Quais foram as melhores músicas internacionais de 2023? E a pior? Veja lista do ‘Estadão’


Entre os principais hits estão indiretas espertas para os ex, como as que Miley Cyrus e SZA fizeram. Música latina continuou no topo, mas também há acertos no rock, no rap, no indie pop e no R&B

Por Redação

No quesito música internacional, 2023 seguiu caminhos até inesperados. Entre os principais hits, estão indiretas espertas para o ex (como fizeram Miley Cyrus e Shakira), a manutenção da América Latina no topo das paradas, com Bad Bunny, Peso Pluma e Karol G, e até o revival de sucessos “antigos”, da década passada. O escapismo e a melancolia pós-pandêmicos deram lugar a músicas mais ecléticas, que enfim falam da vida na rua e suas questões mundanças.

Mas o que deste ano ficará, e o que não resistirá ao teste do tempo? O Estadão convidou críticos de música para listar as melhores faixas deste ano – e como não podia faltar, as piores. Veja abaixo a seleção de cada um e as justificativas para os votos.

Billie Eilish lança single para a trilha sonora de 'Barbie', de Greta Gerwig Foto: Reprodução de vídeo/ YouTube Billie Eilish
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Dora Guerra

Melhores

1. Billie Eilish - What Was I Made For?: Essa música já pedia um lugar alto no ranking, simplesmente por ser a trilha da cena mais emocionante no filme do ano (Barbie). Mas Billie foi além: trouxe as questões da boneca para todos nós, meros mortais. “Para que fui feita?”, ela entoa, com uma dúvida que todos nós temos em algum ponto da vida. É muito mais que uma trilha sonora: What Was I Made For? se tornou uma das grandes faixas do repertório de Billie, com um arranjo belíssimo que torna a letra mais delicada que trágica.

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2. SZA - Kill Bill: Poucas artistas têm a sinceridade cortante de SZA: “Talvez eu mate meu ex”, brinca a cantora. Uma das artistas do ano, ela se desdobrou em desabafos divertidos no disco SOS, mas se consagra enfim em Kill Bill. A música é um R&B inquieto, que não deixa o ouvinte entediado por um segundo, e a cantora chega a ter flow de rapper – feito difícil de realizar quando não se tem a sagacidade de SZA. Ainda bem que ela tem.

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3. Mitski - My Love Mine All Mine: a nipo-americana Mitski desafia a razão de qualquer profissional de marketing. Com suaves melodias, ela percorre belas letras sobre solidão e amor, sem preocupação comercial aparente – e apesar disso, acumula mais de 53 milhões de ouvintes mensais. Tudo isso é simbolizado por My Love Mine All Mine, uma melancólica canção sobre um amor avassalador, que se tornou viral na internet contra todas as probabilidades. Não é por dancinha, não é por estratégia de mercado: Mitski faz sucesso porque sua sensibilidade dificilmente deixa alguém imune.

Pior música

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David Guetta ft. Bebe Rexha - I’m Good (Blue): I’m Good não é terrível por si só, digamos. O que me revolta é ser uma faixa preguiçosa: um bom exemplo de como não fazer uma interpolação. A canção, que beira a chatice, reutiliza uma música dançante e caricata para gerar outra música dançante, mas nem de longe tão interessante. Fez sucesso pela familiaridade, mas não melhorou nada, nem sequer inovou. Devia ser decreto global: ao obter um sample, se esforce para fazer algo genuinamente legal com ele.

Rodrigo Ortega

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Melhores

1. SZA - Kill Bill: O ano começou, no dia 10 de janeiro, com um crime perfeito. A ameaça de duplo assassinato de SZA contra o ex e a atual dele tinha uma mistura de vingança, doçura e insanidade que não foi superada no resto do ano. O R&B retrô e inclinado aos extremos lembrou, claro, Amy Winehouse. SZA segura a pose no fundo do poço, com plena consciência do seu poder vocal e uma melodia que, falsamente cambaleante, dá todos os passos certos, do início ao fim.

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2. Olivia Rodrigo - Vampire: Sim, essa música é um pouco a Happier than Ever de 2023. Assim como Billie Eilish no ano retrasado, Olivia Rodrigo destila o veneno que foi obrigada a engolir e cospe de volta com a raiva característica do rock alternativo dos anos 90. Pode parecer papo de tiozão saudoso (e é), mas como a base de fãs de Olivia é mais jovem do que os CDs do Hole ou do Smashing Pumpkins, pode confiar nos novinhos: não existe um ódio mais legal do que o de Vampire em 2023.

3. Boygenius - Leonard Cohen: Aqui poderiam estar quase todas as faixas do primeiro LP do trio Boygenius, The Record. Phoebe Bridgers, Lucy Dacus e Julien Baker conseguiram manter, juntas, o tom intimista de suas carreiras solo, onde está o melhor do rock americano hoje. Parece um jogo de verdade ou consequência em que elas escolhem os dois e brincam de fazer as canções mais ácidas e cortantes que conseguem. Emily I’m Sorry, True Blue e Cool About It é a melhor sequência de três músicas do ano. Mas é em Leonard Cohen que está a história mais surpreendente, que homenageia e tira sarro do canadense no meio de uma declaração de amor sem idealização.

Pior música

Ed Sheeran - Eyes Closed: Eyes Closed é um resumo de tudo que Sheeran sabe fazer de pior: violão de roda de festa de faculdade que evolui para batidinha dançante genérica (com a mão quadrada do produtor Max Martin) como base para súplicas sentimentais pouco críveis. A letra supostamente inspirada em um amigo que morreu é incrivelmente boba para o tema sério, com o refrão preguiçoso ‘ey ey ey eyes’. O impacto menor do que o normal para um single do cantor dá esperança de que o mundo esteja finalmente superando Ed Sheeran.

Gabriela Piva

Melhores

1. Foo Fighters - Show Me How: Dave Grohl não perdeu só o melhor amigo em 2022, Taylor Hawkings, mas também a mãe, Virginia. Com essa música, ele parecia estar buscando um colo para si próprio - mas a canção me deu colo quando perdi minha avó materna, Teresinha, no começo do ano. Com a primogênita Violet, as vozes de pai e filha se mesclam em um emaranhado de dor, sofrimento e suaves acordes de guitarra. A faixa cria um ambiente que enlutados entendem bem: quando você só quer deitar em posição fetal após a primeira manhã sem a pessoa. “Onde está você agora? Quem vai me mostrar um caminho?”, cantam eles, conseguindo criar uma letra simples para um sentimento complexo.

2. Billie Eilish - What Was I Made For?: Billie Eilish entendeu bem a mensagem por trás do blockbuster Barbie, e What Was I Made For? é a prova disso. Sussurrando quase a música inteira, a cantora convida o ouvinte a questionar os padrões de beleza numa balada melancólica. Com uma progressão musical sutil, a cantora pegou todos esses anos de julgamento pela aparência e colocou seu desespero no holofote. O arranjo traduziu o sentimento do padrão estético: uma sensação que causa estragos físicos e mentais e que, praticamente, toda mulher tem (mas que a sociedade não leva muito a sério).

3. Post Malone - Chemical: Depois de uma sequência absurda de hits, Post Malone não lançou seu melhor trabalho com o disco Austin. Com seu clássico tom rockeiro, o artista apostou no pop e nos violões para o novo álbum. Contudo, algumas músicas merecem reconhecimento, como Chemical. A faixa mostrou como a voz do artista evoluiu, alcançando o seu melhor desempenho se comparada aos trabalhos anteriores. Ele também fez o fan service ao manter algumas tradições: a primeira, criar uma uma canção para cantar a plenos pulmões; e a segunda, fazer uma “música de corno”, sua assinatura principal. Aqui, ele mostrou como é bom mudar, sem nunca se perder de si.

Pior música

Ed Sheeran - Magical: Honestamente, eu poderia colocar qualquer música do disco Autmn Variations aqui. Porém, escolhi Magical por não entender como uma música boba e imatura dessas pode abrir um álbum. A faixa parece ser de uma preguiça tremenda, repetindo os mesmos acordes em toda estrofe. Ainda, a intenção é lembrar o ouvinte da sensação de estar apaixonado. Contudo, só lembra o quanto Ed Sheeran, apesar de ter mais de 10 anos de carreira, não evoluiu nada musicalmente.

Pedro Só

1. Lenny Kravitz - How long have you been blind: Ele voltou! E deu um banho de atualidade ao homenagear o gigante negro Harry Belafonte (1927-2023) regravando uma peça incendiária de seu repertório (escrita pelo ativista sioux Floyd “Red Crow” Westerman). O mestre do retrofit setentista também poderia estar nesta lista por outra joia da safra 2023, TK421, produzida em modo Prince 80s, com apelo funky irresistível.

2. Aleighcia Scott - Do You: Uma voz para esquentar o coração dos fãs de Amy Winehouse e da música pop com matizes jamaicanos, em uma canção perfeita, embalada em um arranjo de cordas intoxicante de tão bonito, mas com os dois pés bailando um puladinho caribenho. Nascida em Gales, em família de imigrantes, Aleighcia lançou em 2023 um dos discos mais bem produzidos do ano, Windrush Baby, com a mão iluminada e o bom gosto do jamaicano Rory Stonelove. Do You é um clássico da era do Studio One (1966) gravada por John Holt; sem ser exatamente uma versão, ela foi baseada em Because You Love Me, do americano Brook Benton.

3. Jenny Lewis - Psychos: Sexy e sagaz, aos 47 anos, a eterna musa indie (da banda Rilo Kiley) produziu uma pérola que homenageia o Fleetwood Mac e todo um formato radiofônico de canção pop. Incrustada no álbum Joy’all, a canção rendeu a Jenny seu primeiro #1 da carreira (na parada Adulta Alternativa). A interpretação suave e o balanço irresistível do contrabaixo “nana nenê de todas as idades” escondem a acidez da letra: “I’m not a psycho, I’m just tryna get laid/ I’m a rock-and-roll disciple, In a video game” (Não sou uma psicopata, só estou tentando transar/Sou uma discípula do rock and roll em um videogame). Tem endereço essa ironia?

Pior música

Drake - Search & Rescue: Talvez o menos talentoso dos grande astros pop atuais (em disputa cada vez mais acirrada, é verdade), Drake aluga quatro minutos e meio da vida dos ouvintes com um fluxo soporífero, a voz irritantemente adulterada como sempre e o instrumental minimalista pretensamente hipnótico. Ele se faz de fofo e pede para ser resgatado por uma parceira que o tire “do trap”, “do mercado”... A essas alturas, ninguém acredita, né?

Sabrina Legramandi

Melhores

1. The Beatles - Now And Then: Viver em um ano de um lançamento dos Beatles é um acontecimento para poucos desde 1970. Viver no ano do que foi chamado de último lançamento da banda é histórico (vamos combinar de esquecer de Free As A Bird, de 1995). A canção chegou na época da inteligência artificial - e a recuperação da voz de John Lennon só foi possível por causa dela -, mas soa como algo lançado nos anos finais da banda. E mais importante: fecha um ciclo. Now And Then mostra que, às vezes, a saudade também movimenta. Tanta espera para a música, afinal, valeu a pena.

2. SZA - Kill Bill: SZA deu o pontapé para a sequência de “exposeds” de ex-maridos ou ex-namorados em 2023. A qualidade da música justifica a explosão e os recordes que ela proporcionou à cantora de R&B. Com a letra, SZA faz uma sessão de terapia totalmente sem filtro, com toques de Quentin Tarantino e, quem sabe, até de uma crise existencial. Poucos conseguem alcançar o estrelato pop sem abrir mão do que construíram até então, mas a artista mostra ter a rara habilidade de traçar hits fiéis a si mesma.

3. Olivia Rodrigo - get him back!: Olivia é uma das promessas e um dos fenômenos da nova geração. Quando lançou Sour, em 2021, houve até quem, desconhecendo High School Musical: A Série: O Musical e o suposto triângulo amoroso envolvendo a cantora, chamasse o estrondoso sucesso do disco de “lavagem de dinheiro”. Este ano, ela chegou com Guts. A cantora apostou em Vampire como single para o lançamento, mas get him back! logo se destaca em meio às suas letras sinceras e furiosas - menção honrosa também para all-american bitch. Olivia é a voz das jovens adultas insatisfeitas.

Pior música

Mae Stephens - If We Ever Broke Up: If We Ever Broke Up é o tipo de música que nasceu no TikTok para o TikTok. E nada mais. Mas fica até difícil entender o motivo de essa música ter se tornado um viral - ela chegou até ao Global 200 da Billboard. Mae seguiu o ensejo das músicas de término, mas, diferente de SZA e Olivia, fez uma letra que não diz muita coisa. O refrão é tão repetitivo que, depois de um tempo, chega a ser irritante. O tipo de música que você consegue escutar na íntegra apenas uma vez.

Júlia Queiroz

1. Taylor Swift - Is It Over Now?: Eu sou suspeita para falar de Taylor Swift, mas é impossível discutir música internacional em 2023 sem falar dela. E já que não podemos colocar Cruel Summer, o maior sucesso da cantora neste ano, mas lançada em 2019, vamos falar da música que a destronou do topo da Hot 100 da Billboard. Is It Over Now? foi divulgada como faixa bônus da versão regravada do disco 1989 e resgata o melhor daquele álbum: música pop em grande forma, uma letra à lá Taylor carregada de memórias e a produção quase sempre excepcional de Jack Antonoff.

2. Olivia Rodrigo - get him back!: Não é à toa que dizem que Olivia Rodrigo é a estrela da geração Z. Poucos artistas têm a capacidade de serem tão honestos e contraditórios em suas músicas, mas ela faz isso em suas composições e ainda usa da nostalgia daquele pop rock dos anos 2000 nas melodias e produções para conquistar quem ainda não era convertido. Apesar de Vampire ter sido o grande sucesso de Olivia em 2023, a faixa Get Him Back incorpora perfeitamente esses dois lados da cantora e é a melhor música do seu segundo álbum de estúdio, Guts.

3. Billie Eilish - What Was I Made For?: Quem diria que Barbie poderia inspirar uma música tão bonita e devastadora? Mas, a essa altura, ninguém pode duvidar de Billie Eilish e seu irmão, Finneas. Mesmo se o filme não tivesse sido sucesso absoluto - e que a cena em que What Was I Made For? é tocada não fosse tão emocionante -, a canção ainda seria capaz de levar lágrimas aos olhos. A própria Billie disse que talvez essa seja seu melhor trabalho vocal, e de fato. Ela soa angelical e, aliada à letra sobre buscar seu lugar no mundo e à produção de Finneas, merece muitos aplausos.

Pior música

Will.i.am ft. Britney Spears - Mind Your Business: A revista Attitude, uma das mais importantes publicações LGBT+ do mundo, classificou essa música como uma ofensa ao legado de Britney Spears. Realmente é impressionante que alguém com uma carreira como a dela tenha aceitado fazer parte dela, ainda mais com tanto potencial para um grande retorno após 13 anos de tutela. Em Mind Your Business, Britney e Will.I.Am só ficam repetindo frases sem muito sentido com uma batida que provavelmente entediaria até alguém no meio de uma balada.

Damy Coelho

Melhores

1. Ella Baila Sola - Peso Pluma e Eslabon Armado: Peso Pluma é o maior representante de uma nova onda de ritmos mexicanos que invadiu a música dos Estados Unidos — por extensão, a nível global. A parceria com Eslabon Armado, Ella Bailla Solla, narra o flerte com uma mulher que dança sozinha, ao som de uma melodia irresistível. Na essência, é como o nosso sertanejo: música pra cantar alto, segurando um copo e abraçando algum semi conhecido. A faixa — com direito a solo de trompete — traz frescor à música regional mexicana, mostrando que ela também pode ser cool. No Brasil, a canção também fez escola: é possível notar um tempero mexicano no agronejo Luan Pereira — em um single que, curiosamente, recebeu o nome de Paraguaia.

2. Flowers - Miley Cyrus: Impossível ignorar Miley Cyrus e sua Flowers, presente no álbum Endless Summer Vacation. A batida disco-pop e os versos contagiantes do refrão (“I can buy myself flowers/Write my name in the sand”...) tocaram nos bares e karaokês às rádios, com a onipresença que pede um verdadeiro hit. No Spotify, fez 1 bilhão (!) de plays em tempo recorde. Sobre a composição, muito se falou sobre as indiretas ao ex-noivo da cantora, Liam Hemsworth, quando seu mérito é justamente o de proclamar o amor próprio. A ideia de ganhar flores reside no imaginário relacionado ao feminino, tornando a ideia de “dar-se de presente” ao invés de “esperar em troca”, poderosa. Com Flowers, Miley acerta por investir em um gênero musical que passeia com maestria, sem deixar de ser popular.

3. PinkPantheress feat. Ice Spice - Boy’s a Liar, Pt. 2: PinkPantheress começou criando beats que recuperam o melhor do R&B e drum’n’bass dos anos 2000 com camadas de “bubblegum pop” (ou, literalmente, pop chiclete). Quando assinou contrato com a gravadora Parlophone, orientou os fãs a continuarem ouvindo seus álbuns no YouTube, pois o Spotify poderia “derrubar” algumas faixas por direitos autorais dos samples. Numa sacada simples, acenou para um modo de consumir música que diferencia do que o mercado espera para a geração Z. O remix co-produzido por Mura Masa, Boy’s a Liar, Pt. 2, presente no álbum Heaven Knows, conta com o feat da também revelação Ice Spice. Com vocais doces mesclados ao rap descolado de Ice e melodia que lembra um ringtone de Motorola V3, as duas cantam sobre rapazes mentirosos. O som é original por se apropriar de beats de outros tempos, sem cheiro de naftalina. Juntas, mostram um caminho interessante no hip hop aberto por uma nova geração de meninas.

Pior

Drake - Fear of Heights: O Brasil tem motivos para se decepcionar com Drake — especialmente depois de ter dado bolo no público do Lollapalooza para curtir uma festinha em Miami (em nota, alegou “circunstâncias imprevistas”). Mas a crítica aqui não perpassa o aspecto pessoal, até porque não sua música atual, por si só, decepciona. É o caso de Fear of Heights, do álbum For All The Dogs, que tenta ser uma boa diss mas soa como um monte de lamúrios cantados sob batidas de trap. Nos versos, ataca alguma mulher que teria partido seu coração. Palpites? Não é culpa dos fãs se pensarem em Rihanna. No primeiro minuto de música, ele hesita: “let me stop” (“vou parar”). Pois bem que poderia ter parado ali mesmo. A canção segue com um Drake menos inspirado, fazendo trocadilhos com antis — álbum da cantora — e works — nome do single em parceria dos dois. Ele canta: “Melhor ele do que eu/Melhor, não sou eu/Eu sou anti, sou anti/Sim, e o sexo foi mediano com você”. Tudo soa ultrapassados, como um disco que já devia ter sido trocado de lado.

Quais foram as campeãs?

  • Billie Eilish, com What Was I Made For, e SZA, com Kill Bill, foram as mais citadas, com 3 menções.
  • Olivia Rodrigo também teve 3 votos, mas 2 para get him back! e outro para Vampire
  • Entre os piores, Drake e Ed Sheeran tiveram ambos dois votos, mas com faixas diferentes - o que talvez tenha comprovado a habilidade deles em fazer músicas ruins de formas diversas em 2023.

Ouça a playlist com as melhores músicas de 2023 segundo a enquete do Estadão:

No quesito música internacional, 2023 seguiu caminhos até inesperados. Entre os principais hits, estão indiretas espertas para o ex (como fizeram Miley Cyrus e Shakira), a manutenção da América Latina no topo das paradas, com Bad Bunny, Peso Pluma e Karol G, e até o revival de sucessos “antigos”, da década passada. O escapismo e a melancolia pós-pandêmicos deram lugar a músicas mais ecléticas, que enfim falam da vida na rua e suas questões mundanças.

Mas o que deste ano ficará, e o que não resistirá ao teste do tempo? O Estadão convidou críticos de música para listar as melhores faixas deste ano – e como não podia faltar, as piores. Veja abaixo a seleção de cada um e as justificativas para os votos.

Billie Eilish lança single para a trilha sonora de 'Barbie', de Greta Gerwig Foto: Reprodução de vídeo/ YouTube Billie Eilish

Dora Guerra

Melhores

1. Billie Eilish - What Was I Made For?: Essa música já pedia um lugar alto no ranking, simplesmente por ser a trilha da cena mais emocionante no filme do ano (Barbie). Mas Billie foi além: trouxe as questões da boneca para todos nós, meros mortais. “Para que fui feita?”, ela entoa, com uma dúvida que todos nós temos em algum ponto da vida. É muito mais que uma trilha sonora: What Was I Made For? se tornou uma das grandes faixas do repertório de Billie, com um arranjo belíssimo que torna a letra mais delicada que trágica.

2. SZA - Kill Bill: Poucas artistas têm a sinceridade cortante de SZA: “Talvez eu mate meu ex”, brinca a cantora. Uma das artistas do ano, ela se desdobrou em desabafos divertidos no disco SOS, mas se consagra enfim em Kill Bill. A música é um R&B inquieto, que não deixa o ouvinte entediado por um segundo, e a cantora chega a ter flow de rapper – feito difícil de realizar quando não se tem a sagacidade de SZA. Ainda bem que ela tem.

3. Mitski - My Love Mine All Mine: a nipo-americana Mitski desafia a razão de qualquer profissional de marketing. Com suaves melodias, ela percorre belas letras sobre solidão e amor, sem preocupação comercial aparente – e apesar disso, acumula mais de 53 milhões de ouvintes mensais. Tudo isso é simbolizado por My Love Mine All Mine, uma melancólica canção sobre um amor avassalador, que se tornou viral na internet contra todas as probabilidades. Não é por dancinha, não é por estratégia de mercado: Mitski faz sucesso porque sua sensibilidade dificilmente deixa alguém imune.

Pior música

David Guetta ft. Bebe Rexha - I’m Good (Blue): I’m Good não é terrível por si só, digamos. O que me revolta é ser uma faixa preguiçosa: um bom exemplo de como não fazer uma interpolação. A canção, que beira a chatice, reutiliza uma música dançante e caricata para gerar outra música dançante, mas nem de longe tão interessante. Fez sucesso pela familiaridade, mas não melhorou nada, nem sequer inovou. Devia ser decreto global: ao obter um sample, se esforce para fazer algo genuinamente legal com ele.

Rodrigo Ortega

Melhores

1. SZA - Kill Bill: O ano começou, no dia 10 de janeiro, com um crime perfeito. A ameaça de duplo assassinato de SZA contra o ex e a atual dele tinha uma mistura de vingança, doçura e insanidade que não foi superada no resto do ano. O R&B retrô e inclinado aos extremos lembrou, claro, Amy Winehouse. SZA segura a pose no fundo do poço, com plena consciência do seu poder vocal e uma melodia que, falsamente cambaleante, dá todos os passos certos, do início ao fim.

2. Olivia Rodrigo - Vampire: Sim, essa música é um pouco a Happier than Ever de 2023. Assim como Billie Eilish no ano retrasado, Olivia Rodrigo destila o veneno que foi obrigada a engolir e cospe de volta com a raiva característica do rock alternativo dos anos 90. Pode parecer papo de tiozão saudoso (e é), mas como a base de fãs de Olivia é mais jovem do que os CDs do Hole ou do Smashing Pumpkins, pode confiar nos novinhos: não existe um ódio mais legal do que o de Vampire em 2023.

3. Boygenius - Leonard Cohen: Aqui poderiam estar quase todas as faixas do primeiro LP do trio Boygenius, The Record. Phoebe Bridgers, Lucy Dacus e Julien Baker conseguiram manter, juntas, o tom intimista de suas carreiras solo, onde está o melhor do rock americano hoje. Parece um jogo de verdade ou consequência em que elas escolhem os dois e brincam de fazer as canções mais ácidas e cortantes que conseguem. Emily I’m Sorry, True Blue e Cool About It é a melhor sequência de três músicas do ano. Mas é em Leonard Cohen que está a história mais surpreendente, que homenageia e tira sarro do canadense no meio de uma declaração de amor sem idealização.

Pior música

Ed Sheeran - Eyes Closed: Eyes Closed é um resumo de tudo que Sheeran sabe fazer de pior: violão de roda de festa de faculdade que evolui para batidinha dançante genérica (com a mão quadrada do produtor Max Martin) como base para súplicas sentimentais pouco críveis. A letra supostamente inspirada em um amigo que morreu é incrivelmente boba para o tema sério, com o refrão preguiçoso ‘ey ey ey eyes’. O impacto menor do que o normal para um single do cantor dá esperança de que o mundo esteja finalmente superando Ed Sheeran.

Gabriela Piva

Melhores

1. Foo Fighters - Show Me How: Dave Grohl não perdeu só o melhor amigo em 2022, Taylor Hawkings, mas também a mãe, Virginia. Com essa música, ele parecia estar buscando um colo para si próprio - mas a canção me deu colo quando perdi minha avó materna, Teresinha, no começo do ano. Com a primogênita Violet, as vozes de pai e filha se mesclam em um emaranhado de dor, sofrimento e suaves acordes de guitarra. A faixa cria um ambiente que enlutados entendem bem: quando você só quer deitar em posição fetal após a primeira manhã sem a pessoa. “Onde está você agora? Quem vai me mostrar um caminho?”, cantam eles, conseguindo criar uma letra simples para um sentimento complexo.

2. Billie Eilish - What Was I Made For?: Billie Eilish entendeu bem a mensagem por trás do blockbuster Barbie, e What Was I Made For? é a prova disso. Sussurrando quase a música inteira, a cantora convida o ouvinte a questionar os padrões de beleza numa balada melancólica. Com uma progressão musical sutil, a cantora pegou todos esses anos de julgamento pela aparência e colocou seu desespero no holofote. O arranjo traduziu o sentimento do padrão estético: uma sensação que causa estragos físicos e mentais e que, praticamente, toda mulher tem (mas que a sociedade não leva muito a sério).

3. Post Malone - Chemical: Depois de uma sequência absurda de hits, Post Malone não lançou seu melhor trabalho com o disco Austin. Com seu clássico tom rockeiro, o artista apostou no pop e nos violões para o novo álbum. Contudo, algumas músicas merecem reconhecimento, como Chemical. A faixa mostrou como a voz do artista evoluiu, alcançando o seu melhor desempenho se comparada aos trabalhos anteriores. Ele também fez o fan service ao manter algumas tradições: a primeira, criar uma uma canção para cantar a plenos pulmões; e a segunda, fazer uma “música de corno”, sua assinatura principal. Aqui, ele mostrou como é bom mudar, sem nunca se perder de si.

Pior música

Ed Sheeran - Magical: Honestamente, eu poderia colocar qualquer música do disco Autmn Variations aqui. Porém, escolhi Magical por não entender como uma música boba e imatura dessas pode abrir um álbum. A faixa parece ser de uma preguiça tremenda, repetindo os mesmos acordes em toda estrofe. Ainda, a intenção é lembrar o ouvinte da sensação de estar apaixonado. Contudo, só lembra o quanto Ed Sheeran, apesar de ter mais de 10 anos de carreira, não evoluiu nada musicalmente.

Pedro Só

1. Lenny Kravitz - How long have you been blind: Ele voltou! E deu um banho de atualidade ao homenagear o gigante negro Harry Belafonte (1927-2023) regravando uma peça incendiária de seu repertório (escrita pelo ativista sioux Floyd “Red Crow” Westerman). O mestre do retrofit setentista também poderia estar nesta lista por outra joia da safra 2023, TK421, produzida em modo Prince 80s, com apelo funky irresistível.

2. Aleighcia Scott - Do You: Uma voz para esquentar o coração dos fãs de Amy Winehouse e da música pop com matizes jamaicanos, em uma canção perfeita, embalada em um arranjo de cordas intoxicante de tão bonito, mas com os dois pés bailando um puladinho caribenho. Nascida em Gales, em família de imigrantes, Aleighcia lançou em 2023 um dos discos mais bem produzidos do ano, Windrush Baby, com a mão iluminada e o bom gosto do jamaicano Rory Stonelove. Do You é um clássico da era do Studio One (1966) gravada por John Holt; sem ser exatamente uma versão, ela foi baseada em Because You Love Me, do americano Brook Benton.

3. Jenny Lewis - Psychos: Sexy e sagaz, aos 47 anos, a eterna musa indie (da banda Rilo Kiley) produziu uma pérola que homenageia o Fleetwood Mac e todo um formato radiofônico de canção pop. Incrustada no álbum Joy’all, a canção rendeu a Jenny seu primeiro #1 da carreira (na parada Adulta Alternativa). A interpretação suave e o balanço irresistível do contrabaixo “nana nenê de todas as idades” escondem a acidez da letra: “I’m not a psycho, I’m just tryna get laid/ I’m a rock-and-roll disciple, In a video game” (Não sou uma psicopata, só estou tentando transar/Sou uma discípula do rock and roll em um videogame). Tem endereço essa ironia?

Pior música

Drake - Search & Rescue: Talvez o menos talentoso dos grande astros pop atuais (em disputa cada vez mais acirrada, é verdade), Drake aluga quatro minutos e meio da vida dos ouvintes com um fluxo soporífero, a voz irritantemente adulterada como sempre e o instrumental minimalista pretensamente hipnótico. Ele se faz de fofo e pede para ser resgatado por uma parceira que o tire “do trap”, “do mercado”... A essas alturas, ninguém acredita, né?

Sabrina Legramandi

Melhores

1. The Beatles - Now And Then: Viver em um ano de um lançamento dos Beatles é um acontecimento para poucos desde 1970. Viver no ano do que foi chamado de último lançamento da banda é histórico (vamos combinar de esquecer de Free As A Bird, de 1995). A canção chegou na época da inteligência artificial - e a recuperação da voz de John Lennon só foi possível por causa dela -, mas soa como algo lançado nos anos finais da banda. E mais importante: fecha um ciclo. Now And Then mostra que, às vezes, a saudade também movimenta. Tanta espera para a música, afinal, valeu a pena.

2. SZA - Kill Bill: SZA deu o pontapé para a sequência de “exposeds” de ex-maridos ou ex-namorados em 2023. A qualidade da música justifica a explosão e os recordes que ela proporcionou à cantora de R&B. Com a letra, SZA faz uma sessão de terapia totalmente sem filtro, com toques de Quentin Tarantino e, quem sabe, até de uma crise existencial. Poucos conseguem alcançar o estrelato pop sem abrir mão do que construíram até então, mas a artista mostra ter a rara habilidade de traçar hits fiéis a si mesma.

3. Olivia Rodrigo - get him back!: Olivia é uma das promessas e um dos fenômenos da nova geração. Quando lançou Sour, em 2021, houve até quem, desconhecendo High School Musical: A Série: O Musical e o suposto triângulo amoroso envolvendo a cantora, chamasse o estrondoso sucesso do disco de “lavagem de dinheiro”. Este ano, ela chegou com Guts. A cantora apostou em Vampire como single para o lançamento, mas get him back! logo se destaca em meio às suas letras sinceras e furiosas - menção honrosa também para all-american bitch. Olivia é a voz das jovens adultas insatisfeitas.

Pior música

Mae Stephens - If We Ever Broke Up: If We Ever Broke Up é o tipo de música que nasceu no TikTok para o TikTok. E nada mais. Mas fica até difícil entender o motivo de essa música ter se tornado um viral - ela chegou até ao Global 200 da Billboard. Mae seguiu o ensejo das músicas de término, mas, diferente de SZA e Olivia, fez uma letra que não diz muita coisa. O refrão é tão repetitivo que, depois de um tempo, chega a ser irritante. O tipo de música que você consegue escutar na íntegra apenas uma vez.

Júlia Queiroz

1. Taylor Swift - Is It Over Now?: Eu sou suspeita para falar de Taylor Swift, mas é impossível discutir música internacional em 2023 sem falar dela. E já que não podemos colocar Cruel Summer, o maior sucesso da cantora neste ano, mas lançada em 2019, vamos falar da música que a destronou do topo da Hot 100 da Billboard. Is It Over Now? foi divulgada como faixa bônus da versão regravada do disco 1989 e resgata o melhor daquele álbum: música pop em grande forma, uma letra à lá Taylor carregada de memórias e a produção quase sempre excepcional de Jack Antonoff.

2. Olivia Rodrigo - get him back!: Não é à toa que dizem que Olivia Rodrigo é a estrela da geração Z. Poucos artistas têm a capacidade de serem tão honestos e contraditórios em suas músicas, mas ela faz isso em suas composições e ainda usa da nostalgia daquele pop rock dos anos 2000 nas melodias e produções para conquistar quem ainda não era convertido. Apesar de Vampire ter sido o grande sucesso de Olivia em 2023, a faixa Get Him Back incorpora perfeitamente esses dois lados da cantora e é a melhor música do seu segundo álbum de estúdio, Guts.

3. Billie Eilish - What Was I Made For?: Quem diria que Barbie poderia inspirar uma música tão bonita e devastadora? Mas, a essa altura, ninguém pode duvidar de Billie Eilish e seu irmão, Finneas. Mesmo se o filme não tivesse sido sucesso absoluto - e que a cena em que What Was I Made For? é tocada não fosse tão emocionante -, a canção ainda seria capaz de levar lágrimas aos olhos. A própria Billie disse que talvez essa seja seu melhor trabalho vocal, e de fato. Ela soa angelical e, aliada à letra sobre buscar seu lugar no mundo e à produção de Finneas, merece muitos aplausos.

Pior música

Will.i.am ft. Britney Spears - Mind Your Business: A revista Attitude, uma das mais importantes publicações LGBT+ do mundo, classificou essa música como uma ofensa ao legado de Britney Spears. Realmente é impressionante que alguém com uma carreira como a dela tenha aceitado fazer parte dela, ainda mais com tanto potencial para um grande retorno após 13 anos de tutela. Em Mind Your Business, Britney e Will.I.Am só ficam repetindo frases sem muito sentido com uma batida que provavelmente entediaria até alguém no meio de uma balada.

Damy Coelho

Melhores

1. Ella Baila Sola - Peso Pluma e Eslabon Armado: Peso Pluma é o maior representante de uma nova onda de ritmos mexicanos que invadiu a música dos Estados Unidos — por extensão, a nível global. A parceria com Eslabon Armado, Ella Bailla Solla, narra o flerte com uma mulher que dança sozinha, ao som de uma melodia irresistível. Na essência, é como o nosso sertanejo: música pra cantar alto, segurando um copo e abraçando algum semi conhecido. A faixa — com direito a solo de trompete — traz frescor à música regional mexicana, mostrando que ela também pode ser cool. No Brasil, a canção também fez escola: é possível notar um tempero mexicano no agronejo Luan Pereira — em um single que, curiosamente, recebeu o nome de Paraguaia.

2. Flowers - Miley Cyrus: Impossível ignorar Miley Cyrus e sua Flowers, presente no álbum Endless Summer Vacation. A batida disco-pop e os versos contagiantes do refrão (“I can buy myself flowers/Write my name in the sand”...) tocaram nos bares e karaokês às rádios, com a onipresença que pede um verdadeiro hit. No Spotify, fez 1 bilhão (!) de plays em tempo recorde. Sobre a composição, muito se falou sobre as indiretas ao ex-noivo da cantora, Liam Hemsworth, quando seu mérito é justamente o de proclamar o amor próprio. A ideia de ganhar flores reside no imaginário relacionado ao feminino, tornando a ideia de “dar-se de presente” ao invés de “esperar em troca”, poderosa. Com Flowers, Miley acerta por investir em um gênero musical que passeia com maestria, sem deixar de ser popular.

3. PinkPantheress feat. Ice Spice - Boy’s a Liar, Pt. 2: PinkPantheress começou criando beats que recuperam o melhor do R&B e drum’n’bass dos anos 2000 com camadas de “bubblegum pop” (ou, literalmente, pop chiclete). Quando assinou contrato com a gravadora Parlophone, orientou os fãs a continuarem ouvindo seus álbuns no YouTube, pois o Spotify poderia “derrubar” algumas faixas por direitos autorais dos samples. Numa sacada simples, acenou para um modo de consumir música que diferencia do que o mercado espera para a geração Z. O remix co-produzido por Mura Masa, Boy’s a Liar, Pt. 2, presente no álbum Heaven Knows, conta com o feat da também revelação Ice Spice. Com vocais doces mesclados ao rap descolado de Ice e melodia que lembra um ringtone de Motorola V3, as duas cantam sobre rapazes mentirosos. O som é original por se apropriar de beats de outros tempos, sem cheiro de naftalina. Juntas, mostram um caminho interessante no hip hop aberto por uma nova geração de meninas.

Pior

Drake - Fear of Heights: O Brasil tem motivos para se decepcionar com Drake — especialmente depois de ter dado bolo no público do Lollapalooza para curtir uma festinha em Miami (em nota, alegou “circunstâncias imprevistas”). Mas a crítica aqui não perpassa o aspecto pessoal, até porque não sua música atual, por si só, decepciona. É o caso de Fear of Heights, do álbum For All The Dogs, que tenta ser uma boa diss mas soa como um monte de lamúrios cantados sob batidas de trap. Nos versos, ataca alguma mulher que teria partido seu coração. Palpites? Não é culpa dos fãs se pensarem em Rihanna. No primeiro minuto de música, ele hesita: “let me stop” (“vou parar”). Pois bem que poderia ter parado ali mesmo. A canção segue com um Drake menos inspirado, fazendo trocadilhos com antis — álbum da cantora — e works — nome do single em parceria dos dois. Ele canta: “Melhor ele do que eu/Melhor, não sou eu/Eu sou anti, sou anti/Sim, e o sexo foi mediano com você”. Tudo soa ultrapassados, como um disco que já devia ter sido trocado de lado.

Quais foram as campeãs?

  • Billie Eilish, com What Was I Made For, e SZA, com Kill Bill, foram as mais citadas, com 3 menções.
  • Olivia Rodrigo também teve 3 votos, mas 2 para get him back! e outro para Vampire
  • Entre os piores, Drake e Ed Sheeran tiveram ambos dois votos, mas com faixas diferentes - o que talvez tenha comprovado a habilidade deles em fazer músicas ruins de formas diversas em 2023.

Ouça a playlist com as melhores músicas de 2023 segundo a enquete do Estadão:

No quesito música internacional, 2023 seguiu caminhos até inesperados. Entre os principais hits, estão indiretas espertas para o ex (como fizeram Miley Cyrus e Shakira), a manutenção da América Latina no topo das paradas, com Bad Bunny, Peso Pluma e Karol G, e até o revival de sucessos “antigos”, da década passada. O escapismo e a melancolia pós-pandêmicos deram lugar a músicas mais ecléticas, que enfim falam da vida na rua e suas questões mundanças.

Mas o que deste ano ficará, e o que não resistirá ao teste do tempo? O Estadão convidou críticos de música para listar as melhores faixas deste ano – e como não podia faltar, as piores. Veja abaixo a seleção de cada um e as justificativas para os votos.

Billie Eilish lança single para a trilha sonora de 'Barbie', de Greta Gerwig Foto: Reprodução de vídeo/ YouTube Billie Eilish

Dora Guerra

Melhores

1. Billie Eilish - What Was I Made For?: Essa música já pedia um lugar alto no ranking, simplesmente por ser a trilha da cena mais emocionante no filme do ano (Barbie). Mas Billie foi além: trouxe as questões da boneca para todos nós, meros mortais. “Para que fui feita?”, ela entoa, com uma dúvida que todos nós temos em algum ponto da vida. É muito mais que uma trilha sonora: What Was I Made For? se tornou uma das grandes faixas do repertório de Billie, com um arranjo belíssimo que torna a letra mais delicada que trágica.

2. SZA - Kill Bill: Poucas artistas têm a sinceridade cortante de SZA: “Talvez eu mate meu ex”, brinca a cantora. Uma das artistas do ano, ela se desdobrou em desabafos divertidos no disco SOS, mas se consagra enfim em Kill Bill. A música é um R&B inquieto, que não deixa o ouvinte entediado por um segundo, e a cantora chega a ter flow de rapper – feito difícil de realizar quando não se tem a sagacidade de SZA. Ainda bem que ela tem.

3. Mitski - My Love Mine All Mine: a nipo-americana Mitski desafia a razão de qualquer profissional de marketing. Com suaves melodias, ela percorre belas letras sobre solidão e amor, sem preocupação comercial aparente – e apesar disso, acumula mais de 53 milhões de ouvintes mensais. Tudo isso é simbolizado por My Love Mine All Mine, uma melancólica canção sobre um amor avassalador, que se tornou viral na internet contra todas as probabilidades. Não é por dancinha, não é por estratégia de mercado: Mitski faz sucesso porque sua sensibilidade dificilmente deixa alguém imune.

Pior música

David Guetta ft. Bebe Rexha - I’m Good (Blue): I’m Good não é terrível por si só, digamos. O que me revolta é ser uma faixa preguiçosa: um bom exemplo de como não fazer uma interpolação. A canção, que beira a chatice, reutiliza uma música dançante e caricata para gerar outra música dançante, mas nem de longe tão interessante. Fez sucesso pela familiaridade, mas não melhorou nada, nem sequer inovou. Devia ser decreto global: ao obter um sample, se esforce para fazer algo genuinamente legal com ele.

Rodrigo Ortega

Melhores

1. SZA - Kill Bill: O ano começou, no dia 10 de janeiro, com um crime perfeito. A ameaça de duplo assassinato de SZA contra o ex e a atual dele tinha uma mistura de vingança, doçura e insanidade que não foi superada no resto do ano. O R&B retrô e inclinado aos extremos lembrou, claro, Amy Winehouse. SZA segura a pose no fundo do poço, com plena consciência do seu poder vocal e uma melodia que, falsamente cambaleante, dá todos os passos certos, do início ao fim.

2. Olivia Rodrigo - Vampire: Sim, essa música é um pouco a Happier than Ever de 2023. Assim como Billie Eilish no ano retrasado, Olivia Rodrigo destila o veneno que foi obrigada a engolir e cospe de volta com a raiva característica do rock alternativo dos anos 90. Pode parecer papo de tiozão saudoso (e é), mas como a base de fãs de Olivia é mais jovem do que os CDs do Hole ou do Smashing Pumpkins, pode confiar nos novinhos: não existe um ódio mais legal do que o de Vampire em 2023.

3. Boygenius - Leonard Cohen: Aqui poderiam estar quase todas as faixas do primeiro LP do trio Boygenius, The Record. Phoebe Bridgers, Lucy Dacus e Julien Baker conseguiram manter, juntas, o tom intimista de suas carreiras solo, onde está o melhor do rock americano hoje. Parece um jogo de verdade ou consequência em que elas escolhem os dois e brincam de fazer as canções mais ácidas e cortantes que conseguem. Emily I’m Sorry, True Blue e Cool About It é a melhor sequência de três músicas do ano. Mas é em Leonard Cohen que está a história mais surpreendente, que homenageia e tira sarro do canadense no meio de uma declaração de amor sem idealização.

Pior música

Ed Sheeran - Eyes Closed: Eyes Closed é um resumo de tudo que Sheeran sabe fazer de pior: violão de roda de festa de faculdade que evolui para batidinha dançante genérica (com a mão quadrada do produtor Max Martin) como base para súplicas sentimentais pouco críveis. A letra supostamente inspirada em um amigo que morreu é incrivelmente boba para o tema sério, com o refrão preguiçoso ‘ey ey ey eyes’. O impacto menor do que o normal para um single do cantor dá esperança de que o mundo esteja finalmente superando Ed Sheeran.

Gabriela Piva

Melhores

1. Foo Fighters - Show Me How: Dave Grohl não perdeu só o melhor amigo em 2022, Taylor Hawkings, mas também a mãe, Virginia. Com essa música, ele parecia estar buscando um colo para si próprio - mas a canção me deu colo quando perdi minha avó materna, Teresinha, no começo do ano. Com a primogênita Violet, as vozes de pai e filha se mesclam em um emaranhado de dor, sofrimento e suaves acordes de guitarra. A faixa cria um ambiente que enlutados entendem bem: quando você só quer deitar em posição fetal após a primeira manhã sem a pessoa. “Onde está você agora? Quem vai me mostrar um caminho?”, cantam eles, conseguindo criar uma letra simples para um sentimento complexo.

2. Billie Eilish - What Was I Made For?: Billie Eilish entendeu bem a mensagem por trás do blockbuster Barbie, e What Was I Made For? é a prova disso. Sussurrando quase a música inteira, a cantora convida o ouvinte a questionar os padrões de beleza numa balada melancólica. Com uma progressão musical sutil, a cantora pegou todos esses anos de julgamento pela aparência e colocou seu desespero no holofote. O arranjo traduziu o sentimento do padrão estético: uma sensação que causa estragos físicos e mentais e que, praticamente, toda mulher tem (mas que a sociedade não leva muito a sério).

3. Post Malone - Chemical: Depois de uma sequência absurda de hits, Post Malone não lançou seu melhor trabalho com o disco Austin. Com seu clássico tom rockeiro, o artista apostou no pop e nos violões para o novo álbum. Contudo, algumas músicas merecem reconhecimento, como Chemical. A faixa mostrou como a voz do artista evoluiu, alcançando o seu melhor desempenho se comparada aos trabalhos anteriores. Ele também fez o fan service ao manter algumas tradições: a primeira, criar uma uma canção para cantar a plenos pulmões; e a segunda, fazer uma “música de corno”, sua assinatura principal. Aqui, ele mostrou como é bom mudar, sem nunca se perder de si.

Pior música

Ed Sheeran - Magical: Honestamente, eu poderia colocar qualquer música do disco Autmn Variations aqui. Porém, escolhi Magical por não entender como uma música boba e imatura dessas pode abrir um álbum. A faixa parece ser de uma preguiça tremenda, repetindo os mesmos acordes em toda estrofe. Ainda, a intenção é lembrar o ouvinte da sensação de estar apaixonado. Contudo, só lembra o quanto Ed Sheeran, apesar de ter mais de 10 anos de carreira, não evoluiu nada musicalmente.

Pedro Só

1. Lenny Kravitz - How long have you been blind: Ele voltou! E deu um banho de atualidade ao homenagear o gigante negro Harry Belafonte (1927-2023) regravando uma peça incendiária de seu repertório (escrita pelo ativista sioux Floyd “Red Crow” Westerman). O mestre do retrofit setentista também poderia estar nesta lista por outra joia da safra 2023, TK421, produzida em modo Prince 80s, com apelo funky irresistível.

2. Aleighcia Scott - Do You: Uma voz para esquentar o coração dos fãs de Amy Winehouse e da música pop com matizes jamaicanos, em uma canção perfeita, embalada em um arranjo de cordas intoxicante de tão bonito, mas com os dois pés bailando um puladinho caribenho. Nascida em Gales, em família de imigrantes, Aleighcia lançou em 2023 um dos discos mais bem produzidos do ano, Windrush Baby, com a mão iluminada e o bom gosto do jamaicano Rory Stonelove. Do You é um clássico da era do Studio One (1966) gravada por John Holt; sem ser exatamente uma versão, ela foi baseada em Because You Love Me, do americano Brook Benton.

3. Jenny Lewis - Psychos: Sexy e sagaz, aos 47 anos, a eterna musa indie (da banda Rilo Kiley) produziu uma pérola que homenageia o Fleetwood Mac e todo um formato radiofônico de canção pop. Incrustada no álbum Joy’all, a canção rendeu a Jenny seu primeiro #1 da carreira (na parada Adulta Alternativa). A interpretação suave e o balanço irresistível do contrabaixo “nana nenê de todas as idades” escondem a acidez da letra: “I’m not a psycho, I’m just tryna get laid/ I’m a rock-and-roll disciple, In a video game” (Não sou uma psicopata, só estou tentando transar/Sou uma discípula do rock and roll em um videogame). Tem endereço essa ironia?

Pior música

Drake - Search & Rescue: Talvez o menos talentoso dos grande astros pop atuais (em disputa cada vez mais acirrada, é verdade), Drake aluga quatro minutos e meio da vida dos ouvintes com um fluxo soporífero, a voz irritantemente adulterada como sempre e o instrumental minimalista pretensamente hipnótico. Ele se faz de fofo e pede para ser resgatado por uma parceira que o tire “do trap”, “do mercado”... A essas alturas, ninguém acredita, né?

Sabrina Legramandi

Melhores

1. The Beatles - Now And Then: Viver em um ano de um lançamento dos Beatles é um acontecimento para poucos desde 1970. Viver no ano do que foi chamado de último lançamento da banda é histórico (vamos combinar de esquecer de Free As A Bird, de 1995). A canção chegou na época da inteligência artificial - e a recuperação da voz de John Lennon só foi possível por causa dela -, mas soa como algo lançado nos anos finais da banda. E mais importante: fecha um ciclo. Now And Then mostra que, às vezes, a saudade também movimenta. Tanta espera para a música, afinal, valeu a pena.

2. SZA - Kill Bill: SZA deu o pontapé para a sequência de “exposeds” de ex-maridos ou ex-namorados em 2023. A qualidade da música justifica a explosão e os recordes que ela proporcionou à cantora de R&B. Com a letra, SZA faz uma sessão de terapia totalmente sem filtro, com toques de Quentin Tarantino e, quem sabe, até de uma crise existencial. Poucos conseguem alcançar o estrelato pop sem abrir mão do que construíram até então, mas a artista mostra ter a rara habilidade de traçar hits fiéis a si mesma.

3. Olivia Rodrigo - get him back!: Olivia é uma das promessas e um dos fenômenos da nova geração. Quando lançou Sour, em 2021, houve até quem, desconhecendo High School Musical: A Série: O Musical e o suposto triângulo amoroso envolvendo a cantora, chamasse o estrondoso sucesso do disco de “lavagem de dinheiro”. Este ano, ela chegou com Guts. A cantora apostou em Vampire como single para o lançamento, mas get him back! logo se destaca em meio às suas letras sinceras e furiosas - menção honrosa também para all-american bitch. Olivia é a voz das jovens adultas insatisfeitas.

Pior música

Mae Stephens - If We Ever Broke Up: If We Ever Broke Up é o tipo de música que nasceu no TikTok para o TikTok. E nada mais. Mas fica até difícil entender o motivo de essa música ter se tornado um viral - ela chegou até ao Global 200 da Billboard. Mae seguiu o ensejo das músicas de término, mas, diferente de SZA e Olivia, fez uma letra que não diz muita coisa. O refrão é tão repetitivo que, depois de um tempo, chega a ser irritante. O tipo de música que você consegue escutar na íntegra apenas uma vez.

Júlia Queiroz

1. Taylor Swift - Is It Over Now?: Eu sou suspeita para falar de Taylor Swift, mas é impossível discutir música internacional em 2023 sem falar dela. E já que não podemos colocar Cruel Summer, o maior sucesso da cantora neste ano, mas lançada em 2019, vamos falar da música que a destronou do topo da Hot 100 da Billboard. Is It Over Now? foi divulgada como faixa bônus da versão regravada do disco 1989 e resgata o melhor daquele álbum: música pop em grande forma, uma letra à lá Taylor carregada de memórias e a produção quase sempre excepcional de Jack Antonoff.

2. Olivia Rodrigo - get him back!: Não é à toa que dizem que Olivia Rodrigo é a estrela da geração Z. Poucos artistas têm a capacidade de serem tão honestos e contraditórios em suas músicas, mas ela faz isso em suas composições e ainda usa da nostalgia daquele pop rock dos anos 2000 nas melodias e produções para conquistar quem ainda não era convertido. Apesar de Vampire ter sido o grande sucesso de Olivia em 2023, a faixa Get Him Back incorpora perfeitamente esses dois lados da cantora e é a melhor música do seu segundo álbum de estúdio, Guts.

3. Billie Eilish - What Was I Made For?: Quem diria que Barbie poderia inspirar uma música tão bonita e devastadora? Mas, a essa altura, ninguém pode duvidar de Billie Eilish e seu irmão, Finneas. Mesmo se o filme não tivesse sido sucesso absoluto - e que a cena em que What Was I Made For? é tocada não fosse tão emocionante -, a canção ainda seria capaz de levar lágrimas aos olhos. A própria Billie disse que talvez essa seja seu melhor trabalho vocal, e de fato. Ela soa angelical e, aliada à letra sobre buscar seu lugar no mundo e à produção de Finneas, merece muitos aplausos.

Pior música

Will.i.am ft. Britney Spears - Mind Your Business: A revista Attitude, uma das mais importantes publicações LGBT+ do mundo, classificou essa música como uma ofensa ao legado de Britney Spears. Realmente é impressionante que alguém com uma carreira como a dela tenha aceitado fazer parte dela, ainda mais com tanto potencial para um grande retorno após 13 anos de tutela. Em Mind Your Business, Britney e Will.I.Am só ficam repetindo frases sem muito sentido com uma batida que provavelmente entediaria até alguém no meio de uma balada.

Damy Coelho

Melhores

1. Ella Baila Sola - Peso Pluma e Eslabon Armado: Peso Pluma é o maior representante de uma nova onda de ritmos mexicanos que invadiu a música dos Estados Unidos — por extensão, a nível global. A parceria com Eslabon Armado, Ella Bailla Solla, narra o flerte com uma mulher que dança sozinha, ao som de uma melodia irresistível. Na essência, é como o nosso sertanejo: música pra cantar alto, segurando um copo e abraçando algum semi conhecido. A faixa — com direito a solo de trompete — traz frescor à música regional mexicana, mostrando que ela também pode ser cool. No Brasil, a canção também fez escola: é possível notar um tempero mexicano no agronejo Luan Pereira — em um single que, curiosamente, recebeu o nome de Paraguaia.

2. Flowers - Miley Cyrus: Impossível ignorar Miley Cyrus e sua Flowers, presente no álbum Endless Summer Vacation. A batida disco-pop e os versos contagiantes do refrão (“I can buy myself flowers/Write my name in the sand”...) tocaram nos bares e karaokês às rádios, com a onipresença que pede um verdadeiro hit. No Spotify, fez 1 bilhão (!) de plays em tempo recorde. Sobre a composição, muito se falou sobre as indiretas ao ex-noivo da cantora, Liam Hemsworth, quando seu mérito é justamente o de proclamar o amor próprio. A ideia de ganhar flores reside no imaginário relacionado ao feminino, tornando a ideia de “dar-se de presente” ao invés de “esperar em troca”, poderosa. Com Flowers, Miley acerta por investir em um gênero musical que passeia com maestria, sem deixar de ser popular.

3. PinkPantheress feat. Ice Spice - Boy’s a Liar, Pt. 2: PinkPantheress começou criando beats que recuperam o melhor do R&B e drum’n’bass dos anos 2000 com camadas de “bubblegum pop” (ou, literalmente, pop chiclete). Quando assinou contrato com a gravadora Parlophone, orientou os fãs a continuarem ouvindo seus álbuns no YouTube, pois o Spotify poderia “derrubar” algumas faixas por direitos autorais dos samples. Numa sacada simples, acenou para um modo de consumir música que diferencia do que o mercado espera para a geração Z. O remix co-produzido por Mura Masa, Boy’s a Liar, Pt. 2, presente no álbum Heaven Knows, conta com o feat da também revelação Ice Spice. Com vocais doces mesclados ao rap descolado de Ice e melodia que lembra um ringtone de Motorola V3, as duas cantam sobre rapazes mentirosos. O som é original por se apropriar de beats de outros tempos, sem cheiro de naftalina. Juntas, mostram um caminho interessante no hip hop aberto por uma nova geração de meninas.

Pior

Drake - Fear of Heights: O Brasil tem motivos para se decepcionar com Drake — especialmente depois de ter dado bolo no público do Lollapalooza para curtir uma festinha em Miami (em nota, alegou “circunstâncias imprevistas”). Mas a crítica aqui não perpassa o aspecto pessoal, até porque não sua música atual, por si só, decepciona. É o caso de Fear of Heights, do álbum For All The Dogs, que tenta ser uma boa diss mas soa como um monte de lamúrios cantados sob batidas de trap. Nos versos, ataca alguma mulher que teria partido seu coração. Palpites? Não é culpa dos fãs se pensarem em Rihanna. No primeiro minuto de música, ele hesita: “let me stop” (“vou parar”). Pois bem que poderia ter parado ali mesmo. A canção segue com um Drake menos inspirado, fazendo trocadilhos com antis — álbum da cantora — e works — nome do single em parceria dos dois. Ele canta: “Melhor ele do que eu/Melhor, não sou eu/Eu sou anti, sou anti/Sim, e o sexo foi mediano com você”. Tudo soa ultrapassados, como um disco que já devia ter sido trocado de lado.

Quais foram as campeãs?

  • Billie Eilish, com What Was I Made For, e SZA, com Kill Bill, foram as mais citadas, com 3 menções.
  • Olivia Rodrigo também teve 3 votos, mas 2 para get him back! e outro para Vampire
  • Entre os piores, Drake e Ed Sheeran tiveram ambos dois votos, mas com faixas diferentes - o que talvez tenha comprovado a habilidade deles em fazer músicas ruins de formas diversas em 2023.

Ouça a playlist com as melhores músicas de 2023 segundo a enquete do Estadão:

No quesito música internacional, 2023 seguiu caminhos até inesperados. Entre os principais hits, estão indiretas espertas para o ex (como fizeram Miley Cyrus e Shakira), a manutenção da América Latina no topo das paradas, com Bad Bunny, Peso Pluma e Karol G, e até o revival de sucessos “antigos”, da década passada. O escapismo e a melancolia pós-pandêmicos deram lugar a músicas mais ecléticas, que enfim falam da vida na rua e suas questões mundanças.

Mas o que deste ano ficará, e o que não resistirá ao teste do tempo? O Estadão convidou críticos de música para listar as melhores faixas deste ano – e como não podia faltar, as piores. Veja abaixo a seleção de cada um e as justificativas para os votos.

Billie Eilish lança single para a trilha sonora de 'Barbie', de Greta Gerwig Foto: Reprodução de vídeo/ YouTube Billie Eilish

Dora Guerra

Melhores

1. Billie Eilish - What Was I Made For?: Essa música já pedia um lugar alto no ranking, simplesmente por ser a trilha da cena mais emocionante no filme do ano (Barbie). Mas Billie foi além: trouxe as questões da boneca para todos nós, meros mortais. “Para que fui feita?”, ela entoa, com uma dúvida que todos nós temos em algum ponto da vida. É muito mais que uma trilha sonora: What Was I Made For? se tornou uma das grandes faixas do repertório de Billie, com um arranjo belíssimo que torna a letra mais delicada que trágica.

2. SZA - Kill Bill: Poucas artistas têm a sinceridade cortante de SZA: “Talvez eu mate meu ex”, brinca a cantora. Uma das artistas do ano, ela se desdobrou em desabafos divertidos no disco SOS, mas se consagra enfim em Kill Bill. A música é um R&B inquieto, que não deixa o ouvinte entediado por um segundo, e a cantora chega a ter flow de rapper – feito difícil de realizar quando não se tem a sagacidade de SZA. Ainda bem que ela tem.

3. Mitski - My Love Mine All Mine: a nipo-americana Mitski desafia a razão de qualquer profissional de marketing. Com suaves melodias, ela percorre belas letras sobre solidão e amor, sem preocupação comercial aparente – e apesar disso, acumula mais de 53 milhões de ouvintes mensais. Tudo isso é simbolizado por My Love Mine All Mine, uma melancólica canção sobre um amor avassalador, que se tornou viral na internet contra todas as probabilidades. Não é por dancinha, não é por estratégia de mercado: Mitski faz sucesso porque sua sensibilidade dificilmente deixa alguém imune.

Pior música

David Guetta ft. Bebe Rexha - I’m Good (Blue): I’m Good não é terrível por si só, digamos. O que me revolta é ser uma faixa preguiçosa: um bom exemplo de como não fazer uma interpolação. A canção, que beira a chatice, reutiliza uma música dançante e caricata para gerar outra música dançante, mas nem de longe tão interessante. Fez sucesso pela familiaridade, mas não melhorou nada, nem sequer inovou. Devia ser decreto global: ao obter um sample, se esforce para fazer algo genuinamente legal com ele.

Rodrigo Ortega

Melhores

1. SZA - Kill Bill: O ano começou, no dia 10 de janeiro, com um crime perfeito. A ameaça de duplo assassinato de SZA contra o ex e a atual dele tinha uma mistura de vingança, doçura e insanidade que não foi superada no resto do ano. O R&B retrô e inclinado aos extremos lembrou, claro, Amy Winehouse. SZA segura a pose no fundo do poço, com plena consciência do seu poder vocal e uma melodia que, falsamente cambaleante, dá todos os passos certos, do início ao fim.

2. Olivia Rodrigo - Vampire: Sim, essa música é um pouco a Happier than Ever de 2023. Assim como Billie Eilish no ano retrasado, Olivia Rodrigo destila o veneno que foi obrigada a engolir e cospe de volta com a raiva característica do rock alternativo dos anos 90. Pode parecer papo de tiozão saudoso (e é), mas como a base de fãs de Olivia é mais jovem do que os CDs do Hole ou do Smashing Pumpkins, pode confiar nos novinhos: não existe um ódio mais legal do que o de Vampire em 2023.

3. Boygenius - Leonard Cohen: Aqui poderiam estar quase todas as faixas do primeiro LP do trio Boygenius, The Record. Phoebe Bridgers, Lucy Dacus e Julien Baker conseguiram manter, juntas, o tom intimista de suas carreiras solo, onde está o melhor do rock americano hoje. Parece um jogo de verdade ou consequência em que elas escolhem os dois e brincam de fazer as canções mais ácidas e cortantes que conseguem. Emily I’m Sorry, True Blue e Cool About It é a melhor sequência de três músicas do ano. Mas é em Leonard Cohen que está a história mais surpreendente, que homenageia e tira sarro do canadense no meio de uma declaração de amor sem idealização.

Pior música

Ed Sheeran - Eyes Closed: Eyes Closed é um resumo de tudo que Sheeran sabe fazer de pior: violão de roda de festa de faculdade que evolui para batidinha dançante genérica (com a mão quadrada do produtor Max Martin) como base para súplicas sentimentais pouco críveis. A letra supostamente inspirada em um amigo que morreu é incrivelmente boba para o tema sério, com o refrão preguiçoso ‘ey ey ey eyes’. O impacto menor do que o normal para um single do cantor dá esperança de que o mundo esteja finalmente superando Ed Sheeran.

Gabriela Piva

Melhores

1. Foo Fighters - Show Me How: Dave Grohl não perdeu só o melhor amigo em 2022, Taylor Hawkings, mas também a mãe, Virginia. Com essa música, ele parecia estar buscando um colo para si próprio - mas a canção me deu colo quando perdi minha avó materna, Teresinha, no começo do ano. Com a primogênita Violet, as vozes de pai e filha se mesclam em um emaranhado de dor, sofrimento e suaves acordes de guitarra. A faixa cria um ambiente que enlutados entendem bem: quando você só quer deitar em posição fetal após a primeira manhã sem a pessoa. “Onde está você agora? Quem vai me mostrar um caminho?”, cantam eles, conseguindo criar uma letra simples para um sentimento complexo.

2. Billie Eilish - What Was I Made For?: Billie Eilish entendeu bem a mensagem por trás do blockbuster Barbie, e What Was I Made For? é a prova disso. Sussurrando quase a música inteira, a cantora convida o ouvinte a questionar os padrões de beleza numa balada melancólica. Com uma progressão musical sutil, a cantora pegou todos esses anos de julgamento pela aparência e colocou seu desespero no holofote. O arranjo traduziu o sentimento do padrão estético: uma sensação que causa estragos físicos e mentais e que, praticamente, toda mulher tem (mas que a sociedade não leva muito a sério).

3. Post Malone - Chemical: Depois de uma sequência absurda de hits, Post Malone não lançou seu melhor trabalho com o disco Austin. Com seu clássico tom rockeiro, o artista apostou no pop e nos violões para o novo álbum. Contudo, algumas músicas merecem reconhecimento, como Chemical. A faixa mostrou como a voz do artista evoluiu, alcançando o seu melhor desempenho se comparada aos trabalhos anteriores. Ele também fez o fan service ao manter algumas tradições: a primeira, criar uma uma canção para cantar a plenos pulmões; e a segunda, fazer uma “música de corno”, sua assinatura principal. Aqui, ele mostrou como é bom mudar, sem nunca se perder de si.

Pior música

Ed Sheeran - Magical: Honestamente, eu poderia colocar qualquer música do disco Autmn Variations aqui. Porém, escolhi Magical por não entender como uma música boba e imatura dessas pode abrir um álbum. A faixa parece ser de uma preguiça tremenda, repetindo os mesmos acordes em toda estrofe. Ainda, a intenção é lembrar o ouvinte da sensação de estar apaixonado. Contudo, só lembra o quanto Ed Sheeran, apesar de ter mais de 10 anos de carreira, não evoluiu nada musicalmente.

Pedro Só

1. Lenny Kravitz - How long have you been blind: Ele voltou! E deu um banho de atualidade ao homenagear o gigante negro Harry Belafonte (1927-2023) regravando uma peça incendiária de seu repertório (escrita pelo ativista sioux Floyd “Red Crow” Westerman). O mestre do retrofit setentista também poderia estar nesta lista por outra joia da safra 2023, TK421, produzida em modo Prince 80s, com apelo funky irresistível.

2. Aleighcia Scott - Do You: Uma voz para esquentar o coração dos fãs de Amy Winehouse e da música pop com matizes jamaicanos, em uma canção perfeita, embalada em um arranjo de cordas intoxicante de tão bonito, mas com os dois pés bailando um puladinho caribenho. Nascida em Gales, em família de imigrantes, Aleighcia lançou em 2023 um dos discos mais bem produzidos do ano, Windrush Baby, com a mão iluminada e o bom gosto do jamaicano Rory Stonelove. Do You é um clássico da era do Studio One (1966) gravada por John Holt; sem ser exatamente uma versão, ela foi baseada em Because You Love Me, do americano Brook Benton.

3. Jenny Lewis - Psychos: Sexy e sagaz, aos 47 anos, a eterna musa indie (da banda Rilo Kiley) produziu uma pérola que homenageia o Fleetwood Mac e todo um formato radiofônico de canção pop. Incrustada no álbum Joy’all, a canção rendeu a Jenny seu primeiro #1 da carreira (na parada Adulta Alternativa). A interpretação suave e o balanço irresistível do contrabaixo “nana nenê de todas as idades” escondem a acidez da letra: “I’m not a psycho, I’m just tryna get laid/ I’m a rock-and-roll disciple, In a video game” (Não sou uma psicopata, só estou tentando transar/Sou uma discípula do rock and roll em um videogame). Tem endereço essa ironia?

Pior música

Drake - Search & Rescue: Talvez o menos talentoso dos grande astros pop atuais (em disputa cada vez mais acirrada, é verdade), Drake aluga quatro minutos e meio da vida dos ouvintes com um fluxo soporífero, a voz irritantemente adulterada como sempre e o instrumental minimalista pretensamente hipnótico. Ele se faz de fofo e pede para ser resgatado por uma parceira que o tire “do trap”, “do mercado”... A essas alturas, ninguém acredita, né?

Sabrina Legramandi

Melhores

1. The Beatles - Now And Then: Viver em um ano de um lançamento dos Beatles é um acontecimento para poucos desde 1970. Viver no ano do que foi chamado de último lançamento da banda é histórico (vamos combinar de esquecer de Free As A Bird, de 1995). A canção chegou na época da inteligência artificial - e a recuperação da voz de John Lennon só foi possível por causa dela -, mas soa como algo lançado nos anos finais da banda. E mais importante: fecha um ciclo. Now And Then mostra que, às vezes, a saudade também movimenta. Tanta espera para a música, afinal, valeu a pena.

2. SZA - Kill Bill: SZA deu o pontapé para a sequência de “exposeds” de ex-maridos ou ex-namorados em 2023. A qualidade da música justifica a explosão e os recordes que ela proporcionou à cantora de R&B. Com a letra, SZA faz uma sessão de terapia totalmente sem filtro, com toques de Quentin Tarantino e, quem sabe, até de uma crise existencial. Poucos conseguem alcançar o estrelato pop sem abrir mão do que construíram até então, mas a artista mostra ter a rara habilidade de traçar hits fiéis a si mesma.

3. Olivia Rodrigo - get him back!: Olivia é uma das promessas e um dos fenômenos da nova geração. Quando lançou Sour, em 2021, houve até quem, desconhecendo High School Musical: A Série: O Musical e o suposto triângulo amoroso envolvendo a cantora, chamasse o estrondoso sucesso do disco de “lavagem de dinheiro”. Este ano, ela chegou com Guts. A cantora apostou em Vampire como single para o lançamento, mas get him back! logo se destaca em meio às suas letras sinceras e furiosas - menção honrosa também para all-american bitch. Olivia é a voz das jovens adultas insatisfeitas.

Pior música

Mae Stephens - If We Ever Broke Up: If We Ever Broke Up é o tipo de música que nasceu no TikTok para o TikTok. E nada mais. Mas fica até difícil entender o motivo de essa música ter se tornado um viral - ela chegou até ao Global 200 da Billboard. Mae seguiu o ensejo das músicas de término, mas, diferente de SZA e Olivia, fez uma letra que não diz muita coisa. O refrão é tão repetitivo que, depois de um tempo, chega a ser irritante. O tipo de música que você consegue escutar na íntegra apenas uma vez.

Júlia Queiroz

1. Taylor Swift - Is It Over Now?: Eu sou suspeita para falar de Taylor Swift, mas é impossível discutir música internacional em 2023 sem falar dela. E já que não podemos colocar Cruel Summer, o maior sucesso da cantora neste ano, mas lançada em 2019, vamos falar da música que a destronou do topo da Hot 100 da Billboard. Is It Over Now? foi divulgada como faixa bônus da versão regravada do disco 1989 e resgata o melhor daquele álbum: música pop em grande forma, uma letra à lá Taylor carregada de memórias e a produção quase sempre excepcional de Jack Antonoff.

2. Olivia Rodrigo - get him back!: Não é à toa que dizem que Olivia Rodrigo é a estrela da geração Z. Poucos artistas têm a capacidade de serem tão honestos e contraditórios em suas músicas, mas ela faz isso em suas composições e ainda usa da nostalgia daquele pop rock dos anos 2000 nas melodias e produções para conquistar quem ainda não era convertido. Apesar de Vampire ter sido o grande sucesso de Olivia em 2023, a faixa Get Him Back incorpora perfeitamente esses dois lados da cantora e é a melhor música do seu segundo álbum de estúdio, Guts.

3. Billie Eilish - What Was I Made For?: Quem diria que Barbie poderia inspirar uma música tão bonita e devastadora? Mas, a essa altura, ninguém pode duvidar de Billie Eilish e seu irmão, Finneas. Mesmo se o filme não tivesse sido sucesso absoluto - e que a cena em que What Was I Made For? é tocada não fosse tão emocionante -, a canção ainda seria capaz de levar lágrimas aos olhos. A própria Billie disse que talvez essa seja seu melhor trabalho vocal, e de fato. Ela soa angelical e, aliada à letra sobre buscar seu lugar no mundo e à produção de Finneas, merece muitos aplausos.

Pior música

Will.i.am ft. Britney Spears - Mind Your Business: A revista Attitude, uma das mais importantes publicações LGBT+ do mundo, classificou essa música como uma ofensa ao legado de Britney Spears. Realmente é impressionante que alguém com uma carreira como a dela tenha aceitado fazer parte dela, ainda mais com tanto potencial para um grande retorno após 13 anos de tutela. Em Mind Your Business, Britney e Will.I.Am só ficam repetindo frases sem muito sentido com uma batida que provavelmente entediaria até alguém no meio de uma balada.

Damy Coelho

Melhores

1. Ella Baila Sola - Peso Pluma e Eslabon Armado: Peso Pluma é o maior representante de uma nova onda de ritmos mexicanos que invadiu a música dos Estados Unidos — por extensão, a nível global. A parceria com Eslabon Armado, Ella Bailla Solla, narra o flerte com uma mulher que dança sozinha, ao som de uma melodia irresistível. Na essência, é como o nosso sertanejo: música pra cantar alto, segurando um copo e abraçando algum semi conhecido. A faixa — com direito a solo de trompete — traz frescor à música regional mexicana, mostrando que ela também pode ser cool. No Brasil, a canção também fez escola: é possível notar um tempero mexicano no agronejo Luan Pereira — em um single que, curiosamente, recebeu o nome de Paraguaia.

2. Flowers - Miley Cyrus: Impossível ignorar Miley Cyrus e sua Flowers, presente no álbum Endless Summer Vacation. A batida disco-pop e os versos contagiantes do refrão (“I can buy myself flowers/Write my name in the sand”...) tocaram nos bares e karaokês às rádios, com a onipresença que pede um verdadeiro hit. No Spotify, fez 1 bilhão (!) de plays em tempo recorde. Sobre a composição, muito se falou sobre as indiretas ao ex-noivo da cantora, Liam Hemsworth, quando seu mérito é justamente o de proclamar o amor próprio. A ideia de ganhar flores reside no imaginário relacionado ao feminino, tornando a ideia de “dar-se de presente” ao invés de “esperar em troca”, poderosa. Com Flowers, Miley acerta por investir em um gênero musical que passeia com maestria, sem deixar de ser popular.

3. PinkPantheress feat. Ice Spice - Boy’s a Liar, Pt. 2: PinkPantheress começou criando beats que recuperam o melhor do R&B e drum’n’bass dos anos 2000 com camadas de “bubblegum pop” (ou, literalmente, pop chiclete). Quando assinou contrato com a gravadora Parlophone, orientou os fãs a continuarem ouvindo seus álbuns no YouTube, pois o Spotify poderia “derrubar” algumas faixas por direitos autorais dos samples. Numa sacada simples, acenou para um modo de consumir música que diferencia do que o mercado espera para a geração Z. O remix co-produzido por Mura Masa, Boy’s a Liar, Pt. 2, presente no álbum Heaven Knows, conta com o feat da também revelação Ice Spice. Com vocais doces mesclados ao rap descolado de Ice e melodia que lembra um ringtone de Motorola V3, as duas cantam sobre rapazes mentirosos. O som é original por se apropriar de beats de outros tempos, sem cheiro de naftalina. Juntas, mostram um caminho interessante no hip hop aberto por uma nova geração de meninas.

Pior

Drake - Fear of Heights: O Brasil tem motivos para se decepcionar com Drake — especialmente depois de ter dado bolo no público do Lollapalooza para curtir uma festinha em Miami (em nota, alegou “circunstâncias imprevistas”). Mas a crítica aqui não perpassa o aspecto pessoal, até porque não sua música atual, por si só, decepciona. É o caso de Fear of Heights, do álbum For All The Dogs, que tenta ser uma boa diss mas soa como um monte de lamúrios cantados sob batidas de trap. Nos versos, ataca alguma mulher que teria partido seu coração. Palpites? Não é culpa dos fãs se pensarem em Rihanna. No primeiro minuto de música, ele hesita: “let me stop” (“vou parar”). Pois bem que poderia ter parado ali mesmo. A canção segue com um Drake menos inspirado, fazendo trocadilhos com antis — álbum da cantora — e works — nome do single em parceria dos dois. Ele canta: “Melhor ele do que eu/Melhor, não sou eu/Eu sou anti, sou anti/Sim, e o sexo foi mediano com você”. Tudo soa ultrapassados, como um disco que já devia ter sido trocado de lado.

Quais foram as campeãs?

  • Billie Eilish, com What Was I Made For, e SZA, com Kill Bill, foram as mais citadas, com 3 menções.
  • Olivia Rodrigo também teve 3 votos, mas 2 para get him back! e outro para Vampire
  • Entre os piores, Drake e Ed Sheeran tiveram ambos dois votos, mas com faixas diferentes - o que talvez tenha comprovado a habilidade deles em fazer músicas ruins de formas diversas em 2023.

Ouça a playlist com as melhores músicas de 2023 segundo a enquete do Estadão:

No quesito música internacional, 2023 seguiu caminhos até inesperados. Entre os principais hits, estão indiretas espertas para o ex (como fizeram Miley Cyrus e Shakira), a manutenção da América Latina no topo das paradas, com Bad Bunny, Peso Pluma e Karol G, e até o revival de sucessos “antigos”, da década passada. O escapismo e a melancolia pós-pandêmicos deram lugar a músicas mais ecléticas, que enfim falam da vida na rua e suas questões mundanças.

Mas o que deste ano ficará, e o que não resistirá ao teste do tempo? O Estadão convidou críticos de música para listar as melhores faixas deste ano – e como não podia faltar, as piores. Veja abaixo a seleção de cada um e as justificativas para os votos.

Billie Eilish lança single para a trilha sonora de 'Barbie', de Greta Gerwig Foto: Reprodução de vídeo/ YouTube Billie Eilish

Dora Guerra

Melhores

1. Billie Eilish - What Was I Made For?: Essa música já pedia um lugar alto no ranking, simplesmente por ser a trilha da cena mais emocionante no filme do ano (Barbie). Mas Billie foi além: trouxe as questões da boneca para todos nós, meros mortais. “Para que fui feita?”, ela entoa, com uma dúvida que todos nós temos em algum ponto da vida. É muito mais que uma trilha sonora: What Was I Made For? se tornou uma das grandes faixas do repertório de Billie, com um arranjo belíssimo que torna a letra mais delicada que trágica.

2. SZA - Kill Bill: Poucas artistas têm a sinceridade cortante de SZA: “Talvez eu mate meu ex”, brinca a cantora. Uma das artistas do ano, ela se desdobrou em desabafos divertidos no disco SOS, mas se consagra enfim em Kill Bill. A música é um R&B inquieto, que não deixa o ouvinte entediado por um segundo, e a cantora chega a ter flow de rapper – feito difícil de realizar quando não se tem a sagacidade de SZA. Ainda bem que ela tem.

3. Mitski - My Love Mine All Mine: a nipo-americana Mitski desafia a razão de qualquer profissional de marketing. Com suaves melodias, ela percorre belas letras sobre solidão e amor, sem preocupação comercial aparente – e apesar disso, acumula mais de 53 milhões de ouvintes mensais. Tudo isso é simbolizado por My Love Mine All Mine, uma melancólica canção sobre um amor avassalador, que se tornou viral na internet contra todas as probabilidades. Não é por dancinha, não é por estratégia de mercado: Mitski faz sucesso porque sua sensibilidade dificilmente deixa alguém imune.

Pior música

David Guetta ft. Bebe Rexha - I’m Good (Blue): I’m Good não é terrível por si só, digamos. O que me revolta é ser uma faixa preguiçosa: um bom exemplo de como não fazer uma interpolação. A canção, que beira a chatice, reutiliza uma música dançante e caricata para gerar outra música dançante, mas nem de longe tão interessante. Fez sucesso pela familiaridade, mas não melhorou nada, nem sequer inovou. Devia ser decreto global: ao obter um sample, se esforce para fazer algo genuinamente legal com ele.

Rodrigo Ortega

Melhores

1. SZA - Kill Bill: O ano começou, no dia 10 de janeiro, com um crime perfeito. A ameaça de duplo assassinato de SZA contra o ex e a atual dele tinha uma mistura de vingança, doçura e insanidade que não foi superada no resto do ano. O R&B retrô e inclinado aos extremos lembrou, claro, Amy Winehouse. SZA segura a pose no fundo do poço, com plena consciência do seu poder vocal e uma melodia que, falsamente cambaleante, dá todos os passos certos, do início ao fim.

2. Olivia Rodrigo - Vampire: Sim, essa música é um pouco a Happier than Ever de 2023. Assim como Billie Eilish no ano retrasado, Olivia Rodrigo destila o veneno que foi obrigada a engolir e cospe de volta com a raiva característica do rock alternativo dos anos 90. Pode parecer papo de tiozão saudoso (e é), mas como a base de fãs de Olivia é mais jovem do que os CDs do Hole ou do Smashing Pumpkins, pode confiar nos novinhos: não existe um ódio mais legal do que o de Vampire em 2023.

3. Boygenius - Leonard Cohen: Aqui poderiam estar quase todas as faixas do primeiro LP do trio Boygenius, The Record. Phoebe Bridgers, Lucy Dacus e Julien Baker conseguiram manter, juntas, o tom intimista de suas carreiras solo, onde está o melhor do rock americano hoje. Parece um jogo de verdade ou consequência em que elas escolhem os dois e brincam de fazer as canções mais ácidas e cortantes que conseguem. Emily I’m Sorry, True Blue e Cool About It é a melhor sequência de três músicas do ano. Mas é em Leonard Cohen que está a história mais surpreendente, que homenageia e tira sarro do canadense no meio de uma declaração de amor sem idealização.

Pior música

Ed Sheeran - Eyes Closed: Eyes Closed é um resumo de tudo que Sheeran sabe fazer de pior: violão de roda de festa de faculdade que evolui para batidinha dançante genérica (com a mão quadrada do produtor Max Martin) como base para súplicas sentimentais pouco críveis. A letra supostamente inspirada em um amigo que morreu é incrivelmente boba para o tema sério, com o refrão preguiçoso ‘ey ey ey eyes’. O impacto menor do que o normal para um single do cantor dá esperança de que o mundo esteja finalmente superando Ed Sheeran.

Gabriela Piva

Melhores

1. Foo Fighters - Show Me How: Dave Grohl não perdeu só o melhor amigo em 2022, Taylor Hawkings, mas também a mãe, Virginia. Com essa música, ele parecia estar buscando um colo para si próprio - mas a canção me deu colo quando perdi minha avó materna, Teresinha, no começo do ano. Com a primogênita Violet, as vozes de pai e filha se mesclam em um emaranhado de dor, sofrimento e suaves acordes de guitarra. A faixa cria um ambiente que enlutados entendem bem: quando você só quer deitar em posição fetal após a primeira manhã sem a pessoa. “Onde está você agora? Quem vai me mostrar um caminho?”, cantam eles, conseguindo criar uma letra simples para um sentimento complexo.

2. Billie Eilish - What Was I Made For?: Billie Eilish entendeu bem a mensagem por trás do blockbuster Barbie, e What Was I Made For? é a prova disso. Sussurrando quase a música inteira, a cantora convida o ouvinte a questionar os padrões de beleza numa balada melancólica. Com uma progressão musical sutil, a cantora pegou todos esses anos de julgamento pela aparência e colocou seu desespero no holofote. O arranjo traduziu o sentimento do padrão estético: uma sensação que causa estragos físicos e mentais e que, praticamente, toda mulher tem (mas que a sociedade não leva muito a sério).

3. Post Malone - Chemical: Depois de uma sequência absurda de hits, Post Malone não lançou seu melhor trabalho com o disco Austin. Com seu clássico tom rockeiro, o artista apostou no pop e nos violões para o novo álbum. Contudo, algumas músicas merecem reconhecimento, como Chemical. A faixa mostrou como a voz do artista evoluiu, alcançando o seu melhor desempenho se comparada aos trabalhos anteriores. Ele também fez o fan service ao manter algumas tradições: a primeira, criar uma uma canção para cantar a plenos pulmões; e a segunda, fazer uma “música de corno”, sua assinatura principal. Aqui, ele mostrou como é bom mudar, sem nunca se perder de si.

Pior música

Ed Sheeran - Magical: Honestamente, eu poderia colocar qualquer música do disco Autmn Variations aqui. Porém, escolhi Magical por não entender como uma música boba e imatura dessas pode abrir um álbum. A faixa parece ser de uma preguiça tremenda, repetindo os mesmos acordes em toda estrofe. Ainda, a intenção é lembrar o ouvinte da sensação de estar apaixonado. Contudo, só lembra o quanto Ed Sheeran, apesar de ter mais de 10 anos de carreira, não evoluiu nada musicalmente.

Pedro Só

1. Lenny Kravitz - How long have you been blind: Ele voltou! E deu um banho de atualidade ao homenagear o gigante negro Harry Belafonte (1927-2023) regravando uma peça incendiária de seu repertório (escrita pelo ativista sioux Floyd “Red Crow” Westerman). O mestre do retrofit setentista também poderia estar nesta lista por outra joia da safra 2023, TK421, produzida em modo Prince 80s, com apelo funky irresistível.

2. Aleighcia Scott - Do You: Uma voz para esquentar o coração dos fãs de Amy Winehouse e da música pop com matizes jamaicanos, em uma canção perfeita, embalada em um arranjo de cordas intoxicante de tão bonito, mas com os dois pés bailando um puladinho caribenho. Nascida em Gales, em família de imigrantes, Aleighcia lançou em 2023 um dos discos mais bem produzidos do ano, Windrush Baby, com a mão iluminada e o bom gosto do jamaicano Rory Stonelove. Do You é um clássico da era do Studio One (1966) gravada por John Holt; sem ser exatamente uma versão, ela foi baseada em Because You Love Me, do americano Brook Benton.

3. Jenny Lewis - Psychos: Sexy e sagaz, aos 47 anos, a eterna musa indie (da banda Rilo Kiley) produziu uma pérola que homenageia o Fleetwood Mac e todo um formato radiofônico de canção pop. Incrustada no álbum Joy’all, a canção rendeu a Jenny seu primeiro #1 da carreira (na parada Adulta Alternativa). A interpretação suave e o balanço irresistível do contrabaixo “nana nenê de todas as idades” escondem a acidez da letra: “I’m not a psycho, I’m just tryna get laid/ I’m a rock-and-roll disciple, In a video game” (Não sou uma psicopata, só estou tentando transar/Sou uma discípula do rock and roll em um videogame). Tem endereço essa ironia?

Pior música

Drake - Search & Rescue: Talvez o menos talentoso dos grande astros pop atuais (em disputa cada vez mais acirrada, é verdade), Drake aluga quatro minutos e meio da vida dos ouvintes com um fluxo soporífero, a voz irritantemente adulterada como sempre e o instrumental minimalista pretensamente hipnótico. Ele se faz de fofo e pede para ser resgatado por uma parceira que o tire “do trap”, “do mercado”... A essas alturas, ninguém acredita, né?

Sabrina Legramandi

Melhores

1. The Beatles - Now And Then: Viver em um ano de um lançamento dos Beatles é um acontecimento para poucos desde 1970. Viver no ano do que foi chamado de último lançamento da banda é histórico (vamos combinar de esquecer de Free As A Bird, de 1995). A canção chegou na época da inteligência artificial - e a recuperação da voz de John Lennon só foi possível por causa dela -, mas soa como algo lançado nos anos finais da banda. E mais importante: fecha um ciclo. Now And Then mostra que, às vezes, a saudade também movimenta. Tanta espera para a música, afinal, valeu a pena.

2. SZA - Kill Bill: SZA deu o pontapé para a sequência de “exposeds” de ex-maridos ou ex-namorados em 2023. A qualidade da música justifica a explosão e os recordes que ela proporcionou à cantora de R&B. Com a letra, SZA faz uma sessão de terapia totalmente sem filtro, com toques de Quentin Tarantino e, quem sabe, até de uma crise existencial. Poucos conseguem alcançar o estrelato pop sem abrir mão do que construíram até então, mas a artista mostra ter a rara habilidade de traçar hits fiéis a si mesma.

3. Olivia Rodrigo - get him back!: Olivia é uma das promessas e um dos fenômenos da nova geração. Quando lançou Sour, em 2021, houve até quem, desconhecendo High School Musical: A Série: O Musical e o suposto triângulo amoroso envolvendo a cantora, chamasse o estrondoso sucesso do disco de “lavagem de dinheiro”. Este ano, ela chegou com Guts. A cantora apostou em Vampire como single para o lançamento, mas get him back! logo se destaca em meio às suas letras sinceras e furiosas - menção honrosa também para all-american bitch. Olivia é a voz das jovens adultas insatisfeitas.

Pior música

Mae Stephens - If We Ever Broke Up: If We Ever Broke Up é o tipo de música que nasceu no TikTok para o TikTok. E nada mais. Mas fica até difícil entender o motivo de essa música ter se tornado um viral - ela chegou até ao Global 200 da Billboard. Mae seguiu o ensejo das músicas de término, mas, diferente de SZA e Olivia, fez uma letra que não diz muita coisa. O refrão é tão repetitivo que, depois de um tempo, chega a ser irritante. O tipo de música que você consegue escutar na íntegra apenas uma vez.

Júlia Queiroz

1. Taylor Swift - Is It Over Now?: Eu sou suspeita para falar de Taylor Swift, mas é impossível discutir música internacional em 2023 sem falar dela. E já que não podemos colocar Cruel Summer, o maior sucesso da cantora neste ano, mas lançada em 2019, vamos falar da música que a destronou do topo da Hot 100 da Billboard. Is It Over Now? foi divulgada como faixa bônus da versão regravada do disco 1989 e resgata o melhor daquele álbum: música pop em grande forma, uma letra à lá Taylor carregada de memórias e a produção quase sempre excepcional de Jack Antonoff.

2. Olivia Rodrigo - get him back!: Não é à toa que dizem que Olivia Rodrigo é a estrela da geração Z. Poucos artistas têm a capacidade de serem tão honestos e contraditórios em suas músicas, mas ela faz isso em suas composições e ainda usa da nostalgia daquele pop rock dos anos 2000 nas melodias e produções para conquistar quem ainda não era convertido. Apesar de Vampire ter sido o grande sucesso de Olivia em 2023, a faixa Get Him Back incorpora perfeitamente esses dois lados da cantora e é a melhor música do seu segundo álbum de estúdio, Guts.

3. Billie Eilish - What Was I Made For?: Quem diria que Barbie poderia inspirar uma música tão bonita e devastadora? Mas, a essa altura, ninguém pode duvidar de Billie Eilish e seu irmão, Finneas. Mesmo se o filme não tivesse sido sucesso absoluto - e que a cena em que What Was I Made For? é tocada não fosse tão emocionante -, a canção ainda seria capaz de levar lágrimas aos olhos. A própria Billie disse que talvez essa seja seu melhor trabalho vocal, e de fato. Ela soa angelical e, aliada à letra sobre buscar seu lugar no mundo e à produção de Finneas, merece muitos aplausos.

Pior música

Will.i.am ft. Britney Spears - Mind Your Business: A revista Attitude, uma das mais importantes publicações LGBT+ do mundo, classificou essa música como uma ofensa ao legado de Britney Spears. Realmente é impressionante que alguém com uma carreira como a dela tenha aceitado fazer parte dela, ainda mais com tanto potencial para um grande retorno após 13 anos de tutela. Em Mind Your Business, Britney e Will.I.Am só ficam repetindo frases sem muito sentido com uma batida que provavelmente entediaria até alguém no meio de uma balada.

Damy Coelho

Melhores

1. Ella Baila Sola - Peso Pluma e Eslabon Armado: Peso Pluma é o maior representante de uma nova onda de ritmos mexicanos que invadiu a música dos Estados Unidos — por extensão, a nível global. A parceria com Eslabon Armado, Ella Bailla Solla, narra o flerte com uma mulher que dança sozinha, ao som de uma melodia irresistível. Na essência, é como o nosso sertanejo: música pra cantar alto, segurando um copo e abraçando algum semi conhecido. A faixa — com direito a solo de trompete — traz frescor à música regional mexicana, mostrando que ela também pode ser cool. No Brasil, a canção também fez escola: é possível notar um tempero mexicano no agronejo Luan Pereira — em um single que, curiosamente, recebeu o nome de Paraguaia.

2. Flowers - Miley Cyrus: Impossível ignorar Miley Cyrus e sua Flowers, presente no álbum Endless Summer Vacation. A batida disco-pop e os versos contagiantes do refrão (“I can buy myself flowers/Write my name in the sand”...) tocaram nos bares e karaokês às rádios, com a onipresença que pede um verdadeiro hit. No Spotify, fez 1 bilhão (!) de plays em tempo recorde. Sobre a composição, muito se falou sobre as indiretas ao ex-noivo da cantora, Liam Hemsworth, quando seu mérito é justamente o de proclamar o amor próprio. A ideia de ganhar flores reside no imaginário relacionado ao feminino, tornando a ideia de “dar-se de presente” ao invés de “esperar em troca”, poderosa. Com Flowers, Miley acerta por investir em um gênero musical que passeia com maestria, sem deixar de ser popular.

3. PinkPantheress feat. Ice Spice - Boy’s a Liar, Pt. 2: PinkPantheress começou criando beats que recuperam o melhor do R&B e drum’n’bass dos anos 2000 com camadas de “bubblegum pop” (ou, literalmente, pop chiclete). Quando assinou contrato com a gravadora Parlophone, orientou os fãs a continuarem ouvindo seus álbuns no YouTube, pois o Spotify poderia “derrubar” algumas faixas por direitos autorais dos samples. Numa sacada simples, acenou para um modo de consumir música que diferencia do que o mercado espera para a geração Z. O remix co-produzido por Mura Masa, Boy’s a Liar, Pt. 2, presente no álbum Heaven Knows, conta com o feat da também revelação Ice Spice. Com vocais doces mesclados ao rap descolado de Ice e melodia que lembra um ringtone de Motorola V3, as duas cantam sobre rapazes mentirosos. O som é original por se apropriar de beats de outros tempos, sem cheiro de naftalina. Juntas, mostram um caminho interessante no hip hop aberto por uma nova geração de meninas.

Pior

Drake - Fear of Heights: O Brasil tem motivos para se decepcionar com Drake — especialmente depois de ter dado bolo no público do Lollapalooza para curtir uma festinha em Miami (em nota, alegou “circunstâncias imprevistas”). Mas a crítica aqui não perpassa o aspecto pessoal, até porque não sua música atual, por si só, decepciona. É o caso de Fear of Heights, do álbum For All The Dogs, que tenta ser uma boa diss mas soa como um monte de lamúrios cantados sob batidas de trap. Nos versos, ataca alguma mulher que teria partido seu coração. Palpites? Não é culpa dos fãs se pensarem em Rihanna. No primeiro minuto de música, ele hesita: “let me stop” (“vou parar”). Pois bem que poderia ter parado ali mesmo. A canção segue com um Drake menos inspirado, fazendo trocadilhos com antis — álbum da cantora — e works — nome do single em parceria dos dois. Ele canta: “Melhor ele do que eu/Melhor, não sou eu/Eu sou anti, sou anti/Sim, e o sexo foi mediano com você”. Tudo soa ultrapassados, como um disco que já devia ter sido trocado de lado.

Quais foram as campeãs?

  • Billie Eilish, com What Was I Made For, e SZA, com Kill Bill, foram as mais citadas, com 3 menções.
  • Olivia Rodrigo também teve 3 votos, mas 2 para get him back! e outro para Vampire
  • Entre os piores, Drake e Ed Sheeran tiveram ambos dois votos, mas com faixas diferentes - o que talvez tenha comprovado a habilidade deles em fazer músicas ruins de formas diversas em 2023.

Ouça a playlist com as melhores músicas de 2023 segundo a enquete do Estadão:

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