Quem foi Leonard Bernstein, que será vivido por Bradley Cooper em novo filme


Maestro e compositor, um dos maiores artistas do século 20, regeu principais orquestras do mundo e escreveu peças como o musical 'West Side Story'

Por João Luiz Sampaio

As primeiras fotos divulgadas do novo filme de Bradley Cooper, Maestro, impressionam pela semelhança entre a caracterização do ator e seu personagem, o músico norte-americano Leonard Bernstein (1918-1990). A ver ainda o quanto o filme dará conta de retratar uma das mais complexas figuras da música do século 20.

O filme estrelado, dirigido e coproduzido por Cooper não era a única cinebiografia de Bernstein sendo trabalhada pelo cinema americano. O ator Jake Gyllenhaal anunciou em 2018 seu próprio longa, mas acabou desistindo quando o projeto de Cooper recebeu as bençãos de Martins Scorsese e Steven Spielberg.

E também da família Bernstein - o contrato com Cooper faria com que Gyllenhaal não pudesse utilizar uma só nota musical escrita pelo compositor, o que naturalmente tornou-se um empecilho à realização do longa, abandonado em 2020.

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O maestroLeonard Bernstein Foto: Cortesia do Leonard Bernstein Office

O filme de Gyllenhaal teria como foco os últimos vinte anos de vida de Bernstein; o de Cooper tem como foco a relação dele com a atriz chilena Felicia Montealegre Bernstein, com quem o músico se casou em 1951 - e de quem se separou em 1978. Com passagem por Hollywood, ela mais tarde se tornaria ativista contra a Guerra do Vietnã - chegou a ser presa em uma manifestação em Washington. Com Bernstein, teve três filhos. 

É apenas um dos lances de uma biografia conturbada, marcada por um temperamento forte, casos extraconjugais e pela homossexualidade que, durante sua vida, foi tema tabu para a família e os amigos próximos do compositor. 

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Bernstein foi artista múltiplo, um dos maiores do século 20. Maestro, compositor, pianista, educador. E estrela midiática. Nos anos 1950 e 1960, após assumir a direção musical da Filarmônica de Nova York, tornou-se conhecido em todo os Estados Unidos por conta de programas de televisão em que explicava a música clássica de modo claro, jamais condescendente. 

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Como maestro, regeu as principais orquestras do mundo e deixou um legado discográfico quase incomparável - quase, pois do outro lado do Atlântico, Herbert von Karajan fez algo parecido à frente da Filarmônica de Berlim.

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Os dois encarnaram dois estilos bastante diferentes de maestro. Karajan era o detalhista, intelectual. Bernstein, pura emoção, intensidade. A comparação não dá conta do tamanho de nenhum dos dois. O músico americano refletiu como poucos, em livros e em palestras em instituições como a Universidade de Harvard, sobre o fazer musical. Karajan, por sua vez, podia ser profundamente sanguíneo em suas interpretações, como atestam os inúmeros registros que fez de óperas do repertório italiano.

Mas as leituras marcantes, repletas de intensidade, foram, não há dúvida, marca do maestro Bernstein, que fez da obra de compositores como Mahler e Beethoven missão de vida, não raramente evocando ligações espirituais e metafísicas com os autores que interpretava. Mas atuou também como divulgador da música americana e do século 20.

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Como compositor, escreveu obras variadas. Sua relação com o jazz e a música norte-americana é inequívoca, presente em peças como o musical West Side Story ou então On the Town e Wonderful Town, trilogia involuntária que ajudou a construir o imaginário em torno da cidade de Nova York, uma cidade que aparece em seu trabalho como fria, violenta, mas repleta de sonhos que, nos dois últimos casos, prevalecem sobre o cinismo da cidade grande. 

Ao mesmo tempo, peças como seus concertos para piano ou sinfonias dialogam com a tradição musical europeia, da mesma forma como incorporam sua relação conflituosa com o judaísmo. Em um dos momentos mais fortes de Sua sinfonia nº 3, Kaddish, o narrador realiza um tenso acerto de contas com Deus, a quem acusa de perder a fé e de abandonar o homem, com quem criou uma relação baseada em barganhas.

Sua atuação política foi episódica. Bernstein acabou investigado pelo FBI por trabalhar com a escritora Lillian Hellman na opereta Candide, sátira a seu tempo inspirada no texto de Voltaire. E pelo jantar que ofereceu a líderes do movimento Black Panthers em seu apartamento em Nova York. O encontro acabou rendendo um dos principais textos jornalísticos americanos do século 20, Radical Chic, em que Tom Wolffe narra o desconforto de um jantar em que um abismo parecia existir entre anfitriões e convidados.

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Qual o Bernstein que fica para a história? No seu centenário, em 2018, as comemorações buscaram deliberadamente ressaltar seu trabalho como compositor, com gravações de suas obras, o resgate de suas canções e de peças menos conhecidas ou executadas, como a impactante Missa, mistura de rock, jazz, oratório. 

Mas seria como maestro que seu legado maior se coloca?

Quando fez 70 anos, um concerto em sua homenagem foi realizado no Festival de Tanglewood, casa de verão da Sinfônica de Boston. Nele, a atriz Lauren Baccall subiu ao palco para interpretar uma canção de Stephen Sondheim, cujo texto diz que Bernstein nunca conseguiu se decidir sobre o que era. Bem-humorada, a letra termina pedindo que ele nunca o faça. Com razão. É de suas múltiplas atividades e eventuais contradições que pode nascer um pouco de compreensão sobre o homem e o artista.

As primeiras fotos divulgadas do novo filme de Bradley Cooper, Maestro, impressionam pela semelhança entre a caracterização do ator e seu personagem, o músico norte-americano Leonard Bernstein (1918-1990). A ver ainda o quanto o filme dará conta de retratar uma das mais complexas figuras da música do século 20.

O filme estrelado, dirigido e coproduzido por Cooper não era a única cinebiografia de Bernstein sendo trabalhada pelo cinema americano. O ator Jake Gyllenhaal anunciou em 2018 seu próprio longa, mas acabou desistindo quando o projeto de Cooper recebeu as bençãos de Martins Scorsese e Steven Spielberg.

E também da família Bernstein - o contrato com Cooper faria com que Gyllenhaal não pudesse utilizar uma só nota musical escrita pelo compositor, o que naturalmente tornou-se um empecilho à realização do longa, abandonado em 2020.

O maestroLeonard Bernstein Foto: Cortesia do Leonard Bernstein Office

O filme de Gyllenhaal teria como foco os últimos vinte anos de vida de Bernstein; o de Cooper tem como foco a relação dele com a atriz chilena Felicia Montealegre Bernstein, com quem o músico se casou em 1951 - e de quem se separou em 1978. Com passagem por Hollywood, ela mais tarde se tornaria ativista contra a Guerra do Vietnã - chegou a ser presa em uma manifestação em Washington. Com Bernstein, teve três filhos. 

É apenas um dos lances de uma biografia conturbada, marcada por um temperamento forte, casos extraconjugais e pela homossexualidade que, durante sua vida, foi tema tabu para a família e os amigos próximos do compositor. 

Bernstein foi artista múltiplo, um dos maiores do século 20. Maestro, compositor, pianista, educador. E estrela midiática. Nos anos 1950 e 1960, após assumir a direção musical da Filarmônica de Nova York, tornou-se conhecido em todo os Estados Unidos por conta de programas de televisão em que explicava a música clássica de modo claro, jamais condescendente. 

Como maestro, regeu as principais orquestras do mundo e deixou um legado discográfico quase incomparável - quase, pois do outro lado do Atlântico, Herbert von Karajan fez algo parecido à frente da Filarmônica de Berlim.

Os dois encarnaram dois estilos bastante diferentes de maestro. Karajan era o detalhista, intelectual. Bernstein, pura emoção, intensidade. A comparação não dá conta do tamanho de nenhum dos dois. O músico americano refletiu como poucos, em livros e em palestras em instituições como a Universidade de Harvard, sobre o fazer musical. Karajan, por sua vez, podia ser profundamente sanguíneo em suas interpretações, como atestam os inúmeros registros que fez de óperas do repertório italiano.

Mas as leituras marcantes, repletas de intensidade, foram, não há dúvida, marca do maestro Bernstein, que fez da obra de compositores como Mahler e Beethoven missão de vida, não raramente evocando ligações espirituais e metafísicas com os autores que interpretava. Mas atuou também como divulgador da música americana e do século 20.

Como compositor, escreveu obras variadas. Sua relação com o jazz e a música norte-americana é inequívoca, presente em peças como o musical West Side Story ou então On the Town e Wonderful Town, trilogia involuntária que ajudou a construir o imaginário em torno da cidade de Nova York, uma cidade que aparece em seu trabalho como fria, violenta, mas repleta de sonhos que, nos dois últimos casos, prevalecem sobre o cinismo da cidade grande. 

Ao mesmo tempo, peças como seus concertos para piano ou sinfonias dialogam com a tradição musical europeia, da mesma forma como incorporam sua relação conflituosa com o judaísmo. Em um dos momentos mais fortes de Sua sinfonia nº 3, Kaddish, o narrador realiza um tenso acerto de contas com Deus, a quem acusa de perder a fé e de abandonar o homem, com quem criou uma relação baseada em barganhas.

Sua atuação política foi episódica. Bernstein acabou investigado pelo FBI por trabalhar com a escritora Lillian Hellman na opereta Candide, sátira a seu tempo inspirada no texto de Voltaire. E pelo jantar que ofereceu a líderes do movimento Black Panthers em seu apartamento em Nova York. O encontro acabou rendendo um dos principais textos jornalísticos americanos do século 20, Radical Chic, em que Tom Wolffe narra o desconforto de um jantar em que um abismo parecia existir entre anfitriões e convidados.

Qual o Bernstein que fica para a história? No seu centenário, em 2018, as comemorações buscaram deliberadamente ressaltar seu trabalho como compositor, com gravações de suas obras, o resgate de suas canções e de peças menos conhecidas ou executadas, como a impactante Missa, mistura de rock, jazz, oratório. 

Mas seria como maestro que seu legado maior se coloca?

Quando fez 70 anos, um concerto em sua homenagem foi realizado no Festival de Tanglewood, casa de verão da Sinfônica de Boston. Nele, a atriz Lauren Baccall subiu ao palco para interpretar uma canção de Stephen Sondheim, cujo texto diz que Bernstein nunca conseguiu se decidir sobre o que era. Bem-humorada, a letra termina pedindo que ele nunca o faça. Com razão. É de suas múltiplas atividades e eventuais contradições que pode nascer um pouco de compreensão sobre o homem e o artista.

As primeiras fotos divulgadas do novo filme de Bradley Cooper, Maestro, impressionam pela semelhança entre a caracterização do ator e seu personagem, o músico norte-americano Leonard Bernstein (1918-1990). A ver ainda o quanto o filme dará conta de retratar uma das mais complexas figuras da música do século 20.

O filme estrelado, dirigido e coproduzido por Cooper não era a única cinebiografia de Bernstein sendo trabalhada pelo cinema americano. O ator Jake Gyllenhaal anunciou em 2018 seu próprio longa, mas acabou desistindo quando o projeto de Cooper recebeu as bençãos de Martins Scorsese e Steven Spielberg.

E também da família Bernstein - o contrato com Cooper faria com que Gyllenhaal não pudesse utilizar uma só nota musical escrita pelo compositor, o que naturalmente tornou-se um empecilho à realização do longa, abandonado em 2020.

O maestroLeonard Bernstein Foto: Cortesia do Leonard Bernstein Office

O filme de Gyllenhaal teria como foco os últimos vinte anos de vida de Bernstein; o de Cooper tem como foco a relação dele com a atriz chilena Felicia Montealegre Bernstein, com quem o músico se casou em 1951 - e de quem se separou em 1978. Com passagem por Hollywood, ela mais tarde se tornaria ativista contra a Guerra do Vietnã - chegou a ser presa em uma manifestação em Washington. Com Bernstein, teve três filhos. 

É apenas um dos lances de uma biografia conturbada, marcada por um temperamento forte, casos extraconjugais e pela homossexualidade que, durante sua vida, foi tema tabu para a família e os amigos próximos do compositor. 

Bernstein foi artista múltiplo, um dos maiores do século 20. Maestro, compositor, pianista, educador. E estrela midiática. Nos anos 1950 e 1960, após assumir a direção musical da Filarmônica de Nova York, tornou-se conhecido em todo os Estados Unidos por conta de programas de televisão em que explicava a música clássica de modo claro, jamais condescendente. 

Como maestro, regeu as principais orquestras do mundo e deixou um legado discográfico quase incomparável - quase, pois do outro lado do Atlântico, Herbert von Karajan fez algo parecido à frente da Filarmônica de Berlim.

Os dois encarnaram dois estilos bastante diferentes de maestro. Karajan era o detalhista, intelectual. Bernstein, pura emoção, intensidade. A comparação não dá conta do tamanho de nenhum dos dois. O músico americano refletiu como poucos, em livros e em palestras em instituições como a Universidade de Harvard, sobre o fazer musical. Karajan, por sua vez, podia ser profundamente sanguíneo em suas interpretações, como atestam os inúmeros registros que fez de óperas do repertório italiano.

Mas as leituras marcantes, repletas de intensidade, foram, não há dúvida, marca do maestro Bernstein, que fez da obra de compositores como Mahler e Beethoven missão de vida, não raramente evocando ligações espirituais e metafísicas com os autores que interpretava. Mas atuou também como divulgador da música americana e do século 20.

Como compositor, escreveu obras variadas. Sua relação com o jazz e a música norte-americana é inequívoca, presente em peças como o musical West Side Story ou então On the Town e Wonderful Town, trilogia involuntária que ajudou a construir o imaginário em torno da cidade de Nova York, uma cidade que aparece em seu trabalho como fria, violenta, mas repleta de sonhos que, nos dois últimos casos, prevalecem sobre o cinismo da cidade grande. 

Ao mesmo tempo, peças como seus concertos para piano ou sinfonias dialogam com a tradição musical europeia, da mesma forma como incorporam sua relação conflituosa com o judaísmo. Em um dos momentos mais fortes de Sua sinfonia nº 3, Kaddish, o narrador realiza um tenso acerto de contas com Deus, a quem acusa de perder a fé e de abandonar o homem, com quem criou uma relação baseada em barganhas.

Sua atuação política foi episódica. Bernstein acabou investigado pelo FBI por trabalhar com a escritora Lillian Hellman na opereta Candide, sátira a seu tempo inspirada no texto de Voltaire. E pelo jantar que ofereceu a líderes do movimento Black Panthers em seu apartamento em Nova York. O encontro acabou rendendo um dos principais textos jornalísticos americanos do século 20, Radical Chic, em que Tom Wolffe narra o desconforto de um jantar em que um abismo parecia existir entre anfitriões e convidados.

Qual o Bernstein que fica para a história? No seu centenário, em 2018, as comemorações buscaram deliberadamente ressaltar seu trabalho como compositor, com gravações de suas obras, o resgate de suas canções e de peças menos conhecidas ou executadas, como a impactante Missa, mistura de rock, jazz, oratório. 

Mas seria como maestro que seu legado maior se coloca?

Quando fez 70 anos, um concerto em sua homenagem foi realizado no Festival de Tanglewood, casa de verão da Sinfônica de Boston. Nele, a atriz Lauren Baccall subiu ao palco para interpretar uma canção de Stephen Sondheim, cujo texto diz que Bernstein nunca conseguiu se decidir sobre o que era. Bem-humorada, a letra termina pedindo que ele nunca o faça. Com razão. É de suas múltiplas atividades e eventuais contradições que pode nascer um pouco de compreensão sobre o homem e o artista.

As primeiras fotos divulgadas do novo filme de Bradley Cooper, Maestro, impressionam pela semelhança entre a caracterização do ator e seu personagem, o músico norte-americano Leonard Bernstein (1918-1990). A ver ainda o quanto o filme dará conta de retratar uma das mais complexas figuras da música do século 20.

O filme estrelado, dirigido e coproduzido por Cooper não era a única cinebiografia de Bernstein sendo trabalhada pelo cinema americano. O ator Jake Gyllenhaal anunciou em 2018 seu próprio longa, mas acabou desistindo quando o projeto de Cooper recebeu as bençãos de Martins Scorsese e Steven Spielberg.

E também da família Bernstein - o contrato com Cooper faria com que Gyllenhaal não pudesse utilizar uma só nota musical escrita pelo compositor, o que naturalmente tornou-se um empecilho à realização do longa, abandonado em 2020.

O maestroLeonard Bernstein Foto: Cortesia do Leonard Bernstein Office

O filme de Gyllenhaal teria como foco os últimos vinte anos de vida de Bernstein; o de Cooper tem como foco a relação dele com a atriz chilena Felicia Montealegre Bernstein, com quem o músico se casou em 1951 - e de quem se separou em 1978. Com passagem por Hollywood, ela mais tarde se tornaria ativista contra a Guerra do Vietnã - chegou a ser presa em uma manifestação em Washington. Com Bernstein, teve três filhos. 

É apenas um dos lances de uma biografia conturbada, marcada por um temperamento forte, casos extraconjugais e pela homossexualidade que, durante sua vida, foi tema tabu para a família e os amigos próximos do compositor. 

Bernstein foi artista múltiplo, um dos maiores do século 20. Maestro, compositor, pianista, educador. E estrela midiática. Nos anos 1950 e 1960, após assumir a direção musical da Filarmônica de Nova York, tornou-se conhecido em todo os Estados Unidos por conta de programas de televisão em que explicava a música clássica de modo claro, jamais condescendente. 

Como maestro, regeu as principais orquestras do mundo e deixou um legado discográfico quase incomparável - quase, pois do outro lado do Atlântico, Herbert von Karajan fez algo parecido à frente da Filarmônica de Berlim.

Os dois encarnaram dois estilos bastante diferentes de maestro. Karajan era o detalhista, intelectual. Bernstein, pura emoção, intensidade. A comparação não dá conta do tamanho de nenhum dos dois. O músico americano refletiu como poucos, em livros e em palestras em instituições como a Universidade de Harvard, sobre o fazer musical. Karajan, por sua vez, podia ser profundamente sanguíneo em suas interpretações, como atestam os inúmeros registros que fez de óperas do repertório italiano.

Mas as leituras marcantes, repletas de intensidade, foram, não há dúvida, marca do maestro Bernstein, que fez da obra de compositores como Mahler e Beethoven missão de vida, não raramente evocando ligações espirituais e metafísicas com os autores que interpretava. Mas atuou também como divulgador da música americana e do século 20.

Como compositor, escreveu obras variadas. Sua relação com o jazz e a música norte-americana é inequívoca, presente em peças como o musical West Side Story ou então On the Town e Wonderful Town, trilogia involuntária que ajudou a construir o imaginário em torno da cidade de Nova York, uma cidade que aparece em seu trabalho como fria, violenta, mas repleta de sonhos que, nos dois últimos casos, prevalecem sobre o cinismo da cidade grande. 

Ao mesmo tempo, peças como seus concertos para piano ou sinfonias dialogam com a tradição musical europeia, da mesma forma como incorporam sua relação conflituosa com o judaísmo. Em um dos momentos mais fortes de Sua sinfonia nº 3, Kaddish, o narrador realiza um tenso acerto de contas com Deus, a quem acusa de perder a fé e de abandonar o homem, com quem criou uma relação baseada em barganhas.

Sua atuação política foi episódica. Bernstein acabou investigado pelo FBI por trabalhar com a escritora Lillian Hellman na opereta Candide, sátira a seu tempo inspirada no texto de Voltaire. E pelo jantar que ofereceu a líderes do movimento Black Panthers em seu apartamento em Nova York. O encontro acabou rendendo um dos principais textos jornalísticos americanos do século 20, Radical Chic, em que Tom Wolffe narra o desconforto de um jantar em que um abismo parecia existir entre anfitriões e convidados.

Qual o Bernstein que fica para a história? No seu centenário, em 2018, as comemorações buscaram deliberadamente ressaltar seu trabalho como compositor, com gravações de suas obras, o resgate de suas canções e de peças menos conhecidas ou executadas, como a impactante Missa, mistura de rock, jazz, oratório. 

Mas seria como maestro que seu legado maior se coloca?

Quando fez 70 anos, um concerto em sua homenagem foi realizado no Festival de Tanglewood, casa de verão da Sinfônica de Boston. Nele, a atriz Lauren Baccall subiu ao palco para interpretar uma canção de Stephen Sondheim, cujo texto diz que Bernstein nunca conseguiu se decidir sobre o que era. Bem-humorada, a letra termina pedindo que ele nunca o faça. Com razão. É de suas múltiplas atividades e eventuais contradições que pode nascer um pouco de compreensão sobre o homem e o artista.

As primeiras fotos divulgadas do novo filme de Bradley Cooper, Maestro, impressionam pela semelhança entre a caracterização do ator e seu personagem, o músico norte-americano Leonard Bernstein (1918-1990). A ver ainda o quanto o filme dará conta de retratar uma das mais complexas figuras da música do século 20.

O filme estrelado, dirigido e coproduzido por Cooper não era a única cinebiografia de Bernstein sendo trabalhada pelo cinema americano. O ator Jake Gyllenhaal anunciou em 2018 seu próprio longa, mas acabou desistindo quando o projeto de Cooper recebeu as bençãos de Martins Scorsese e Steven Spielberg.

E também da família Bernstein - o contrato com Cooper faria com que Gyllenhaal não pudesse utilizar uma só nota musical escrita pelo compositor, o que naturalmente tornou-se um empecilho à realização do longa, abandonado em 2020.

O maestroLeonard Bernstein Foto: Cortesia do Leonard Bernstein Office

O filme de Gyllenhaal teria como foco os últimos vinte anos de vida de Bernstein; o de Cooper tem como foco a relação dele com a atriz chilena Felicia Montealegre Bernstein, com quem o músico se casou em 1951 - e de quem se separou em 1978. Com passagem por Hollywood, ela mais tarde se tornaria ativista contra a Guerra do Vietnã - chegou a ser presa em uma manifestação em Washington. Com Bernstein, teve três filhos. 

É apenas um dos lances de uma biografia conturbada, marcada por um temperamento forte, casos extraconjugais e pela homossexualidade que, durante sua vida, foi tema tabu para a família e os amigos próximos do compositor. 

Bernstein foi artista múltiplo, um dos maiores do século 20. Maestro, compositor, pianista, educador. E estrela midiática. Nos anos 1950 e 1960, após assumir a direção musical da Filarmônica de Nova York, tornou-se conhecido em todo os Estados Unidos por conta de programas de televisão em que explicava a música clássica de modo claro, jamais condescendente. 

Como maestro, regeu as principais orquestras do mundo e deixou um legado discográfico quase incomparável - quase, pois do outro lado do Atlântico, Herbert von Karajan fez algo parecido à frente da Filarmônica de Berlim.

Os dois encarnaram dois estilos bastante diferentes de maestro. Karajan era o detalhista, intelectual. Bernstein, pura emoção, intensidade. A comparação não dá conta do tamanho de nenhum dos dois. O músico americano refletiu como poucos, em livros e em palestras em instituições como a Universidade de Harvard, sobre o fazer musical. Karajan, por sua vez, podia ser profundamente sanguíneo em suas interpretações, como atestam os inúmeros registros que fez de óperas do repertório italiano.

Mas as leituras marcantes, repletas de intensidade, foram, não há dúvida, marca do maestro Bernstein, que fez da obra de compositores como Mahler e Beethoven missão de vida, não raramente evocando ligações espirituais e metafísicas com os autores que interpretava. Mas atuou também como divulgador da música americana e do século 20.

Como compositor, escreveu obras variadas. Sua relação com o jazz e a música norte-americana é inequívoca, presente em peças como o musical West Side Story ou então On the Town e Wonderful Town, trilogia involuntária que ajudou a construir o imaginário em torno da cidade de Nova York, uma cidade que aparece em seu trabalho como fria, violenta, mas repleta de sonhos que, nos dois últimos casos, prevalecem sobre o cinismo da cidade grande. 

Ao mesmo tempo, peças como seus concertos para piano ou sinfonias dialogam com a tradição musical europeia, da mesma forma como incorporam sua relação conflituosa com o judaísmo. Em um dos momentos mais fortes de Sua sinfonia nº 3, Kaddish, o narrador realiza um tenso acerto de contas com Deus, a quem acusa de perder a fé e de abandonar o homem, com quem criou uma relação baseada em barganhas.

Sua atuação política foi episódica. Bernstein acabou investigado pelo FBI por trabalhar com a escritora Lillian Hellman na opereta Candide, sátira a seu tempo inspirada no texto de Voltaire. E pelo jantar que ofereceu a líderes do movimento Black Panthers em seu apartamento em Nova York. O encontro acabou rendendo um dos principais textos jornalísticos americanos do século 20, Radical Chic, em que Tom Wolffe narra o desconforto de um jantar em que um abismo parecia existir entre anfitriões e convidados.

Qual o Bernstein que fica para a história? No seu centenário, em 2018, as comemorações buscaram deliberadamente ressaltar seu trabalho como compositor, com gravações de suas obras, o resgate de suas canções e de peças menos conhecidas ou executadas, como a impactante Missa, mistura de rock, jazz, oratório. 

Mas seria como maestro que seu legado maior se coloca?

Quando fez 70 anos, um concerto em sua homenagem foi realizado no Festival de Tanglewood, casa de verão da Sinfônica de Boston. Nele, a atriz Lauren Baccall subiu ao palco para interpretar uma canção de Stephen Sondheim, cujo texto diz que Bernstein nunca conseguiu se decidir sobre o que era. Bem-humorada, a letra termina pedindo que ele nunca o faça. Com razão. É de suas múltiplas atividades e eventuais contradições que pode nascer um pouco de compreensão sobre o homem e o artista.

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