de Aço (Marcelo Peixoto e Vinicius Leonard ) - intérprete Marcelo D2

Com letras que reverenciam a ancestralidade espiritual e musical, Iboru vai ficar para história. Dá para dizer até que marca o início de um gênero: o ‘novo samba tradicional’. Marcelo foi genial ao trazer os graves contemporâneos do hip-hop para o samba e integrar essas duas tribos em uma espécie de “terreiro” das ruas. A transversalidade do projeto, com exposição, filme e roda de samba, fez com que o álbum ganhasse um corpo vivo e se materializasse na energia de uma entidade. Tambor de Aço é a expressão mais palpável disso. Nela, D2 faz com que viajemos pela experiência quase sagrada dos tambores e transforma sua música em um ponto de terreiro (cânticos das religiões de matriz africana). LEIA AQUI.

2- Espero que Entendam (Ebony) - intérprete Ebony

Há 7 anos não víamos a cena do hip-hop tremer como Ebony fez com a diss track Espero que Entendam. Assim como Baco Exu do Blues e outros rappers do Nordeste fizeram em 2016 com Sulicidio, na qual eles criticaram a falta de espaço para artistas de rap fora do Sudeste, a artista chacoalhou a cena ao reivindicar que mulheres sejam mais ouvidas no rap e trap daqui. Não tem como negar que a rima e levada de Ebony são excepcionais e projetaram toda grandeza de seu álbum Terapia. LEIA MAIS.

3- Novo Balanço (André Nagallio e Veigh) - intérprete Veigh

Veigh também fez com que o trap furasse a bolha do hip-hop e competisse com o sertanejo e pop no ranking das músicas mais ouvidas neste ano. Em maio, seu álbum Dos Prédios Deluxe conquistou o top 1 global do Spotify e, com apenas dois anos de carreira, desbancou nomes como Anitta, Beyoncé e Harry Styles. Na principal música do álbum ele anuncia um Novo Balanço, como um prenúncio do que ele estava prestes a conquistar, enquanto enaltece a ascensão da cultura periférica no mainstream.

Dora Guerra, jornalista

1- Insista em Mim (Ana Frango Elétrico) - intérprete Ana Frango Elétrico

Antes de 2023, Ana Frango Elétrico já era a queridinha dos alternativos – se é que dá para chamar assim. Mas em seu caminho rumo ao grande disco Me Chama De Gato Que Sou Sua, ela provou que tem de tudo um pouco em Insista em Mim. É aquela balada charmosinha, que seduz, um soul brasileiro gostoso, autêntico. Pedir carinho é pouco: para Ana, o novo pedido é “me plante agora em seu jardim”.

2 - Homenagem (Luiza Lian e Charles Tixier) - intérprete Luiza Lian

Dizem que o Brasil está cheio de músicas de temática sexual, mas poucas têm o charme e sagacidade de Homenagem. Bem produzida, eletrônica sem acelerar, a faixa de Luiza Lian faz várias alusões, mas deixa a conclusão ao ouvinte. É empoderador até, se quiser entrar por esse lado. “Chega em casa, pensa em mim, faz uma homenagem”, canta Luiza, quase com uma piscadela. Não se deixe cair no papo da temática “repetida”: a sedução musical, quando bem-feita, nunca é demais.

3 -Espero que Entendam (Ebony) - intérprete Ebony e Larinhx

Mais que uma diss track, Espero Que Entendam foi o viral mais esperto e bem-humorado do ano. Os rappers brasileiros se levam muito a sério, lembrou Ebony. Em uma música, a artista conseguiu citar os grandes nomes do rap e reforçar que está à altura — senão acima – de quem a subestima. Chamou a atenção, fez todo mundo rir, mas exigiu respeito também. “Espero que entendam, vidas”. Tem que ter muito talento (e confiança) para acertar desse jeito.

Emanuel Bomfim, diretor artístico da Rádio Eldorado

1 -Mar Profundo (Jonatahn Ferr, Lay, Lio e Machado) - intérprete Jonathan Ferr

É das mãos do pianista nascido em Madureira (RJ) que se extrai a melhor canção de 2023. A linhagem erudita/jazzística está no deslizar das teclas, mas não é um elemento isolado, se “funde e confunde” com os vocais do Tuyo e uma base flutuante.

2- Rainha Africana (Rita Lee e Roberto de Carvalho) - intérprete Elza Soares

Quiseram os deuses que essas duas majestades, Rita Lee e Elza Soares, pudessem dar este presente a seus súditos, mesmo depois de partirem. A letra é da rainha do rock, um testamento poético à altura de Elza: “Rainha africana/ Brazuca sul-americana/ Poderosa no meu trono/ Eu não tenho dono”. LEIA AQUI.

3- Insista em Mim (Ana Frango Elétrico) - intérprete Ana Frango Elétrico

O melhor disco da música brasileira em 2023, Me Chama de Gato que Sou Sua, tem um punhado de canções inesquecíveis. Essa balada romântica, porém, é imbatível: um soul a la Cassiano/Curtis Mayfield, com a assinatura de uma autêntica esteta da canção pop.

Pedro Só, jornalista

1- Precipício (Vicente Nucci, Vinicius Castro e Zé Motta) - intérpretes Vicente Nucci, Vinicius Castro e Zé Motta (com participação de Lenine)

Ora, direis ouvir clarones! O single inicial do projeto Sopro, que reúne três filhos cariocas do Clube da Esquina e o arranjador Pedro Araújo, recupera a ambição e a grandiosidade de alguns dos melhores momentos da MPB setentista. Lenine canta sobre um mar de ideias e surpresas, ilustradas com precisão por uma orquestra gravada em Praga, na República Tcheca.

2- Embolada de Amor (Paloma Rocha e Rubinho Jacobina) - Rubinho Jacobina

Um dos encantos mais surpreendentes do terceiro e muito aguardado terceiro álbum de cantor e compositor carioca (Amor Universal), esta parceria com Paloma Rocha é um banho de ternura sacana e lirismo atemporal. Faz um contraponto perfeito para o espírito neotropicalista de Rubinho, bem expresso em outras canções da nova safra como Sambarilove.

3- Insista em Mim (Ana Frango Elétrico) - intérprete Ana Frango Elétrico

Uma das jóias de Me Chama de Gato que Eu Sou Sua, terceiro álbum da carioca Ana Fainguelernt, artista com A maiúsculo. Pop e supercontemporânea, mas ao mesmo tempo ancorada na tradição de excelência da música brasileira, ela brinca à vontade com linguagens de MPB e boogie em um arranjo classudo em que brilham Dora Morelenbaum, Marlon Sette e Alberto Continentino.

Rodrigo Ortega, editor de cultura do Estadão

1 - Erro Gostoso (De Ângelo, Edson Garcia, Eliane Quexin, Filipe Martins, Flavinho do Kadet e Lucas Souza) - intérprete Simone Mendes

O arranjo é vacilante nos versos, cheio de paradinhas, e decidido no refrão: intenso, derramado. No tal refrão, a melodia é circular, volta ao mesmo ponto de várias maneiras. A história é da mulher que vacila, para, reflete, e resolve tomar a decisão errada várias vezes. Tudo bem amarrado, perfeito. É a velha fórmula pop de cantar sobre um vício amoroso com uma melodia viciante - mas aqui mais brasileira, sob o calor escaldante de um forró arrochado.

2- Melhor Só (Baco Exu do Blues, KayBlack e Marquinho no Beat) - intérpretes Kayblack e Baco Exu do Blues

Há anos o trap, a variação mais chapada do rap do sul dos EUA, ganha adeptos brasileiros que tentam emplacar um grande hit autenticamente nacional. A grande maioria parece dublagem mal feita. Filho de um pagodeiro da periferia de São Paulo, Kayblack, não ficou perdido na tradução e acertou um dos sucessos do ano. Com Baco Exu do Blues, o trap sofrido Melhor Só lembra igualmente Drake e Jeito Moleque.

3 - Chorei na Vaquejada (Eric Land e Renatha Sales) - intérpretes Eric Land e Tarcísio do Acordeon

Na introdução, a sanfona de Tarcísio do Acordeon faz seus dois movimentos. O primeiro é direto, pop. A sequência tem um arremate mais quebrado. Em algum lugar ali se encontram U2 e Luiz Gonzaga. Chorei na Vaquejada é isso aí: a evolução do piseiro, o forró de teclado que renovou a linguagem do pop do Nordeste com sensibilidade de raiz e contemporânea. Agora a batida eletrônica ficou mais encorpada. É vaquejada com sotaque de David Guetta, ou o contrário. Pisadinha de arena.

Sabrina Legramandi, repórter de cultura do Estadão

1 - No Tempo da Intolerância (Elza Soares, Jefferson Junior, Pedro Loureiro e Umberto Tavares)- intérprete Elza Soares

Que privilégio é ouvir Elza Soares. E que privilégio é ouvir Elza Soares falando o que pensa. O ano foi marcado pelo lançamento do primeiro álbum póstumo da artista e, quem diria, o que mais possui a verdadeira voz de Elza. Oito das dez canções foram assinadas por ela. A cantora ainda nos presenteou com uma das últimas letras compostas pela eterna Rita Lee. No Tempo da Intolerância, que dá nome ao álbum, resume a majestade e o significado de Elza. Azar do passado, que não a permitiu ser tão autoral assim. Sorte do presente, que a permitiu ser atemporal. LEIA AQUI.

2 - Fé Nas Maluca (André Nine, Carolzinha, Douglas Moda e Iza) - intérpretes Iza e MC Carol

Iza teve um ano belíssimo. Com um novo álbum potente, coerente com o que já fez e shows impecáveis em festivais como o The Town, a cantora se coroou como uma das maiores popstars brasileiras de 2023. E tudo começou com Fé Nas Maluca, single que antecedeu o disco Afrodhit. A cantora apostou alto ao anunciar a parceria com MC Carol, outro nome forte na música brasileira atual. O resultado não poderia ser melhor: uma mistura entre funk e trap - que também foi um dos ritmos do ano -, um clipe lindo em película e, principalmente, um protesto. Iza merece chegar onde chegou e onde ainda vai chegar. LEIA AQUI.

3 - Espero que Entendam (Ebony) - intérprete Ebony

Quando você dá play em Espero Que Entendam, começa a pensar em quanto tempo Ebony guardou as palavras que canta até lançar a diss que gerou polêmica há cerca de um mês. A artista se coloca em uma posição extremamente vulnerável: já começa dizendo que “fã de rapper masculino é igual de diva pop”. Ela, uma mulher em um cenário musical extremamente masculino. Música precisa ser feita para incomodar. E Ebony incomodou, e muito. “Preciso provar meu ponto”, repete ela incontáveis vezes - algo que, depois do lançamento, conseguiu. Bastou a reação dos rappers citados: uma postura mais de admiração pela “coragem” do que um esforço em a colocar em posição de igualdade.

Ana Lourenço, repórter de saúde e bem-estar do Estadão

1 - Chico (Bruno Caliman, Carolzinha, Douglas Moda, Jenni Mosello e Luísa Sonza) - intérprete Luisa Sonza

Não tem como não citar uma das músicas mais escutadas do ano e, com certeza, uma das mais faladas do País. A melodia envolve o ouvinte que se permite entrar na poesia romântica escrita por Luísa para o então namorado, Chico Moedas. Há quem diga que é bossa nova, há quem discorde, mas é preciso admitir que chega perto. Se for, é a primeira do gênero a chegar ao topo das plataformas de streaming no Brasil. Afinal, na época do auge do estilo o streaming nem existia. É lindo, é cativante e se destaca no último disco de Luísa, Escândalo Íntimo. LEIA AQUI.

2 - Depois do Fim (João Ferreira, Otávio Cardoso Furtado e Pedro Calais) - intérprete Lagum

Entre o reggae e a MPB, a música da banda mineira Lagum é daquelas perfeitas para escutar em dias ruins. O ritmo dançante e a letra de incentivo para seguir em frente depois de um término deixam aquele clima de esperança no ar - uma vibe que já tinha sido vista no álbum anterior, Memórias. Ela dá nome ao quarto álbum da banda. Dentre tantos jovens cantando músicas pessimistas numa pose indie depressiva, o Lagum vem para quem já está disposto a deixar o sentimento para trás.

3 - Escorpião (Jão, Pedro Tofani e Zebu) - intérprete Jão

Sabe a sensação de finalmente falar em voz alta e clara algo que há tempos estava preso dentro de você? Jão consegue traduzir essa exata liberdade com a música que é uma resposta aliviada para um relacionamento passado. O clímax é criado com um solo de 20 segundos, seguido por um desabafo ritmado do cantor sobre insegurança e dores que carrega. Finalmente no refrão ele explode falando realmente o que sente em uma clara resposta de raiva e ódio. O álbum Super é quase um diário aberto, onde Jão fala da sua relação consigo mesmo, incluindo sua bissexualidade já assumida e relações passadas. É por ser tão destemido e expor letras tão sinceras que qualquer um consegue se identificar. LEIA MAIS AQUI.

Leia mais sobre as duas cantoras mais citadas:

Ouça uma playlist com as melhores músicas selecionadas pelo Estadão

Talvez muita gente ainda não saiba de um dado fundamental para entender a lista abaixo: todos os dias são lançadas mais de 100 mil músicas nas plataformas de streaming, entre produções nacionais e estrangeiras.

Por isso, o ranking das melhores canções brasileiras de 2023 apresentado abaixo é tão diverso. Melhor assim. A música brasileira é feita exatamente dessa pluralidade de gêneros e de artistas - e eles gostam de se encontrar, seja em gravações ou em referências.

O Estadão convidou jornalistas que estiveram profundamente envolvidos com a música neste ano que elaboraram uma lista de canções que, de uma maneira ou de outra, passaram pela vida dos ouvintes.

As cantoras Ana Frango Elétrico e Ebony entre as mais votadas Foto: Hick Duarte; Mateus Aguiar

Veja, abaixo, as listas de melhores e as justificativas. Mesmo em listas tão diversas, duas cantoras brasileiras, Ebony e Ana Frango Elétrico, alcançaram o feito de serem citadas três vezes cada uma.

Danilo Casaletti, repórter de cultura do Estadão

1 - O Canto da Terra Por um Fio (João Bosco/Francisco Bosco) - intérprete João Bosco

Quase no apagar das luzes de 2023, o cantor e compositor lançou sua primeira música inédita em seis anos - e que vai estar em um álbum que João pretende lançar em 2024, outra boa notícia. Com seu canto e violão repletos de ancestralidade, e o auxílio do cello tocado pelo craque Jacques Morelenbaum, João - sem pieguices - fala sobre os povos originários e da relação profunda que eles têm com a natureza e sua preservação. São 6 minutos e 35 segundos de puro transe. E uma frase sensacional escrita por Francisco: “pro homem do desterro o futuro é velho”.

2- Ata-me (Junio Barreto) - intérprete Alaíde Costa

Alaíde Costa vive, há cerca de três anos, um potente renascimento artístico, sobretudo depois que lançou o álbum de inéditas O que Meus Calos Dizem Sobre Mim, em 2022. Mas foi neste 2023 que ela lançou uma canção visceral feita sob medida para sua voz marcante. Impossível não se emocionar ouvindo-a cantar os versos que ela ganhou do compositor pernambucano Junio Barreto. Em tempos de camping musical, onde uma música é assinada por cinco ou seis pessoas, é preciso louvar um compositor que faz letra e melodia de uma canção tão bonita.

3- Meu Samba Anda Por Aí (João Nogueira/Paulo Valdez) - intérprete Diogo Nogueira

No ano em que o samba voltou à ancestralidade, Diogo encontrou, quase que por acaso, uma canção inédita de seu pai, João Nogueira, em parceria com Paulo Valdez, filho de Elizeth Cardoso. Samba à moda antiga, Meu Samba Anda Por Aí, certamente passará discretamente pelo grande público entre músicas de apelo mais popular no EP Sagrado. Injustiça. Mas, de certo, em algum boteco ou terreiro, onde se batuca o samba genuíno, há de se ouvir os versos “Gente lá do morro, da rua e do bar, onde não se estuda pra cantar”. LEIA MAIS AQUI.

Bárbara Correa, repórter de cultura do Estadão

1- Tambor de Aço (Marcelo Peixoto e Vinicius Leonard ) - intérprete Marcelo D2

Com letras que reverenciam a ancestralidade espiritual e musical, Iboru vai ficar para história. Dá para dizer até que marca o início de um gênero: o ‘novo samba tradicional’. Marcelo foi genial ao trazer os graves contemporâneos do hip-hop para o samba e integrar essas duas tribos em uma espécie de “terreiro” das ruas. A transversalidade do projeto, com exposição, filme e roda de samba, fez com que o álbum ganhasse um corpo vivo e se materializasse na energia de uma entidade. Tambor de Aço é a expressão mais palpável disso. Nela, D2 faz com que viajemos pela experiência quase sagrada dos tambores e transforma sua música em um ponto de terreiro (cânticos das religiões de matriz africana). LEIA AQUI.

2- Espero que Entendam (Ebony) - intérprete Ebony

Há 7 anos não víamos a cena do hip-hop tremer como Ebony fez com a diss track Espero que Entendam. Assim como Baco Exu do Blues e outros rappers do Nordeste fizeram em 2016 com Sulicidio, na qual eles criticaram a falta de espaço para artistas de rap fora do Sudeste, a artista chacoalhou a cena ao reivindicar que mulheres sejam mais ouvidas no rap e trap daqui. Não tem como negar que a rima e levada de Ebony são excepcionais e projetaram toda grandeza de seu álbum Terapia. LEIA MAIS.

3- Novo Balanço (André Nagallio e Veigh) - intérprete Veigh

Veigh também fez com que o trap furasse a bolha do hip-hop e competisse com o sertanejo e pop no ranking das músicas mais ouvidas neste ano. Em maio, seu álbum Dos Prédios Deluxe conquistou o top 1 global do Spotify e, com apenas dois anos de carreira, desbancou nomes como Anitta, Beyoncé e Harry Styles. Na principal música do álbum ele anuncia um Novo Balanço, como um prenúncio do que ele estava prestes a conquistar, enquanto enaltece a ascensão da cultura periférica no mainstream.

Dora Guerra, jornalista

1- Insista em Mim (Ana Frango Elétrico) - intérprete Ana Frango Elétrico

Antes de 2023, Ana Frango Elétrico já era a queridinha dos alternativos – se é que dá para chamar assim. Mas em seu caminho rumo ao grande disco Me Chama De Gato Que Sou Sua, ela provou que tem de tudo um pouco em Insista em Mim. É aquela balada charmosinha, que seduz, um soul brasileiro gostoso, autêntico. Pedir carinho é pouco: para Ana, o novo pedido é “me plante agora em seu jardim”.

2 - Homenagem (Luiza Lian e Charles Tixier) - intérprete Luiza Lian

Dizem que o Brasil está cheio de músicas de temática sexual, mas poucas têm o charme e sagacidade de Homenagem. Bem produzida, eletrônica sem acelerar, a faixa de Luiza Lian faz várias alusões, mas deixa a conclusão ao ouvinte. É empoderador até, se quiser entrar por esse lado. “Chega em casa, pensa em mim, faz uma homenagem”, canta Luiza, quase com uma piscadela. Não se deixe cair no papo da temática “repetida”: a sedução musical, quando bem-feita, nunca é demais.

3 -Espero que Entendam (Ebony) - intérprete Ebony e Larinhx

Mais que uma diss track, Espero Que Entendam foi o viral mais esperto e bem-humorado do ano. Os rappers brasileiros se levam muito a sério, lembrou Ebony. Em uma música, a artista conseguiu citar os grandes nomes do rap e reforçar que está à altura — senão acima – de quem a subestima. Chamou a atenção, fez todo mundo rir, mas exigiu respeito também. “Espero que entendam, vidas”. Tem que ter muito talento (e confiança) para acertar desse jeito.

Emanuel Bomfim, diretor artístico da Rádio Eldorado

1 -Mar Profundo (Jonatahn Ferr, Lay, Lio e Machado) - intérprete Jonathan Ferr

É das mãos do pianista nascido em Madureira (RJ) que se extrai a melhor canção de 2023. A linhagem erudita/jazzística está no deslizar das teclas, mas não é um elemento isolado, se “funde e confunde” com os vocais do Tuyo e uma base flutuante.

2- Rainha Africana (Rita Lee e Roberto de Carvalho) - intérprete Elza Soares

Quiseram os deuses que essas duas majestades, Rita Lee e Elza Soares, pudessem dar este presente a seus súditos, mesmo depois de partirem. A letra é da rainha do rock, um testamento poético à altura de Elza: “Rainha africana/ Brazuca sul-americana/ Poderosa no meu trono/ Eu não tenho dono”. LEIA AQUI.

3- Insista em Mim (Ana Frango Elétrico) - intérprete Ana Frango Elétrico

O melhor disco da música brasileira em 2023, Me Chama de Gato que Sou Sua, tem um punhado de canções inesquecíveis. Essa balada romântica, porém, é imbatível: um soul a la Cassiano/Curtis Mayfield, com a assinatura de uma autêntica esteta da canção pop.

Pedro Só, jornalista

1- Precipício (Vicente Nucci, Vinicius Castro e Zé Motta) - intérpretes Vicente Nucci, Vinicius Castro e Zé Motta (com participação de Lenine)

Ora, direis ouvir clarones! O single inicial do projeto Sopro, que reúne três filhos cariocas do Clube da Esquina e o arranjador Pedro Araújo, recupera a ambição e a grandiosidade de alguns dos melhores momentos da MPB setentista. Lenine canta sobre um mar de ideias e surpresas, ilustradas com precisão por uma orquestra gravada em Praga, na República Tcheca.

2- Embolada de Amor (Paloma Rocha e Rubinho Jacobina) - Rubinho Jacobina

Um dos encantos mais surpreendentes do terceiro e muito aguardado terceiro álbum de cantor e compositor carioca (Amor Universal), esta parceria com Paloma Rocha é um banho de ternura sacana e lirismo atemporal. Faz um contraponto perfeito para o espírito neotropicalista de Rubinho, bem expresso em outras canções da nova safra como Sambarilove.

3- Insista em Mim (Ana Frango Elétrico) - intérprete Ana Frango Elétrico

Uma das jóias de Me Chama de Gato que Eu Sou Sua, terceiro álbum da carioca Ana Fainguelernt, artista com A maiúsculo. Pop e supercontemporânea, mas ao mesmo tempo ancorada na tradição de excelência da música brasileira, ela brinca à vontade com linguagens de MPB e boogie em um arranjo classudo em que brilham Dora Morelenbaum, Marlon Sette e Alberto Continentino.

Rodrigo Ortega, editor de cultura do Estadão

1 - Erro Gostoso (De Ângelo, Edson Garcia, Eliane Quexin, Filipe Martins, Flavinho do Kadet e Lucas Souza) - intérprete Simone Mendes

O arranjo é vacilante nos versos, cheio de paradinhas, e decidido no refrão: intenso, derramado. No tal refrão, a melodia é circular, volta ao mesmo ponto de várias maneiras. A história é da mulher que vacila, para, reflete, e resolve tomar a decisão errada várias vezes. Tudo bem amarrado, perfeito. É a velha fórmula pop de cantar sobre um vício amoroso com uma melodia viciante - mas aqui mais brasileira, sob o calor escaldante de um forró arrochado.

2- Melhor Só (Baco Exu do Blues, KayBlack e Marquinho no Beat) - intérpretes Kayblack e Baco Exu do Blues

Há anos o trap, a variação mais chapada do rap do sul dos EUA, ganha adeptos brasileiros que tentam emplacar um grande hit autenticamente nacional. A grande maioria parece dublagem mal feita. Filho de um pagodeiro da periferia de São Paulo, Kayblack, não ficou perdido na tradução e acertou um dos sucessos do ano. Com Baco Exu do Blues, o trap sofrido Melhor Só lembra igualmente Drake e Jeito Moleque.

3 - Chorei na Vaquejada (Eric Land e Renatha Sales) - intérpretes Eric Land e Tarcísio do Acordeon

Na introdução, a sanfona de Tarcísio do Acordeon faz seus dois movimentos. O primeiro é direto, pop. A sequência tem um arremate mais quebrado. Em algum lugar ali se encontram U2 e Luiz Gonzaga. Chorei na Vaquejada é isso aí: a evolução do piseiro, o forró de teclado que renovou a linguagem do pop do Nordeste com sensibilidade de raiz e contemporânea. Agora a batida eletrônica ficou mais encorpada. É vaquejada com sotaque de David Guetta, ou o contrário. Pisadinha de arena.

Sabrina Legramandi, repórter de cultura do Estadão

1 - No Tempo da Intolerância (Elza Soares, Jefferson Junior, Pedro Loureiro e Umberto Tavares)- intérprete Elza Soares

Que privilégio é ouvir Elza Soares. E que privilégio é ouvir Elza Soares falando o que pensa. O ano foi marcado pelo lançamento do primeiro álbum póstumo da artista e, quem diria, o que mais possui a verdadeira voz de Elza. Oito das dez canções foram assinadas por ela. A cantora ainda nos presenteou com uma das últimas letras compostas pela eterna Rita Lee. No Tempo da Intolerância, que dá nome ao álbum, resume a majestade e o significado de Elza. Azar do passado, que não a permitiu ser tão autoral assim. Sorte do presente, que a permitiu ser atemporal. LEIA AQUI.

2 - Fé Nas Maluca (André Nine, Carolzinha, Douglas Moda e Iza) - intérpretes Iza e MC Carol

Iza teve um ano belíssimo. Com um novo álbum potente, coerente com o que já fez e shows impecáveis em festivais como o The Town, a cantora se coroou como uma das maiores popstars brasileiras de 2023. E tudo começou com Fé Nas Maluca, single que antecedeu o disco Afrodhit. A cantora apostou alto ao anunciar a parceria com MC Carol, outro nome forte na música brasileira atual. O resultado não poderia ser melhor: uma mistura entre funk e trap - que também foi um dos ritmos do ano -, um clipe lindo em película e, principalmente, um protesto. Iza merece chegar onde chegou e onde ainda vai chegar. LEIA AQUI.

3 - Espero que Entendam (Ebony) - intérprete Ebony

Quando você dá play em Espero Que Entendam, começa a pensar em quanto tempo Ebony guardou as palavras que canta até lançar a diss que gerou polêmica há cerca de um mês. A artista se coloca em uma posição extremamente vulnerável: já começa dizendo que “fã de rapper masculino é igual de diva pop”. Ela, uma mulher em um cenário musical extremamente masculino. Música precisa ser feita para incomodar. E Ebony incomodou, e muito. “Preciso provar meu ponto”, repete ela incontáveis vezes - algo que, depois do lançamento, conseguiu. Bastou a reação dos rappers citados: uma postura mais de admiração pela “coragem” do que um esforço em a colocar em posição de igualdade.

Ana Lourenço, repórter de saúde e bem-estar do Estadão

1 - Chico (Bruno Caliman, Carolzinha, Douglas Moda, Jenni Mosello e Luísa Sonza) - intérprete Luisa Sonza

Não tem como não citar uma das músicas mais escutadas do ano e, com certeza, uma das mais faladas do País. A melodia envolve o ouvinte que se permite entrar na poesia romântica escrita por Luísa para o então namorado, Chico Moedas. Há quem diga que é bossa nova, há quem discorde, mas é preciso admitir que chega perto. Se for, é a primeira do gênero a chegar ao topo das plataformas de streaming no Brasil. Afinal, na época do auge do estilo o streaming nem existia. É lindo, é cativante e se destaca no último disco de Luísa, Escândalo Íntimo. LEIA AQUI.

2 - Depois do Fim (João Ferreira, Otávio Cardoso Furtado e Pedro Calais) - intérprete Lagum

Entre o reggae e a MPB, a música da banda mineira Lagum é daquelas perfeitas para escutar em dias ruins. O ritmo dançante e a letra de incentivo para seguir em frente depois de um término deixam aquele clima de esperança no ar - uma vibe que já tinha sido vista no álbum anterior, Memórias. Ela dá nome ao quarto álbum da banda. Dentre tantos jovens cantando músicas pessimistas numa pose indie depressiva, o Lagum vem para quem já está disposto a deixar o sentimento para trás.

3 - Escorpião (Jão, Pedro Tofani e Zebu) - intérprete Jão

Sabe a sensação de finalmente falar em voz alta e clara algo que há tempos estava preso dentro de você? Jão consegue traduzir essa exata liberdade com a música que é uma resposta aliviada para um relacionamento passado. O clímax é criado com um solo de 20 segundos, seguido por um desabafo ritmado do cantor sobre insegurança e dores que carrega. Finalmente no refrão ele explode falando realmente o que sente em uma clara resposta de raiva e ódio. O álbum Super é quase um diário aberto, onde Jão fala da sua relação consigo mesmo, incluindo sua bissexualidade já assumida e relações passadas. É por ser tão destemido e expor letras tão sinceras que qualquer um consegue se identificar. LEIA MAIS AQUI.

Leia mais sobre as duas cantoras mais citadas:

Ouça uma playlist com as melhores músicas selecionadas pelo Estadão

Talvez muita gente ainda não saiba de um dado fundamental para entender a lista abaixo: todos os dias são lançadas mais de 100 mil músicas nas plataformas de streaming, entre produções nacionais e estrangeiras.

Por isso, o ranking das melhores canções brasileiras de 2023 apresentado abaixo é tão diverso. Melhor assim. A música brasileira é feita exatamente dessa pluralidade de gêneros e de artistas - e eles gostam de se encontrar, seja em gravações ou em referências.

O Estadão convidou jornalistas que estiveram profundamente envolvidos com a música neste ano que elaboraram uma lista de canções que, de uma maneira ou de outra, passaram pela vida dos ouvintes.

As cantoras Ana Frango Elétrico e Ebony entre as mais votadas Foto: Hick Duarte; Mateus Aguiar

Veja, abaixo, as listas de melhores e as justificativas. Mesmo em listas tão diversas, duas cantoras brasileiras, Ebony e Ana Frango Elétrico, alcançaram o feito de serem citadas três vezes cada uma.

Danilo Casaletti, repórter de cultura do Estadão

1 - O Canto da Terra Por um Fio (João Bosco/Francisco Bosco) - intérprete João Bosco

Quase no apagar das luzes de 2023, o cantor e compositor lançou sua primeira música inédita em seis anos - e que vai estar em um álbum que João pretende lançar em 2024, outra boa notícia. Com seu canto e violão repletos de ancestralidade, e o auxílio do cello tocado pelo craque Jacques Morelenbaum, João - sem pieguices - fala sobre os povos originários e da relação profunda que eles têm com a natureza e sua preservação. São 6 minutos e 35 segundos de puro transe. E uma frase sensacional escrita por Francisco: “pro homem do desterro o futuro é velho”.

2- Ata-me (Junio Barreto) - intérprete Alaíde Costa

Alaíde Costa vive, há cerca de três anos, um potente renascimento artístico, sobretudo depois que lançou o álbum de inéditas O que Meus Calos Dizem Sobre Mim, em 2022. Mas foi neste 2023 que ela lançou uma canção visceral feita sob medida para sua voz marcante. Impossível não se emocionar ouvindo-a cantar os versos que ela ganhou do compositor pernambucano Junio Barreto. Em tempos de camping musical, onde uma música é assinada por cinco ou seis pessoas, é preciso louvar um compositor que faz letra e melodia de uma canção tão bonita.

3- Meu Samba Anda Por Aí (João Nogueira/Paulo Valdez) - intérprete Diogo Nogueira

No ano em que o samba voltou à ancestralidade, Diogo encontrou, quase que por acaso, uma canção inédita de seu pai, João Nogueira, em parceria com Paulo Valdez, filho de Elizeth Cardoso. Samba à moda antiga, Meu Samba Anda Por Aí, certamente passará discretamente pelo grande público entre músicas de apelo mais popular no EP Sagrado. Injustiça. Mas, de certo, em algum boteco ou terreiro, onde se batuca o samba genuíno, há de se ouvir os versos “Gente lá do morro, da rua e do bar, onde não se estuda pra cantar”. LEIA MAIS AQUI.

Bárbara Correa, repórter de cultura do Estadão

1- Tambor de Aço (Marcelo Peixoto e Vinicius Leonard ) - intérprete Marcelo D2

Com letras que reverenciam a ancestralidade espiritual e musical, Iboru vai ficar para história. Dá para dizer até que marca o início de um gênero: o ‘novo samba tradicional’. Marcelo foi genial ao trazer os graves contemporâneos do hip-hop para o samba e integrar essas duas tribos em uma espécie de “terreiro” das ruas. A transversalidade do projeto, com exposição, filme e roda de samba, fez com que o álbum ganhasse um corpo vivo e se materializasse na energia de uma entidade. Tambor de Aço é a expressão mais palpável disso. Nela, D2 faz com que viajemos pela experiência quase sagrada dos tambores e transforma sua música em um ponto de terreiro (cânticos das religiões de matriz africana). LEIA AQUI.

2- Espero que Entendam (Ebony) - intérprete Ebony

Há 7 anos não víamos a cena do hip-hop tremer como Ebony fez com a diss track Espero que Entendam. Assim como Baco Exu do Blues e outros rappers do Nordeste fizeram em 2016 com Sulicidio, na qual eles criticaram a falta de espaço para artistas de rap fora do Sudeste, a artista chacoalhou a cena ao reivindicar que mulheres sejam mais ouvidas no rap e trap daqui. Não tem como negar que a rima e levada de Ebony são excepcionais e projetaram toda grandeza de seu álbum Terapia. LEIA MAIS.

3- Novo Balanço (André Nagallio e Veigh) - intérprete Veigh

Veigh também fez com que o trap furasse a bolha do hip-hop e competisse com o sertanejo e pop no ranking das músicas mais ouvidas neste ano. Em maio, seu álbum Dos Prédios Deluxe conquistou o top 1 global do Spotify e, com apenas dois anos de carreira, desbancou nomes como Anitta, Beyoncé e Harry Styles. Na principal música do álbum ele anuncia um Novo Balanço, como um prenúncio do que ele estava prestes a conquistar, enquanto enaltece a ascensão da cultura periférica no mainstream.

Dora Guerra, jornalista

1- Insista em Mim (Ana Frango Elétrico) - intérprete Ana Frango Elétrico

Antes de 2023, Ana Frango Elétrico já era a queridinha dos alternativos – se é que dá para chamar assim. Mas em seu caminho rumo ao grande disco Me Chama De Gato Que Sou Sua, ela provou que tem de tudo um pouco em Insista em Mim. É aquela balada charmosinha, que seduz, um soul brasileiro gostoso, autêntico. Pedir carinho é pouco: para Ana, o novo pedido é “me plante agora em seu jardim”.

2 - Homenagem (Luiza Lian e Charles Tixier) - intérprete Luiza Lian

Dizem que o Brasil está cheio de músicas de temática sexual, mas poucas têm o charme e sagacidade de Homenagem. Bem produzida, eletrônica sem acelerar, a faixa de Luiza Lian faz várias alusões, mas deixa a conclusão ao ouvinte. É empoderador até, se quiser entrar por esse lado. “Chega em casa, pensa em mim, faz uma homenagem”, canta Luiza, quase com uma piscadela. Não se deixe cair no papo da temática “repetida”: a sedução musical, quando bem-feita, nunca é demais.

3 -Espero que Entendam (Ebony) - intérprete Ebony e Larinhx

Mais que uma diss track, Espero Que Entendam foi o viral mais esperto e bem-humorado do ano. Os rappers brasileiros se levam muito a sério, lembrou Ebony. Em uma música, a artista conseguiu citar os grandes nomes do rap e reforçar que está à altura — senão acima – de quem a subestima. Chamou a atenção, fez todo mundo rir, mas exigiu respeito também. “Espero que entendam, vidas”. Tem que ter muito talento (e confiança) para acertar desse jeito.

Emanuel Bomfim, diretor artístico da Rádio Eldorado

1 -Mar Profundo (Jonatahn Ferr, Lay, Lio e Machado) - intérprete Jonathan Ferr

É das mãos do pianista nascido em Madureira (RJ) que se extrai a melhor canção de 2023. A linhagem erudita/jazzística está no deslizar das teclas, mas não é um elemento isolado, se “funde e confunde” com os vocais do Tuyo e uma base flutuante.

2- Rainha Africana (Rita Lee e Roberto de Carvalho) - intérprete Elza Soares

Quiseram os deuses que essas duas majestades, Rita Lee e Elza Soares, pudessem dar este presente a seus súditos, mesmo depois de partirem. A letra é da rainha do rock, um testamento poético à altura de Elza: “Rainha africana/ Brazuca sul-americana/ Poderosa no meu trono/ Eu não tenho dono”. LEIA AQUI.

3- Insista em Mim (Ana Frango Elétrico) - intérprete Ana Frango Elétrico

O melhor disco da música brasileira em 2023, Me Chama de Gato que Sou Sua, tem um punhado de canções inesquecíveis. Essa balada romântica, porém, é imbatível: um soul a la Cassiano/Curtis Mayfield, com a assinatura de uma autêntica esteta da canção pop.

Pedro Só, jornalista

1- Precipício (Vicente Nucci, Vinicius Castro e Zé Motta) - intérpretes Vicente Nucci, Vinicius Castro e Zé Motta (com participação de Lenine)

Ora, direis ouvir clarones! O single inicial do projeto Sopro, que reúne três filhos cariocas do Clube da Esquina e o arranjador Pedro Araújo, recupera a ambição e a grandiosidade de alguns dos melhores momentos da MPB setentista. Lenine canta sobre um mar de ideias e surpresas, ilustradas com precisão por uma orquestra gravada em Praga, na República Tcheca.

2- Embolada de Amor (Paloma Rocha e Rubinho Jacobina) - Rubinho Jacobina

Um dos encantos mais surpreendentes do terceiro e muito aguardado terceiro álbum de cantor e compositor carioca (Amor Universal), esta parceria com Paloma Rocha é um banho de ternura sacana e lirismo atemporal. Faz um contraponto perfeito para o espírito neotropicalista de Rubinho, bem expresso em outras canções da nova safra como Sambarilove.

3- Insista em Mim (Ana Frango Elétrico) - intérprete Ana Frango Elétrico

Uma das jóias de Me Chama de Gato que Eu Sou Sua, terceiro álbum da carioca Ana Fainguelernt, artista com A maiúsculo. Pop e supercontemporânea, mas ao mesmo tempo ancorada na tradição de excelência da música brasileira, ela brinca à vontade com linguagens de MPB e boogie em um arranjo classudo em que brilham Dora Morelenbaum, Marlon Sette e Alberto Continentino.

Rodrigo Ortega, editor de cultura do Estadão

1 - Erro Gostoso (De Ângelo, Edson Garcia, Eliane Quexin, Filipe Martins, Flavinho do Kadet e Lucas Souza) - intérprete Simone Mendes

O arranjo é vacilante nos versos, cheio de paradinhas, e decidido no refrão: intenso, derramado. No tal refrão, a melodia é circular, volta ao mesmo ponto de várias maneiras. A história é da mulher que vacila, para, reflete, e resolve tomar a decisão errada várias vezes. Tudo bem amarrado, perfeito. É a velha fórmula pop de cantar sobre um vício amoroso com uma melodia viciante - mas aqui mais brasileira, sob o calor escaldante de um forró arrochado.

2- Melhor Só (Baco Exu do Blues, KayBlack e Marquinho no Beat) - intérpretes Kayblack e Baco Exu do Blues

Há anos o trap, a variação mais chapada do rap do sul dos EUA, ganha adeptos brasileiros que tentam emplacar um grande hit autenticamente nacional. A grande maioria parece dublagem mal feita. Filho de um pagodeiro da periferia de São Paulo, Kayblack, não ficou perdido na tradução e acertou um dos sucessos do ano. Com Baco Exu do Blues, o trap sofrido Melhor Só lembra igualmente Drake e Jeito Moleque.

3 - Chorei na Vaquejada (Eric Land e Renatha Sales) - intérpretes Eric Land e Tarcísio do Acordeon

Na introdução, a sanfona de Tarcísio do Acordeon faz seus dois movimentos. O primeiro é direto, pop. A sequência tem um arremate mais quebrado. Em algum lugar ali se encontram U2 e Luiz Gonzaga. Chorei na Vaquejada é isso aí: a evolução do piseiro, o forró de teclado que renovou a linguagem do pop do Nordeste com sensibilidade de raiz e contemporânea. Agora a batida eletrônica ficou mais encorpada. É vaquejada com sotaque de David Guetta, ou o contrário. Pisadinha de arena.

Sabrina Legramandi, repórter de cultura do Estadão

1 - No Tempo da Intolerância (Elza Soares, Jefferson Junior, Pedro Loureiro e Umberto Tavares)- intérprete Elza Soares

Que privilégio é ouvir Elza Soares. E que privilégio é ouvir Elza Soares falando o que pensa. O ano foi marcado pelo lançamento do primeiro álbum póstumo da artista e, quem diria, o que mais possui a verdadeira voz de Elza. Oito das dez canções foram assinadas por ela. A cantora ainda nos presenteou com uma das últimas letras compostas pela eterna Rita Lee. No Tempo da Intolerância, que dá nome ao álbum, resume a majestade e o significado de Elza. Azar do passado, que não a permitiu ser tão autoral assim. Sorte do presente, que a permitiu ser atemporal. LEIA AQUI.

2 - Fé Nas Maluca (André Nine, Carolzinha, Douglas Moda e Iza) - intérpretes Iza e MC Carol

Iza teve um ano belíssimo. Com um novo álbum potente, coerente com o que já fez e shows impecáveis em festivais como o The Town, a cantora se coroou como uma das maiores popstars brasileiras de 2023. E tudo começou com Fé Nas Maluca, single que antecedeu o disco Afrodhit. A cantora apostou alto ao anunciar a parceria com MC Carol, outro nome forte na música brasileira atual. O resultado não poderia ser melhor: uma mistura entre funk e trap - que também foi um dos ritmos do ano -, um clipe lindo em película e, principalmente, um protesto. Iza merece chegar onde chegou e onde ainda vai chegar. LEIA AQUI.

3 - Espero que Entendam (Ebony) - intérprete Ebony

Quando você dá play em Espero Que Entendam, começa a pensar em quanto tempo Ebony guardou as palavras que canta até lançar a diss que gerou polêmica há cerca de um mês. A artista se coloca em uma posição extremamente vulnerável: já começa dizendo que “fã de rapper masculino é igual de diva pop”. Ela, uma mulher em um cenário musical extremamente masculino. Música precisa ser feita para incomodar. E Ebony incomodou, e muito. “Preciso provar meu ponto”, repete ela incontáveis vezes - algo que, depois do lançamento, conseguiu. Bastou a reação dos rappers citados: uma postura mais de admiração pela “coragem” do que um esforço em a colocar em posição de igualdade.

Ana Lourenço, repórter de saúde e bem-estar do Estadão

1 - Chico (Bruno Caliman, Carolzinha, Douglas Moda, Jenni Mosello e Luísa Sonza) - intérprete Luisa Sonza

Não tem como não citar uma das músicas mais escutadas do ano e, com certeza, uma das mais faladas do País. A melodia envolve o ouvinte que se permite entrar na poesia romântica escrita por Luísa para o então namorado, Chico Moedas. Há quem diga que é bossa nova, há quem discorde, mas é preciso admitir que chega perto. Se for, é a primeira do gênero a chegar ao topo das plataformas de streaming no Brasil. Afinal, na época do auge do estilo o streaming nem existia. É lindo, é cativante e se destaca no último disco de Luísa, Escândalo Íntimo. LEIA AQUI.

2 - Depois do Fim (João Ferreira, Otávio Cardoso Furtado e Pedro Calais) - intérprete Lagum

Entre o reggae e a MPB, a música da banda mineira Lagum é daquelas perfeitas para escutar em dias ruins. O ritmo dançante e a letra de incentivo para seguir em frente depois de um término deixam aquele clima de esperança no ar - uma vibe que já tinha sido vista no álbum anterior, Memórias. Ela dá nome ao quarto álbum da banda. Dentre tantos jovens cantando músicas pessimistas numa pose indie depressiva, o Lagum vem para quem já está disposto a deixar o sentimento para trás.

3 - Escorpião (Jão, Pedro Tofani e Zebu) - intérprete Jão

Sabe a sensação de finalmente falar em voz alta e clara algo que há tempos estava preso dentro de você? Jão consegue traduzir essa exata liberdade com a música que é uma resposta aliviada para um relacionamento passado. O clímax é criado com um solo de 20 segundos, seguido por um desabafo ritmado do cantor sobre insegurança e dores que carrega. Finalmente no refrão ele explode falando realmente o que sente em uma clara resposta de raiva e ódio. O álbum Super é quase um diário aberto, onde Jão fala da sua relação consigo mesmo, incluindo sua bissexualidade já assumida e relações passadas. É por ser tão destemido e expor letras tão sinceras que qualquer um consegue se identificar. LEIA MAIS AQUI.

Leia mais sobre as duas cantoras mais citadas:

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